A
crença em sua bondade é, de fato, absurda. Nosso principal aliado (rejeitado no
começo com escárnio arrogante, depois abraçado com entusiasmo desesperado e
esnobe) foi um dos maiores tiranos assassinos na história humana, cujo império
de escravidão nós o ajudamos a expandir e consolidar, e para quem entregamos depois
milhares de vítimas, para quem devíamos pelo menos uma vida, ainda que
soubéssemos que ele as mataria.
Nossa
proposta em se juntar à guerra não foi somente não atingida, mas o país cuja
independência afirmamos ter “salvo” (N do T.: Polônia) afundou em sucessivas
ondas de terror, crueldade, ilegalidade, assassinato e despotismo, para emergir
60 anos depois a muitas milhas longe de onde ele estava quando o “resgatamos”.
O
principal efeito da guerra na vida da Grã-Bretanha (exceto do dano físico imposto
pelo bombardeamento consideravelmente menor do que os danos que nós infligimos
à Alemanha) foi a falência de nossa economia, o aumento dos impostos a níveis
nunca antes vistos, tornar a interferência do Estado em todos os aspectos da
vida mais atuantes, destruir inúmeras famílias, popularizar o divórcio,
enfraquecer as famílias, aumentar o crime e a delinquência, e sujeitar a
cultura nativa à uma invasão dos costumes e linguagem americanos dos quais
jamais nos recuperamos. O principal efeito da guerra na Grã-Bretanha como
Estado e economia foi a destruição de seu Império, permanentemente
enfraquecendo sua moeda e seu status de potência naval e diplomática de
primeira classe. No processo, em Singapura em 1942, este país sofreu a derrota
mais grave de seus exércitos em toda a sua história, uma derrota tão desastrosa
e irreparável que a maioria dos britânicos é – na melhor das hipóteses –
ignorante dela, apesar deles estarem razoavelmente bem informados sobre os
horrores que se abateram sobre os exércitos capturados.
Durante
e imediatamente após a guerra, como discuti aqui, empregamos métodos que teriam
revoltado nossos antepassados e que nos revolta, mas que foram tão horrorosos
que ainda mentimos para nós mesmo, ou escondemos de nossas consciências.
Ninguém que realmente os entendeu poderia defendê-los, que é a razão porque a
crítica destas políticas tem primeiro que enfrentar um grande obstáculo de
ignorância, algumas vezes intencional, outras não.
O
primeiro foi o bombardeio deliberado das casas dos civis alemães, não apenas
nos famosos incidentes em Hamburgo e Dresden, mas em toda a Alemanha por muitos
meses, o que é moralmente indesculpável e, como geralmente acontece,
militarmente ineficiente. A maioria dos britânicos é ignorante desta operação ou
subestimam ou se recusam a acreditar que tenha sido uma política deliberada,
erroneamente acreditando que os bombardeiros procuravam destruir alvos
militares e industriais e somente acidentalmente matou ou mutilou civis. A
bravura indubitável e sacrifício dos tripulantes nesta operação, aceita
incondicionalmente por mim, não tem nada a ver com a culpa dos políticos e
comandantes que a autorizaram e executaram.
O
segundo foi a atroz, mas ainda grandemente desconhecida, “limpeza étnica” de
talvez dez milhões de alemães de seus antigos lares na Europa Oriental e
Central, autorizada e planejada antes do fim da guerra, aprovada pelos aliados
vitoriosos em Postdam, e falsamente retratada – na época e até hoje – como
“ordeira e humana”. Aqueles que a ordenaram e autorizaram sabiam perfeitamente
bem que não seria nada desse tipo. Aqueles que a conduziram fizeram poucos
esforços para reduzir seu caos e crueldade, que serviu bem para sua proposta –
expulsar seus vizinhos de seus lares ancestrais por terror em massa e roubo.
Estas
palavras, “Ordeira e Humana” que apareceu no documento de Postdam que autorizou
a atrocidade, também forneceu o título friamente amargo de um novo livro de R.
M. Douglas, recentemente publicado pela Editora da Universidade de Yale.
O
livro nos leva através de vários estágios, o primeiro sendo o planejamento
deliberado das expulsões, por servidores civis e políticos, que descobriram
muito rapidamente, à medida que se aprofundavam no tema, que a coisa não
poderia ser conduzida sem crueldade.
E
aqueles que viviam na época? Muitos protestaram, notavelmente o editor
esquerdista Victor Gollancz, o excelente jornalista Eric Gedye e nossos velhos
amigos da campanha contra o bombardeio dos alemães em suas casa, o bispo George
Bell de Chichester e o parlamentar Richard Stokes.
Mas
como ocorre sempre quando algo de ruim está acontecendo, o consenso “geral” era
complacente e defensivo. Winston Churchill, que exigiu o plano por anos, e
havia ignorado os alertas sobre seus perigos, começou fazendo escarcéu
hipócrita sobre sua crueldade muito tempo depois que já era tarde demais.
Atualmente, é moda declarar a santidade de Clement Attlee, o Primeiro Ministro
trabalhista do pós-guerra. Bem, São Clement foi informado que o plano tinha
sérios problemas, em especial muito sofrimento humano: “Qualquer coisa que leve
à casa dos alemães a realidade irrevogável e completa de sua derrota é digna ao
final.”
Qualquer
coisa? Veremos.
Removi
a nacionalidade das vítimas e dos soldados da seguinte descrição. Veja se você
consegue adivinhar quem eles eram, antes de eu te dizer, logo abaixo:
“Em
um simples incidente, 265******, incluindo 120 mulheres e 74 crianças, foram
mortas em 18 de junho pelas tropas******, que os removeram de um trem em Horne Mostenice ,
próximo a Prerov, fuzilaram-nos pelas costas na nuca e os enterraram em uma
cova coletiva que as vítimas foram obrigadas a cavar ao lado da estação de
trem.”
Bem,
se eu te dissesse que o ano era 1945, quando em 18 de junho a guerra já havia
acabado, talvez você esteja apto a raciocinar que todos os assassinos *não* eram. Sim, você está chegando
perto, eles não eram “os nazistas” ou mesmo “os alemães”. Os mortos (a maioria
mulheres e crianças) eram alemães. Os assassinos eram as tropas supostamente
disciplinadas do Exército da boa e amigável Tchecoslováquia.
Dois
pontos surgem aqui. Um, que o professor Douglas insiste repetidamente, é que
estes matadores nojentos não eram (em geral) o resultado de civis enfurecidos
fazendo sua vingança, o que pelo menos serviria para diminuir o crime. Eles
eram mantidos pelo Estado e controlados centralmente e são, até hoje,
defendidos pelos países envolvidos, justamente nervosos com qualquer sugestão
de que eles podem estar sujeitos a investigação legal, ou exigências para
compensação.
O
segundo é que os autores destas coisas abomináveis indesculpáveis foram os
“decentes” tcheco-eslovacos e os “galantes” poloneses, por muito tempo tratados
com admiração sentimental pela Grã-Bretanha (talvez para mascarar o fato de que
os traímos em 1938 e 1939).
Também
falarei aqui sobre o murmúrio que ouço de que “os alemães fizeram isto
primeiro, e estávamos retribuindo da mesma forma que eles”, junto com as vaias
de “Pô, você é um daqueles apologistas de Hitler?” e (sem dúvida) insinuações
do tipo policiamento ideológico de que sou um racialista enrustido.
Bem,
alguns alemães certamente fizeram tais coisas e mesmo piores (apesar de tê-los
deixado em paz já que precisávamos deles para administrar o país após a derrota
de Hitler), mas a maioria das vítimas destes incidentes eram mulheres e
crianças, e alguns dos outros (por exemplo) alemães tchecos social-democratas
que resistiram aos nazistas. Isto foi um expurgo racial, combinado com um
colossal roubo de propriedade, dinheiro, imóveis e terra (os refugiados não
podiam levar quase nada consigo), horrivelmente comparável com as ações
nacional socialistas alemãs. Qualquer um que (justamente) condena os nazistas
alemães como assassinos bárbaros não pode realmente, em toda a consciência, se
recusar em condenar os autores destas ações também. (Este ponto é falado mais
tarde).
O
professor Douglas defende que as expulsões não chegaram ao nível dos campos de
extermínio (apesar de que em certas ocasiões, como veremos, elas chegaram
incrivelmente perto disso).
Mas
ele argumenta: “No entanto, o limite para a violação abusiva em massa dos
direitos humanos não pode ser as barbaridades sem precedentes do regime de
Hitler. Com exceção dos próprios anos de guerra, a Europa a oeste da URSS nunca
viu, e jamais veria novamente, tão vasta detenção arbitrária – na qual dezenas
de milhares, incluindo muitas crianças, perderiam suas vidas. Que em grande parte escapou
à atenção dos contemporâneos de outros
países na Europa, e do aviso dos
historiadores hoje, é um comentário
arrepiante sobre a
facilidade com que os grandes males diante de nossos olhos podem ser negligenciados
quando eles apresentam um espetáculo
que a opinião pública internacional
prefere não ver.”
A
propósito, uma das razões por que esta ação monstruosa foi adiante foi por
causa de uma crença difundida de que a (sanguinária e caótica, e economica e
socialmente desastrosa) troca compulsória de população entre Grécia e Turquia,
após a cessão de Smyrna aos turcos pela derrotada Grécia (1922), foi um
sucesso. O silêncio sobre as expulsões pós-1945 não deve ser permitido para
criar a mesma falsa impressão. Foi um verdadeiro inferno, e qualquer um que
proponha repeti-la deve ser avisado disso.
De
todas as muitas páginas de notas que peguei deste livro importantíssimo, devo
relutantemente mencionar umas poucas das mais surpreendentes, ao mesmo tempo
pedindo aos leitores para comprar ou solicitar em suas bibliotecas públicas
este trabalho necessário de verdade histórica obrigatória.
Em Linzer-Vorstadt, próximo da
cervejaria Budvar, um campo para alemães, tinha inscrito em seus portões as
palavras “Oko za Oko, Zub za Zub, que traduzido significa “Um olho por um olho,
e um dente por um dente.”
Prisioneiros novos eram despidos,
obrigados enquanto despidos a correr por uma fila de guardas que batiam neles
com bastões, raspavam seus cabelos e os forçavam a usar uniformes humilhantes.
A experiência de um padre católico, Josef Neubauer, neste lugar de miséria, é
muito longa para recontar aqui, mas é ao mesmo tempo chocante e comovente.
Em Auschwitz, não passou duas semanas
entre a partida dos últimos sobreviventes judeus e a chegada dos primeiros prisioneiros
alemães étnicos.
Um oponente tcheco da perseguição, o
Dr. Bedrich Bobek, é citado ter alertado em uma carta “Não deixe ninguém cair
na desculpa de que os alemães fizeram a mesma coisa. Ou estamos qualificados para sermos os seus juízes, caso em que não podemos
nos comportar como eles, ou então não somos diferentes
deles, e devemos abdicar do direito de julgá-los”, um sentimento com o qual eu concordo
profundamente.
Alguns poucos episódios a mais
frequentemente envolvendo maus cuidados que beiram a negligência criminosa. Um
trem chegou na Alemanha em dezembro de 1945 da Tchecoslováquia, um período de
clima gelado predito. Ele transportava 650 pessoas. Quando as portas foram
abertas, foram encontrados 94 passageiros, incluindo 22 crianças, mortos pelo
frio.
Uma outra descrição, desta vez de um
trem da Polônia: “... a maioria dos passageiros, após sua passagem pelos campos
poloneses, estavam magros ao ponto da inanição, cobertos de piolhos e sofrendo
de uma variedade de doenças infecciosas.” Trinta e nove passageiros terminaram
sua viagem como corpos congelados.
A descrição do destino de um trem de
Luben, na página 196, simplesmente tem que ser lida totalmente para ser acreditada.
Como sempre acontece, a intensa
escuridão destes eventos (durante o tempo inteiro que eu li este livro me senti
cercado por um tipo de sombra e imaginei todo evento descrito, mesmo aqueles
que mais tarde percebi tinham acontecido à luz do dia de verão, continuado em
condições de poeira e escuridão, noite e neblina) é algumas vezes iluminada
pela luz fulgurante de boas ações individuais, feitas contra a maré dos
acontecimentos.
A estória do tcheco Premsyl Pitter
(que havia trabalhado para salvar judeus do assassinato nazista durante a
ocupação) mostra que pequenos atos individuais de coragem humana e bondade
podem contrabalançar os interesses e cinismo do Estado. Após resgatar mil
prisioneiros alemães de uma prisão secreta em Praga, Pitter relembrou: “À
medida que trouxemos crianças magras e apáticas para fora e as descansamos no
gramado, acreditei que poucas poderiam sobreviver. Nosso médico, o Dr. E. Vogl,
ele próprio um judeu que passou pelo inferno de Auschwitz e Mauthausen, quase
chorou quando ele viu aqueles corpinhos. E aqui nós tchecos fizemos isto em
apenas dois meses e meio!”, ele exclamou.
Os leitores são convidados a adivinhar
qual sistema de pensamento e crença Premsyl Pitter seguia.
As autoridades tchecas, polonesas e
iugoslavas sabiam o que era resultante de suas políticas (assim como os
aliados, que planejaram e permitiram sabiam o que aconteceria e foram alertadas
pelos seus próprios especialistas dos perigos de tal ação). Eles não fizeram
quase nada a respeito disso. Poupar as mulheres e crianças do internamento
teria arruinado o programa inteiro. Devo acrescentar que quando os refugiados
chegaram na Alemanha, tudo acabou ficando pior por causa da colossal destruição
causada pelo bombardeio anglo-americano.
Você pode não querer saber que no
campo de Postoloprty na Boêmia do Norte em junho de 1945, cinco crianças alemãs
étnicas foram chicoteadas e depois fuziladas por tentar escapar.
Poderia continuar citando este livro por
horas. Mas você deve lê-lo ao invés disto. Terminarei com dois outros momentos
dele que me deixaram sentindo intensamente envergonhado da raça humana, e
imensamente grato por viver em uma ilha que por muitos séculos este livre da
invasão, subjugação e autoritarismo.
O primeiro é o relato das condições de
vida de alemães na Berlim ocupada (na época, lotada de refugiados do Leste,
muitos deles seriamente doentes e/ou famintos) no outono de 1945. “...Mulheres
podiam ser vistas recuperando a água suja da pia da cozinha de uma casa onde
havia uma trupe de aliados para obter pequenas porções de gordura que poderiam
ser usadas em suas próprias casas.”
Você pode estar certo que, mesmo um
ano antes, nenhuma destas recuperações de água suja para obter gordura teria sido a mais remota premonição
do que viria a acontecer a
eles. Nem eles,
em seu estado policial, ter tido
qualquer palavra séria nos eventos e políticas que resultaram neste destino. Aqueles nas
sociedades livres como a nossa, que promovem ou permitem as guerra, tem muito a
responder sobre isso. Eles deveriam curar-se de qualquer presunção sobre se
alemães comuns “mereciam” o que aconteceu a eles.
O segundo é um extrato de uma carta
(literalmente) suicida escrita por Gertrude Kostka ao seu marido Johannes, um
recruta no Exército alemão que foi feito prisioneiro por nós. Sua pequena
filha, Barbara, havia morrido no caos do avanço do Exército Vermelho através da
Polônia. Gertrud foi então estuprada por um colega de refúgio e ficou grávida.
Johannes Kostka tentou se comunicar com o governo americano e então com o
britânico, pelo menos, para apressar a deportação de sua esposa da Polônia de
modo que eles pudessem ser reunidos. As autoridades britânicas responderam que
tal ação poderia muito bem ser usada como propaganda contra nós, e poderia
deixar a situação dela pior (tais receios eram é claro genuínos) e que a
deportação era “um assunto interno da Polônia no qual não devemos interferir”,
o que eu acho ser mais ambíguo, dado que tínhamos sancionado e cooperado com
isso. Não fizemos nada, compreensivelmente. Não consegui descobrir o que
aconteceu mais tarde, no final, aos Kostkas. Somente posso adivinhar.
Ela escreveu:
“Me sinto
vazia e morta. Mas sendo honesta como nossa vida mútua foi, estas podem ser as
últimas linhas. Não tenho culpa em confessar. Não tenho lágrimas para derramar.
Tenho apenas esta crença que o Senhor te ajudará em confiar nas minhas
palavras. Após uma dor curta você encontrará a felicidade novamente. Para mim,
haverá desespero triste e a esperança de que o Senhor não me deixará, e me
chamará para Ele em minha hora mais escura, unindo-me à minha criança. Confiando
em Sua ajuda, me despeço de você e da minha vida. Não posso escrever mais. Só
posso implorar-te, por favor, acredite em mim, não sinto nenhuma culpa.”
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