Polina Garaev
i24News, 29 de
junho de 2015
Normalização é uma palavra
comumente usada no contexto das atuais relações germano-israelenses. Seu
significado: um perdão não totalmente aceito, o não esquecimento, mas seguir em
frente. Mesmo assim, enquanto seus usuários apoiam sua afirmação ao apontar
para as hordas de israelenses mudando-se para Berlim e os jovens alemães
descobrindo a vida noturna de Tel Aviv, a verdade sublinhada é diferente. A
assim chamada normalização jamais se espalharia das ruas e das praias ao nível
diplomático pela própria vontade.
A porta-voz da embaixada de Israel
em Berlim encontrou-se alguns meses atrás com um grupo de repórteres
israelenses. O que foi dito na sala somente poucos conhecem, mas de acordo com
o Haaretz, ela admitiu abertamente que é interesse de Israel manter a culpa
alemã no Holocausto. Procurar a normalização plena das relações não é o
objetivo, supostamente ela afirmou durante o encontro fechado.
Tanto a porta-voz quanto o
Ministério dos Assuntos Estrangeiros em Jerusalém afirmam que as declarações
não eram corretas e foram tomadas fora de contexto, mas independentemente de
sua veracidade, é difícil argumentar contra seu conteúdo.
Ao sugerir que Israel se beneficia
da culpa alemã é, sob muitos aspectos, declarar o óbvio. Culpa é a razão pela
qual a Alemanha está construindo submarinos para Israel e os vendendo a preço
abaixo de custo, culpa é a razão pela qual Berlim evita criticar Israel mesmo
quando seus parceiros europeus condenam fortemente o Estado judeu, e culpa foi
a razão pela qual a Chanceler Angela Merkel definiu sem precedentes que a
segurança de Israel faz parte da razão de ser da Alemanha. Portanto, por que
Israel sairia desta zona de conforto?
Esta política pode não ser ditada
oficialmente de Jerusalém para a embaixada de Israel em Berlim, mas em relação
a esse assunto, o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu é o principal exemplo.
Sua comparação rotineira entre a Alemanha Nazista e o Irã, Hamas e mais
recentemente o movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel)
é projetada justamente para isso – direcionar a consciência da culpa da
comunidade internacional, e especialmente de seus líderes.
Sua insistência em reusar esta
metáfora sempre é somente prova de sua eficácia, contrariamente à metáfora do
pato nuclear, por exemplo, que foi mencionada somente uma vez [1]. Não há
motivo para mudar o time que está ganhando. A memória coletiva de Israel do
Holocausto pode preferir enfatizar as manifestações do heroísmo judaico durante
o Terceiro Reich, mas politicamente, fazer o papel de vítima serve a Israel
muito bem.
Especialmente numa época em que a
Europa está se voltando gradativamente contra Israel, quando estados líderes
europeus como a França e Suécia estão apoiando a proposta de um Estado
palestino, e na Hungria e Grécia o antissemitismo mostra sua face má, Israel
precisa manter os amigos que possui – e não há cola mais forte que a culpa.
Mas o uso do remorso como
ferramenta política deve permanecer sob quatro paredes. Os editoriais
criticando Benjamin Netanyahu após toda comparação nazista não são motivados
estritamente pelo tédio dos jornalistas. O uso descaradamente cínico do
Holocausto não se casa bem com o papel de vítima que Israel está interessado em
projetar. Portanto, deve permanecer um segredo de estado: uma admissão aberta
do carinho pouco diplomático que Israel sente por seus aliados é um tiro no pé.
Nota:
[1] “Senhoras e senhores, se a
coisa se parece com um pato, caminha como um pato, faz um som parecido com o do
pato, então o que é? Isto mesmo, é um pato!Mas este pato é um pato nuclear. É
hora do mundo começar a chamar o pato de pato.” Benjamin Netanyahu diante do
Senado americano, em 2012, sobre a suposta ameaça do Irã.
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