quinta-feira, 8 de agosto de 2013

[SGM] Ucrânia dividida com seu legado da Segunda Guerra Mundial

Associated Press, 01/08/2013

 
Ucranianos vestidos em uniformes da SS nazista caminham por trincheiras e atiram com fuzis de munição falsa em uma reconstrução de uma batalha-chave contra os soviéticos durante a Segunda Guerra Mundial. Um padre ortodoxo realiza uma cerimônia para os soldados mortos da unidade nazista, abençoando os muitos homens vestindo suásticas que carregam um caixão em um ritual de enterro.

As cenas foram parte das comemorações na semana passada dos soldados, muitos nacionalistas ucranianos – junto com um bando de extremistas de direita – saudando-os como heróis. Os homens que eles estavam honrando pertenceram à divisão Galícia da SS, uma unidade militar nazista composta na maioria por ucranianos, que lutaram contra as tropas soviéticas durante a Segunda Guerra Mundial.

Mais de 20 anos após ganhar a independência da União Soviética, a Ucrânia permanece dolorosamente dividida em relação ao legado da Segunda Guerra Mundial e às ações dos combatentes nacionalistas ucranianos, que são comemorados como heróis por alguns e condenados como traidores por outros. Alguns destes combatentes serviram sob ou cooperaram com os nazistas, buscando uma chance de derrotar o regime soviético, enquanto outros lutaram tanto no Exército Vermelho quanto com os nazistas.

“A Ucrânia está em nossas almas e corações,” disse o veterano da Divisão Galícia da SS Mykhailo Yamulyk, um homem grisalho em seus 80 e poucos anos, diante dos restos de alguns de seus camaradas que foram reenterrados em caixões cobertos com a bandeira azul e amarela ucraniana, em um cemitério na pequena vila de Chervone, na Ucrânia Ocidental. “Aqueles que dizem que vestíamos uniforme alemão – sim, nós vestíamos e nossas armas eram alemãs, mas nossos corações estavam cheios de sangue ucraniano e jamais o traímos.”

Um dos veteranos da SS Galícia e camarada de Yamulyk é Michael Karkoc, um homem de Minnesota mostrado em uma investigação da Associated Press como tendo comandado uma unidade nazista acusada de atrocidades. As comemorações anuais dos galícios dão uma noção da reação complexa que as revelações de Karkoc produziram na Ucrânia, em contraste com o quase ultraje universal que elas levantaram na Polônia, Alemanha e Estados Unidos.

Todo ano, reuniões de competição comemorando a Segunda Guerra Mundial são realizadas por toda a Ucrânia, algumas resultando em pancadaria. Muito do leste russo do país celebra a vitória do Exército Vermelho sobre os invasores nazistas, enquanto que no lado ocidental ucraniano, onde a maioria dos insurgentes antisoviéticos lutaram, monumentos foram erguidos e ruas foram nomeadas em sua honra. Os veteranos recebem benefícios governamentais, não importa o lado que lutaram durante a guerra.

Os políticos também estão profundamente divididos sobre o assunto. O antigo presidente Viktor Yushchenko, que conduziu a Ucrânia em direção do Ocidente após liderar a Revolução Laranja de 2004, fez campanha para ter os insurgentes nacionalistas honrados como heróis, mesmo que historiadores ocidentais afirmem que muitas de suas unidades tenham sido responsáveis por massacres de civis, incluindo judeus e poloneses. E o partido nacionalista radical Svoboda – uma força vocal no parlamento cujos líderes foram acusados de fazer comentários antissemitas e racistas – exalta esses combatentes.

O Partido das Regiões, liderado pelo presidente Viktor Yanukovych, que é visto como aliado da Rússia, tem feito uma campanha contra o tratamento destes homens como heróis. Mas o partido explorou a causa antifascista para sua vantagem. Em maio, ele organizou uma grande reunião em Kiev para protestar contra o fascismo e pedir tolerância – mas quando o evento acabou, os ativistas pró-governistas partiram para a briga contra os manifestantes da oposição e bateram em dois jornalistas que tentavam filmar a pancadaria.

A Ucrânia pós-soviética falhou em investigar, processar ou levar a julgamento um único criminoso de guerra nazista, de acordo com Efraim Zuroff, o maior caçador de nazistas do Centro Simon Wiesenthal. O mesmo é verdade de outros países pós-comunistas com um registro de colaboração com os nazistas como Letônia, Estônia e Bielorússia. Pressionada pelo Ocidente, a Lituânia colocou três criminosos nazistas em julgamento, mas esperou que eles ficassem muito velhos ou incapacitados para serem punidos. Em todos estes países, dizem os especialistas, colaboradores nazistas suspeitos foram protegidos por causa de seu papel na luta contra os soviéticos, considerados pela maioria da população como seu maior inimigo.

“Os esforços da Ucrânia ou falta deles em investigar e processar os criminosos de guerra nazistas são considerados um fracasso total; eles não atingiram nada,” diz Zuroff. “Para trazer tal tipo de pessoa à justiça seria politicamente impopular na Europa Oriental.”

Os ucranianos buscaram sua independência dos impérios russo e austro-húngaro por séculos, assim como a Polônia, e sete décadas como parte da União Soviética. A Subjugação sob a Polônia está no coração do resentimento histórico da Ucrânia contra os poloneses. Quando a Ucrânia Soviética foi tomada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, a Organização dos Nacionalistas Ucranianos inicialmente cooperou com as forças de Hitler, esperando livrar-se do regime soviético – que havia coletivizado fazendas, planejado uma epidemia de fome devastadora que matou milhões e encarcerou ou executou opositores do regime aos montes. Quando os líderes do grupo perceberam que os nazistas não tinham nenhum plano para uma Ucrânia independente, o grupo e seu ramo militar começaram a lutar em ambos os lados das forças de Hitler e Stalin. Outras unidades militares ucranianas, tais como a Divisão Galícia SS ou a Legião de Autodefesa Ucraniana, permaneceram leais aos nazistas.

Os veteranos da Galícia veem-se como combatentes da liberdade.

Yevhen Kutsik, 86, tinha 16 anos quando pegou em armas e juntou-se à Divisão Galícia SS após ver “montanhas de corpos de homens, mulheres e mesmo crianças inocentes torturados” pelos soviéticos. “Lutei pela pátria, por meu povo, pelo meu país,” Kutsik, vestido com o uniforme azul marinho da divisão dos veteranos e um gorro, disse à Associated Press durante as comemorações nos arredores da cidade ocidental de Lviv no final de julho. Após a guerra, Kutsik foi internado em um campo de trabalho soviético.

Em abril, uma grande reunião comemorando a Divisão Galícia SS foi realizada em Lviv. Homens e mulheres vestidos em roupas tradicionais ucranianas marcharam pacificamente no centro da cidade carregando bandeiras azuis e amarelas da unidade SS – mas havia claramente um contingente neonazista no meio. Alguns manifestantes vestiam bonés nazistas da SS ou uniformes inspirados na Wehrmacht nazista, enquanto outros faziam saudações nazistas. Uma banda de skinheads neonazistas da Rússia marchou ao lado dos nacionalistas ucranianos, vestindo camisetas com o símbolo da SS Totenkopf – em aparente referência à unidade da SS que fornecia os guardas dos campos de concentração.

Em outra comemoração recente na vila de Yaseniv, nos arredores de Lviv, um jovem com o símbolo do leão da Divisão Galícia SS tatuado em sua perna vestia uma camiseta com o lema neonazista: “Orgulho branco mundial.”

Em muito da pós-União Soviética, as pessoas geralmente não recebem muita educação sobre os horrores do Holocausto. Tal ignorância tem um papel importante em eventos como estes em Yaseniv e Chervone que glorifica a simbologia nazista – e a maioria dos participantes não pertence à extrema direita. A tendência de subestimar os crimes nazistas, contudo, alimenta a tolerância com os poucos elementos neonazistas entre eles, e pode também levar à vulnerabilidade à retórica xenofóbica de partidos como o Svoboda.

Reuniões em honra a soldados que lutaram em unidades nazistas durante a SGM têm sido realizadas na Letônia e na Estônia nos últimos anos, também gerando controvérsia.

Muitos historiadores ucranianos veem os insurgentes, incluindo aqueles que colaboraram com os nazistas, como guerrilheiros e vítimas de circunstâncias injustas e brutais. Muitos historiadores ocidentais dizem que alguns deles estiveram envolvidos em massacres de civis, tais como judeus, poloneses e simpatizantes soviéticos. A matança de judeus representou “uma mancha enorme e inexpugnável nos registros da insurgência nacional ucraniana,” escreve John-Paul Himka, um historiador na Universidade de Alberta do Canadá que estuda o Holocausto na Ucrânia. Historiadores ainda estão juntando evidências do papel da SS Galícia nos crimes de guerra nazistas, disse Himka.

Uma discussão aberta do legado dos insurgentes ucranianos era tabu durante a era soviética, com as crianças na escola sendo ensinadas que eles eram inimigos do povo. Com o colapso da União Soviética em 1991, arquivos secretos foram abertos e relatos de testemunhas e documentos tornaram-se acessíveis, alguns retratando os combatentes nacionais de uma forma heroica, outras apontando as atrocidades que eles cometeram.

“Agora tornou-se aberto e com muita dor aparente,” diz Anatoly Podolsky, chefe do Centro Ucraniano para Estudos do Holocausto. “O que não pode ser feito é rotulá-los todos como colaboradores (nazistas). Ou como heróis. Eles não são todos colaboradores e eles não são todos heróis.”

Podolsky e outros dizem que uma investigação completa e condenação dos crimes de guerra nazistas na Ucrânia deveria ser conduzida junto com uma revisão análoga dos crimes cometidos pelas autoridades soviéticas, o que ainda não aconteceu.

Nascido na região de Lutsk, que agora é parte da Ucrânia Ocidental, Karkoc emigrou para os Estados Unidos logo após a guerra mentindo para as autoridades americanas sobre seu papel na Legião de Autodefesa Ucraniana, que é acusada de queimar vilas cheias de mulheres e crianças. A investigação AP encontrou evidência indicando que Karkoc estava presente na cena dos massacres, apesar de nenhum registro incriminá-lo diretamente. Quando procurado por uma entrevista em sua casa em Minnesota, Karkoc se recusou a discutir seu passado.

O Ministro do Exterior ucraniano recusou-se a falar sobre o caso de Karkoc. O Ministério Público disse que o caso de Karkoc seria revisado pela agência de segurança da Ucrânia.

Mas Vadim Kolesnichenko, um advogado do partido do presidente, pediu aos promotores para conseguir a extradição de Karkoc dos Estados Unidos e colocá-lo em julgamento na Ucrânia. “Os crimes nazistas contra a humanidade não tem data de expiração,” escreveu Kolesnichenko em uma postagem num blog.

Ativistas do outro lado do debate saíram em defesa de Karkoc.

Rostislav Novozhenets, chefe do Rus-Ucrânia, um grupo que estuda a repressão soviética contra os ucranianos, disse que combatentes como Karkoc cooperaram com os nazistas para a causa da libertação de sua pátria do regime totalitário soviético.

“Era melhor juntar-se ao exército soviético, o exército de um país infame pelas repressões e pelo Holodomor (epidemia de fome na era de Stalin), que matou milhões de seus próprios cidadãos? A URSS era o inimigo número um,” disse Novozhenets. “É por isso que aqueles garotos, aqueles ucranianos, os representantes de uma nação oprimida, não podem ser condenados: eles lutaram por uma Ucrânia independente e é por isto que eles devem ser celebrados como combatentes da independência.”               








 
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3 comentários:

Unknown disse...

Os criminosos de guerra "democratas" Roosevelt e Churchill, trouxeram para nos na Europa do Leste o assassino da tirania suja comunista!Roosevelt e Churchill, dois porcos e bandidos aliados ao comunismo!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Leia o livro "holocausto judeu ou alemão - nos bastidores da mentira do seculo" de S.E.Castan, afinal todos devem ter o direito de discordar e dar sua versão dos acontecimentos. Será que tudo ocorreu como contam as midias controladas por divulgadores do holcausto? Seriam os alem~es criminosos e os que ao seu lado lutaram?