quinta-feira, 26 de julho de 2012

[SGM] Quem estava planejando atacar quem em junho de 1941, Hitler ou Stalin?

Viktor Suvorov

The Journal of the Royal United Services Institute for Defence Studies, Londres, Grã-Bretanha Junho 1985


Na sexta-feira, 13 de junho de 1941, a Rádio Moscou fez um anúncio incomum da TASS que dizia: “os rumores das intenções da Alemanha de romper o Pacto e promover um ataque contra a União Soviética não tem qualquer fundamento,” e que tais boatos “eram propaganda enganosa de forças hostis à URSS e à Alemanha e interessadas na extensão da guerra.” No dia seguinte, os jornais soviéticos publicaram este anúncio e, uma semana depois, a Alemanha lançou um ataque repentino e traiçoeiro contra a União Soviética.(1) Era totalmente óbvio que o próprio Stalin havia escrito o relatório da TASS. Seu estilo característico era familiar a todos: os generais nas equipes de comando(2), os prisioneiros no GULAG (3), e analistas estrangeiros (4). Muitos historiadores, tanto na União Soviética quanto no Ocidente, consideram este relatório da TASS ter demonstrado, no mínimo, uma falha completa em compreender a natureza dos eventos em andamento e, no máximo, um exemplo notável de negligência criminosa (5). À parte a questão de Stalin fazer uma declaração que foi rapidamente demonstrada ser inteiramente falsa, existe um ponto mais fundamental do porquê ele achou necessário fazer uma declaração como aquela. Ele não era, de todos os tiranos, o mais silencioso? Muitos historiadores notaram a habilidade vacilante de Stalin em manter-se calado em épocas de crise e nas principais questões políticas, e de fato alguns críticos consideram seu silêncio como sendo sua maior arma (6). Além disso, muitos comandantes sêniores soviéticos foram testemunhas de que suas crenças verdadeiras eram totalmente o inverso do que o anúncio da TASS sugeria, e que na realidade ele considerava a guerra contra a Alemanha ser inevitável (7). Se Stalin tivesse repentinamente revisado seu julgamento sobre a probabilidade de guerra, sua opção mais provável teria sido discutir o problema com seus conselheiros mais próximos ou simplesmente tê-lo guardado para si. Por que, então, a visão das intenções pacíficas da Alemanha de Stalin em relação à União Soviética tornadas embaraçosamente públicas?

Além disto, a tendência do relatório da TASS também parecia fora de sintonia com a ideologia comunista em voga. A propaganda comunista (e esta era especialmente verdadeira no caso da Rússia de Stalin) envolvia a constante repetição de uma idéia simples: estamos cercados de inimigos. Isto era um expediente conveniente; ele racionalizava então, como ele faz hoje, por que as fronteiras do Estado eram fechadas, por que a oposição tinha que ser destruída, por que não há eleições livres, por que não há imprensa livre e por que era necessário produzir canhões ao invés de manteiga. Esta noção de uma ameaça sempre presente permite uma explicação de tudo o que for necessário. Gerações inteiras de cidadãos soviéticos têm sido enganadas por esta crença básica apresentada por jornais, cinemas, livros, transmissões de rádio e mesmo livros escolares. E, mesmo assim, nesta ocasião única, a rádio nacional anunciou pomposamente para o país e para o mundo: a ameaça de agressão não existia!

Entretanto, seria um erro simplesmente considerar a declaração de Stalin para a TASS como mal julgada: incompreensível e inexplicável seriam expressões intercaladas mais apropriadas, necessitando uma investigação detalhada das mentiras por trás das palavras.

Uma Data Importante na História Soviética

13 de junho de 1941, a data do anúncio da TASS, é uma das datas mais importantes em toda a história soviética, infinitamente mais importante do que 22 de junho de 1941, o dia da invasão alemã. Muitos marechais e generais soviéticos escrevem sobre o 13 de junho com maior precisão e detalhe do que eles fazem em relação ao dia 22. O que segue é um exemplo típico do relato do General N.I. Biryukov, então comandando a 186ª. Divisão de Infantaria estacionada no Distrito Militar do Ural:

“Em 13 de junho de 1941, recebemos uma diretiva de importância especial do Staff Distrital de acordo com o qual a divisão deveria mover-se para ‘um novo campo’. O local do novo quartel-general não foi comunicado mesmo para mim, o comandante da divisão. Somente quando passei por Moscou fiquei sabendo que nossa divisão deveria concentrar-se nas florestas a oeste de Idritsa.” (8) Todas as divisões no Distrito Militar do Ural receberam ordens semelhantes sinalizando um deslocamento para a fronteira ocidental. O registro oficial do distrito fixa esta data com precisão: “A 112ª. Divisão de Infantaria foi a primeira a começar a transferência. Na manhã de 13 de junho, o primeiro escalão* moveu-se de uma pequena estação ferroviária... então começou a despachar as divisões de infantaria 98ª., 153ª. e a 186ª. O movimento das tropas foi conduzida em segredo.” (9)

A Criação de Novos Exércitos

Staffs de Corpos** foram criados para coordenar a organização operacional das divisões do Ural que estavam secretamente se concentrando nas florestas da Bielo-Rússia e o 22º. Exército assumiu o comando dos Corpos. O General de Brigada*** F. A. Ershakov, o comandante do Distrito Militar do Ural, assumiu o comando deste novo exército e o Chefe de Gabinete do Distrito, o General de Brigada** G. F. Zakharov assumiu a responsabilidade pelo Staff do Exército. Assim, todo o Distrito Militar do Ural, incluindo o comandante, seu staff e todas as formações subordinadas, secretamente começaram a mover-se para oeste. Extraordinariamente, o Vice-Comandante do distrito, o General de Brigada M. F. Lukin**, cuja função habitual teria sido permanecer na retaguarda como comandande do distrito, havia sido ordenado, um tempo antes, a se apresentar no Distrito Militar de Transbaikal onde ele estabeleceu e assumiu o comando do 16º. Exército, no momento em que a TASS estava transmitindo seu comunicado insólito, estava secretamente se dirigindo para o oeste no comando do exército. (10)

* Escalão: grupo de exércitos com mais de 700.000 homens. Ataque em escalão é uma unidade militar posicionada para ataque em linhas paralelas.

** Corpo de Exército: ver tópico “Nomenclatura Militar”.

*** Original em inglês: Ershakov - Major-General, Zakharov – Lieutenant-General, Lukin – Lieutenant-General. No Exército Brasileiro, não existe equivalência para estes postos. Como o Mj.Gen. e o Ltn.Gen. estão acima do General de Brigada, mas abaixo do General de Divisão, optei por traduzir como o primeiro.

Movimentações semelhantes estavam acontecendo simultaneamente em todos os distritos militares internos (11) da União Soviética. Os Comandantes de Distrito, os Generais de Brigada A. K. Smirnov, I. S. Konev, F. M. Remezov, V. F. Gerasimenko, S. A. Kalinin e V. Y. Kachalov (respectivamente comandando os distritos de Kharkov, Cáucaso do Norte, Orel Volga, Sibéria e Archangel), transformaram os conselhos de distrito em staffs dos 18º., 19º., 20º., 21º., 24º. e 28º. Exércitos. Lembrando dos 16º. e 22º. Exércitos mencionados antes, um total de oito exércitos completos de repente surgiu nos distritos internos do país. O 18º. era para ser colocado para reforçar o 1º. Escalão Estratégico do Exército Vermelho, os sete restantes (ao todo, 69 divisões blindadas, motorizadas e de infantaria) constituíram o 2º. Escalão Estratégico. Dos oito exércitos, cinco foram deslocados imediata e secretamente para a Ucrânia e Bielo-Rússia. Todas as fontes soviéticas enfatizaram o segredo de todas estas movimentações: “Antes do início efetivo da guerra, as forças reservas começaram a se organizar nos distritos de fronteira sob condições de total segredo.” (13) “Os outros três exércitos foram colocados sob ordens para movimentação.” (14)

Problemas de Transporte

Somente falta de transporte preveniu os oito exércitos de se deslocarem simultaneamente. Antes, em abril e maio, movimentos de tropas em vasta escala haviam sido executadas do interior até a fronteira alemã. Toda a capacidade reserva do sistema ferroviário nacional inteiro foi utilizada para esta operação principal e secreta. Ela foi completada em tempo mas o material circulante tinha então uma viagem de retorno de milhares de quilômetros. Pensando nestes movimentos iniciais das tropas, o antigo vice-ministro da Superintendência Nacional, I. V. Koyalev, relata o seguinte: “No período de maio até o começo de junho, o sistema de transporte da URSS teve que garantir o transporte de cerca de 800.000 reservistas... isto teve que ser feito secretamente.” (15) Esta preparação não esteve restrita às tropas ordinárias terrestres, como o Coronel-General I. Lyudnikov registrou: “Estando em maio de 1941 no staff do 36º. Corpo de Infantaria, fiquei sabendo que as tropas aerotransportadas estavam concentradas na área de Zhitomir e nas florestas do sudoeste dela. (16)

O Marechal da União Soviética, I. K. Bagramyan, era coronel nesta época e mantinha o posto de Chefe do Departamento Operacional do staff do Distrito Militar Especial de Kiev. Entre outras formações para as quais o distrito deveria assumir responsabilidade, ele nota que durante a última parte de maio de 1941, ele assumiu o comando do 31º. Corpo de Infantaria recém-chegado do extremo oriente após uma jornada de mais de 10.000 km, e então, no final do mês, absorveu o 34º. Corpo do Distrito Militar do Cáucaso do Norte. Este último Corpo tinha sozinho 48.000 homens em suas quatro divisões de infantaria e tinha uma divisão montanhista adicional,”... tínhamos que fornecer alojamentos para quase todo um exército em curto espaço de tempo. No final de maio, escalão após escalão começaram a chegar.” (17) Foi deste modo que o 1º. Escalão Estratégico do Exército Soviético foi secretamente reforçado.

Posicionamento Secreto

Na metade de junho, quando a TASS estava transmitindo seu estranho comunicado e a imprensa soviético estava levando essa informação pra o grande público, o Conselho Militar do Distrito Militar de Odessa recebeu instruções para crier uma administração de exército em Tiraspol, próximo da fronteira romena (18) para o 9º. Exército, o mais móvel e poderoso de todos. Mas a atividade na zona fronteiriça não estava restrita à acomodação de tais formações grandes reforçadas; começou também um reagrupamento secreto de unidades dentro das fronteiras dos distritos. “Sob o pretexto de mudar os campo de verão, as formações se aproximaram da fronteira… A maioria dos movimentos aconteceu à noite.” (19) As publicações oficiais soviéticas estão cheias de relatórios do tipo: “Em 14 de junho, a 78º. Divisão de Infantaria sob o General de Brigada F. F. Alyabushev, sob o pretexto de exercícios de treinamento, foi deslocado em direção da fronteira do Estado.” (20) e “Antes da guerra real, algumas formações do Distrito Militar Especial Ocidental começou a se deslocar em direção da fronteira do Estado em conformidade com as instruções do GS.” (21) e “em 14 de junho, o Conselho Militar do Distrito Militar do Báltico confirmou o plano para o reposicionamento de um número e de regimentos individuais para a zona fronteiriça.” (22) Estes relatos testemunhais são também notáveis por sua ênfase no segredo destes movimentos no cinturão da fronteira, os esforços feitos para despistar e a prontidão das unidades relativa às operações ativas. Os relatos de três oficiais que mais tarde atingiram altos postos no Exército Soviético confirmaram este ponto. O Marechal da União Soviética, R. Ya. Malinowski, na época General de Brigada no comando do 48º. Corpo de Infantaria no Distrito Militar de Odessa, escreve: “Tão cedo quanto 7 de junho, os Corpos deixaram a area de Kirovogrado para Bel´tsy e, em 14 de junho, estava in situ. Este movimento aconteceu sob o disfarce de exercícios de treinamento em larga escala.” (23) O Coronel Bagramyan, que foi mencionado anteriormente, estava ocupado preparando o deslocamento de cinco corpos de infantaria e quarto mecanizados em direção da zona fronteiriça. (24) Em 15 de junho ele foi instruído a começar a mover todos os cinco corpos de infantaria para a fronteira e nota, “eles levaram consigo todo o necessário para operações ativas.” (25) O Marechal, M. V. Zakharov, na época General de Brigada e Chefe de Gabinete do 9º. Exército no Distrito Militar de Odessa, nota que: “Em 15 de junho, as 30ª. e 74ª. Divisões de Infantaria posicionaram-se na floresta a leste de Bel´tsy sob o pretexto de exercícios de treinamento.” (26)

Havia, de fato, 170 divisões no 1º. Escalão Estratégico. Destas, 56 já estavam posicionadas diretamente na fronteira. (27) 114 estavam posicionadas logo atrás na zona fronteiriça, mas: “Entre 12 e 15 de junho a ordem foi dada para os distritos militares ocidentais: todas as divisões estacionadas no interior (daqueles distritos militares) devem ser deslocadas próximo da fronteira do país.” (28) O 1º. Escalão Estratégico agora começava sua concentração diretamente no cinturão da fronteira. Para estes 114 devem ser adicionadas as 69 divisões do 2º. Escalão Estratégico que haviam também se deslocado ou estavam se preparando para tal. Assim, no dia do famoso comunicado da TASS o movimento de 138 divisões estava em andamento: o maior deslocamento de tropas por um único Estado em toda a história da Civilização; um movimento direto para a fronteira e conduzido com o máximo segredo e encobrimento.

Reações ao Comunicado

Retornando ao comunicado da TASS de 13 de junho, ele não fala apenas das intenções alemãs, mas também das ações soviéticas: “Rumores de que a URSS está se preparando para a Guerra contra a Alemanha são falsos e provocativos... os posicionamentos das reservas do Exército Vermelho no verão e as manobras em andamento não têm outro objetivo senão o treinamento de reservistas e verificação do funcionamento do sistema de transporte. É bem conhecido que este é um evento anual, portanto ao descrever estas medidas como hostis à Alemanha é absolutamente absurdo...” Ao comparar a explicação do anúncio da TASS com o que realmente aconteceu em campo, notamos uma certa discrepância, não atípica no caso de Stalin, entre teoria e prática. Por um lado o comunicado tranquilizador, por outro concentração massiva ultra-secreta de tropas na fronteira.

O comunicado da TASS diz que os movimentos estavam relacionados à “verificação do aparato da rede ferroviária.” Entretanto, a concentração de tropas começou em março, atingiu uma vasta escala em maio, e em junho assumiu simplesmente proporções gigantescas. Em outras palavras, o transporte por trilhos (o sistema de transporte nacional mais importante) ficou paralisado por quatro meses completos, e isto na época da colheita quando qualquer vagão tem o seu peso valendo ouro; dificilmente um exercício rotineiro como “verificar o aparato da rede ferroviária”. A explicação de que as movimentações eram “treinamento normal”, é igualmente falsa. Treinamento era realizado no outono quando a colheita havia sido reunida e os campos eram limpos e, além disso, quando a ajuda do Exército com a colheita estava completa. Mas “esta regra foi quebrada em 1941.” (29) Não é de se surpreender que o General de Brigada S. Iovlev, comandando a 64ª. Divisão de Infantaria do 44º. Corpo de Infantaria do Distrito Militar Ocidental Especial, comentou que “a excepcionalidade das movimentações colocavam as pessoas em apreensão.” (30) Por isso a frase repetida “sob o pretexto de treinamento” nos relatórios dos marechais e generais soviéticos relatando estas movimentações.

Outra possibilidade é que os movimentos de tropas tenham sido concebidos como uma demonstração de força. Mas para serem efetivas, as demonstrações precisavam ser vistas; estes movimentos foram realizados de forma tão secreta quanto possível.

As Ações de Stalin

Uma explicação alternativa para os movimentos massivos de tropas é que Stalin, não importando suas declarações no comunicado da TASS, de fato esperava ser atacado pela Alemanha, e estava secretamente aglomerando seus exércitos para criar defesas ao longo da fronteira. Mas esta explicação não é sustentada pelos fatos. Tropas preparando-se para defesa estabelecem trincheiras, canais anti-tanque, barricadas camufladas e cercadas por arame farpado. Basicamente, isto é feito no trajeto do avanço do inimigo, através de estradas e na retaguarda de linhas de rios. Mas o Exército Vermelho não fez nada desse tipo. Como foi relatado anteriormente, divisões foram escondidas nas florestas próximas da fronteira de modo idêntico como as divisões alemãs realizaram seu ataque surpresa. “As tropas de infantaria poderiam ter ocupado e completado instalações defensivas, mas isto não foi feito.” (31)

Esta falha em estabelecer trabalhos defensivos é curiosa já que, com a assinatura do Tratado de Não-Agressão Teuto-Soviético e a subsequente “divisão” da Polônia entre os dois Estados, as forças soviéticas e alemãs agora confrontavam-se ao longo de uma fronteira comum sem nenhum “estado intermediário” entre eles. Além disso, enquanto que a prudência comum poderia ter ditado o fortalecimento, ou pelo menos a retenção da fortificação da Linha Stalin ao longo da fronteira antiga, o oposto estava acontecendo. Este sistema de proteção poderoso foi desmontado e, em muitos lugares, explodido ou enterrado; minas eram retiradas e por uma distância de milhares de quilômetros, “o arame farpado era retirado.” (32) Os destacamentos Partisans, que haviam sido criados no caso dessas terras serem ocupadas pelo inimigo, foram dispensados; (33) cargas explosivas foram removidas de milhares de pontes, estações ferroviárias e complexos industriais, que haviam sido preparados para serem destruídos no caso de uma invasão. Resumindo, esforços colossais foram feitos para destruir tudo conectado à defesa. (34) Ao mesmo tempo, enquanto que antes da assinatura do tratado somente divisões e corpos existiam nos distritos fronteiriços soviéticos, exércitos completos agora começavam a ser montados na nova zona estendida da fronteira. Entre agosto de 1939 e abril de 1941, o número de exércitos na fronteira occidental soviética aumentou de zero para 11. Três adicionais juntaram-se a eles durante maio junto com cinco corpos aerotransportados. Se Hitler não tivesse atacado primeiro, Stalin teria tido 23 exércitos e mais de 20 corpos independents enfrentando-o. Isto aconteceu antes da mobilização geral.

Doutrina Militar Soviética

Nos anos 1930, a doutrina militar soviética considerava que um conflito maior futuro seria uma Guerra de exércitos e milhões de homens, mas aquilo não precisaria necessariamente aguardar o momento quando a mobilização destes milhões de homens estivesse completa antes de a ofensiva começar. Era considerado que nos distritos de fronteira, mesmo no período de paz, haveria tropas que atravessariam a fronteira e entrariam no território inimigo no primeiro dia de Guerra, assim interrompendo a mobilização inimiga e dando cobertura para a sua própria. O Marechal A. E. Egorov pensava que é essencial, mesmo na paz, ter “grupos de invasão” na fronteira. (35) O Marechal M. W. Tukhachevski considerava que isto abrandava o caso um pouco. Em sua visão, não deveria haver “grupos de invasão” mas sim “exércitos de invasão”. Na opinião de Tukhachevski, “a força e posicionamento do exército em avanço devem, basicamente, ser subordinadas à habilidade de cruzar a fronteira imediatamente após o anúncio da mobilização... é essencial para os corpos mecanizados serem posicionados próximos da fronteira... as formações mecanizadas devem ser posicionadas entre 50 e 60 quilômetros da fronteira... de modo a estar capaz de cruzá-la com efeito desde o primeiro dia de mobilização.” (36)

Os Marechais Egorov e Tukhachevski foram mais tarde executados durante o expurgo de Stalin (ambos os oficiais tinham altas posições no Exército Vermelho e subsequentemente no governo) mas suas idéias foram estendidas e desenvolvidas pelo homem que subiu à posição de Chefe do Gabinete Geral e rapidamente tornou-se o praticante mais notável do Exército, o mestre das ofensivas de surpresa, o General de Exército (mais tarde Marechal) G. K. Zhukov. Sob a direção de Zhukov o princípio foi estabelecido que “a responsabilidade pela performance das tarefas do exército de invasão deve ser dada integralmente ao 1º. Escalão estratégico.” (37)

O 1º. Escalão Estratégico que foi formado na fronteira soviética em junho de 1941 foi, em virtude de sua estrutura organizacional, posicionamento e preparação military, claramente ofensivo por natureza. Logo, foi o 2º. Escalão Estratégico que começou seus movimentos secretos em direção da fronteira alemã em 13 de junho de 1941. Muitos marechais e generais soviéticos não sabiam destes fatos diretamente e, é claro, ambos os escalões foram surpreendidos pelo ataque surpresa alemão e teve que atuar de forma defensiva. Entretanto, eles não haviam planejado isso, de modo que o General de Exército M. Kazakov, falando dos exércitos do 2º. Escalão Estratégico, notou: “após o início da guerra, os planos para o seu uso tiveram que sofrer mudanças drásticas.” (38) O General de Brigada V. Zemskov expressou sua proposta estratégica de forma mais precisa, “fomos forçados a usar estas reservas, não para ação ofensiva, de acordo com os planos, mas para defesa.” (39) O General de Brigada M. P. Lukin, que participou nestes eventos como comandante do 16º. Exército, o qual fez parte do 2º. Escalão estratégico, explicou o assunto de forma simples e direta: “fomos criados para lutar em território inimigo.” (40) Enquanto que outro especialista em ataques-surpresa em território inimigo, o Marechal A. M. Vasilevski, corrobora a opinião do General Lukin: “em suas palavras há uma dura verdade.” (41)

Parece certo que a concentração soviética na fronteira estava para ser completada por volta de 10 de julho. (42) Assim, o ataque alemão que ocorreu 19 dias mais cedo encontrou o Exército Vermelho em uma situação totalmente vulnerável – em vagões de trem. Numerosos relatórios soviéticos descreviam mais ou menos o seguinte: “quando a guerra começou, o 63º. Corpo de Infantaria estava a caminho,” (43) “no início da Guerra, a 200ª. Divisão de Infantaria estava a caminho,” (44) e “na erupção da guerra, a 48ª. Divisão de Infantaria estava a caminho.” (45) muitas linhas de tanques, ainda viajando em suas plataformas ferroviárias, ficaram paradas indefesas em campos abertos. E não foram somente tanques, mas canhões, suprimentos e veículos. Uma autoridade notou que: “ao final de junho de 1941, 1.320 plataformas de caminhões estavam estacionadas nas linhas do cinturão frontal.” (46) A imensa escala desta operação ferroviária torna óbvio que alguém havia a organizado antes da eclosão da Guerra, carregada com tanques e caminhões sobre vagões, transportando-os sobre enormes distâncias, e então sido incapaz de descarregá-los.

Houve outras vítimas desta sincronização infeliz do ataque alemão, como o Coronel-General de Artilharia I. Volkotrubenko explica: “Em 1941, a frente ocidental perdeu 4.216 vagões de munição.” (48) Uma baixa mais estranha foi uma coleção de mapas, como o General de Brigada M. Kudryavestev notou: “Havia cerca de 200 vagões com mapas topográficos dos Distritos Militares do Báltico Ocidental e de Kiev. Tivemos que destruir grande parte deste material.” (49) A perda destes mapas merece um exame mais cuidadoso. Por que eles estavam nos vagões? Onde pretendiam ser enviados? Que tipos de mapas eram eles? Se eles eram mapas de regiões interioranas da URSS, eles deveriam estar nas regiões interiores, não havia necessidade de enviá-los para lá.

As Razões para as Ações de Stalin

Quanto mais se estuda as ações de Stalin durante este período crítico, mais aparente se torna que elas não eram uma reação aos movimentos de Hitler. (50) Stalin agiu de acordo com seus próprios planos e estes anteviam uma concentração de tropas soviéticas na fronteira por 10 de julho. Ao determinar o que estes planos pretendiam, é importante considerar o que teria acontecido se Hitler não tivesse atacado antes da data e Stalin tivesse tido a oportunidade de completar sua concentração de tropas na fronteira alemã de forma pacífica e secreta.

Certas conclusões são incontrovertíveis. Primeira, as divisões móveis não poderiam retornar aos distritos distantes de onde vieram. Tal movimento teria absorvido todos os recursos da rede ferroviária por muitos meses e teriam resultado em catástrofe econômica. Segunda, estas forças gigantes não poderiam ser deixadas ao relento onde estavam escondidas durante o inverno. Tantas novas divisões haviam sido criadas e montadas no cinturão frontal que muitas delas já tinham gasto o inverno de 1940-41 em abrigos. Tão cedo quanto 1940, haviam insuficientes centros de treinamento e alcances de artilharia e fuzis na nova fronteira ocidental adquirida, mesmo para as divisões existentes. (52) As tropas que não podem treinar rapidamente perdem sua capacidade de luta.

Em todo empreendimento complexo humano existe um momento crítico no qua los eventos atingem um ponto sem volta. Este momento para a União Soviética veio em 13 de junho de 1941. Após este dia, massas de tropas soviéticas foram secreta, mas inexoravelmente, movidas em direção da fronteira alemã. Depois de 13 de junho, a liderança soviética não podia mais retornar essas tropas ou mesmo Pará-las, por razões militares e econômicas. A guerra tornou-se inevitável para a União Soviética, independentemente de como Hitler poderia ter agido. Finalmente, a composição e disposição das forças na zona fronteiriça não indicavam que elas foram concebidas para permanecer lá. Tais acontecimentos, como o corpo aerotransportado na primeira camada das “defesas”, unidades de artilharia nos locais avançados, o desmantelamento da Linha Stalin e a ausência de qualquer defesa em profundidade ou esforço para construir uma, não ponta a intenção de manter qualquer posição defensiva ao longo da fronteira. Se tudo isto é visto no contexto da doutrina de Zhukov esboçada antes, então torna-se claro que a única intenção militar crível que Stalin poderia ter tido era começar a guerra no verão de 1941.

Os historiadores que aceitaram sem críticas a tese de que Stalin foi vítima de uma agressão não provocada no verão de 1941, devem agora reviser, ou pelo menos modificar, seus pontos de vista.

Referências

1. Muitos historiadores datam este famoso comunicado da TASS em 14 de junho, mas é significativo que ele foi transmitido pela URSS em 13 de junho.

2. Maior-Gcneral P. Grigorenko, V podpolie mogno vstretit tolo krys (Detinetz, New York, 1981). p. 249.

3. G. Oserov. Tupalevska sharaga (Powev-Verlag, Frankfurt/Main, 1971), p. 108.

4. B. H. Liddell Hart, History of the Second World War (Pan, London, 1978). p. 161.

5. For example, R. A. Medvedev, Let History Judge (Alfred Knopf, New York, 1974), p. 900, Worth, A., loc. cit.

6. R. Conquest, The Great Terror: Stalin's Purge of the Thirties (Mac-millan, London, 1968).

7. Marshal K. A. Meretskov, Na Sluzhbe narodu (Pol. Lit., Moscow, 1968), p. 202.

8. Lieutenant-General Birykov, Voenno-istoricheskii Zhurnal (VIZ, 1962, 4), p. 60.

9. Krasnoznamernii Uralsky: History of Ural Military District, (Voenizdat, Moscow, 1983), p. 104.

10. Soviet Military Encyclopaedia (Voenizdat, Moscow, 1978), Vol. 5, p. 34 (Hereafter cited as SVE).

11. Os escritores soviéticos usualmente diferenciam entre distritos de fronteira, que possuem um limite comum com outro estado, e distritos internos, os quais não possuem.

12. Escalões Estratégicos são posicionamentos operacionais de exércitos soviéticos: eles são criados somente quando ação militar é iminente.

13. Army General S. M. Shtemenko, Generalnii shtab v gody voiny (Voenizdat, Moscow, 1968), p. 26.

14. Army General S. P. Ivanov, Nachalnii period voiny (Voenizdat, Moscow, 1974), p. 211.

15. I. V. Kovaliov, Transport v. Velikoi Otechestvennoi voine (Nauka, Moscow, 1981), p. 41.

16. Colonel-General I. Ludnikov, "Pervie dny voiny," VIZ 9 (1966).

17. Marshal I. Kh. Bagramyan, "Zapisky nachalnika operativnogo otdela," VIZ I (1967), p. 61.

18. A Khorcov, "Meroprijtia po povisheniu boevoi gotovnoti," VIZ 4 (1978), p. 86.

19. Ivanov, op. cit., p. 211.

20. Kievsky krasnoznamionny: History of Kiev Military District (Voenizdat, Moscow, 1974), p. 162.

21. Krasnoznamenny Byelorussky Voennii okrug: History of Byelorussian Military District (Voenizdat, Moscow, 1963), p. 18.

22. SVE,Vol. 6, p. 517.

23. Marshal R. J. Malinovski, "Dvadzatiletie nachala VOV," VIZ 6 (1961), p. 6.

24. Marshal I. Kh. Bagramyan, tak nachinalas voina (Voenizdat, Moscow, 1971),p.64.

25.ibid, p. 77.

26. Marshal M. V. Zahkarov, "Stranitsy istorri Vooruzhennykh sil nakanune Velikoi voiny," Voprosy Istorii, 5 (1970), p. 451.

27. Istoriya Vtoroi Mirovoi voiny (1939-1973), Vol. 4, p. 25 and Vol. 3, p. 441.

28. V, Khovostov, Major-General A. Grilev, "Nakanune Velicoi Otechestvennoi voini," Kommunist 12 (1968), p. 68.

29. Ludnikov, op. cit., p. 66.

30. Major-General S. Iovlev, "V boiykh pod Minscom," VIZ 9 (1960), p. 56.

31. V, A. Anfilov, Nachalo Velicoi Otechestvennoi Voiny (Voenizdat, Moscow, 1962), p. 44.

32. Iolev, op. cit., p. 57. 33.VIZ 8 (1981), p. 89.

34. I.T. Starinov, Mini jdut svoego chase (Voenizdat, Moscow, 1964), p. 186.

35. Marshal A. I. Egorov, "Doklad nachalnica shtaba RKKA RVS SSSR," VIZ 10 (1963), p. 31.

36. M. N. Tukhachevski, Izbrannye proizvedeniya (Voenizdat, Moscow, 1964), II, p, 219.

37. VIZ 10 (1963), p. 31.

38. Army General M. Kazakov, "Sozdanie i ipsolzovanie strategicheskikh rezervov," VIZ 12 (1972), p. 46.

39. Major-General V. Zemskov, "Nekotorie voprosy sozdanij i ipsolzovanij strategicheskikh reservov," VIZ 10 (1971), p. 13.

40. Lieutenant-General M. F. Lukin. "V Smolenskom sragenii," VIZ 7 (1979), p. 43.

41. Marshal A.M. Vasilevsky, VIZ 7 (1979), p, 43.

42. Ivanov, op. cit., p. 211.

43. G. P. Kuleschov, "Na Dneprovscom rubege," VIZ 6 (1966), p. 17.

44. Ludnikov, op, cit, p. 68.7 45.VIZ 7 (1974), p. 77. 46.VIZ 1 (1975),p.81.

47. Uma vez começada a guerra, o Distrito Militar Ocidental Especial (um dos cinco criados na fronteira ocidental soviética) foi renomeado para Frente Ocidental. Podemos supor, portanto, que outros quatro distritos fronteiriços tenham reportado baixas, apesar de a escala precisa destas não ser confirmada.

48. Artillery Colonel-General I. Volkotrubienko, "Artillerieskoe snabgenie v pervom periode voiny," VIZ 5 (1980), p. 71.

49. Lieutenant-General M. Kudriavzev, "Topograficheskoe obespechenie voisk v Vilikoi otechestvennoi voine," VIZ 2 (1970), p. 22.

50. M. Mackintosh, Juggernaut (Seeker & Warburg, London, 1967), p. 136.

51. Colonel-General L. M. Sandalov, Peregitoe (Voenizdat, Moscow, 1966), p. 48.

52. Marshal K. S. Moskalenko, Na Igo-Sapadnom Napravlenii (Nauka, Moscow, 1969), pp. 18-20.

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2 comentários:

Anônimo disse...

Pena que Suvorov é ridicularizado pelos historiadores. Existe foi feito um livro entitulado "Anti-Suvorov", de tão "bom historiador" que Suvorov é...rsrsrsrrs

Emerson Paubel disse...

Ninguém que é ridicularizado pelos historiadores é convidado pelo Instituto Naval dos EUA para dar uma palestra...
http://www.youtube.com/watch?v=uu5ZaGx0fO8

Suvorov só é um impostor para aqueles que aceitam a história oficial da Segunda Guerra Mundial.