domingo, 15 de julho de 2012

O Exército Prussiano

O exército da Prússia cresceu como força armada durante o reinado do Eleitor* Frederico William de Brandenburgo (1640 – 1688), um dos Estados que formavam o antigo Sacro Império Romano (Primeiro Reich). A Prússia-Brandenburgo Hohenzollern tinha usado primeiramente de modo ineficiente os mercenários de Landsknecht durante a Guerra dos Trinta Anos, na qual Brandenburgo foi devastado. Após subir ao trono eleitoral, Frederico William começou a montar um exército de prontidão para defender melhor seu Estado na primavera (hemisfério norte) de 1644.

* “Eleitor” é aquele que tem voto numa determinada eleição. Os príncipes-eleitores (“Kurfürsten”) do Sacro Império Romano foram o maior colégio eleitoral no parlamento imperial. Eles escolhiam o Imperador Sacro-Romano. Um “Eleitorado” é o domínio de um Eleitor no interior do Império.

Entre 1643 e 44, o exército em formação era composto somente de 5.500 soldados, incluindo 500 mosqueteiros da guarda pessoal de Frederico. O confidente do Eleitor, Johann von Norprath recrutou forças no Ducado de Cleves e organizou um exército de 3.000 soldados holandeses e alemães na Renânia por volta de 1646. Tropas foram vagarosamente aumentadas em Brandenburgo e no Ducado da Prússia (1525 – 1701). Frederico William procurou assistência da França, o rival tradicional da Áustria dos Habsburgo, e começou a receber subsídios deste país. Ele baseou suas reformas nas de Louvois, o Ministro da Guerra do Rei Louis XIV. O crescimento do exército permitiu a Frederico alcançar aquisições territoriais consideráveis no Tratado da Westphalia em 1648, mesmo com o pouco sucesso de Brandenburgo durante a guerra. Uma vez conseguida a força necessária, porém, Frederico William e seu exército trataram de suprimir os Estados de Cleves, Mark e a Prússia.

Frederico William tentou profissionalizar seus soldados numa época de mercenários. Além de criar regimentos individuais e apontar oficiais, o Eleitor impôs punição exemplar para má conduta, como enforcamentos e pilhagem. Atos de violência por oficiais contra civis resultavam no descomissionamento por um ano. Ele desenvolveu uma instituição para formação de cadetes para a nobreza; apesar das classes mais altas serem resistentes à idéia a curto prazo, a integração da nobreza no corpo de oficiais permitiu uma grande vida à monarquia Hohenzollern. Em 1655, Frederico começou a unificação de vários destacamentos pela colocação deles sob um comando geral. Esta medida diminuiu significativamente a autoridade dos coronéis mercenários, que foi tão proeminente durante a Guerra dos Trinta Anos.

O novo exército de Brandenburgo-Prússia sobreviveu ao teste de batismo com a Batalha de Varsóvia em 1656, durante as Guerras Nórdicas. Observadores ficaram impressionados com a disciplina das tropas brandenburgenses, assim como com seu tratamento aos civis, que foi consideravelmente mais humano que o de seus aliados, o exército sueco. O sucesso dos Hohenzollern permitiu a Frederico assumir a soberania sobre o Ducado da Prússia no Tratado de Wehlau de 1657, pelo qual o Brandenburgo-Prússia se aliava à Comunidade de Estados Polaco-Lituano.

Frederico William construiu o exército Hohenzollern com até 7.000 soldados em tempos de paz e com 15 a 30 mil soldados em tempos de guerra. Seus sucessos em batalha contra a Suécia e Polônia aumentaram o prestígio de Brandenburgo-Prússia, enquanto também permitiu ao Grande Eleitor perseguir políticas absolutistas contra Estados e Cidades. Em seu testamento político de 1667, o Eleitor escreveu: “Alianças, para ser sincero, são boas, mas ter suas próprias forças é melhor. Com estas, qualquer um tem mais segurança, e um soberano não possui consideração se ele não tem seus próprios meios e tropas."




O poder crescente dos Hohenzollern em Berlim levou ao sucessor e filho de Frederico William, Eleitor Frederico III (1688 – 1713) a proclamar-se como Rei Frederico I do Reino da Prússia (1701 – 1918) em 1701. Apesar de ter enfatizado a opulência e arte barroca através da imitação da arquitetura do Palácio de Versalhes, o novo rei reconheceu a importância do exército e continuou sua expansão de 40 mil homens.

Frederico I foi sucedido por seu filho, Frederico William I (1713 – 1740), o “Rei-Soldado”, obcecado pelo exército e que conseguiu a auto-suficiência militar de seu país. O novo rei dispensou a maioria dos artesãos da corte de seu pai e garantiu precedência para oficiais militares sobre oficiais da corte. Jovens ambiciosos e inteligentes começaram a entrar na carreira militar ao invés de escolher as carreiras ligadas a Direito e Administração.

Frederico William I começou suas inovações militares no seu regimento “Kronprinz” durante a Guerra da Secessão Espanhola. Seu amigo, Leopoldo I, príncipe de Anhalt-Dessau, serviu como sargento real de treinamento para o exército prussiano. Leopoldo introduziu a espingarda de cano de ferro, aumentando o poder de fogo das tropas, e a marcha lenta, ou passo-de-ganso. O novo rei treinou e exercitou o exército implacavelmente, focando na velocidade de tiro de seus mosquetes com fecharia de pederneira e a manobrabilidade de formação. As mudanças deram ao exército flexibilidade, precisão e uma taxa de tiro inigualável na época. Através do exercício e da espingarda, de cada soldado era esperado atirar seis vezes num minuto, três vezes mais rápido que a maioria dos exércitos.

Frederico William I reduziu o tamanho da guarda real de pompa de Frederico I para um regimento simples, uma tropa de soldados mais altos conhecida como os “Gigantes de Postdam”. A cavalaria foi reorganizada em 55 esquadrões de 150 cavalos; a infantaria foi convertida em 50 batalhões (25 regimentos) e a artilharia consistia de dois batalhões. Estas mudanças permitiram-lhe aumentar o exército de 39 mil para 45 mil soldados; pelo final de seu reinado, o exército tinha dobrado de tamanho (60 mil soldados), tornando-se o quarto maior da Europa e consumindo quase ¾ do orçamento do Estado.

Frederico William I foi sucedido por seu filho, Frederico II (“O Grande”) (1740 – 1786). Frederico começou as Guerras Silesianas logo após de assumir o trono. Apesar do inexperiente rei ter batido em retirada na batalha, o exército prussiano alcançou a vitória sobre a Áustria na Batalha de Mollwitz (1741) sob a liderança do Marechal-de-campo Schwerin. A cavalaria prussiana, sob o comando de Schulenburg, não foi muito eficaz em Mollwitz; os couraceiros, originalmente treinados em cavalos pesados, foram subseqüentemente retreinados, desta vez em cavalos leves. Os hussardos e dragões (soldados que lutavam tanto a pé quanto a cavalo) do General Zieten também sofreram expansão. Estas mudanças levaram a uma vitória prussiana em Chotusitz (1742) e a Áustria acabou cedendo a Silésia para Frederico através da Paz de Breslau.

Frederico, o Grande

Em setembro de 1743, Frederico executou a primeira manobra de outono (“Herbstübung”), na qual diferentes ramos do exército testaram novas formações e táticas; as manobras de outono tornaram-se então tradições anuais do exército prussiano. A Áustria tentou reclamar a Silésia na Segunda Guerra Silesiana. Apesar de bem sucedida em termos de manobra em 1744, os austríacos foram derrotados na Batalha de Hohenfriedberg (1745). A Áustria então se aliou ao seu inimigo tradicional, a França, na Revolução Diplomática (1756); Áustria, França e Rússia ficaram todos alinhados contra a Prússia, começando a Guerra dos Sete Anos.

A primeira guarnição em Berlim começou a ser construída em 1764. Enquanto Frederico William I queria ter um exército formado em sua maioria de cidadãos prussianos, Frederico II desejava formar uma legião estrangeira, preferindo ter cidadãos prussianos como contribuintes e produtores. O exército prussiano consistia de 187 mil soldados em 1776, 90 mil dos quais eram nativos da Prússia central ou oriental. O remanescente era formado de voluntários e alistados estrangeiros (tanto alemães quanto não-alemães). Frederico estabeleceu a “Garde du Corps” como a guarda real. Pelo final do reinado de Frederico, o exército tinha se tornado parte integral da sociedade prussiana e contava com 193 mil membros. As classes sociais eram esperadas servir ao Estado e ao exército – a nobreza liderava o exército, a classe média supria o exército e os camponeses compunham o exército. O Ministro Friedrich von Schrötter chegou a declarar: “A Prússia não é um país com um exército, mas um exército com um país.”

O sucessor de Frederico o Grande, seu sobrinho Frederico William II (1786 – 1797), relaxou as condições na Prússia e teve pouco interesse na guerra. Ele delegou responsabilidade para o senil Charles W. Ferdinand, Duque de Brunswick, e o exército começou a cair em qualidade. Liderados por veteranos das Guerras Silesianas, o exército prussiano estava mal equipado para resistir à França Revoluncionária. Os oficiais retiveram o mesmo treinamento, tática e armamento usado por Frederico o Grande quase quarenta anos antes. Em comparação, o exército revolucionário da França, especialmente sob Napoleão Bonaparte, estava desenvolvendo novos métodos de organização, suprimento, mobilidade e comando.

A Prússia retirou-se da Primeira Coalizão na Paz de Basel (1795), cedendo territórios na Renânia para a França. Quando da morte de Frederico William II em 1797, o Estado estava quebrado e o exército obsoleto. Ele foi sucedido pelo seu filho, Frederico William III (1797 – 1840), que envolveu a Prússia na desastrada Quarta Coalizão.

O exército prussiano foi derrotado de forma decisiva nas batalhas de Saalfeld, Jena e Auerstedt em 1806. A famosa disciplina prussiana colapsou e a infantaria, cavalaria e guarnições se renderam em massa. A Prússia se submeteu a perdas territoriais, um limite no efetivo de seu exército (somente 42 mil homens) e uma aliança com a França no Tratado de Tilsit (1807).

A derrota do desorganizado exército chocou as autoridades prussianas, as quais se sentiam invencíveis após as vitórias frederiquianas. Enquanto que Stein e Hardenberg iniciaram a modernização do Estado prussiano, Scharnhorst começou a reforma militar, sendo ajudado por Clausewitz. Desanimados pela indiferença da população diante das derrotas de 1806, os reformadores quiseram cultivar o patriotismo no país. As reformas de Stein aboliram a servidão em 1807 e iniciaram os governos municipais em 1808.

O oficialato do exército foi completamente revisado – dos 143 generais em 1806, somente Blücher e Tauentzien permaneceram pela Sexta Coalizão; a muitos foi permitido o resgate de suas reputações na guerra de 1813. O corpo de oficiais foi reaberto para a classe média em 1808, enquanto que o avanço para altas patentes ficou condicionado à educação. O rei Frederico William III criou o Ministério da Guerra em 1809 e Scharnhorst fundou uma escola de treinamento de oficiais, mais tarde chamada Academia de Guerra Prussiana, em Berlim em 1810.

Scharnhorst advogava a adoção da “levée em masse”, ou seja, o alistamento militar obrigatório usado na França. Ele criou o “Krümpersystem”, através do qual companhias substituíam de 3 a 5 homens por mês, permitindo até 60 homens extras para serem treinados anualmente por companhia. Este sistema garantiu ao exército uma grande reserva de 30 mil a 150 mil soldados extras. O Krümpersystem também foi o início do serviço obrigatório de curto prazo na Prússia, em oposição ao alistamento de longo prazo previamente utilizado.

Pelo fato da ocupação francesa proibir os prussianos de formar divisões, o exército foi dividido em seis brigadas, cada uma consistindo de sete a oito batalhões de infantaria e doze esquadrões de cavalaria. As brigadas combinadas eram acrescidas de três brigadas de artilharia.

Os reformadores e boa parcela da opinião pública conclamou Frederico William III a se aliar ao Império Austríaco em sua campanha de 1809 contra a França. O tratado franco-prussiano de 1812 forçou a Prússia a fornecer 20 mil soldados ao “Grand Armee” de Napoleão, primeiro sob a liderança de Grawert e depois sob Yorck. A ocupação francesa foi reafirmada e 300 oficiais prussianos desmoralizados pediram demissão de seus cargos em forma de protesto.

Durante a retirada de Napoleão da Rússia em 1812, Yorck independentemente assinou a Convenção de Tauroggen com a Rússia, quebrando a aliança franco-prussiana. Stein chegou na Prússia oriental e liderou a criação de uma “Landwehr”, ou milícia para defender a província. Com a junção da Prússia na Sexta Coalizão fora de suas mãos, Frederico William III começou rapidamente a mobilizar o exército, e o landwehr da Prússia Oriental foi duplicado no resto do país. Em comparação a 1806, a população do país, especialmente a classe média, apoiou entusiasticamente a guerra, e milhares de voluntários se alistaram no exército. As tropas prussianas sob a liderança de Blücher e Gneisenau provaram ser vitais nas Batalhas de Leipzig (1813) e Waterloo (1815). A Cruz de Ferro foi introduzida como uma condecoração militar pelo Rei Frederico William III em 1813.

Durante a crise constitucional de 1819, Frederico William III reconheceu a fidelidade da Prússia aos Decretos Carlsbad anti-revolucionários (restrições sociais feitas pela Confederação Alemã na cidade Karlsbad, na Boêmia, que fazia parte do Império Austríaco). As forças conservadoras dentro da Prússia permaneceram opostas ao alistamento obrigatório e a um landwehr mais democrático. Frederico William III reduziu o tamanho da milícia e a colocou sob controle do exército regular em 1819, levando à demissão dos generais Boyen e Grolman e o fim do movimento reformista. O ideal de Boyen de um soldado-cidadão instruído foi substituído pelo de um profissional militar separado ou alienado da sociedade civil.

Por meados do século XIX, a Prússia era vista por muitos liberais alemães como o país melhor preparado para unificar os vários Estados Alemães, mas o governo conservador usou o exército para reprimir as tendências liberais e democráticas durante os anos 1830 e 40. Os liberais se ressentiram do uso do exército em ações essencialmente policiais. O Rei Frederico William IV (1840 – 1861) inicialmente pareceu ser um líder liberal, mas ele era contra a realização de uma constituição escrita pelos reformadores. Quando barricadas foram erguidas em Berlim durante a Revolução de 1848, o rei relutantemente concordou na criação de uma força de defesa civil (Bürgerwehr) na sua capital.

No final de 1848, Frederico William finalmente realizou a “Constituição do Reino da Prússia”. A oposição liberal assegurou a criação de um parlamento, mas a carta magna era um documento muito conservador que apenas reafirmava a predominância do monarca. O exército era uma guarda pretoriana colocado fora da constituição, sujeito apenas às ordens do rei. O Ministro da Guerra prussiano era o único soldado que era exigido um juramento de obediência à constituição. O orçamento do exército tinha que ser aprovado pela Câmara dos Comuns do Parlamento.

Após Frederico William IV sofrer um ataque do coração, seu irmão William I tornou-se regente (1857) e rei (1861 – 1888). O rei queria expandir o exército – enquanto a população cresceu de 10 milhões para 18 milhões desde 1820, os recrutas anuais do exército permaneceram em 40 mil. Moltker “o Velho”, Chefe do Alto Comando Geral (1857 – 1888), modernizou o exército prussiano durante sua administração. Ele expandiu o Alto Comando, criando subdivisões em tempo de paz como as seções de Mobilização, Geografia-Estatística e História Militar. Em 1869, ele editou um manual de guerra ao nível operacional, escrevendo: “A moderna conduta de guerra é marcada pelo esforço em busca de uma decisão grande e rápida.”

Moltke era um advogado forte do treinamento em jogos de guerra para oficiais e introduziu o uso do fuzil de pino com carregamento pela culatra, que permitiu às tropas dispararem de forma mais rápida que seus adversários. Moltke tomou vantagem da ferrovia, liderando a construção de estradas de ferro dentro da Prússia em pontos estratégicos. Pelo fato dos exércitos modernos se tornarem muito grandes e desconhecidos para um único comandante controlar, Moltke apoiou a idéia de pequenos e independentes exércitos em operações concêntricas. Uma vez que um dos exércitos encontrava o inimigo e o imobilizava, um segundo exército chegaria e atacaria o flanco ou retaguarda do inimigo. Ele defendia a “Kesselschlacht”, ou batalha de cerco.

O exército prussiano derrotou as forças dinamarquesas na Batalha de Dybbol, durante a Segunda Guerra de Schleswig (1864), permitindo que Prússia e Áustria reclamassem o Schleswig e Holstein, respectivamente. Disputas orquestradas pelo Primeiro-Ministro prussiano, Otto von Bismarck, levou à Guerra Austro-Prussiana (1866). Os fuzis de pino da infantaria prussiana foram extremamente bem sucedidos contra os austríacos, que foram derrotados em Königgrätz. Sob a liderança de Moltke, o exército prussiano conseguiu a vitória sobre a França na Guerra Franco-Prussiana (1870).

O patriotismo na Prússia com as vitórias militares começou a erodir a resistência liberal ao absolutismo e permitiu a unificação da Alemanha em 1871, através do coroamento do Rei William I da Prússia como “William I, Imperador Alemão”. O exército prussiano formou o núcleo do “Reichsheer”, o exército do Império Alemão.



 
Fonte: Wikipedia

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