segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

[POL] A Liderança Imoral de Roosevelt

John R. Miller, 04/012/2012

Roosevelt não era humanitário, apesar de seus biógrafos dizerem que sim

 


Um novo livro, Where They Stand (“Onde Eles se Sustentam”, em tradução livre), escrito pelo editor da National Interest Robert W. Merry, mostra que historiadores americanos listam Franklin Delano Roosevelt atrás apenas de Lincoln e Washington em suas avaliações dos presidentes americanos. Uma edição recente da Newsweek lista FDR como o maior presidente moderno. Anos atrás, a Enquete Schlesinger Presidencial colocou FDR mesmo como o primeiro entre todos os presidentes.

Acredito que estes julgamentos não podem ser sustentados. Corrigi-los poderia ajudar os americanos a clarear que tipo de caráter que eles querem no presidente que eles elegem.

FDR foi certamente influente. Acima de tudo, mesmo se os economistas no debate à direita e à esquerda discutissem se foram suas políticas de estímulo ou o rearmamento da Segunda Guerra Mundial que finalmente terminaram a era de desemprego e depressão, FDR certamente elevou a confiança americana após a Depressão e durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto expandiu o escopo do governo americano.

Meu problema com a alta avaliação de FDR é que ao julgar um presidente, não são apenas os feitos ou a influência – o critério usado pela maioria dos historiadores – que interessa. Devemos também considerar se a conduta do Presidente é baseada em princípios morais e vivem à altura de tais ideais americanos como verdade, dignidade e compaixão.

Alguns podem argumentar que a abertura do Presidente Nixon à China ou a fundação da Agência de Proteção Ambiental foram grandes feitos, mas os historiadores consistentemente avaliam Nixon próximo do nível mais baixo. Por que? Por causa de seu terrível abuso de poder. Analogamente, ninguém avalia o Presidente James Buchanan bem. Buchanan preservou uma paz pré-Guerra Civil, mas somente aquiescendo na continuação e proteção da instituição imoral da escravidão. E Warren Harding sempre aparece no ou próximo do nível mais baixo das avaliações presidenciais, apesar de presidir na grande recuperação econômica de 1921. Por que? Por causa do Teapot Dome (N. do T.: escândalo em que o secretário do Interior, Albert Fall arrendou as reservas de petróleo da Marinha em Teapote Dome para companhias privadas a baixo preço e sem licitação) e outras falhas éticas de sua administração que vieram à luz após sua morte, que apesar de não serem diretamente atribuídas a Harding, ainda sujam seu padrão moral com os historiadores.

Sob esta percepção, é hora de dar uma olhada em FDR com outros olhos. Qualquer que seja a avaliação de suas políticas gerais domésticas e estrangeiras, FDR cometeu duas – e talvez quatro – das decisões mais covardes e imorais por qualquer presidente em nossa história.

A primeira foi a ordem executiva de FDR no começo da Segunda Guerra Mundial de internar – pelas definições modernas podemos usar a palavra “escravizar” – mais de cem mil cidadãos americanos na costa oeste e estrangeiros com um sexto ou mais de sangue japonês. Esta ação foi mais tarde criticada no Jornal de Lei de Yale por Eugene Rostow como semelhante “à pseudo-genética dos nazistas.”

Não é como se FDR tivesse agido por ignorância. Ele ignorou seu próprio Advogado-Geral, Frances Biddle, que inicialmente ridicularizou os “estrategistas de poltrona e Junior G-Men” pressionando por internamento sem nenhuma evidência de sabotagem. (N. do T.: Junior G-men eram clubes de garotos que foram criados sob a influência de um programa de rádio nos anos 1930 sob o comando de Melvin Purvis, um agente do FBI que perseguiu e matou o gângster John Dillinger.) Ele também ignorou seu Diretor do FBI, J. Edgard Hoover – não exatamente conhecido por ser um defensor das liberdades civis – que, referindo-se à “histeria pública”, afirmou que “a necessidade para evacuação em massa é baseada principalmente na pressão pública e política ao invés de em dados reais.”

Ao invés disso, FDR ficou ao lado do Secretário Assistente da Guerra, John J. McCloy, que, referindo-se aos cidadãos americanos envolvidos, acreditava que “podemos... encobrir a situação legal... apesar da Constituição.” O Secretário da Guerra Henry L. Stimson juntou-se aos dois, citando necessidade militar, apesar de o general Mark Clark, em um relatório para o Chefe de Staff George Marshall, achou que “a evacuação em massa era desnecessária.”

O internamento de milhares continuou em 1945, e apesar da guerra estar claramente decidida e milhares de jovens nipo-americanos terem servido com distinção na frente europeia, FDR não recuou, reconsiderou, desculpou-se ou mesmo ofereceu compensação. Estas tarefas seriam deixadas aos sucessores Harry Truman e Gerald Ford, e ao Congresso de 1988 e Ronald Reagan.

Uma coisa é aceitar a instituição histórica da escravidão, como nossos pais fundadores fizeram, e ponderar como se livrar disso. Outra coisa é iniciar internamento racial como FDR fez, quase um século após Lincoln promover a abolição da escravatura racial.

Junto com este ato de autoridade imoral veio um ato infame de omissão. Foi a falha de FDR de seguir os passos mais óbvios para mitigar ou parar o pior genocídio da história: o Holocausto.

Roosevelt permaneceu em silêncio nos anos 1930 quando Hitler começou suas políticas anti-semitas. FDR permaneceu em silêncio em 1940 quando o navio St. Louis atracou na costa da Flórida com quase mil judeus alemães procurando por refúgio sem sucesso. FDR permaneceu em silêncio em 1941 quando seu Departamento de Estado recusou a aplicar cotas não utilizadas para refugiados judeus buscando entrada nos EUA. FDR permaneceu em silêncio em 1942 quando notícias chegaram da morte de milhões de judeus nos campos de extermínio nazistas.

Roosevelt recusou encontros com aqueles líderes judeus que pressionavam por ação. Ele pessoalmente se recusou mesmo a pedir a seu Secretário do Interior, Harold Ickes, para usar as Ilhas Virgens como refúgio para os judeus que fugiam da Europa.

Novamente, como mostrado no livro do clérigo cristão David Wyman “O Abandono dos Judeus” (Abandonment of the Jews), não dói porque FDR não ouviu argumentos para agir. Funcionários do Departamento do Tesouro sob o Secretário Henry Morgenthau Jr. forçaram a barra para resgatar os judeus através da Suíça. Um advogado do tesouro, Randolph Paul, comentou, “Não sei como podemos culpar os alemães por matá-los quando nós estamos fazendo isso. A lei chama isso de para-delicto, isto é, culpa igual...”

Em uma reunião pública em 1943 para honrar os esforços da Suécia e da Dinamarca para resgatar os judeus, o antigo chefe do Escritório de Administração de Preço, Leon Henderson, chamou os governos aliados e seus líderes de “covardes morais” por falhar em oferecer refúgio dos esforços de extermínio nazistas. O problema, disse Henderson, foi “evitado, escondido, postergado, ignorado e esquecido por todas as formas de forças políticas disponíveis aos governos poderosos.”

Muitos jornais escreveram sobre o assunto, exigindo uma ação. Os jornais da Hearst repetiram o refrão “Isto não é uma questão cristã ou judaica. É uma questão humana e se refere a homens e mulheres de todos os credos.” Mas, até muito tarde, todos estes apelos foram em vão.

Nosso primeiro presidente, George Washington, que os historiadores comparam com Roosevelt, falou incessantemente de como a América deve oferecer refúgio àqueles que sofrem perseguição religiosa. Era uma mensagem que FDR ignorou – ou apenas esqueceu.

A inércia de FDR foi coroada por sua recusa em 1944 em ordenar o bombardeamento das câmaras de gás de Auschwitz e as ferrovias que levavam até lá, apesar dos apelos dos líderes judeus da resistência eslovaca, dos governos polonês e tcheco no exílio e do Comitê de Emergência para Salvar o Povo Judeu. FDR seguiu o conselho de seu Secretário Assistente da Guerra McCloy e seu Departamento que, sem consultar os comandantes da força aérea na Europa, chamou esta ação de “impraticável” porque desviaria recursos do esforço de guerra. Mesmo com o controle dos céus e centenas de aviões bombardeando toda a área ao redor de Auschwitz, incluindo as instalações de petróleo e borracha ao redor de Auschwitz, um avião despejando umas poucas bombas, mesmo matando centenas, poderia ter prevenido o extermínio de milhares. (N. do T.: em 24 de agosto de 1944, o campo de concentração de Buchenwald foi bombardeado matando 315 prisioneiros e ferindo 1500. [1].)

Há, ainda, uma terceira decisão imoral que FDR fez, envolvendo o encobrimento do massacre soviético em Katyn, Polônia. Este encobrimento veio à luz com a liberação recente de milhares documentos tornados públicos dos Arquivos Nacionais. De acordo com especialistas e relatórios da imprensa, estes documentos mostram que mensagens secretas codificadas de prisioneiros de guerra americanos em 1943 aos níveis mais altos da inteligência militar americana, deixam claro que os soviéticos mataram 22.000 oficiais poloneses em 1940 e tentaram botar a culpa pelas mortes nos nazistas. A informação coincidiu com a conhecida comunicação direta a FDR do seu emissário especial para os Bálcãs, George Earle, chegando à mesma conclusão. O encobrimento, incluindo transmissões suprimidas de poloneses-americanos durante a guerra, e o impedimento dos esforços do emissário especial Earle em publicar seus pontos de vista, exilando-o ao invés disto em Samoa, foi planejado para ganhar o voto polonês-americano em 1944 ou afetar as políticas americanas em relação à União Soviética e à Polônia do pós-guerra, ou, muito provavelmente, ambos. Pode ser dito que neste caso FDR não iniciou uma ação, tal como o internamento de milhares de nipo-americanos, ou a recusa em agir, como interromper a perda de milhares de vidas de judeus, porque ele soube do massacre bem depois de sua execução e não poderia mais tê-lo impedido. Mesmo assim, a decisão pelo encobrimento teve conseqüências graves no futuro e não mostra grande caráter moral.

O quarto assunto envolvendo a moralidade de FDR ou a falta dela, refere-se ao seu trabalho sujo contra a segregação racial. Para seu crédito, FDR assinou uma ordem executiva banindo a discriminação na indústria de defesa, mas simultaneamente ele negou uma promessa ao líder afro-americano Philip Randolph para acabar com a segregação nas forças armadas, deixando o trabalho a seu sucessor, Harry Truman. Truman tornou-se o primeiro presidente a conversar com a NAACP, o primeiro presidente a enviar uma mensagem de direitos civis ao Congresso e o primeiro presidente democrático a levantar-se contra os democratas sulistas ao aceitar uma plataforma de direitos civis na convenção de 1948. Apenas para estar certo que a mensagem foi recebida, Truman duas semanas após a convenção emitiu uma ordem executiva estabelecendo oportunidade igual nas forças armadas e no serviço público federal, assim garantindo que os segregacionistas teriam seu próprio candidato e aumentando o risco da reeleição de Truman. FDR, em uma posição de comando mais política, não gastou nenhum capital político sobre a não-segregação durante suas quatro campanhas eleitorais. Assim como no caso do massacre de Katyn, podemos dizer que FDR não começou a segregação, mas nem a interrompeu completamente. Ele apenas não exerceu sua grande liderança moral.

É claro, os apologistas de FDR podem culpar os intensos sentimentos anti-nipônicos, anti-semitas, pró-soviéticos e o poder dos segregacionistas no Congresso para estas quatro ações ou não-ações. Mas este é precisamente o ponto: uma grande liderança moral às vezes significa ir contra os elementos básicos do sentimento público e, neste caso, apesar das inúmeras oportunidades, FDR falhou. Lincoln permaneceu contra os freqüentes sentimentos anti-negros durante a Guerra Civil, e Washington liderou uma revolução contra o domínio britânico até o fim, comandou muito, mas provavelmente nunca teve amplo apoio popular.

Poderíamos pensar que listar os presidentes americanos deveria medir não somente seus feitos, mas seu comprometimento, em face da hostilidade, aos ideais americanos e moralidade. Listas de nossos grandes presidentes tipicamente não incluem aqueles com grandes falhas morais.

Os historiadores americanos fariam bem ao considerar a moralidade em todas as suas avaliações presidenciais mesmo que isto signifique rebaixar um de seus políticos favoritos.


John R. Miller é ex-embaixador dos EUA, ex-congressista por Seattle, professor visitante do Instituto de Estudos Governamentais na Universidade da Califórnia em Berkley e membro sênior no Instituto Discovery em Seattle.


http://www.theamericanconservative.com/articles/fdrs-failed-moral-leadership/


Referência

[1] http://en.wikipedia.org/wiki/Auschwitz_bombing_debate

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