Larry
Hannant
History
Today, 07/07/2015
Por
cinco anos, era tão idílica quanto a guerra poderia ser. Mas nas últimas seis
semanas – estendendo-se além do término oficial da Segunda Guerra Mundial –
tornou-se uma carnificina sangrenta. Aqueles que outrora foram camaradas no
uniforme de repente massacraram-se entre si em um conflito que pode ser chamado
de “A Última Batalha da Europa”.
Fotografias
de soldados alemães, que na Segunda Guerra Mundial estavam estacionados na ilha
pastoral de Texel (pronuncia-se “tessel”), a maior das ilhas friesianas
ocidentais, mostram-nos sorridentes como se estivessem escrevendo para casa.
Texel era como uma vista de cartão postal, uma gema de praias exuberantes
ilimitadas cercando campos agrícolas produtivos de grãos, batatas e pastos para
ovelhas felizes. Em abril de 1945, no que todos sabiam ser os últimos dias de
um conflito apavorante, os 1.200 soldados da Wehrmacht em Textel tinham um bom
motivo para esperar que eles pudessem ver o fim da guerra sem disparar um único
tiro.
Mas
na manhã de 6 de abril, a tranquilidade transformou-se em terror quando
soldados da Wehrmacht mataram soldados da Wehrmacht, usando tudo, de baionetas
até artilharia. Amigo e inimigo eram diferenciados por um pequeno detalhe em
seus uniformes: cerca de 800 dos homens usavam um pequeno emblema os
identificando como georgianos, enquanto que 400 oficiais e suboficiais eram
alemães.
Os
georgianos começaram a guerra não em uniformes alemães, mas soviéticos. Em
1941, quando a URSS montou uma resistência desesperada contra o maciço exército
de invasão de Hitler, os soviéticos pressionaram todos os cidadãos ao serviço
militar. Vindos da terra natal de Stalin, os cidadãos georgianos receberam
cores soviéticas e armas e foram jogados em campo para a defesa da Pátria.
Os
georgianos, capturados inicialmente na frente oriental, receberam uma proposta
difícil. Eles poderiam aceitar receber a condição de prisioneiros de guerra,
com um futuro incerto de fome, abuso e possivelmente morte, ou poderiam se alistar
na Wehrmacht. A escolha de cerca de 30.000 georgianos para vestir um uniforme
alemão foi compreensível, mas isso os tornou traidores.
À
medida que o fim da guerra se aproximava, o futuro dos georgianos em Texel
tornou-se sombrio – o retorno à retaliação e punição na URSS. Temendo este
destino, os membros do 822º. Batalhão, tendo já substituído os uniformes
soviéticos pelos alemães, mudaram sua aliança novamente, agora para o lado
aliado.
Dentro
de suas barracas, logo após a meia-noite de 5-6 de abril de 1945, os georgianos
voltaram-se contra seus camaradas alemães, matando muitos deles com baionetas e
facas em ataques coordenados. Mas alguns, incluindo o comandante, major Klaus
Breitner, que passou a noite com sua amante na vila de Den Burg, sobreviveu.
Breitner e os poucos sobreviventes alemães foram capazes de escapar para o
continente.
Em
6 de abril, Breitner lançou um contrataque, tendo mobilizado uma força de 2.000
marinheiros e membros da temida SS. O que parecia ter sido uma completa vitória
georgiana foi rapidamente revertido. Uma caçada casa por casa pelos georgianos
varreu Texel.
Os
georgianos capturados, incluindo 57 que finalmente entregaram o controle do
farol onde haviam se entrincheirado, foram forçados a tirar a roupa – seu motim
acabou desgraçando seus uniformes – e cavar suas próprias sepulturas. Cerca de
130 deles foram executados desta forma horrível.
Texel
tornou-se um cenário de carnificina que não poupou ninguém, incluindo os
habitantes civis holandeses. Forças de resistência e cidadãos comuns que
protegeram e ajudaram os georgianos foram executados e as vilas de Den Burg e
Ejerland presenciaram danos sérios em casas e prédios à medida que os alemães
se vingavam. “Texel está sob o reino do terror,” escreveu um tessiano.
Mesmo
a rendição das forças alemãs nos Países Baixos em 5 de maio e o fim oficial da
guerra em 8 de maio não trouxeram o fim do massacre, já que a campanha de
execução alemã continuou por mais duas semanas. O resultado final de baixas da
batalha de seis semanas foi 812 alemães, 586 georgianos e 120 holandeses.
Ao
longo do pesadelo, Texel não recebeu nenhuma ajuda aliada. Somente em 20 de
maio foi que uma pequena unidade do Primeiro Exército Canadense chegou à ilha
para negociar o fim do conflito.
O
comandante canadense no local ficou tão impressionado pela resistência
georgiana que ele se recusou a classificar os 228 sobreviventes como inimigos.
O general de divisão Charles Foulkes escreveu para o Alto Comando Soviético
pedindo clemência para os georgianos. Isto teria sido uma grande recomendação
segundo as regras acordadas pelos Três Grandes líderes na Conferência de Yalta,
isto é, de que todos os nacionais retornariam para seus países de origem com o
fim das hostilidades.
Boatos
circularam que os 228 georgianos sobreviventes
não deveriam retornar à URSS. Mas, se a promessa foi feita, ela foi revogada ao
longo das próximas semanas e os sobreviventes foram enviados de volta para seu
país.
Contrariamente
às expectativas de retribuição, em 1946 o diário soviético Pravda louvou os
georgianos de Texel como “patriotas soviéticos” e descreveu-lhes como
prisioneiros de guerra rebeldes. Oficiais soviéticos também visitaram a ilha
regularmente após a Segunda Guerra Mundial para prestar homenagem à resistência
antialemã dos georgianos.
Hoje,
poucos param no túmulo coletivo dos 475 georgianos mortos em combate ou
executados sumariamente, sendo seu local de repouso marcado por 12 colunas de
rosas vermelhas e um monte de pedras. A última batalha da Europa está
silenciosa, lembrando os antagonismos nacionalistas assassinos liberados mesmo
quando o resultado da Segunda Guerra já estava decidido.
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