quinta-feira, 9 de julho de 2015

[SGM] A Última Batalha da Europa

Larry Hannant

History Today, 07/07/2015


Por cinco anos, era tão idílica quanto a guerra poderia ser. Mas nas últimas seis semanas – estendendo-se além do término oficial da Segunda Guerra Mundial – tornou-se uma carnificina sangrenta. Aqueles que outrora foram camaradas no uniforme de repente massacraram-se entre si em um conflito que pode ser chamado de “A Última Batalha da Europa”.

Fotografias de soldados alemães, que na Segunda Guerra Mundial estavam estacionados na ilha pastoral de Texel (pronuncia-se “tessel”), a maior das ilhas friesianas ocidentais, mostram-nos sorridentes como se estivessem escrevendo para casa. Texel era como uma vista de cartão postal, uma gema de praias exuberantes ilimitadas cercando campos agrícolas produtivos de grãos, batatas e pastos para ovelhas felizes. Em abril de 1945, no que todos sabiam ser os últimos dias de um conflito apavorante, os 1.200 soldados da Wehrmacht em Textel tinham um bom motivo para esperar que eles pudessem ver o fim da guerra sem disparar um único tiro.

Mas na manhã de 6 de abril, a tranquilidade transformou-se em terror quando soldados da Wehrmacht mataram soldados da Wehrmacht, usando tudo, de baionetas até artilharia. Amigo e inimigo eram diferenciados por um pequeno detalhe em seus uniformes: cerca de 800 dos homens usavam um pequeno emblema os identificando como georgianos, enquanto que 400 oficiais e suboficiais eram alemães.

Os georgianos começaram a guerra não em uniformes alemães, mas soviéticos. Em 1941, quando a URSS montou uma resistência desesperada contra o maciço exército de invasão de Hitler, os soviéticos pressionaram todos os cidadãos ao serviço militar. Vindos da terra natal de Stalin, os cidadãos georgianos receberam cores soviéticas e armas e foram jogados em campo para a defesa da Pátria.

Os georgianos, capturados inicialmente na frente oriental, receberam uma proposta difícil. Eles poderiam aceitar receber a condição de prisioneiros de guerra, com um futuro incerto de fome, abuso e possivelmente morte, ou poderiam se alistar na Wehrmacht. A escolha de cerca de 30.000 georgianos para vestir um uniforme alemão foi compreensível, mas isso os tornou traidores.

À medida que o fim da guerra se aproximava, o futuro dos georgianos em Texel tornou-se sombrio – o retorno à retaliação e punição na URSS. Temendo este destino, os membros do 822º. Batalhão, tendo já substituído os uniformes soviéticos pelos alemães, mudaram sua aliança novamente, agora para o lado aliado.

Dentro de suas barracas, logo após a meia-noite de 5-6 de abril de 1945, os georgianos voltaram-se contra seus camaradas alemães, matando muitos deles com baionetas e facas em ataques coordenados. Mas alguns, incluindo o comandante, major Klaus Breitner, que passou a noite com sua amante na vila de Den Burg, sobreviveu. Breitner e os poucos sobreviventes alemães foram capazes de escapar para o continente.

Em 6 de abril, Breitner lançou um contrataque, tendo mobilizado uma força de 2.000 marinheiros e membros da temida SS. O que parecia ter sido uma completa vitória georgiana foi rapidamente revertido. Uma caçada casa por casa pelos georgianos varreu Texel.

Os georgianos capturados, incluindo 57 que finalmente entregaram o controle do farol onde haviam se entrincheirado, foram forçados a tirar a roupa – seu motim acabou desgraçando seus uniformes – e cavar suas próprias sepulturas. Cerca de 130 deles foram executados desta forma horrível.

Texel tornou-se um cenário de carnificina que não poupou ninguém, incluindo os habitantes civis holandeses. Forças de resistência e cidadãos comuns que protegeram e ajudaram os georgianos foram executados e as vilas de Den Burg e Ejerland presenciaram danos sérios em casas e prédios à medida que os alemães se vingavam. “Texel está sob o reino do terror,” escreveu um tessiano.

Mesmo a rendição das forças alemãs nos Países Baixos em 5 de maio e o fim oficial da guerra em 8 de maio não trouxeram o fim do massacre, já que a campanha de execução alemã continuou por mais duas semanas. O resultado final de baixas da batalha de seis semanas foi 812 alemães, 586 georgianos e 120 holandeses.

Ao longo do pesadelo, Texel não recebeu nenhuma ajuda aliada. Somente em 20 de maio foi que uma pequena unidade do Primeiro Exército Canadense chegou à ilha para negociar o fim do conflito.

O comandante canadense no local ficou tão impressionado pela resistência georgiana que ele se recusou a classificar os 228 sobreviventes como inimigos. O general de divisão Charles Foulkes escreveu para o Alto Comando Soviético pedindo clemência para os georgianos. Isto teria sido uma grande recomendação segundo as regras acordadas pelos Três Grandes líderes na Conferência de Yalta, isto é, de que todos os nacionais retornariam para seus países de origem com o fim das hostilidades.

Boatos circularam que os 228  georgianos sobreviventes não deveriam retornar à URSS. Mas, se a promessa foi feita, ela foi revogada ao longo das próximas semanas e os sobreviventes foram enviados de volta para seu país.

Contrariamente às expectativas de retribuição, em 1946 o diário soviético Pravda louvou os georgianos de Texel como “patriotas soviéticos” e descreveu-lhes como prisioneiros de guerra rebeldes. Oficiais soviéticos também visitaram a ilha regularmente após a Segunda Guerra Mundial para prestar homenagem à resistência antialemã dos georgianos.

Hoje, poucos param no túmulo coletivo dos 475 georgianos mortos em combate ou executados sumariamente, sendo seu local de repouso marcado por 12 colunas de rosas vermelhas e um monte de pedras. A última batalha da Europa está silenciosa, lembrando os antagonismos nacionalistas assassinos liberados mesmo quando o resultado da Segunda Guerra já estava decidido.
      

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