terça-feira, 7 de julho de 2015

[HOL] Diplomata Israelense Em Berlim: Manter A Culpa Alemã No Holocausto Ajuda Israel

Polina Garaev

i24News, 29 de junho de 2015


Normalização é uma palavra comumente usada no contexto das atuais relações germano-israelenses. Seu significado: um perdão não totalmente aceito, o não esquecimento, mas seguir em frente. Mesmo assim, enquanto seus usuários apoiam sua afirmação ao apontar para as hordas de israelenses mudando-se para Berlim e os jovens alemães descobrindo a vida noturna de Tel Aviv, a verdade sublinhada é diferente. A assim chamada normalização jamais se espalharia das ruas e das praias ao nível diplomático pela própria vontade.

A porta-voz da embaixada de Israel em Berlim encontrou-se alguns meses atrás com um grupo de repórteres israelenses. O que foi dito na sala somente poucos conhecem, mas de acordo com o Haaretz, ela admitiu abertamente que é interesse de Israel manter a culpa alemã no Holocausto. Procurar a normalização plena das relações não é o objetivo, supostamente ela afirmou durante o encontro fechado.

Tanto a porta-voz quanto o Ministério dos Assuntos Estrangeiros em Jerusalém afirmam que as declarações não eram corretas e foram tomadas fora de contexto, mas independentemente de sua veracidade, é difícil argumentar contra seu conteúdo.

Ao sugerir que Israel se beneficia da culpa alemã é, sob muitos aspectos, declarar o óbvio. Culpa é a razão pela qual a Alemanha está construindo submarinos para Israel e os vendendo a preço abaixo de custo, culpa é a razão pela qual Berlim evita criticar Israel mesmo quando seus parceiros europeus condenam fortemente o Estado judeu, e culpa foi a razão pela qual a Chanceler Angela Merkel definiu sem precedentes que a segurança de Israel faz parte da razão de ser da Alemanha. Portanto, por que Israel sairia desta zona de conforto?

Esta política pode não ser ditada oficialmente de Jerusalém para a embaixada de Israel em Berlim, mas em relação a esse assunto, o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu é o principal exemplo. Sua comparação rotineira entre a Alemanha Nazista e o Irã, Hamas e mais recentemente o movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel) é projetada justamente para isso – direcionar a consciência da culpa da comunidade internacional, e especialmente de seus líderes.

Sua insistência em reusar esta metáfora sempre é somente prova de sua eficácia, contrariamente à metáfora do pato nuclear, por exemplo, que foi mencionada somente uma vez [1]. Não há motivo para mudar o time que está ganhando. A memória coletiva de Israel do Holocausto pode preferir enfatizar as manifestações do heroísmo judaico durante o Terceiro Reich, mas politicamente, fazer o papel de vítima serve a Israel muito bem.

Especialmente numa época em que a Europa está se voltando gradativamente contra Israel, quando estados líderes europeus como a França e Suécia estão apoiando a proposta de um Estado palestino, e na Hungria e Grécia o antissemitismo mostra sua face má, Israel precisa manter os amigos que possui – e não há cola mais forte que a culpa.

Mas o uso do remorso como ferramenta política deve permanecer sob quatro paredes. Os editoriais criticando Benjamin Netanyahu após toda comparação nazista não são motivados estritamente pelo tédio dos jornalistas. O uso descaradamente cínico do Holocausto não se casa bem com o papel de vítima que Israel está interessado em projetar. Portanto, deve permanecer um segredo de estado: uma admissão aberta do carinho pouco diplomático que Israel sente por seus aliados é um tiro no pé.        

Nota:

[1] “Senhoras e senhores, se a coisa se parece com um pato, caminha como um pato, faz um som parecido com o do pato, então o que é? Isto mesmo, é um pato!Mas este pato é um pato nuclear. É hora do mundo começar a chamar o pato de pato.” Benjamin Netanyahu diante do Senado americano, em 2012, sobre a suposta ameaça do Irã.

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