As
cenas foram parte das comemorações na semana passada dos soldados, muitos
nacionalistas ucranianos – junto com um bando de extremistas de direita –
saudando-os como heróis. Os homens que eles estavam honrando pertenceram à
divisão Galícia da SS, uma unidade militar nazista composta na maioria por
ucranianos, que lutaram contra as tropas soviéticas durante a Segunda Guerra
Mundial.
Mais
de 20 anos após ganhar a independência da União Soviética, a Ucrânia permanece
dolorosamente dividida em relação ao legado da Segunda Guerra Mundial e às
ações dos combatentes nacionalistas ucranianos, que são comemorados como heróis
por alguns e condenados como traidores por outros. Alguns destes combatentes
serviram sob ou cooperaram com os nazistas, buscando uma chance de derrotar o
regime soviético, enquanto outros lutaram tanto no Exército Vermelho quanto com
os nazistas.
“A
Ucrânia está em nossas almas e corações,” disse o veterano da Divisão Galícia
da SS Mykhailo Yamulyk, um homem grisalho em seus 80 e poucos anos, diante dos
restos de alguns de seus camaradas que foram reenterrados em caixões cobertos
com a bandeira azul e amarela ucraniana, em um cemitério na pequena vila de
Chervone, na Ucrânia Ocidental. “Aqueles que dizem que vestíamos uniforme
alemão – sim, nós vestíamos e nossas armas eram alemãs, mas nossos corações
estavam cheios de sangue ucraniano e jamais o traímos.”
Um
dos veteranos da SS Galícia e camarada de Yamulyk é Michael Karkoc, um homem de
Minnesota mostrado em uma investigação da Associated Press como tendo comandado
uma unidade nazista acusada de atrocidades. As comemorações anuais dos galícios
dão uma noção da reação complexa que as revelações de Karkoc produziram na
Ucrânia, em contraste com o quase ultraje universal que elas levantaram na
Polônia, Alemanha e Estados Unidos.
Todo
ano, reuniões de competição comemorando a Segunda Guerra Mundial são realizadas
por toda a Ucrânia, algumas resultando em pancadaria. Muito do leste russo do
país celebra a vitória do Exército Vermelho sobre os invasores nazistas,
enquanto que no lado ocidental ucraniano, onde a maioria dos insurgentes
antisoviéticos lutaram, monumentos foram erguidos e ruas foram nomeadas em sua
honra. Os veteranos recebem benefícios governamentais, não importa o lado que
lutaram durante a guerra.
Os
políticos também estão profundamente divididos sobre o assunto. O antigo
presidente Viktor Yushchenko, que conduziu a Ucrânia em direção do Ocidente
após liderar a Revolução Laranja de 2004, fez campanha para ter os insurgentes
nacionalistas honrados como heróis, mesmo que historiadores ocidentais afirmem
que muitas de suas unidades tenham sido responsáveis por massacres de civis,
incluindo judeus e poloneses. E o partido nacionalista radical Svoboda – uma força
vocal no parlamento cujos líderes foram acusados de fazer comentários
antissemitas e racistas – exalta esses combatentes.
O
Partido das Regiões, liderado pelo presidente Viktor Yanukovych, que é visto
como aliado da Rússia, tem feito uma campanha contra o tratamento destes homens
como heróis. Mas o partido explorou a causa antifascista para sua vantagem. Em
maio, ele organizou uma grande reunião em Kiev para protestar contra o fascismo
e pedir tolerância – mas quando o evento acabou, os ativistas pró-governistas
partiram para a briga contra os manifestantes da oposição e bateram em dois
jornalistas que tentavam filmar a pancadaria.
A
Ucrânia pós-soviética falhou em investigar, processar ou levar a julgamento um
único criminoso de guerra nazista, de acordo com Efraim Zuroff, o maior caçador
de nazistas do Centro Simon Wiesenthal. O mesmo é verdade de outros países pós-comunistas
com um registro de colaboração com os nazistas como Letônia, Estônia e
Bielorússia. Pressionada pelo Ocidente, a Lituânia colocou três criminosos
nazistas em julgamento, mas esperou que eles ficassem muito velhos ou
incapacitados para serem punidos. Em todos estes países, dizem os
especialistas, colaboradores nazistas suspeitos foram protegidos por causa de
seu papel na luta contra os soviéticos, considerados pela maioria da população
como seu maior inimigo.
“Os
esforços da Ucrânia ou falta deles em investigar e processar os criminosos de
guerra nazistas são considerados um fracasso total; eles não atingiram nada,”
diz Zuroff. “Para trazer tal tipo de pessoa à justiça seria politicamente
impopular na Europa Oriental.”
Os
ucranianos buscaram sua independência dos impérios russo e austro-húngaro por
séculos, assim como a Polônia, e sete décadas como parte da União Soviética. A
Subjugação sob a Polônia está no coração do resentimento histórico da Ucrânia
contra os poloneses. Quando a Ucrânia Soviética foi tomada pelos nazistas
durante a Segunda Guerra Mundial, a Organização dos Nacionalistas Ucranianos
inicialmente cooperou com as forças de Hitler, esperando livrar-se do regime
soviético – que havia coletivizado fazendas, planejado uma epidemia de fome
devastadora que matou milhões e encarcerou ou executou opositores do regime aos
montes. Quando os líderes do grupo perceberam que os nazistas não tinham nenhum
plano para uma Ucrânia independente, o grupo e seu ramo militar começaram a
lutar em ambos os lados das forças de Hitler e Stalin. Outras unidades
militares ucranianas, tais como a Divisão Galícia SS ou a Legião de Autodefesa
Ucraniana, permaneceram leais aos nazistas.
Os
veteranos da Galícia veem-se como combatentes da liberdade.
Yevhen
Kutsik, 86, tinha 16 anos quando pegou em armas e juntou-se à Divisão Galícia
SS após ver “montanhas de corpos de homens, mulheres e mesmo crianças inocentes
torturados” pelos soviéticos. “Lutei pela pátria, por meu povo, pelo meu país,”
Kutsik, vestido com o uniforme azul marinho da divisão dos veteranos e um gorro,
disse à Associated Press durante as comemorações nos arredores da cidade
ocidental de Lviv no final de julho. Após a guerra, Kutsik foi internado em um
campo de trabalho soviético.
Em
abril, uma grande reunião comemorando a Divisão Galícia SS foi realizada em
Lviv. Homens e mulheres vestidos em roupas tradicionais ucranianas marcharam pacificamente
no centro da cidade carregando bandeiras azuis e amarelas da unidade SS – mas havia
claramente um contingente neonazista no meio. Alguns manifestantes vestiam
bonés nazistas da SS ou uniformes inspirados na Wehrmacht nazista, enquanto
outros faziam saudações nazistas. Uma banda de skinheads neonazistas da Rússia
marchou ao lado dos nacionalistas ucranianos, vestindo camisetas com o símbolo
da SS Totenkopf – em aparente referência à unidade da SS que fornecia os
guardas dos campos de concentração.
Em
outra comemoração recente na vila de Yaseniv, nos arredores de Lviv, um jovem
com o símbolo do leão da Divisão Galícia SS tatuado em sua perna vestia uma
camiseta com o lema neonazista: “Orgulho branco mundial.”
Em
muito da pós-União Soviética, as pessoas geralmente não recebem muita educação
sobre os horrores do Holocausto. Tal ignorância tem um papel importante em
eventos como estes em Yaseniv e Chervone que glorifica a simbologia nazista – e
a maioria dos participantes não pertence à extrema direita. A tendência de
subestimar os crimes nazistas, contudo, alimenta a tolerância com os poucos
elementos neonazistas entre eles, e pode também levar à vulnerabilidade à
retórica xenofóbica de partidos como o Svoboda.
Reuniões
em honra a soldados que lutaram em unidades nazistas durante a SGM têm sido
realizadas na Letônia e na Estônia nos últimos anos, também gerando
controvérsia.
Muitos
historiadores ucranianos veem os insurgentes, incluindo aqueles que colaboraram
com os nazistas, como guerrilheiros e vítimas de circunstâncias injustas e
brutais. Muitos historiadores ocidentais dizem que alguns deles estiveram
envolvidos em massacres de civis, tais como judeus, poloneses e simpatizantes
soviéticos. A matança de judeus representou “uma mancha enorme e inexpugnável
nos registros da insurgência nacional ucraniana,” escreve John-Paul Himka, um
historiador na Universidade de Alberta do Canadá que estuda o Holocausto na
Ucrânia. Historiadores ainda estão juntando evidências do papel da SS Galícia
nos crimes de guerra nazistas, disse Himka.
Uma
discussão aberta do legado dos insurgentes ucranianos era tabu durante a era
soviética, com as crianças na escola sendo ensinadas que eles eram inimigos do
povo. Com o colapso da União Soviética em 1991, arquivos secretos foram abertos
e relatos de testemunhas e documentos tornaram-se acessíveis, alguns retratando
os combatentes nacionais de uma forma heroica, outras apontando as atrocidades
que eles cometeram.
“Agora
tornou-se aberto e com muita dor aparente,” diz Anatoly Podolsky, chefe do
Centro Ucraniano para Estudos do Holocausto. “O que não pode ser feito é
rotulá-los todos como colaboradores (nazistas). Ou como heróis. Eles não são todos
colaboradores e eles não são todos heróis.”
Podolsky
e outros dizem que uma investigação completa e condenação dos crimes de guerra
nazistas na Ucrânia deveria ser conduzida junto com uma revisão análoga dos
crimes cometidos pelas autoridades soviéticas, o que ainda não aconteceu.
Nascido
na região de Lutsk, que agora é parte da Ucrânia Ocidental, Karkoc emigrou para
os Estados Unidos logo após a guerra mentindo para as autoridades americanas
sobre seu papel na Legião de Autodefesa Ucraniana, que é acusada de queimar
vilas cheias de mulheres e crianças. A investigação AP encontrou evidência
indicando que Karkoc estava presente na cena dos massacres, apesar de nenhum
registro incriminá-lo diretamente. Quando procurado por uma entrevista em sua
casa em Minnesota, Karkoc se recusou a discutir seu passado.
O
Ministro do Exterior ucraniano recusou-se a falar sobre o caso de Karkoc. O
Ministério Público disse que o caso de Karkoc seria revisado pela agência de
segurança da Ucrânia.
Mas
Vadim Kolesnichenko, um advogado do partido do presidente, pediu aos promotores
para conseguir a extradição de Karkoc dos Estados Unidos e colocá-lo em
julgamento na Ucrânia. “Os crimes nazistas contra a humanidade não tem data de
expiração,” escreveu Kolesnichenko em uma postagem num blog.
Ativistas do outro lado do debate saíram em defesa de
Karkoc.
Rostislav
Novozhenets, chefe do Rus-Ucrânia, um grupo que estuda a repressão soviética
contra os ucranianos, disse que combatentes como Karkoc cooperaram com os
nazistas para a causa da libertação de sua pátria do regime totalitário
soviético.
“Era
melhor juntar-se ao exército soviético, o exército de um país infame pelas
repressões e pelo Holodomor (epidemia de fome na era de Stalin), que matou
milhões de seus próprios cidadãos? A URSS era o inimigo número um,” disse Novozhenets.
“É por isso que aqueles garotos, aqueles ucranianos, os representantes de uma
nação oprimida, não podem ser condenados: eles lutaram por uma Ucrânia
independente e é por isto que eles devem ser celebrados como combatentes da
independência.”
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3 comentários:
Os criminosos de guerra "democratas" Roosevelt e Churchill, trouxeram para nos na Europa do Leste o assassino da tirania suja comunista!Roosevelt e Churchill, dois porcos e bandidos aliados ao comunismo!
Leia o livro "holocausto judeu ou alemão - nos bastidores da mentira do seculo" de S.E.Castan, afinal todos devem ter o direito de discordar e dar sua versão dos acontecimentos. Será que tudo ocorreu como contam as midias controladas por divulgadores do holcausto? Seriam os alem~es criminosos e os que ao seu lado lutaram?
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