BBC News, 05/06/2009
Um tema revisionista parece ter sido levantado na comemoração do 65º. Aniversário dos desembarques da Normandia.
O assunto apareceu no novo livro de Antony Beevor, O Dia-D, o qual tenta desfazer algumas idéias pré-concebidas sobre a campanha aliada.
Longe de serem um sucesso absoluto, o Sr. Beevor descobriu que os desembarques por pouco não se tornaram um fiasco.
E longe de serem celebradas universalmente como libertadores, muitas tropas tiveram uma recepção hostil por parte do povo da Normandia.
A razão para isto é simples. Muitas cidades e vilas normandas foram literalmente destruídas pelo bombardeio aliado.
O bombardeio de Caen, diz o Sr. Beevor, poderia ser quase considerado um crime de guerra (apesar de ter se retratado mais tarde).
Muitos historiadores irão argüir que não há nada de novo no relato do Sr. Beevor.
Experiência Estressante
Acima de tudo, a escala de destruição já havia sido bem estabelecida.
Cerca de 20.000 civis franceses foram mortos em dois meses e meio desde o Dia-D, sendo 3.000 deles durante os desembarques reais.
Em algumas áreas – como o bolsão de Falaise onde os alemães foram encurralados até o esquecimento no final da campanha – sequer uma construção permaneceu de pé e os soldados tiveram que caminhar sobre pilhas de corpos humanos.
Quanto à destruição de Caen, há muito tempo é admitido que foi uma inutilidade militar.
Os alemães estavam estacionados ao norte da cidade e quase não foram molestados.
Vinte e cinco anos atrás, em seu livro Overlord, Max Hastings já o havia descrito como “um dos mais fúteis ataques aéreos da guerra.”
Apesar destes relatos revisionistas terem sido escritos longe dos locais de combate, é na França que estas idéias provocam maior debate hoje.
Não é como se a devastação provocada pelos Aliados não seja conhecida – é que ela tende a não ser discutida.
E para muitas famílias que viveram a guerra, foi a chegada e passagem das forças anglo-americanas que foi de longe a experiência mais estressante.
“Foi profundamente traumático para o povo da Normandia,” disse Christophe Prime, um historiador do Memorial da Paz em Caen.
“Pense nas centenas de toneladas de bombas destruindo cidades inteiras e aniquilando famílias. Mas o sofrimento dos civis foi por muitos anos mascarado pela imagem altamente difundida dos franceses saudando os libertadores com braços abertos.”
As boas-vindas mal-humoradas
De acordo com Prime, foi durante a comemoração do 60º. Aniversário cinco anos atrás que o tabu começou a ser levantado.
Nos encontros das cidades ao longo da Normandia, as testemunhas – agora em seus 70 anos – falaram das coisas terríveis que eles viram quando crianças.
Simultaneamente, uma exibição no memorial de Caen mostrou cartas de soldados aliados falando abertamente sobre a sua recepção pobre pelos moradores locais.
Aquilo foi uma iluminação para muitos povos normandos.
Por exemplo, o cabo Rocker da Força de Desembarque da Infantaria Leve Escocesa é citado em outro livro novo sobre o impacto civil da campanha, Libertação: O Caminho amargo para a Liberdade, de William Hitchcock.
“Foi mais do que um choque descobrir que não fomos recebidos entusiasticamente como libertadores pelos habitantes locais, como nos foi ditto que seríamos... Ele nos viam como mensageiros da destruição e da dor,” escreveu o sr. Rocker em seu diário.
Outro soldado, Ivor Astley, da 43º. Infantaria Wessex, descreveu os locais como “mal-humorados e quietos... Se esperávamos uma recepção calorosa, certamente falhamos em encontrá-la.”
Violência Sexual
Em seu livro, o sr. Hitchcock levanta outro assunto que raramente aparece nas memórias eufóricas da libertação: a pilhagem aliada e coisa pior.
“O roubo e a pilhagem das casas da Normandia e fazendas pelos soldados aliados começou em 6 de junho e nunca parou durante o verão inteiro,” ele escreve.
Uma mulher – da cidade de Colombieres – é mencionada dizendo que “o entusiasmo com os libertadores está diminuindo. Eles estão pilhando, e indo às casas em todos os lugares sob o pretexto de estarem procurando alemães.”
Mesmo mais temido, é claro, foi o crime de estupro – e aqui há também a imagem real que certamente foi apagada da memória popular.
De acordo com o historiador americano J. Robert lilly, houve cerca de 3.500 estupros por soldados americanos na França entre junho de 1944 e o fim da guerra.
“A evidência mostra que a violência sexual contra mulheres na França libertada era comum,” escreve o sr. Hitchcock.
“Ela também mostra que soldados negros acusados de tais atos infames recebiam punições severas, enquanto que soldados brancos recebiam sentenças mais brandas.”
Dos 29 soldados executados por estupro pelas autoridades militares, 25 eram negros – apesar de afro-americanos não representarem tão alta proporção das acusações.
Feliz e Agradecido
Então, por que o lado “mau” da libertação aliada tender a desaparecer da consciência popular francesa?
A resposta certamente é que o resultado total da campanha aliada foi positive para a França em geral.
Era difícil para o povo normando estragar a felicidade nacional ao reclamar de sua situação.
A mensagem do resto do país era simpático, porém realista: sabemos que vocês sofreram, mas o preço valeu a pena. A maioria das pessoas concordou e ficou quieta.
Além disso, a crítica aberta aos bombardeios britânicos e americanos era uma marca da colaboração francesa.
Em Paris – que é frequentemente esquecido, foi bombardeada pelos britãnicos – grupos pró-alemães criaram cerimônias para celebrar as vítimas e os “crimes” dos Aliados foram condenados na imprensa.
Após a Guerra, acusar os aliados teria parecido como ficar ao lado dos derrotados e desonrados.
É claro, em algumas comunidades a devastação jamais foi esquecida.
Há vilas na Normandia onde até recentemente as celebrações do 6 de junho eram deliberadamente evitadas, por causa das associações dolorosas.
E no fronte ideológico, sempre houve intelectuais tanto da esquerda quanto da direita que justificavam seu anti-americanismo ao lembrar dos terríveis aspectos da campanha francesa – como o modo “covarde” como os americanos bombardeavam de alta altitude, ou sua confiança em blindados causando baixas civis indiscriminadas.
Mas, em geral, a França continuou com a versão aceita dos desembarques e de suas consequências – qual seja, o de uma libertação alegre pela qual o país é eternamente grato.
Esta versão é a correta. A França foi de fato libertada da tirania, e os franceses ficaram felizes e agradecidos.
Mas é importante lembrar que tudo isto foi conseguido a um custo.
http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/8084210.stm
Tópicos Relacionados:
Paris, 1942: La vie em rose
http://epaubel.blogspot.com.br/2012/08/sgm-paris-1942-la-vie-en-rose.html
O Mais Longo dos Dias
http://epaubel.blogspot.com.br/2012/07/sgm-o-mais-longo-dos-dias.html
Os Heróis do Comando de Bombardeiros merecem seu Memorial... ao contrário do Açougueiro que os liderou
http://epaubel.blogspot.com.br/2012/07/sgm-os-herois-do-comando-de.html
Revisionismo para o nosso Tempo
http://epaubel.blogspot.com.br/2012/05/revisionismo-para-o-nosso-tempo.html
O Ano da Vingança
http://epaubel.blogspot.com.br/2012/05/sgm-o-ano-da-vinganca.html
Assinar:
Postar comentários (Atom)
-
O capacete do NVA tem suas origens na Alemanha Nazista. O Conselho de Pesquisa do Terceiro Reich desenvolveu um estudo sobre as característi...
-
Chandak Sengoopta The Independent, 03/09/2010 “Não me tornei o Primeiro Ministro do Rei para comandar o fim do Império Britân...
-
Emerson Paubel Em março de 1923, Hitler comandou a formação de um corpo de guarda-costas estacionado em Munique, conhecido como ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário