Dois anos antes, Bendheim havia sido demitido de seu emprego de engenheiro na Alemanha porque ele era judeu. Como resultado da demissão, ele deixou seu país e imigrou para a Palestina, um judeu perseguido.
Nada
disso aborreceu os organizadores do evento em Jerusalém. Bendheim foi agraciado
com a “Cruz de Honra para Combatentes do Front” em nome do Führer, Adolf
Hitler, e do então falecido presidente do Reich, o Marechal Paul Von Hindenburg,
“em comemoração à Guerra de 1914-1918”. Mesmo sua profissão registrada – “engenheiro
qualificado” – está marcada no certificado. Os nazistas também registraram seu
atual local de moradia: “[Kibbutz] Yagur, próximo de Haifa.”
28
de junho de 2014 marcou o centenário do acontecimento que iniciou a Primeira
Guerra Mundial: o assassinato do Arquiduque Franz Ferdinando da Áustria em
Sarajevo. Cerca de 100.000 judeus lutaram do lado alemão na guerra; 12.000
deles foram mortos em ação. Muitos foram condecorados por seu valor no front. Alguns
mesmo receberam a importante Cruz de Honra[1]. A Alemanha nazista começou a
distribuir estas medalhas em 1934, para comemorar o vigésimo aniversário da
guerra perdida.
Aparentemente,
alguns dos filhos e netos destes yekkes (judeus
alemães) no Israel atual, muitos dos quais são membros da Associação de
Israelitas de Origem Centro-Européia (AICEO), ainda guardam estas relíquias.
“Muitos
dos membros da associação são descendentes dos soldados que lutaram heroica e
tenazmente no exército alemão da Primeira Guerra Mundial,” disse Devorah
Haberfeld, diretor da AICEO. “O fato da Alemanha nazista ter condecorado os
combatentes judeus em nome do Führer e do Reich, logo após os judeus terem sido
extirpados de seus direitos civis e encarcerados, deportados e finalmente
aniquilados, é quase um absurdo incompreensível.”
Hermann
Bendheim nasceu em 1899 na cidade de Bensheim no sudoeste da Alemanha. Um
adolescente quando estourou a guerra, ele se apresentou como voluntário no
exército alemão. Ele serviu como artilheiro na frente francesa e foi
condecorado com a Cruz de Ferro enquanto a guerra piorava. Sua mãe, Hänchen
Bendheim, uma mulher muito religiosa, serviu na Cruz Vermelha alemã e também
foi condecorada por seu esforço de guerra.
Após
a guerra, Bendheim estudou engenharia na Universidade de Darmstadt de
Tecnologia e trabalhou na indústria alemã. Em 28 de agosto de 1933, ele foi
demitido de seu emprego numa fábrica de porcelana como um “judeu indesejável”,
apesar de sua carta de demissão mais parecer uma carta de recomendação: suas
qualificações sãocitadas, mas a empresa afirma que por causa das “mudanças
políticas e política de pessoal resultante delas” – era melhor Bendheim partir.
“Lamentamos muito perder sua capacidade laboral,” diz a carta.
No
mesmo ano, ele visitou a Palestina com sua noiva, Erna. Os dois então voltaram
à Alemanha e se casaram, antes de imigrar em 1934. Seu filho, Dr. Udi Bendheim,
um veterinário que se especializou em doenças aviárias, disse ao Haaretz: “Ele
juntou suas coisas, inclusive documentos e itens que eram proibidos de serem
removidos da Alemanha. Ele embrulhou tudo em uma toalha, na qual colocou sua
Cruz de Ferro.” Quando o agente alfandegário abriu sua mala e viu a Cruz de
Ferro, ele fez a saudação nazista para Bendheim e o liberou, sem examinar o
resto.
O
casal se estabeleceu em Nesher, nos arredores de Haifa, onde Bendheim trabalhou
como engenheiro em uma fábrica de cimento. Erna e sua irmã gêmea abriram uma
pensão em Nahariya, que hoje é um hotel chamado Erna.
Quando
Bendheim foi convidado pelo Consulado alemão em Jerusalém para receber a Cruz
de Honra, os diplomatas que o receberam não tinham ideia, é claro, que poucos
anos depois, durante a Segunda Guerra Mundial, Bendheim se apresentaria como
voluntário da Guarda Patriota – uma força paramilitar que foi criada para deter
uma possível invasão alemã da Palestina.
Bendheim
morreu em 1962. Seu filho único ainda tem as fotografias de seu pain a Grande
Guerra. Uma mostra a robusta peça de artilharia da unidade, o megacanhão
conhecido como “Grande Bertha”. O trator que carregava o enorme canhão ao seu
local é visto em outra foto. Seu pai não lhe contou sobre a condecoração que
ele recebeu dos nazistas após ter imigrado para a Palestina.
“Foi
somente após sua morte, quando estava vasculhando seus documentos, que a encontrei,”
diz agora Udi Bendheim.
Três
anos antes, a cidade de Bensheim realizou uma cerimônia na qual a praça
adjacente a uma antiga sinagoga – que foi destruída durante a Kristallnacht em
1938 – foi nomeada de Praça Bendheim, em honra da família.
Ilana
Brosh e sua irmã Irit Danziger também possuem a medalha concedida pelos
nazistas ao seu avô. O Dr. Adolf Samuel nasceu em Frankfurt em 1893 em uma
família judia assimilada. Durante a guerra, ele foi um oficial de cavalaria na
frente oriental. De acordo com suas netas, ele foi um “bom patriota alemão”,
juntando-se ao exército “entusiasticamente” e era orgulhoso de sua folha de
serviços.
Após
a guerra ele tornou-se dentista. Após a ascensão dos nazistas ao poder, ele
também acabou sendo condecorado por eles, “em nome do Führer e do Chanceler do
Reich.” A cerimônia de entrega aconteceu em Frankfurt em 1935. Uma suástica é
visível no documento que Samuel recebeu dos nazistas com a citação, recebida do
chefe de polícia de Frankfurt.
“Ele
acreditava que, por causa de sua lealdade à pátria, nada poderia acontecer-lhe –
acima de tudo, ele recebera a Cruz de Honra,” dizem as netas. Mas em março de
1938, percebendo que estava errado, ele imigrou para a Inglaterra,
estabelecendo uma clínica em Londres. Ele morreu em 1978.
“Febre Patriótica”
“Os
judeus viam a guerra como uma chance de provar a si próprios, para aqueles que
os cercavam e para o imperador sua total lealdade: ‘mais alemão que os alemães’”,
nota Reuven Merhav, um antigo diretor dos serviços secretos do Shin Bet e
Mossad, que descende de uma família yekke. “Os líderes mais proeminentes da
comunidade publicaram artigos repletos de fervor patriótico. Milhares de judeus
que estavam na adolescência fizeram todos os esforços possíveis para serem
convocados. Sermões motivacionais patriotas eram dados nas
sinagogas.”
O
pai de Merhav, Dr. Walter Markowicz, era um daqueles soldados. Nascido na
Alemanha em 1897, ele se apresentou como voluntário no exército aos 17 anos e
foi enviado à frente oriental, próximo de Minsk, servindo no corpo de sinais.
Após a guerra, ele se uniu ao movimento sionista, tornou-se médico e se
estabeleceu em uma pequena cidade próxima a Colônia.
No
último momento, ele e sua namorada foram capazes de conseguir certificados
permitindo-lhes imigrar para a Palestina.
“O
último documento que ele recebeu, antes de deixar a Alemanha no final de 1935,
foi a confirmação do Führer, Hitler, que a Cruz de Honra seria concedida a
veteranos da guerra. Ele também recebeu uma carta de referência do chefe de
polícia, quepermitiu-lhe ir embora,” relata Merhav, acrescentando que seu pai
praticou a medicina em Israel até sua morte em 1960, em Haifa.
A
medalha que Markowicz recebeu não ajudou seu próprio pai, Julius, que em 1942
foi enviado a Theresienstadt e assassinado lá.
“Meu
pai jamais perdoou-se por não tê-lo salvo,” explica Merhav. “Qualquer coisa que
ele falasse sobre seu pai a tristeza lhe aparecia no rosto.”
Uma
exposição no Museu para judeus alemães em Tefen, na Galiléia, inclui um
certificado que acompanhava a Cruz de Honra dos combatentes, que foi concedida
a Otto Meyer em 4 de janeiro de 1935, na pequena cidade alemã de Rheda. Dois
anos depois, Meyer e sua família imigraram para a Palestina e se estabeleceram
em Nahariya, como muitos outros yekkes.
Meyer
nasceu em 1886 em Berlim. Ele estudou advocacia e era proprietário de uma
empresa. Em 1915 ele deixou sua esposa e filhos e partiu para o front. Ele
lutou contra os franceses e chegou ao posto de oficial. Como muitos outros, ele
também foi condecorado com a Cruz de Ferro durante a guerra. Ele enviou SUS fotografias
de família que ele guardou enquanto lutava, junto com desenhos e cartas.
Meyer
chegou à palestina com a idade de 51 anos. O advogado e antigo segundo-tenente
da infantaria alemã começou sua nova vida como trabalhdor em um aviário. Em seu
tempo de folga, ele contribuiu com o desenvolvimento de Nahariya e sua vida
cultural. Ele morreu em 1954. Seu filho, Andreas Meyer, 95 anos, um morador de
Kfar Vradim – um local que foi criado pelo industrial yekke Stef Wertheimer –
continua a guardar as medalhas de seu pai e outros certificados de honra até
hoje.
A
premiação de várias distinções dos nazistas a soldados judeus que serviram pela
Alemanha era um exemplo das muitas contradições internas do regime. Outros
descendentes de yekkes vivendo em Israel hoje têm em sua posse diplomas
universitários que foram enviados da Alemanha a seus novos endereços na
Palestina, guardados em envelopes com a suástica estampada neles. Isto pode ser
visto como um exemplo da burocracia cega alemã, ou um absurdo inexplicável.
No
estágio inicial da ascensão dos nazistas ao poder, havia alguns judeus que mantiveramsuas
esperanças em tais atitudes. Em 19 de julho de 1934, a revista semanal judia
C.V. Zeitung publicou um artigo chamado “Cruz de Honra”, no qual ele falava das
condecorações que os nazistas deram aos judeus que lutaram na Primeira Guerra
Mundial. “Os judeus alemães... carregarão e manterão viva a memória dos grandes
dias da história comum judaico-alemã,” dizia o artigo.
Nota:
[1]
O Judeu Favorito de Hitler
Judeu foi diplomado Advogado na
Alemanha Nazista
Um Nazista viaja para a Palestina
“A Questão Judaica” na visão dos
Nazistas
http://epaubel.blogspot.com.br/2013/01/pol-questao-judaica-na-visao-dos.html
Os Soldados Judeus de Hitler
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