domingo, 10 de maio de 2015

[POL] Hitler como Líder Militar

Carole Chapman

History Review, Nº 71, dezembro 2011


Em setembro de 1938, o apaziguamento em ação na Conferência de Munique frustrou o desejo de Adolf Hitler por uma guerra europeia oriental limitada para destruir o Estado Tcheco. Hitler estava determinado que, durante a crise polonesa do verão seguinte, nada o desviaria de seu objetivo: a destruição da Polônia pela guerra. Entretanto, a guerra que se iniciou em setembro de 1939 não foi um conflito limitado que Hitler desejava e incluiu a Grã-Bretanha, junto com a França, em uma situação que não foi prevista pelo Führer. De 1939 a 1941, os britânicos exerceriam um papel crucial na estratégia de Hitler, já que ela implicava não somente na Grã-Bretanha, mas na URSS e nos EUA.

Esta situação surgiu em virtude da ocupação alemã da Boêmia e Morávia em março de 1939 (a Eslováquia tornou-se um estado fantoche independente). O desprezo de Hitler pelos líderes ocidentais foi alimentado por Munique: eles eram “pequenos vermes”. Contudo, ele calculou errado a resposta deles a suas ações em março de 1939. Os fundamentos do apaziguamento foram abalados. Hitler quebrou sua promessa de que ele não tinha mais nenhuma exigência territorial. Além disso, a noção de que suas políticas objetivavam somente unificar os povos de língua alemã foi exposta como uma ficção. Acima de tudo, estava claro que Hitler não podia ser confiado. O resultado foi uma garantia à Polônia, o próximo alvo de Hitler, pelas potências ocidentais.

O que Hitler lutou para evitar aconteceu. Ele pensou em usar pressão sobre os poloneses assim como o fez com sucesso sobre os tchecos, presumindo que eles entregariam Danzig e concederiam rotas extraterritoriais através do corredor polonês. A Polônia tornar-se-ia um satélite alemão, e útil em um ataque posterior à URSS.

Guerra

Durante a primavera e o verão de 1939, a diplomacia alemã objetivou isolar a Polônia e deter o envolvimento das potências ocidentais. Uma consequência disto foi a assinatura em maio do Pacto de Aço com a Itália. Entretanto, a situação do inimigo ideológico da Alemanha, a União Soviética, causava mais preocupações.

Era a Rússia que poderia interferir nas intenções de Hitler em relação à Polônia. Se ela pudesse ser impedida de se aliar com as potências ocidentais – uma possibilidade que a Grã-Bretanha e a França estavam relutantes de explorar – e se, além disso, ela pudesse ser persuadida a fazer um pacto com a Alemanha, então a Polônia estaria nas mãos de Hitler, com as garantias anglo-francesas totalmente inúteis. A Grã-Bretanha, em especial, seria significativamente enfraquecida.

Este foi o motivo por trás do Pacto nazi-soviético de agosto de 1939. Ele tornou inevitável uma guerra contra a Polônia, mas seria preciso um conflito de proporções maiores? Hitler, encorajado pelo Ministro do Exterior Ribbentrop, acreditava que isto era improvável. Porém, apesar de seus apelos aos poloneses para negociar, foi repetidamente afirmado que as potências ocidentais honrariam suas obrigações com a Polônia. As hostilidades foram iniciadas em 1º de setembro; no dia 3, Grã-Bretanha e França declararam guerra.

Hitler tinha agora começado uma guerra geral europeia que, como indicado no encontro de novembro de 1937 registrado no Memorando Hossbach, ele pretendia evitar até meados dos anos 1940. O Führer tinha feito um pacto com seu oponente ideológico, a União Soviética, e estava em guerra com a Grã-Bretanha, um país que ele admirava e retratava como um aliado natural do Reich no Mein Kampf. Ele tinha presumido que a Grã-Bretanha não entraria na guerra, apesar de que ele também foi descuidado da possibilidade. Se o intérprete Paul Schmidt está correto, quando Hitler soube da declaração de guerra britânica em 3 de setembro, ele virou-se raivosamente para Ribbentrop e disse, “O que faremos agora?”

A Guerra de Hitler?

Em 1º de setembro de 1939, Chamberlain, referindo-se a Hitler, disse na Casa dos Comuns: “A responsabilidade por esta terrível catástrofe está nos ombros de um único homem.” Qual foi o nível de responsabilidade de Hitler?

Claramente, as ações de outras nações ajudaram a conduzir Hitler ao ponto onde ele podia ameaçar a paz na Europa. Mesmo na época que as potências ocidentais perceberam a extensão das ambições do Führer, suas opções para contê-lo eram perigosamente limitadas.

Dentro da Alemanha, o poder pessoal de Hitler expandiu-se após 1933 às custas de outros grupos – notavelmente os nacionalistas conservadores – até que se tornou absoluto. No rescaldo do encontro de novembro de 1937, registrado no Memorando Hossbach, Hitler havia se voltado contra os militares e civis receosos, como indica o ano de 1938 como uma fase mais radical do regime. O ministro da guerra, Marechal Blomberg, e o chefe do exército, general Fritsch, saíram em virtude de escândalos, e Hitler assumiu a liderança pessoal da Wehrmacht em fevereiro. Ribbentrop substituiu o conservador Neurath como ministro do exterior.

É certo que, à época da crise dos Sudetos em 1938, elementos do exército, encabeçados pelo Chefe de Estafe General Ludwig Beck, foram apaziguados pelo aparente desejo de Hitler de não arriscar uma guerra contra a França e Grã-Bretanha. Contudo, nunca houve um esforço concentrado para se opor ao Führer, e o próprio Beck, uma figura crescentemente isolada, demitiu-se em agosto de 1938. De qualquer forma, o comportamento das potências ocidentais em Munique acabou com qualquer oposição que existisse a Hitler na Alemanha. À medida que a guerra se aproximava em 1939, os opositores conservadores do Führer estavam sem comando e incertos do modo como proceder.

Dentro da hierarquia nazista, perspectivas diferentes eram representadas por Göring e Ribbentrop. O primeiro foi influente na época de Munique, clamando pela aceitação de um acordo. Esta foi uma posição que subsequentemente manchou sua reputação com um Hitler que acreditava que havia sido enganado de sua guerra. Em 1939, Göring permaneceu convencido de que uma guerra com a Grã-Bretanha deveria ser, pelo menos, evitada e culpou Ribbentrop pela falha nesta estratégia. Entretanto, seja qual for a diferença na ênfase, Göring era o vassalo subserviente de Hitler.

O próprio Ribbentrop era arrogante em sua certeza de que os britânicos não lutariam pela Polônia. Movido em parte pelo ressentimento em relação ao tratamento que teve enquanto era embaixador na Grã-Bretanha (1936 – 1938), ele era certamente um beligerante. Como tal, ele ajudou a influenciar Hitler em seu erro em relação à política britânica. Contudo, uma vez mais, não pode haver dúvidas sobre a subserviência do ministro do exterior para com o Führer.

Assim, nas palavras de Ian Kershaw, “Hitler decidiu”. Pressões externas, derivadas do curso ambicioso, visionário, com o qual o Führer havia assumido as rédeas da política externa, foram reforçadas pelos elementos de seu próprio estado psicológico. À medida que atingia os 50 anos, Hitler, um hipocondríaco, estava consciente das restrições de tempo e da necessidade de agir antes que a situação se tornasse mais ameaçadora para a Alemanha. Dado que ele acreditava que o futuro da Alemanha poderia ser somente assegurado pela guerra, e que seus inimigos, a Grã-Bretanha e a França, estavam agora se preparando para um conflito, guerra em 1939, e como se desenvolveu depois disso, era uma função da personalidade de Hitler e do culto em torno dele.

“A Guerra Falsa”: Paz no Ocidente?

Com a rápida derrota da Polônia no outono de 1939, e a implantação do Pacto nazi-soviético, Hitler se voltou para as potências ocidentais. O Führer esperava que, tendo presenciado este triunfo da Wehrmacht, os britânicos e franceses pudessem ter bom senso e chegar a um acordo. Afinal, eles não moveram um dedo para ajudar a Polônia. Emissários começaram, portanto, a chegar a Berlim durante setembro e outubro. Estas conversações estavam centradas na paz do vencedor, com o retorno das colônias alemãs e, especialmente, a liberdade para avançar no leste que Hitler sempre quis. Tais ideias continuaram a surgir em 1940. Hitler estava sendo sério? Parecia que sim, apesar de que ele tinha poucas esperanças sobre sua aceitação, particularmente quando o Gabinete britânico anunciou que estava se preparando para uma guerra que poderia durar pelo menos três anos. Hitler sabia que as potências ocidentais aguardariam até que eles pudessem completar seus programas de rearmamento. Quando este ponto fosse alcançado, seria perigoso para a Alemanha. Segurar o poder militar francês, mas não o britânico, e percebendo que, atrás dos britânicos, pairava a ameaça (ainda não consumada) do envolvimento americano, Hitler apostou suas fichas ao ter o preparo militar para um ataque ao ocidente no outono. Havia uma clara suposição de que a derrota da França obrigaria a Grã-Bretanha a chegar a um acordo.

Adotando a política ambígua de oferta de paz e ameaça, Hitler fez um discurso no Reichstag em 6 de outubro de 1939 delineando a perspectiva de uma conferência das nações principais para discutir os problemas da Europa de paz e segurança. Entretanto, a divisão da Polônia entre a Alemanha e a Rússia permaneceria. Esta seria, portanto, a paz nos termos do Führer, com a ameaça de morte e destruição se as potências ocidentais recusassem. O grupo “belicoso” de Churchill e seus apoiadores foi escolhido para determinado abuso. A “oferta” de Hitler foi rejeitada por Chamberlain em 12 de outubro, provavelmente como previsto. Hitler, portanto, terminou o ano com o foco firme de um ataque iminente no oeste, o qual foi contestado como sendo prematuro pelo exército. De fato, houve vários atrasos devido ao clima ruim, mas não foi somente até 16 de janeiro de 1940 que o Führer finalmente estabeleceu-o para a primavera. Em 1940, as consequências da falha de Hitler em limitar a guerra na Europa Oriental seriam assim enfrentadas de cabeça erguida.

1940: Vitória e Atoleiro

Se o período da “Guerra Falsa” não assegurou um acordo para Hitler com as potências ocidentais, ele mostrou que estas não eram capazes de iniciativas robustas. As 65 divisões francesas disponíveis para um assalto contra a Alemanha no ocidente em setembro de 1939 superavam em grande número as unidades da Wehrmacht que estavam comprometidas na Polônia, mas elas nunca foram colocadas em combate. A Força Expedicionária Britânica na França também era puramente defensiva. Claramente, se o apaziguamento morreu com as ações de Hitler em 1939, seu fantasma continuava a ameaçar a liderança das potências ocidentais, especialmente a França. O resultado foi precaução e fraqueza, prenunciando o rápido colapso diante da Blitzkrieg alemã na primavera de 1940. Neste sentido, os interlocutores da paz contínuos de Hitler podem ser atribuídos a mais do que a uma ilusão de sua parte. Entretanto, outros fatores indicam que o erro de cálculo inicial do Führer, particularmente a respeito dos britânicos, continuou a ser influente.

Hitler sozinho não poderia moldar os eventos e encerrar a guerra. Isto era impossível a menos que a Grã-Bretanha fosse forçada à mesa de negociação ou derrotada militarmente. Porém, a Alemanha não estava equipada em 1940 para lutar uma guerra longa na qual os britânicos estavam claramente calculando. A Wehrmacht havia iniciado as hostilidades em setembro de 1939 com nenhum pensamento por meio de planos para uma guerra de grandes proporções, e nenhuma estratégia para uma ofensiva no Ocidente. Nestas circunstâncias, o fôlego que o exército alemão ganhou durante o intervalo 1939-40 foi crucial para preparar-se para o ataque contra a França. A Luftwaffe era a força melhor equipada das forças armadas. Contudo, mesmo ela tinha um programa de armamentos direcionado para 1942, não 1939. Com respeito à Marinha, a falta de acordo com a Grã-Bretanha, combinado com o sucesso diplomático crescente, fez com que Hitler se interessasse por ela no final dos anos 1930. O resultado foi o Plano Z de janeiro de 1939, no qual a insistência do Führer na construção de uma grande frota de batalha em 1944, ao contrário da preferência da Marinha por submarinos, que eram uma arma ofensiva melhor para ser usada contra a Grã-Bretanha, pareceu apontar não somente para uma luta contra a Grã-Bretanha, mas também o domínio dos mares no futuro e um conflito global, um ponto que voltou a ser pensado. Entretanto, o Plano Z foi interrompido no início da guerra e somente recomeçou em julho de 1940. Assim, dado que Hitler agora tinha que lutar o que era, sob muitos aspectos, a guerra “errada”, ele também tinha que fazer uma grande aposta. Esta foi mover todos os recursos disponíveis para a derrota da França. Tirar a Grã-Bretanha da guerra pelo isolamento após essa derrota era a principal estratégia de Hitler na primeira metade de 1940. Ela continuou a ser um fator dominante posteriormente.

Havia, é claro, algum grau de lógica na presunção de que, seguindo o espetacular avanço alemão na primavera de 1940 e a oferta de termos razoáveis, especialmente em relação ao império, a Grã-Bretanha aceitaria o inevitável até por autointeresse. Houve vozes importantes no país, como a de Lorde Halifax, que apoiavam tal ideia. Contudo, uma vez que a decisão foi tomada, ela arruinou a estartégia simples de Hitler. O Führer, assumindo que o autointeresse imediato poderia ser o único “princípio” na guerra e paz, subestimou a indubitável resistência e idealismo que surgiu na Grã-Bretanha após a marcha sobre Praga em 1939 e que, no verão de 1940, o novo Primeiro Ministro, Winston Churchill, foi capaz de articular junto ao povo. O “duelo” entre Hitler e seu arqui-inimigo, Winston Churchill, dominaria o verão. Seu resultado afetaria de forma vital o curso futuro da guerra.

Assim, apesar de em 1940-41 Hitler estar no auge do seu poder, especialmente e, relação ao seu triunfo sobre a França, sua inabilidade em concluir a guerra no Ocidente moldou o resto da guerra. De forma crucial, a decisão de direcionar o conflito para o leste antes que o Ocidente estivesse concluído retiraria da Alemanha o espaço para manobra. No final de 1941, as sementes da catástrofe começaram a dar frutos.

1940 – 1941: Guerra Mundial

Seguiu do atoleiro no Ocidente e da decisão, não obstante, de iniciar as hostilidades no leste, que duas potências impactaram na visão estratégica de Hitler: obviamente a União Soviética, mas também os Estados Unidos.

No contexto de 1940, a América não era um problema imediato para a Alemanha. Ela estava no momento dominada pelo isolacionismo e preocupada com as eleições presidenciais no outono. O envolvimento inicial dos EUA pode ser assim descontado. Porém, já que a Grã-Bretanha estava na guerra, a participação – pelo menos através de benevolente neutralidade – dos EUA, com seu imenso poder econômico, não poderia ser descartada. Esta era o maior motivo, portanto, para eliminar a Grã-Bretanha o mais rápido possível.

As visões amplas de Hitler sobre os Estados Unidos eram, de fato, confusas e fluidas. Seus discursos iniciais e escritos, incluindo o Mein Kampf, contém poucas referências a América além das denúncias de sua participação na Primeira Guerra Mundial e no tratado de paz. No final dos anos 1920, pontos de vista de uma ameaça de longo termo da América contra a Alemanha não eram comuns, e este era o contexto no qual Hitler expressou sua noção vaga sobre o conflito vindouro entre o império Euroasiático dominado pela Alemanha e os EUA, que é discutido no Segundo Livro de 1928 (n. do t.: a continuação do Mein Kampf). Era a visão de Hitler de que os EUA só poderiam ser derrotados por um estado europeu racialmente puro: a Alemanha Nazista. Entretanto, ele também acreditava que seria também do interesse da Grã-Bretanha colaborar contra a ameaça do Novo Mundo.                     
  
Mesmo assim, uma vez no poder, os pontos de vista de Hitler mudaram. A chegada da Depressão deixou os EUA como um Estado fraco, miscigenado e dominado pelos judeus que seria incapaz de deixar sua marca no conflito europeu. Sua única esperança residia em seu sangue nórdico, anglo-germânico, despertado pelo nazismo. No final dos anos 1930, o desgosto americano – particularmente de F. D. Roosevelt – pela política racial e religiosa nazista confirmou a avaliação de Hitler das deficiências dos americanos[1]. Ele não via ainda os EUA como rivais e sua visão permaneceu basicamente europeia. A ideia de um conflito futuro não tinha importância prática.

A questão dos pontos de vista de Hitler sobre os Estados Unidos[2] é, não obstante, conectada àquela de suas intenções finais sobre um estágio global. Uma discussão completa deste tópico está além do objetivo deste artigo, mas já foi notado que a estratégia naval de Hitler no final dos anos 1930 implicou em tal confronto, além daquele contra a Grã-Bretanha. Isto está de acordo com seu pensamento igualmente vago sobre os Estados Unidos. O que está claro é que, entre 1940 e 1941, o pensamento “global” de Hitler era largamente uma reação às circunstâncias que, se ele tivesse tornado realidade, estavam saindo de seu controle. Aqui, planejamento para uma guerra contra a União Soviética, que Hitler sempre quis ideologicamente, tornou-se estrategicamente direcionada pela necessidade de conduzir a Grã-Bretanha à conversações de paz, manter a América fora da guerra e, assim, concluir o conflito com a vantagem da Alemanha.

Resumindo, integral ao pensamento de Hitler entre 1940 e 1941 era um ataque contra a União Soviética. Ideologicamente, ela sempre foi o inimigo natural do Führer e, como explicado ainda no Mein Kampf, a fonte do futuro lebensraum (espaço vital) para o estado Nazista. As circunstâncias de 1939 garantiram um acordo com Stalin. Entretanto, isto não impediria um confronto posterior assim que a Grã-Bretanha tivesse sido eliminada. Quando esta última condição tornou-se inatingível, foi lançado o holofote sobre a URSS, tanto ideologicamente quanto, ainda mais, estrategicamente. Assim, em julho de 1940, com a França derrotada, mas a Grã-Bretanha desafiadora, Hitler considerou o inimaginável: uma guerra de duas frentes. O Chefe do Estafe Geral, general Halder, lembrou a avaliação do Führer em uma conferência militar em 31 de julho de 1940: “A Grã-Bretanha se apoia na Rússia e Estados Unidos. Se a Rússia for eliminada, a América também será perdida, pois a eliminação da Rússia aumentaria tremendamente o poder do Japão no Oriente... Decisão: a destruição da Rússia deve ser, portanto, tornada parte da luta. Primavera de 1941.”

No outono de 1940, conversações de paz com a Grã-Bretanha falharam e também a batalha pelo domínio de seus céus. A ajuda americana à Grã-Bretanha foi iniciada com um acordo destróieres por bases em setembro[3]. Tirar a Grã-Bretanha da guerra era urgente. Neste estágio, as opções de Hitler não estavam totalmente fechadas. Havia a possibilidade de forçar a Grã-Bretanha à mesa de negociação através de uma série de ataques contra suas bases no Mediterrâneo e Oriente Médio. Contudo, uma vez esta opção tenha desaparecido, o Führer só ficou com uma possibilidade. Em 18 de dezembro de 1940, a cruzada contra o “Bolchevismo Judaico” foi inserida em uma diretiva de guerra. Um ano depois, o progresso inicial da Operação Barbarossa, lançada em junho de 1941, foi interrompido[4].

Houve outro desenvolvimento significativo no outono de 1940. Ribbentrop era capaz agora de ressuscitar a ideia que ele havia promovido antes da guerra: um bloco antibritânico da Alemanha, Itália e Japão. As negociações começaram no final de agosto e resultaram na assinatura do Pacto Tripartite em setembro de 1940. As três potências concordavam em ajudarem-se mutuamente no caso de uma delas ser atacada por potências estrangeiras não envolvidas no conflito europeu ou sino-japonês. Enquanto isso poderia preocupar os soviéticos, o alvo claro era a outra “esperança” dos britânicos, os Estados Unidos[5].

É claro que o Pacto Tripartite não cobriu o ataque japonês aos americanos em Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941. Hitler declarou ao Reichstag em 11 de dezembro de 1941 que a Alemanha e a Itália se sentiam compelidas, de acordo com o Pacto, a declarar guerra contra os Estados Unidos. Isto era claramente uma inverdade: o Japão atacou os EUA. O Führer escolheu a guerra contra a América. À primeira vista, esta parece ser uma decisão incrível, mas ela é explicável pelo fato de que a visão de Hitler sobre os EUA novamente havia mudado.

Entre 1940 e 1941, Hitler ficou convencido que a América entraria na guerra em 1942 e, já que o reeleito Roosevelt aumentou seus esforços para ajudar a Grã-Bretanha, principalmente através do Lend-Lease a partir de março de1941, seus pontos de vista voltaram-separa a imagem da força americana. A guerra no leste, que estrategicamente objetivava em parte encerrar o desafio britânico e deter os EUA, atolou no inverno de 1941, mas deveria ser encerrada de modo que poder-se-ia tratar da América separadamente. O outro fator foi a visão de Hitler de que, antes de Pearl Harbor, uma guerra não-declarada já existia com os americanos no Atlântico. Uma declaração removeria a necessidade de agir com cautela na região.

Portanto, do ponto de vista de Hitler, a decisão de 11 de dezembro de 1941 tomou a forma de um elemento de inevitabilidade. A guerra com os EUA estava chegando de modo que o Führer anteciparia-a e tentaria tomar de volta a iniciativa ao declarar a guerra ele próprio. De fato, não havia nada de inevitável sobre a situação que a Alemanha havia alcançado no final de 1941. O desafio da Grã-Bretanha, a guerra contra a Rússia e a ameaça americana não estavam interconectados. Não obstante, o ponto de partida foi a postura britânica, os erros de cálculo de Hitler e seus esforços para resolver o problema que isso provocou. A consequência foi uma guerra mundial que a Alemanha não poderia ganhar.
     

Notas:

[1] Vale lembrar que leis raciais segregacionistas existiam nos EUA por volta desta época; que o programa de eugenia alemão foi baseado em estudos realizados primeiramente nos EUA; que Roosevelt só começou a trabalhar com judeus após assumir a presidência. O repúdio do povo americano aos conceitos religiosos praticados na Alemanha Nazista só surgiram após a divulgação por Roosevelt de um documento falso (elaborado pelo Serviço Secreto Britânico) que afirmava que o objetivo do regime nazista era o fim do Cristianismo. Enfim, a antipatia do povo americano pela Alemanha Nazista só apareceu após Hitler ter tomado a decisão desastrosa de declarar guerra aos EUA.

[2] Ver tópico “Hitler e a América”:


[3] A Grã-Bretanha forneceria suas bases militares ao redor do mundo como forma de pagamento pelos equipamentos militares.

[4] Ver tópico “Reviravolta na SGM: A Vitória do Exército Vermelho em Moscou”:

http://epaubel.blogspot.com.br/2013/01/sgm-reviravolta-na-sgm-vitoria-do.html

 

[5] Em virtude deste Pacto, a Alemanha declarou guerra aos EUA. No entanto, esperava-se a contrapartida dos japoneses, isto é, sua declaração de guerra à União Soviética. Caso os japoneses tivessem feito isso, Stalin teria sido obrigado a manter uma grande força militar no Oriente. Como o Japão manteve-se neutro, os soviéticos conseguiram deslocar milhões de soldados estacionados na região oriental do país para a parte ocidental, já que o Exército Vermelho fora massacrado na etapa inicial da Operação Barbarossa. Se os japoneses não tivessem traído a confiança dos alemães, provavelmente o resultado da guerra teria sido outro.


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