O Pacto de Não-Agressão Teuto-Soviético ou Pacto Ribbentrop-Molotov provocou ondas de choque na Europa e na América do Norte quando foi assinado. Os governos alemão e soviético estavam em desacordo entre si. Isto ia além da ideologia; Alemanha e União Soviética estavam jogando um contra o outro nos eventos que conduziram à Segunda Guerra Mundial, assim como a Alemanha, o Império Russo e o Império Otomano jogaram contra si na Europa Oriental. [1]
Esta é a razão porque Grã-Bretanha e França declararam
guerra a Berlim em 1939, quando URSS e Alemanha invadiram a Polônia. Se as
intenções fossem proteger a Polônia, então por que somente declarar guerra
contra a Alemanha, quando na realidade alemães e soviéticos a invadiram
simultaneamente?
Se Moscou e
Berlim não tivessem assinado um acordo de não-agressão, não teria havido
declaração de guerra contra a Alemanha. De fato, o Apaziguamento foi uma
política criada na esperança de permitir a militarização da Alemanha e então
dar ao governo nazista os meios, através de poder militar, de criar uma
fronteira comum teuto-soviética, que seria um pré-requisito para uma guerra
antecipada entre os dois países, a qual neutralizaria as duas potências
continentais mais fortes da Europa e da Eurásia. [2]
A política britânica e a lógica para o pacto de
não-agressão entre os soviéticos e alemães foi melhor descrita por Carroll
Quigley (1910-77). Quigley, um respeitado professor americano de história, com
base nos acordos diplomáticos na Europa e informação privilegiada, explicou os
objetivos estratégicos da política britânica de 1920 a 1938 como:
Manter
o equilíbrio de poder na Europa intensificando o confronto entre Alemanha e
França e União Soviética; aumentar o peso da Grã-Bretanha naquele equilíbrio ao
alinhá-la com seus domínios (e.g., Austrália e Canadá) e os Estados Unidos;
recusar quaisquer compromissos (especialmente quaisquer compromissos com a Liga
das Nações, e acima de tudo com a França) além daqueles existentes em 1919;
manter a liberdade britânica de ação; conduzir a Alemanha para o leste contra a
União Soviética se uma ou ambas destas potências se tornasse uma ameaça à paz
(provavelmente significando um fortalecimento econômico) da Europa Ocidental (e
muito provavelmente implicando em interesses britânicos.)
[3]
Para
realizar este plano de conduzir a Alemanha para leste contra a União Soviética,
era necessário fazer três coisas: (1) liquidar todos os países entre a Alemanha
e a URSS; (2) prevenir a França de honrar suas alianças com esses países (isto
é, Tchecoslováquia e Polônia); e (3) enganar o povo britânico em aceitar isto
como necessário, de fato, a única solução para o problema internacional. O
grupo de Chamberlain foi tão bem sucedido em todas estas três coisas que eles
tiraram vantagem disso, e só falharam por causa da teimosia dos poloneses, da
pressa indecorosa de Hitler e o fato de que na décima primeira hora o Grupo
Milner (N. do T.: grupo de personalidades conservadoras do
Império Britânico que se reuniam secretamente; este termo foi cunhado pelo
próprio Quigley) percebeu as implicações
geo-estratégicas de sua política (o que, para o seu receio, acabou unindo
soviéticos e alemães) e tentou revertê-lo. [4]
Foi por causa deste objetivo de conduzir a Alemanha a uma
posição de ataque contra os soviéticos que os líderes britânicos, canadenses e
americanos tinham boa impressão de Adolf Hitler e do Nazismo (que parece não
estar explicado nos livros de história padrão) até o início da Segunda Guerra
Mundial.
Em relação ao apaziguamento sob o Primeiro Ministro
Neville Chamberlain e seu início quando da remilitarização do pólo industrial
da Renânia, Quigley explica:
Este
evento de março de 1936, através do qual Hitler remilitarizou a Renânia, foi o
mais crucial em toda história do apaziguamento. Desde que o território a oeste
do Reno e uma faixa de 50 km
de extensão à margem oriental do rio estavam demilitarizadas. Como exigido pelo
Tratado de Versalhes e pelo Pacto de Locarno, Hitler jamais ousaria mover-se em
direção da Áustria, Tchecoslováquia e Polônia. Ele não teria ousado porque, com
a Alemanha ocidental sem fortificações e desprovida de tropas, a França poderia
facilmente invadir a área industrial do Rhur e enfraquecer a Alemanha de modo
que seria impossível ir para o leste. E por volta desta época (1936), certos
membros do Grupo Milner e do governo conservador britânico tinham chegado à
fantástica idéia de que eles podiam matar dois coelhos com uma cajadada só, ao jogar
a Alemanha e a União Soviética contra si na Europa oriental. Neste caso, eles
previram que os dois inimigos ficariam atolados, ou que a Alemanha ficaria
satisfeita com o petróleo da Romênia e o trigo da Ucrânia. Nunca passou pela
cabeça de ninguém em uma posição responsável que a Alemanha e a União Soviética
poderiam ter uma causa comum, mesmo temporariamente, contra o Ocidente. Menos
ainda passou pela cabeça deles que a União Soviética pudesse bater a Alemanha e
assim abrir caminho para o Bolchevismo por toda a Europa Central.
[5]
A destruição dos países entre a Alemanha e a União Soviética poderia, assim que a Renânia fosse militarizada, sem medo da Alemanha que a França fosse capaz de atacá-la no ocidente enquanto ela se ocupava do leste. [6]
A destruição dos países entre a Alemanha e a União Soviética poderia, assim que a Renânia fosse militarizada, sem medo da Alemanha que a França fosse capaz de atacá-la no ocidente enquanto ela se ocupava do leste. [6]
Em relação à criação eventual de uma fronteira comum
teuto-soviética, a aliança militar liderada pela França deveria ser primeiro
neutralizada. Os pactos de Locarno foram pensados pelos mandarins da política
externa britânica para prevenir que a França fosse capaz de apoiar militarmente
a Tchecoslováquia e a Polônia na Europa Oriental, e assim intimidar a Alemanha
de tentar qualquer de anexar ambos os estados da Europa Oriental. Quigley
escreve:
Os
acordos de Locarno garantiram a fronteira da Alemanha com a França e Bélgica
com as outras potências destes três Estados mais Grã-Bretanha e Itália. Na verdade,
os acordos não deram nada à França, enquanto que elas deram à Grã-Bretanha um
veto sobre a realização de suas alianças com a Polônia e a Pequena Entente (N.
do T.: aliança entre Tchecoslováquia, Romênia e Iugoslávia para defesa comum de
seu território no caso de uma ressurreição da Dinastia dos Habsburgos.) Os franceses aceitaram estes documentos
enganosos por razão de política interna (...) Esta armadilha (como Quigley
chama os acordos de Locarno) consistiam de muitos fatores inter-relacionados.
Em primeiro lugar, os acordos não garantiam a fronteira e a condição
desmilitarizada da Renânia contra ações alemãs, mas contra as ações tanto da
Alemanha quanto da França. Isto, a princípio, deu à Grã-Bretanha o direito de se
opor a qualquer ação francesa contra a Alemanha em apoio aos seus aliados a
leste da Alemanha. Isto significava que se a Alemanha se movesse para leste
contra Tchecoslováquia, Polônia e eventualmente a União Soviética, e se a
França atacasse a fronteira ocidental da Alemanha em apoio da Tchecoslováquia
ou Polônia, como seus aliados queriam, a Grã-Bretanha, Bélgica e Itália poderiam
unir-se pelos Pactos de Locarno para sair em defesa da Alemanha. [7]
O Acordo Naval Anglo-Germânico de 1935 também foi
deliberadamente assinado pela Grã-Bretanha para prevenir que os soviéticos se
unissem à aliança militar entre França, Tchecoslováquia e Polônia. Quigley
escreve:
...
Quatro dias depois, Hitler anunciou o rearmamento e dez dias depois, a
Grã-Bretanha condenou o ato enviando Sir John Simon para uma visita oficial a
Berlim. Quando a França tentou se contrabalançar ao rearmamento alemão trazendo
a União Soviética para seu sistema de aliança oriental em maio de 1935, a
Grã-Bretanha contratacou fazendo o Acordo Naval Anglo-Germânico em 18 de junho
de 1935. Este acordo, concluído por Simon, permitiu à Alemanha construir até
35% do tamanho da Marinha Britânica (e até 100% em submarinos). Esta foi uma
facada nas costas da França, porque ele deu à Alemanha uma marinha
consideravelmente maior do que a francesa nas importantes categorias de navios
(navios principais e porta-aviões), pois a França estava limitada por acordo a
33% da Grã-Bretanha; e a França, além disso, tinha um império mundial para
proteger e uma Marinha Italiana pouco amigável na costa do Mediterrâneo. Este
acordo colocou a costa atlântica francesa tão completamente à mercê da Marinha
alemã que a França tornou-se completamente dependente da frota britânica para a
proteção desta área. [8]
O Plano Hoare-Laval (N. do T.: plano anglo-francês de
1935 para acabar com a Segunda Guerra Ítalo-Abssínia) também foi usado para
direcionar a Alemanha para o leste ao invés do sul através do Mediterrâneo
oriental, que a Grã-Bretanha como uma peça crítica para manter seu império
unido e conectá-lo através do Canal de Suez à Índia. Quigley explica:
Os
países marcados para extinção incluíam Áustria, Tchecoslováquia e Polônia, mas
não incluíam Grécia e Turquia, já que o Grupo (Milner) não tinha nenhuma
intenção de permitir a Alemanha descer até a “linha da vida” mediterrânea. De
fato, o propósito do Plano Hoare-Laval de 1935, que destruiu o sistema de
segurança coletiva ao dar a maior parte da Etiópia à Itália, deveria apaziguar
a Itália em posição ao lado da Grã-Bretanha, no sentido de impedir qualquer
movimento da Alemanha em direção ao sul ao invés do leste. [9]
Tanto a União Soviética, sob Joseph Stalin, e a
Alemanha, sob Adolf Hitler, acabaram percebendo o planejamento de uma guerra
teuto-soviética e por causa disso Moscou e Berlim assinaram um pacto de
não-agressão antes da Segunda Guerra Mundial. O acordo foi em boa parte uma
resposta à postura anglo-americana. No final, foi por causa da desconfiança mútua
entre alemães e soviéticos que a aliança colapsou e a antecipada guerra
teuto-soviética veio a ser o teatro de guerra mais mortal da Segunda Guerra
Mundial, a frente oriental.
Texto Completo
Referências
[1] Mahdi Darius Nazemroaya, The “Great Game”: Eurasia and the History
of War, Centre for Research on Globalization (CRG), December 3, 2007.
http://www.globalresearch.ca/index.p...xt=va&aid=7064
[2]China at this time was
already being limited by Japan
and before that by combined Japanese, Russian, and Western European policies.
This would leave Germany
and the U.S.S.R. as the two main threats to Anglo-American interests.
[3] Carroll Quigley, The Anglo-American Establishment: From Rhodes to Cliveden (San Pedro, California: GSG & Associates Publishers, 1981), p.240.
[4] Ibid., p.266.
[5] Ibid., p.265.
[6] Ibid., p.272.
[7] Ibid., p.264.
[8] Ibid., pp.269-270.
[9] Ibid., p.273.
http://www.globalresearch.ca/index.p...xt=va&aid=7064
[2]
[3] Carroll Quigley, The Anglo-American Establishment: From Rhodes to Cliveden (San Pedro, California: GSG & Associates Publishers, 1981), p.240.
[4] Ibid., p.266.
[5] Ibid., p.265.
[6] Ibid., p.272.
[7] Ibid., p.264.
[8] Ibid., pp.269-270.
[9] Ibid., p.273.
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