A Guerra do Vietnã foi um conflito no Extremo Oriente da Ásia, na região denominada Indochina, logo após a Segunda Guerra Mundial. É considerado o mais duradouro e um dos maiores conflitos da história do século XX.
O Vietnã é um país que se localiza na região da Indochina, no extremo leste do continente asiático.
A península da Indochina está localizada ao sul da
China e reúne países como Vietnã, Laos, Camboja e Tailândia.
Essa região esteve desde o século XIX, ocupada pela França, como colônia. Durante a época do Imperialismo, os franceses se apossaram da região, que lhes servia como local de obtenção de matéria-prima e mercado consumidor, essenciais para o crescimento industrial francês.
E a influência francesa sobre a região se manteve até
os anos 30, quando o Japão Imperial deu início a uma política expansionista de
dominação da região do Extremo Oriente, invadindo regiões da China,
arquipélagos do Pacífico e a região indochinesa.
Com o fim da segunda Guerra Mundial, em 1945, todas
as regiões consideradas até então como colônias foram tomadas pelo desejo de
independência, dando início a um processo denominado Descolonização. Na esteira
desse processo, a Indochina sofreu mudanças profundas. Ainda no ano de 1945, o
Vietnã declara independência.
O mundo já vivia a chamada “Guerra Fria” a disputa
entre Estados Unidos e União Soviética, os dois grandes vencedores da Segunda
Guerra Mundial, representantes de sistemas político econômicos opostos.
Nesse contexto, a Indochina foi alvo de tratativas
no fim da guerra. Os franceses buscaram recuperar sua posição de domínio e
ocupar o vácuo de poder deixado pelos japoneses.
Porém, nesse momento, a Indochina vivia um processo
de crescimento e organização de movimentos de resistência à dominação
estrangeira. Ligado à doutrina e ao avanço dos comunistas, espelhados na URSS e
na recém formada China comunista, esses movimentos se dedicaram à guerrilha, ao
combate irregular como modo de atuação contra a dominação estrangeira, Por
causa dessas disputas, as fronteiras das antigas colônias francesas sofreram
profundas mudanças. A mais significativa foi a divisão do Vietnã em duas
partes: O Vietnã do Sul, cuja capital era Saigon e o Vietnã do Norte, que tinha
como capital Hanoi. A separação seria, em tese, provisória.
Segundo os acordos firmados, haveria eleições
gerais e um processo de reunificação em 1956. Porém isso não se concretizou.
Sucessivas crises levaram ao adiamento da questão e ao agravamento do conflito.
Em 1955, Ngo Dinh Diem, do Vietnã do Sul, dá um
golpe e toma o poder no país, cancelando as eleições e o processo de
unificação. Em seguida, proclama a independência do Vietnã do Sul e governa o
país com mão de ferro. O regime de Ngo conta com o apoio dos Estados Unidos,
que encontram nele uma colaboração importante na resistência ao avanço do
comunismo na Indochina.
Para ajudar o regime sul vietnamita, os americanos
mandam armas, ajuda financeira e treinamento militar ao Vietnã do Sul. Com
isso, passam a exercer uma maior influência na região.
Enquanto isso, o Vietnã do Norte estrutura sua
resistência ao avanço americano buscando seus aliados comunistas, a URSS e a
China. São formadas forças de combate irregular denominadas “vietcongues”.
Até 1965, os Estados Unidos se limitam a oferecer
ajuda ao Vietnã do Sul, sem envolvimentos militares efetivos. No entanto, em
1965, navios americanos foram bombardeados pelos comunistas do Vietnã do Norte.
Com isso, os Estados Unidos entram definitivamente na guerra.
Após anos de combate, em 1968 ocorre a Ofensiva do
Tet e o Vietnã do Norte ocupa a capital do Vietnã do Sul, Saigon. Ambos os
fatos são derrotas importantes dos americanos. Essas derrotas possuem em peso
considerável no contexto da guerra.
O alto número de soldados americanos mortos no
conflito (em sua maioria muito jovens) gera um profundo sentimento de
desilusão, tristeza e revolta na população americana, e isso se reflete na
opinião pública, que começa a pressionar fortemente o governo.
Em 1972, o presidente Nixon estende os bombardeios
ao Laos e ao Camboja e inicia uma fase da guerra marcada pelo uso de armas
químicas, como o Fósforo Branco e o Agente Laranja.
Mesmo com a grande quantidade de baixas do lado
comunista, a guerrilha se mantém firme e o desgaste das forças americanas e sul
vietnamitas é cada vez maior. O conhecimento do teatro de guerra por parte dos
vietcongues, a inexperiência dos americanos naquele tipo de conflito e pressão
da opinião pública, com protestos nas ruas, fazem os Estados Unidos saírem da
guerra em 1973.
Após a saída dos americanos, a guerra se estende
até 1975 entre as forças do norte e do sul. Porém, sem condições de resistir ao
avanço dos comunistas do Norte, o Vietnã do Sul capitula em 1976. Neste ano o
Vietnã se unifica, transformando-se numa república socialista alinhada à China
e à URSS.
A Guerra do Vietnã, foi um dos mais violentos
importantes e simbólicos conflitos do século XX. Uma guerra que foi marcada
pela violência dos bombardeios, pelo uso das armas químicas, por novas
tecnologias militares, como a Napalm e o helicóptero.
Foi também uma guerra que entrou para a história
por ter uma cobertura jornalística muito grande. A guerra foi mostrada em
imagens ao mundo todo, fazendo com que a opinião pública passasse a exercer um
papel preponderante na lógica dos conflitos militares.
Por que os EUA perderam a Guerra do
Vietnã?
Ricardo Bonalume Neto
Como foi
possível à maior potência militar do século 20 empenhar-se cerca de 15 anos em
uma luta, gastar mais de 200 bilhões de dólares, perder 58 mil soldados e
terminar derrotada? A intervenção americana no Vietnã foi esse desastre que
moldou todas as outras guerras travadas pelos Estados Unidos dos anos 1970 até
agora. Basta ver as comparações cada vez mais frequentes entre o conflito na
Indochina e este que está aconteceu no Iraque, notadamente sobre as
“estratégias de saída”, que culminaram no Estado Islâmico. A expressão data da
época.
Existem várias
correntes de historiadores tentando explicar o motivo, entre elas uma linha
ultra-revisionista e até mesmo uma que acha que, na realidade, os americanos é
que ganharam a guerra.
Derrota sem
vencedor?
Um livro
altamente revelador contém os relatos de uma conferência sobre o tema, com o
interessante título Why the North Won the Vietnam War (“Por que o Norte
Ganhou a Guerra do Vietnã”), editado pelo historiador Marc Jason Gilbert. O
título pode parecer óbvio, mas há muitos nos EUA ainda que acreditam que, na
verdade, foram eles que “perderam”, sem que o inimigo tivesse “vencido”.
Gilbert dá um
bom exemplo desse estado de espírito lembrando uma discussão que houve depois
da Guerra Civil Americana (1861-1865) entre generais do lado perdedor, os
confederados do Sul. Eles debatiam sobre os motivos que imaginavam ter sido
responsáveis pela derrota: falta de visão estratégica, erros táticos em
batalhas, supremacia material do inimigo ianque (o Norte). O general sulista
mais ilustre presente, George Pickett, estava quieto no seu canto. Perguntaram
a ele sua opinião sobre a derrota. “Cavalheiros, eu sempre achei que os ianques
tiveram algo a ver com ela”, disse de modo brusco.
A primeira e
razoavelmente óbvia constatação é que não houve uma causa básica da derrota – e
que foi, de fato, isto: uma derrota. Guerra é o confronto entre duas vontades,
e isso vale tanto para a tradição de pensamento ocidental, tipificada pelo
prussiano Carl von Clausewitz, como para a oriental, magistralmente
representada pelo chinês Sun-Tzu.
Os EUA queriam
preservar seu aliado, o Vietnã do Sul capitalista. O Vietnã do Norte,
comunista, e os guerrilheiros vietcongues queriam unificar o país em um estado
marxista-leninista. O Norte ganhou em 1975 e os últimos americanos abandonaram
o país às pressas, de helicóptero. Aos poucos, construiu-se uma
explicação-padrão para o acontecido. Basicamente, os pontos fortes dos
vietnamitas exploravam as fraquezas americanas, e as fraquezas vietnamitas não
eram passíveis de fácil exploração pelo poderio americano.
O Norte tinha
uma vantagem política que rendia frutos em todo o mundo: a luta passou a ser
vista como uma continuação da guerra de independência em relação aos franceses,
enquanto os americanos tinham o peso de ser defensores de uma ordem social
arcaica e uma ditadura militar. Para os vietnamitas, a guerra era “total”,
envolvendo cada segmento da sociedade no esforço. Para os americanos, o
conflito era “limitado”. Ao contrário dos viets revolucionários, a
sobrevivência de seu modelo de nação não estava em risco.
O esforço de
guerra do Norte e seus aliados do Sul era brutal. A sociedade foi
impiedosamente doutrinada de modo stalinista. Morreram estimados 2 milhões de
vietnamitas, não só por conta dos combates e de seus resultados, como o grande
fluxo de refugiados internos, mas também por servirem literalmente de “bucha de
canhão” em ataques e missões suicidas contra um inimigo dotado de poder de fogo
muito maior. Visões históricas politicamente à esquerda tendem a louvar o
“revolucionário heróico” e seu papel na vitória. Mas isso é basicamente
mitologia.
Pulga contra
cachorro
Não é fácil
debelar uma guerra de guerrilha, pois a tática básica do insurgente é atacar os
pontos fracos do inimigo e fugir dos fortes. É a luta da pulga contra o
cachorro. O objetivo final é tirar tanto sangue do animal que ele acabe
morrendo.
Os britânicos
venceram uma insurgência semelhante contra comunistas chineses na Malásia ao
usar táticas sensatas que subordinavam o poder militar ao político, evitando
mortes de civis que acabam servindo de estímulo à guerrilha. Já os americanos
abusavam do poder de fogo, bombardeando indiscriminadamente com canhões e
aviões e causando vastos “danos colaterais” – as tais baixas civis.
Na visão
ortodoxa-padrão, os EUA não tinham como ampliar a guerra – por exemplo,
invadindo diretamente o Vietnã do Norte – sem correr o risco de uma guerra com
a China e a União Soviética. Para os revisionistas, a guerra era “ganhável” se
fossem tomadas decisões melhores, como atacar o Norte, evitar matar civis etc.
Os mais radicais acham que os EUA terminaram ganhando, pois, com o fim da
Guerra Fria, o capitalismo triunfou em todo o mundo e está agora afetando o
Vietnã (como fez com a China). Mas isso equivaleria a dizer que o Japão ganhou
a Segunda Guerra porque sua economia hoje é a terceira maior do planeta.
Os
revisionistas de direita, em geral, sustentam uma teoria semelhante à dos
generais alemães que perderam a Primeira Guerra Mundial: foi uma “facada nas costas”
de políticos e jornalistas que impediu as forças armadas de venceram. É a
teoria do mau perdedor. Este deve ser o mito mais persistente de todos: que foi
a transmissão da guerra “diretamente para as salas de estar” que fez a opinião
pública exigir o fim do conflito. Para os historiadores sérios, o papel da
imprensa foi, quando muito, “marginal”.
Guerra é feita
com bala, não com clipes de TV.
http://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/guerras/por-que-os-eua-perderam-a-guerra-do-vietna.phtml#.WNvM2k2gsdX
Morre aos 102 anos general responsável pela vitória
do Vietnã na guerra
http://epaubel.blogspot.com.br/2013/10/morre-aos-102-anos-general-responsavel.html
Salve-se quem puder: A queda de Saigon
Mauro Tracco
Em Saigon, conforme o EPV se aproximava, as operações
de evacuação se aceleravam. Na base aérea de Tan Son Nhut, a retirada de
sul-vietnamitas ocorria desde o começo do mês, transportando cerca de 500
pessoas por dia para fora do país. No dia 20 de abril de 1975, a burocracia
para a emissão de vistos de saída foi simplificada e a operação começou a
apertar o passo. Na semana que se seguiu, gigantescas filas foram formadas no
ginásio esportivo de Tan Son Nhut por pessoas à espera da liberação para entrar
a bordo dos aviões C-130 e C-141, que decolavam ininterruptamente durante o
dia. À noite, a emissão de vistos continuava. O Serviço de Imigração e
Naturalização dos EUA, pressionado pelo Departamento de Estado, concordou em
permitir a entrada de vietnamitas que encontrassem um americano para
“apadrinhá-los”.
Para ajudar as mulheres do país a saírem,
casamentos- relâmpagos aconteciam nas filas com homens americanos. “Você
aceita?”. “Aceito”. Pronto, o carimbo salvador estava garantido. Em 26 de
abril, as forças do Vietnã do Norte haviam cercado Saigon. Num esforço para
apaziguar o fogo comunista e azeitar as peças de uma possível negociação
política, o embaixador Graham Martin convenceu o presidente Nguyen Van Thieu a
deixar o país. Frank Snepp estava no comboio que levou o ex-presidente até uma
base aérea secreta, onde um avião o aguardava. Os boatos de um golpe para
assassinar Thieu eram fortes o suficiente para que a caravana fizesse toda a
viagem até o aeródromo com os faróis apagados. Nada aconteceu com Thieu, que
deixou o país bêbado e com cara de choro, apesar de levar consigo a maior parte
de seu ouro.
No dia
seguinte, o sucessor Tran Van Huong deixou a cadeira, após sete dias no cargo.
O general Duong Van Minh assumiu o no dia 28 de abril, tornando-se assim o
terceiro presidente a governar o Vietnã do Sul em apenas uma semana. Meia hora
depois, a cidade foi atingida por uma série de explosões. A espera havia
terminado: Saigon estava sob fogo inimigo.
Os ataques
foram feitos por caças F-5 e A-37 norte-americanos capturados pelas forças do
norte na base aérea de Phan Rang. Os pilotos, no entanto, eram sul-vietnamitas
que mudaram de lado e agora queriam provar sua devoção irrestrita aos novos
superiores. O capitão John Ghilain era um dos fuzileiros que trabalhavam na
evacuação em Tan Son Nhut quando as pistas e os hangares foram atacados.
“Perdemos dois colegas nesse dia. Eles tinham chegado apenas uma semana antes
com a missão de ajudar na evacuação.”
Danos psicológicos
Apesar
dessas baixas, a ideia dos comunistas não era causar danos sérios, e sim obter
o maior efeito psicológico possível. A estratégia foi muito bem-sucedida. As
explosões, que podiam ser ouvidas em todos os cantos da cidade, deram início ao
pandemônio. Não havia mais tempo para hesitar. Americanos e vietnamitas
desafetos dos comunistas deveriam sair do país o mais rápido possível. Porém,
com as pistas de Tan Son Nhut destruídas, a fuga por avião estava descartada.
Apenas helicópteros conseguiam pousar e aterrissar na base aérea. Inacreditavelmente,
o embaixador Martin não quis autorizar a evacuação por helicóptero e insistiu
que o transporte de refugiados continuasse a ser feito por aviões. Ele fez
questão de visitar a base aérea pessoalmente para avaliar se era realmente
impraticável o pouso e a decolagem de grandes aeronaves. Só depois de ver a
situação com os próprios olhos, o embaixador assimilou o golpe.
Era hora de o poder de decisão mudar de mãos. Ao
saber dos ataques a Tan Son Nhut, o presidente Gerald Ford, em Washington,
convocou uma reunião de emergência com o Conselho Nacional de Segurança e
ordenou o uso de helicópteros na evacuação. Na manhã do dia 29, a música White
Christmas foi veiculada pela Rádio das Forças Armadas, em Saigon. Era o sinal
de que a Operação Vento Frequente estava autorizada.
Pouco se
importando com as decisões de Martin e dos americanos, helicópteros do Exército
sul-vietnamita já voavam em direção à Sétima Frota da Marinha dos EUA, ancorada
a 20 milhas da costa. Alguns militares simplesmente pulavam na água quando
estavam próximos de alguma embarcação. Outros desobedeciam às ordens dos
norte-americanos e pousavam onde e quando queriam. Seus ocupantes eram
desarmados e jogados nas celas dos navios. Os helicópteros eram empurrados ao
mar para dar espaço aos choppers americanos. Pelo menos 45 aeronaves foram
descartadas dessa forma.
Enquanto os
militares vietnamitas chegavam à frota americana pelo ar, os civis iam pelo
mar. Barcos superlotados de fugitivos saíam das docas do rio Saigon com destino
aos navios. Enquanto isso, nas ruas da capital, a histeria coletiva alcançava
seu ponto alto. Pessoas gritavam, choravam, corriam ao som de bombas e
tiroteios, à procura de uma saída da cidade. O caos causado pela massa
descontrolada atrapalhou a evacuação. Ônibus que levariam refugiados para a
base aérea ou para prédios com heliportos não conseguiam percorrer as ruas
congestionadas. “Dava para ver o desespero no rosto das pessoas. Elas ofereciam
dinheiro para entrar na embaixada. Outros imploravam que seus filhos fossem salvos.
A multidão estava incontrolável. Tínhamos de escalar o muro de três metros da
embaixada e puxar os americanos pelos braços, pois era impossível abrir o
portão”, lembra Ghilain.
Brincando de Deus
Na
embaixada, milhares de pessoas amontoavam-se em frente ao portão e ao redor do
muro. “Os guardas brincavam de Deus. Escolhiam quem seria salvo e usavam a
coronha de seus rifles para afastar quem não seria”, relata Snepp em seu livro.
Mães eram separadas de seus filhos: alguns foram pisoteados, outros simplesmente
abandonados no portão.
Os
vietnamitas que conseguiram entrar na embaixada foram organizados em grupos de
60 pessoas para serem embarcados nos helicópteros que aterrissavam no teto e no
quintal. Durante o dia, os oficiais soltavam bombas de fumaça colorida para
ajudar os pilotos a encontrar o prédio. Quando o sol se punha, um projetor de
slides iluminava o ponto de aterrissagem no teto. No quintal, a iluminação era
feita pelos faróis dos carros oficiais.
O resgate
por helicóptero, conhecido como Operação Vento Freqüente, durou 21 horas, das
11h do dia 29 até quase 8h do dia 30. Os pilotos trabalharam entre 10 e 15
horas sem descansar. Cada viagem levava cerca de 40 minutos no ar e 10 minutos
no chão, para o embarque de passageiros. Ao todo, foram 662 vôos feitos por
helicópteros CH-53 e CH-46.
Alguns
helicópteros foram alvejados ao sair da cidade, mas os autores dos tiros não
eram os comunistas, que esperavam pacientemente o fim da evacuação nos limites
de Saigon, e sim os próprios militares sul-vietnamitas, enfurecidos com a
partida dos EUA. “Nós saímos em desgraça. Muitas vidas foram perdidas. Mas
também estava satisfeito por tudo ter acabado, já que tinha ficado sem dormir
durante os últimos quatro dias”, relata o fuzileiro Ghilain, ao lembrar do que sentiu
quando subiu no helicóptero, ao amanhecer do último dia de Saigon. Apesar do
triste espetáculo, os EUA conseguiram, em um mês, evacuar todos os seus cerca
de 20 mil cidadãos e 150 mil vietnamitas.
Às 9h do dia 30 de abril, apenas uma hora após a
última aeronave decolar do teto da embaixada, as colunas do Exército Popular do
Vietnã entraram na capital. Eles esperaram o fim da evacuação, e não tinham a
intenção de matar ninguém. Em meio às pessoas que não conseguiram escapar da
cidade, havia alguns jovens vestidos apenas de cueca. Eram os soldados do ERV,
que haviam se livrado de seus uniformes para não serem identificados.
Tanques
soviéticos T-54 avançavam em direção ao Palácio Presidencial, mas os mapas
impressos às pressas em Hanói não eram muito precisos. Perdidos nas ruas
desertas da cidade, não tiveram outra opção a não ser perguntar a uma
transeunte solitária onde ficava o tal prédio. Resolvido o problema de
inteligência, os tanques atravessaram o portão do palácio, onde Minh esperava,
ávido para aceitar a rendição. O último presidente do Vietnã do Sul ficou
apenas 42 horas no poder. Apesar de sua predisposição em se entregar, o
processo teve alguns contratempos. Minh foi levado à estação de rádio para ler
a nota de rendição, mas não conseguiu decifrar a caligrafia do coronel que
redigiu o documento. A solução foi ditar o texto. E, assim, antes do cair da
noite, o Exército do Vietnã do Norte transmitiu a mensagem de que Saigon fora
conquistada e rebatizada. Dali em diante a cidade seria chamada de Ho Chi Minh,
em homenagem ao homem que iniciara a revolução comunista em 1946, quando o país
ainda era uma colônia francesa. A guerra que nunca foi declarada estava oficial
e definitivamente encerrada.
Fracasso completo
Em abril de 1975, ficou claro que o esforço norte-americano em
manter um bastião anticomunista abaixo do paralelo 17 fora em vão. Ao mesmo
tempo em que o Vietnã era reunificado, no país vizinho, o Camboja, a vitória do
Khmer Vermelho sobre Lon Nol, presidente alinhado com Washington, era cada vez
mais certa. Entre 1970 e 1972, os Estados Unidos gastaram mais de 400 milhões
de dólares em ajuda militar ao governo de Lon Nol. Os bombardeios americanos
detiveram o avanço do Khmer até 1973, quando o Congresso americano determinou o
fim desse tipo de intervenção.
Tópico Relacionado
Nenhum comentário:
Postar um comentário