Giles MacDonogh
Basic Books, 2007
Este artigo começa com uma simples resenha do livro de Giles
MacDonogh, que está identificado acima. Seu
livro é largamente do tipo demolidor de mito que eu aprecio. Entretanto, pelo
fato de haver material valioso adicional que sou contrário deixar não
mencionado, expandi-o para incluir outras informações e autores, deixando-o
mesmo assim como uma resenha de After de
Reich (“Após o Reich”, em tradução livre).
O livro de MacDonogh é desconcertante, tanto corajoso quanto
covarde, a maior parte (mas não inteiramente) digna de altos elogios que
devemos fazer a estudiosos incorruptíveis. Como mencionamos, o público
americano tem pensado no esforço aliado na Segunda Guerra mundial como uma
“grande cruzada” que contrapôs bondade e decência contra a maldade nazista.
Mesmo após todos estes anos, a última coisa que o público deseja aprender são
os vastos e inexplicáveis erros que foram cometidos pelos Aliados Ocidentais e
União Soviética durante a guerra e suas conseqüências. Cabe a MacDonogh bater
na face de nossa relutância para contar “a história brutal” em grande estilo.
Esta disposição é recomendável por sua bravura intelectual. Em face disso, é
intrigante que, mesmo que ele faça isso,
ele coloca um brilho a mais na história, na verdade continuando em parte um encobrimento de proporções históricas, o qual foi fixado pelo excesso de propaganda
de guerra por quase dois terços de século. O grande valor deste livro não pode, assim,
ser encontrado em sua integridade ou sinceridade explícita, mas, ao invés
disso, agindo como uma ponte – apesar de sua grande extensão – que pode iniciar
os leitores conscientes a seguir um estudo adicional de um assunto extremamente
importante.
Para este artigo,
será valioso começar resumindo a história que MacDonogh relata (e acrescentar
alguma coisa a ela). É somente após fazer isso que discutiremos o que McDonogh
obscurece. Tudo isto levará, então, a reflexões conclusivas.
As expulsões
(hoje chamadas “limpeza étnica”). Ao final da guerra, MacDonogh nos diz, “tanto
quanto 16.5 milhões de alemães foram expulsos de seus lares.” 9,3 milhões foram
expulsos da porção oriental da Alemanha, que foi entregue à Polônia. (Tanto as
fronteiras ocidental quanto a oriental da Polônia foram drasticamente afetadas
por acordo dos Aliados, com a Polônia tomando uma parte importante da Alemanha
e a União Soviética tomando a Polônia Oriental.) Os outros 7,2 milhões foram
forçados a deixar seus lares centenários na Europa Central, onde eles haviam
vivido por gerações.
Esta expulsão em massa foi estabelecida no Acordo de Postdam
em meados de 1945, apesar do acordo tornar explícito que a limpeza étnica
aconteceria “na maneira mais humana possível.” Churchill estava entre aqueles
que apoiaram-na como necessária “para uma paz duradoura.”
De fato, o processo foi tão desumano que tornou-se uma das
maiores atrocidades da história. MacDonogh relata que “cerca de dois milhões e
um quarto morreriam durante as expulsões.” Esta é uma das estimativas mais
baixas, que variam entre 2,1 a
6 milhões, se levarmos somente os expulsos em conta. Konrad
Adenauer , um grande amigo do Ocidente, sentiu-se capaz de
afirmar que entre os expulsos “seis milhões de alemães estão mortos,
desapareceram.” Veremos no relato de MacDonogh a fome e a exposição a frio
extremo às quais a população da Alemanha foi submetida, e é importante
mencionar neste ponto (apesar de ir além das expulsões) que o historiador James
Bacque que “a comparação dos censos mostram-nos que cerca de 5,7 milhões de
pessoas desapareceram no interior da Alemanha entre outubro de 1946 (um ano e
meio após a guerra ter encerrado) e setembro de 1950...”
O que MacDonogh chama “a maior tragédia maritime de todos os
tempos” ocorreu quando o navio Wilhelm Gustloff, transportando alemães de
Danzig em janeiro de 1945, foi afundado com “cerca de 9.000 pessoas, ... muitos
deles crianças.” Em meados de 1946, “fotografias mostram que cerca de 586.000
alemães boêmios colocados em caminhões como sardinhas.” Em outro ponto,
McDonogh nos diz como “os refugiados eram freqüentemente transportados de forma
tão apertada que eles não podiam mover-se para defecar e saíam dos veículos
cobertos de excremento. Muitos estavam mortos na chegada.” (Isto lembra as
cenas descritas tão vividamente no Volume I do livro “O Arquipelago Gulag” de
Solzhenitsyn). Na Silésia, “correntes de civis foram forçados para fora de seus
lares sob a mira de fuzis.” Um padre estimou que um quarto da população alemã
de uma cidade da Baixa Silésia suicidou-se, já que famílias inteiras cometeram
suicídio juntas.
A condição da
população alemã – fome e frio extremo. Os alemães se referem a 1947 como Hungerjahr, o “ano da fome”, mas
MacDonogh diz que “mesmo no inverno de 1948 a situação não havia sido remediada.” As
pessoas se alimentavam de cães, gatos, sapos, caracóis, urtiga, bolotas (fruto
do carvalho), raiz de erva e cogumelos num esforço desesperado para sobreviver.
Em 1946, as calorias fornecidas na zona americana da Alemanha caíram para 1.313
em março das 1.550 fornecidas anteriormente. Victor Gollancz, um escritor
britânico judeu, afirmou “estamos matando os alemães de fome.” Isto é
semelhante à afirmação feita pelo senador Homer Capehart de Indiana em um
discurso no Senado americano de 5 de fevereiro de 1946: “Por nove meses esta
administração está conduzindo uma política deliberada de fome em massa...”
MacDonogh nos diz que a Cruz Vermelha, os Quakers, Menonitas e outros queriam
levar comida, mas “no inverno de 1945 as doações eram retornadas com a
recomendação de que elas seriam usadas em outras partes afetadas pela guerra na
Europa.” Na zona americana de Berlim, “era política americana que nada fosse
dado ou jogado fora. Logo, aquelas mulheres alemãs que trabalhavam para os
americanos eram fantasticamente bem alimentadas, mas não poderiam levar nada
para suas famílias ou crianças.” Bacque diz “as agências estrangeiras de alívio
foram prevenidas de enviar alimentos de fora; os trens de alimentos da Cruz
Vermelha eram enviados de volta à Suíça; todos os governos estrangeiros eram
proibidos de enviar comida aos civis alemães; a produção de fertilizantes foi
drasticamente reduzida... a frota de pesca foi mantida nos portos enquanto as
pessoas morriam de fome.”
Sob a ocupação russa da Prússia Oriental, MacDonogh vê
“semelhanças gritantes” à “fome deliberada dos kulaks ucranianos no início dos
anos 1930”
promovida por Stalin. Como na Ucrânia, “casos de canibalismo foram relatados,
com pessoas se alimentando de carne de suas crianças mortas.”
O sofrimento do frio extreme misturado à fome criaram
miséria e uma alta taxa de mortandade. Apesar do inverno de 1945-46 ser normal,
“a falta terrível de carvão e alimento foi sensivelmente sentida.” Invernos
anormalmente frios aconteceram em 1946-47 (“possivelmente o mais frio na
memória”) e 1948-49. Somente em Berlim, acredita-se que 60.000 pessoas morreram
nos primeiros dez meses após o fim da guerra, e “o inverno seguinte matou mais
12.000.” As pessoas viviam em buracos entre as ruínas, e “alguns alemães –
particularmente os refugiados do leste – estavam virtualmente nus.
No seu
livro Gruesome Harvest: The Allies’ Postwar War Against The German People (“A Resposta
Terrível: A guerra do pós-guerra dos Aliados contra o povo alemão”, em tradução
livre), Ralph Franklin Keeling cita o relato de um “pastor alemão famoso”:
“Milhares de corpos estão pendurados nas árvores das florestas ao redor de Berlim
e ninguém se importa em retirá-los de lá. Milhares de corpos estão sendo
levados para o mar pelos rios Oder e Elba – ninguém mais se importa. Milhares e
milhares estão morrendo de fome nas rodovias... as crianças vagam pelas
estradas sozinhas...”
No seu livro The German Expellees: Victims in War and
Peace (“Os expulsos alemães:
vítimas na Guerra e na paz”, em tradução livre), Alfred-Maurice de Zayas disse
como o Marechal Tito da Iugoslávia usou campos como centros de extermínio para
matar de fome alemães.
Estupros em massa –
para o qual alguém deve acrescentar o “sexo voluntário” obtido com mulheres
passando fome. A onde de estupros pelas forças invasoras russas é,
certamente, infame. Na zona russa da Áustria, “o estupro era parte da vida
diária ente 1947 e muitas mulheres foram infectadas com doenças venéreas e não
tinham meios de tratá-las.” MacDonogh nos diz que “estimativas conservadoras
colocam o número de mulheres estupradas em Berlim em 20.000.” Quando os
britânicos chegaram a Berlim, “oficiais lembram do choque de ver os lagos no
oeste próspero cheios de corpos mulheres que cometeram suicídio após terem sido
estupradas.” A idade das vítimas faz pouca diferença, variando dos 12 aos 75
anos. Enfermeiras e freiras estavam entre as vítimas (algumas cerca de
cinqüenta vezes). “Os russos eram particularmente cruéis com os ricos,
colocando fogo nas mansões e estuprando ou matando seus moradores.” Apesar “da
maioria das crianças russas serem abortadas,” diz MacDonogh “é estimado que
entre 150.000 e 200.000 bebês russos sobreviveram.” Os russos estupravam onde
quer que fossem, de modo que não foram só as mulheres alemãs que foram
estupradas, mas também mulheres da Hungria, Bulgária, Ucrânia e Iugoslávia,
mesmo este último país sendo aliado soviético.
Havia uma política oficial contra o estupro, mas era tão
comumente ignorada que “foi somente em 1949 que soldados russos foram ameaçados
realmente.” Até então, “eles eram estimulados por (Ilya) Ehrenburg e outros
propagandistas soviéticos que viam o estupro como uma expressão de ódio.”
Embora houvesse “incidência difundida de estupro por
soldados americanos,” havia uma polícia militar de segurança contra ele, com
“um número de soldados americanos executados” por isso. As acusações criminais
feitas por estupro “cresceram constantemente” durante os meses finais da
guerra, mas caíram rapidamente depois. O que continuou depois foi decididamente
quase tão ruim: a exploração sexual de mulheres passando fome que
“voluntariamente” vendiam serviços sexuais por comida. Em Gruesome Harvest , Keeling cita um artigo no Christian Century de 5 de dezembro de
1945: “O chefe de segurança americano... disse que o estupro não representa
problema para a polícia militar porque ‘um pouco de comida, uma barra de
chocolate ou um sabonete parece tornar o estupro desnecessário.” A extensão
disto é mostrada pelo número que MacDonogh fornece de um “estimado 94.000 Besatzungskinder ou ‘crianças da
ocupação’ (que) nasceram na zona americana.” Ele diz que em 1945-6 “muitas
meninas caíram na prostituição para sobreviver. Meninos, também, prestavam serviços a soldados
aliados.”
Keeling, escrevendo para a publicação de 1947 de seu livro
(que explica seu uso do verbo no presente), disse que havia “um aumento nas
doenças venéreas que atingiu proporções epidêmicas,” e continuou dizendo que
“uma grande proporção de contaminação originou-se de soldados negros que
estacionaram em grande número na Alemanha e entre eles a taxa de infecção
venérea é muitas vezes maior do que entre as tropas brancas.” Em julho de 1946,
ele diz, a taxa anual de infecção em soldados brancos era de 19%, enquanto que
para as tropas negras 77,1%. Ele reiterou o ponto que estamos fazendo aqui
quando ele apontou “a conexão íntima entre a taxa de doenças venéreas e disponibilidade
comida.”
Se MacDonogh menciona o estupro por soldados britânicos,
isso me escapou. Ele fala, entretanto, de estupro por poloneses, franceses,
guerrilheiros de Tito e pessoas sem teto. Em Danzig, “os poloneses
comportavam-se tão ruim quanto os russos... foram os poloneses que libertaram a
cidade de Teschen no norte (da Tchecoslováquia) em 10 de maio. Por cinco dias
eles estupraram, roubaram, queimaram e mataram.” Ele escreve do “comportamento
de soldados franceses em Stuttgart, onde cerca de 3.000 mulheres e 8 homens
foram estuprados,” diz “mais 500 mulheres (foram) estupradas em Vaihingen,” e
relata “três dias de assassinatos, roubos, incêndios criminosos e estupro” em Freundenstadt. Das
pessoas sem teto, ele diz que “havia cerca de dois milhões de prisioneiros de
guerra (PdG) e trabalhadores forçados da Rússia que formaram gangues, roubaram
e estupraram por toda Europa Central.”
Tratamento de PdG.
Ao todo, havia aproximadamente 11 milhões de prisioneiros de guerra alemães. Um
milhão e meio destes jamais retornaram para casa. MacDonogh expressa um ultraje
apropriado aqui: “Para tratá-los com tal desleixo com um milhão e meio de
mortos foi escandaloso.”
A Cruz Vermelha não tinha responsabilidade sobre aqueles
mantidos pelos russos, já que a União Soviética não assinou a Convenção de
Genebra. MacDonogh diz que os russos não faziam distinção entre civis alemães e
PdG, apesar de sabermos que um relatório da KGB os classificavam para execução
e outros objetivos. Ao final da guerra, eles mantinham aproximadamente 4 ou 5
milhões dentro da Rússia (e aqui, novamente, os arquivos da KGB são uma
importante fonte de consulta, como o historiador James Bacque fez; eles mostram
um número de 2.389.560). Grandes números foram mantidos em cativeiro por mais
de dez anos, tendo sido enviados de volta à Alemanha somente após a visita de
Konrad Adenauer a Moscou em 1956. Mesmo assim, em 1979 – 34 anos depois do fim
da guerra! – “acreditava-se haver ainda 72.000 prisioneiros vivos sob custódia
russa.” Cerca de 90.000 soldados alemães foram capturados em Stalingrado, mas
somente 5.000 voltaram para casa.
Os americanos fizeram uma distinção entre os 4,2 milhões de soldados capturados durante a guerra, que estavam sujeitos a proteção e subsistência pelas convenções de Haia e Genebra, e os 3,4 milhões capturados no ocidente ao seu final. McDonogh diz que o último grupo foi classificado como “Inimigos Rendidos” (Surrendered Enemy Persons, SEP) ou como “Inimigos Desarmados” (Disarmed Enemy Persons, DEP) e não contavam com a proteção destas convenções. Ele não dá um número total que morreu sob a custódia americana, dizendo “não está claro quantos soldados alemães morreram por fome.” Ele fala, entretanto, de muitas situações: “Os campos de PdG americanos mais conhecidos eram chamados de Rheinwiesenlager.” Aqui, os americanos permitiram que “cerca de 40.000 soldados alemães morressem por inanição e negligência nos pântanos do Reno.” Ele diz “qualquer tentativa de alimentar os prisioneiros pela população civil alemã era punida com morte.” Apesar da Cruz Vermelha ser responsável pela inspeção, “o entorno com arame farpado para os SEPs e DEPs era impenetrável.” Em outros lugares, "no Quartel dos Engenheiros em Worms ... havia 30.000-40.000 prisioneiros sentados no pátio, disputando espaço. Sem proteção contra a chuva, eles congelaram.” Os prisioneiros foram deixados passar fome em Langwasser, e em um “campo conhecido” em Zuffenhausen “por meses o almoço era sopa rala, com metade de uma batata na janta por dia.”
Seria um engano pensar que em um mundo com escassez de
alimentos tornaram os EUA incapazes de alimentar seus prisioneiros. Bacque escreve que “o capitão Lee
Berwick da 42ª. Divisão de Infantaria, que comandou as torres de
vigilância no Campo Bretzenheim,… me contou, ‘alimentos foram empilhados em
torno do muro do campo. Os prisioneiros viam de lá caixotes empilhados tão
altos quanto bangalôs.’”
O que MacDonogh nos conta sobre o tratamento dos PdG alemães
da Grã-Bretanha parece conflitante. Ela tinha 391.880 prisioneiros trabalhando na
Grã-Bretanha em 1946, e um total de 600 campos lá em 1948. Ele diz “o regime
não era tão duro, e em termos de porcentagem de mortos sob custódia britânica é
visivelmente baixa comparado aos outros aliados.” Em todos os lugares,
entretanto, ele fala como “os britânicos podiam burlar (as recomendações da
Convenção de Genebra)... que eles fornecem 2.000 a 3.000 calorias por
dia,” de modo que “pela maior parte do tempo os níveis caíram para baixo de
1.500 calorias.” Lá, “as condições para os 130.000 prisioneiros foram relatadas
como sendo ‘não muito melhores do que Belsen’ (N. do T.: campo de concentração
nazista Bergen-Belsen.)... Quando o campo foi inspecionado em abril de 1947, foram
encontradas apenas quatro lâmpadas funcionando... não havia combustível, colchões
de palha e nenhuma comida, exceto sopa rala.”
Uma reportagem da Reuters em dezembro de 2005 acrescenta uma
dimensão importante: “A Grã-Bretanha administrou uma prisão secreta na Alemanha
por dois anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, onde os prisioneiros,
incluindo membros do partido nazista, foram torturados e deixados passar fome,
diz o jornal Guardian. Citando arquivos do Departamento Estrangeiro que foram
abertos após um pedido com o Ato de Liberdade de Informação, o jornal diz que a
Grã-Bretanha havia mantido homens e mulheres na prisão em Bad Nenndorf até
julho de 1947... “Ameaças de execução de prisioneiros, ou prisão, tortura e
assassinato de suas esposas e filhos foram considerados ‘meios apropriados’ já
que tais ameaças jamais seriam levadas a cabo,” relata o jornal.
Os franceses queriam que trabalhadores alemães ajudassem a
reconstruir o país, e para este objetivo, os britânicos e americanos
transferiram cerca de um milhão de soldados alemães para eles. MacDonogh diz
“seu tratamento foi particularmente brutal.” Não muito após a guerra, de acordo
com a Cruz Vermelha, 200.000 dos prisioneiros estavam passando fome. Sabemos de
um campo “no Sarthe (onde) os prisioneiros tinham que sobreviver com 900
calorias por dia.”
A destruição da
economia alemã. Os líderes aliados discordavam entre si sobre o Plano
Morgenthau de retirar a natureza industrial da Alemanha e transformá-la em um
país agrícola. A oposição de alguns e a hesitação de outros não preveniram,
entretanto, uma implantação real do plano. Na época que o confisco terminou, a
Alemanha estava grandemente despojada de sua infra-estrutura produtiva.
MacDonogh diz que sob os russos “Berlim perdeu cerca de 85%
de sua capacidade industrial.” Todas as máquinas foram levadas de Viena. Os
navios foram tomados do Danúbio, e “uma prioridade soviética era a apreensão de
todos os trabalhos importantes de arte encontrados na capital (Viena). Isto foi
uma operação totalmente planejada.” Mas “pior do que a remoção em escala total
da base industrial da terra era a abdução de homens e mulheres para desenvolver
a indústria na União Soviética.”
Sob os americanos, o desmantelamento dos sítios industriais
continuou até o General Lucius Clay interrompê-lo um ano após o fim da guerra.
Até Clay agir, a Cláusula 6 da Ordem dos Chefes de Staff 1067 fundamentavam o
Plano Morgenthau. MacDonogh diz que onde “a roubalheira oficial americana foi
conduzida em uma escala maciça” foi “na apreensão de equipamento científico e
seqüestro de cientistas”.
Os britânicos tomaram muito para si e repassaram outras
propriedades industriais para “estados clientes” como Grécia e Iugoslávia. A
família real britânica recebeu o iate de Göring, e a zona britânica da Alemanha
foi destituída de “plantas (industriais) que mais tarde poderiam competir com
as industrias britânicas.” MacDonogh diz “os britânicos... tinham seu próprio
departamento de roubo organizado na (assim chamada) Força-T, que consistia em
reunir toda inventividade industrial...”
De sua parte, os franceses garantiram “o direito de
pilhagem.” “Os franceses... não escondiam a rapinagem no negócio do cloro em
Rheinfelden, da celulose em Rottweil, as minas da Preussag AG ou os grupos
químicos da Rhodia,” ... e muito mais.
Se o plano tivesse sido totalmente implantado em um longo
período de tempo, os efeitos teriam sido calamitosos. Keeling, em Gruesome Harvest , diz que ao buscar “a destruição
permanente do coração industrial da Alemanha” teria tido uma “conseqüência
inevitável... a morte por fome e doenças de milhões e dezenas de milhões de
alemães.”
A repatriação forçada
de russos para Stalin. O livro de MacDonogh se limita à ocupação aliada,
mas há, é claro, muitos outros aspectos da guerra que merecem menção, apesar de
que aqui nos limitaremos a apenas um deles. É a repatriação aliada de russos
capturados para a União Soviética. Em “A Traição Secreta” (The Secret Betrayal, em tradução livre), Nicolai Tolstoy nos diz
como entre 1943 e 1947, um total de 2.272.000 russos foram devolvidos. Os
russos capturaram mais 2.946.000 de partes da Europa tomadas pelo Exército
vermelho. Aqueles enviados à Soviética pelas democracias ocidentais incluíam
milhares de pessoas que eram emigrantes czaristas e nunca viveram sob o regime
soviético. Tolstoy diz que apesar de muitos quererem retornar à Rússia
(enquanto muitos outros desesperadamente não queriam, e foram mandados de volta
esperneando e gritando), eles foram uniformemente brutalizados, executados,
estuprados ou feitos escravos. Alguns dos repatriados eram russos que
voluntariamente lutaram pela Alemanha contra a União Soviética e que foram
liderados pelo General Vlasov. Alguns eram Cossacos, muitos deles sequer era,
cidadãos soviéticos. As repatriações violentas começaram em agosto de 1945.
Tolstoy reconta como o engano, porretes, baionetas e mesmo ameaças com tanques
de lança-chamas foram empregados para forçar a remoção.
A Justiça dos vencedores. Quando a Guerra terminou, havia um
consenso entre os líderes aliados de que os nazistas do alto escalão deveriam
ser executados. Alguns queriam execução imediata, outros uma “corte marcial
estrondosa”. Havia uma virtude curiosa na insistência pelos britânicos em
seguir as “formas legais”, que é o que foi decidido. (N. do T.: este artigo foi
escrito antes da descoberta dos diários do chefe do MI5 dizendo que Churchill e
demais membros do governo queriam o fuzilamento ao invés de julgamento). O
resultado foi uma série de julgamentos com a pompa dos procedimentos jurídicos
normais, mas que eram na verdade uma enganação do ponto de vista da “regra da
lei”, faltando tanto o espírito quanto as particularidades do “devido processo”
. Em dois capítulos, MacDonogh dá um relato do julgamento principal de
Nuremberg e da série de julgamentos que continuaram pelos anos subsequentes.
Entre eles, os americanos conduziram muitos julgamentos em Nuremberg após o
principal; milhares de casos foram trazidos diante das “cortes de denazificação”;
as cortes alemãs, após voltarem à normalidade, continuaram o processo; e, é
claro, sabemos do julgamento e execução de Eichmann em Israel.
Há muitas razões para chamá-la “justiça dos vencedores”.
Para não ser verdade, um tribunal verdadeiramente internacional teria que ter
sido convocado em algum lugardo mundo (se tal coisa pudesse ter sido possível
após uma guerra mundial), e os crimes de guerra de ambos os lados julgados.
Mas, é claro, sabemos que tal justiça imparcial não estava em estudo. No
indiciamento de Nuremberg, os nazistas foram acusados de extermínio em massa de
oficiais poloneses na floresta de Katyn, uma acusação que foi discretamente (e
com grande desonestidade intelectual e “jurídica”) retirada no julgamento final
porque tornou-se claro que a União Soviética era a responsável pelo crime.
Outro dos muitos exemplos possíveis seriam as deportações em massa que os
nazistas foram acusados tanto como crime de guerra quanto como crime contra a
humanidade em Nuremberg. Em compensação, ninguém foi levado à justiça pela
expulsão de milhões de alemães de seus lares ancestrais na Europa Central pelos
aliados.
http://www.dwightmurphey-collectedwritings.info/A99-MacDonogh-BRArt.htm
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