Estas
são fotos nunca antes vistas da filha do comandante de Auschwitz como uma jovem
modelo antes de se mudar para os EUA, onde ela teve sucesso em manter em
segredo seu passado familiar obscuro por 40 anos.
Brigitte
Höss, cujo pai Rudolf estava no comando do mais mortal dos campos de
concentração do regime nazista, sorri para a câmera durante o que é pensado ter
sido o início de sua carreira de modelo em Balenciaga.
Hoje,
com 80 anos e em fase terminal de câncer, ela revelou a extensão total do que é
uma estória extraordinária em sua primeira grande entrevista.
Vivendo
em aposentadoria anônima na Virgínia do Norte, Höss, que deu uma entrevista ao The Washington Post, teme por sua vida se
sua identidade for revelada.
De
fato, Brigitte era tão envergonhada do papel de seu pai no Holocausto que ela
ficou surpresa quando a dona judia da loja de departamentos que ela trabalhava
a perdoou quando ela confessou, bêbada, sua árvore genealógica, compreendendo
que ela não deveria ser responsabilizada.
O
mais incrível é o fato de que a desconhecida dona da loja – cujo comércio
atendia as esposas de deputados e senadores – fugiu da Alemanha Nazista em
1938.
Confrontada
pelas memórias de seu pai, que foi responsável pela morte de 1,1 milhão de
judeus e dezenas de milhares de ciganos e prisioneiros políticos, Brigitte
mantém até hoje que seu pai “era o homem mais doce do mundo”.
Uma
das condições para a entrevista do Post acontecer
era a de que o nome de casada não fosse usado, de modo que nenhum detalhe
pudesse potencialmente levar à sua identificação.
“Há
loucos lá fora. Eles podem queimar minha casa ou atirar em alguém,” diz ela em
um sotaque levemente alemão ao entrevistador, Thomas Harding.
Rudolf
Höss foi enforcado em 1947 após o fim da guerra e Brigitte, junto com sua mãe
Hedwig e dois irmãos e duas irmãs, ficaram na extrema pobreza.
Com
80 anos e recentemente diagnosticada com câncer, ela consumiu muito dos últimos
40 anos trabalhando numa loja de departamentos que serve proeminentes cidadãos
de Washington, incluindo as esposas de deputados e senadores.
Chegando
em Washington com seu marido irlandês em 1972, ele trabalhou em cargo gerencial
em uma companhia de transporte.
Incapaz
de falar inglês fluente, Brigitte disse ao The
Washington Post como ela conseguiu um emprego de meio período em uma loja
de departamentos onde ela encontrou seu futuro chefe, uma senhora judia.
As
duas se acertaram e ela pediu a Brigitte para trabalhar com ela num butique em Washington.
Uma
noite após muita bebida, Brigitte confessou a ela que seu pai era Rudolf Höss.
Sua chefe judia disse que isto não importava para ela, apesar de ter fugido da
Alemanha Nazista após os ataques da Kristallnacht
em 1938*.
Por
toda sua vida, se as pessoas perguntassem sobre seu pai, ela diria prontamente
que ele morreu durante a Segunda Guerra Mundial, afirmou The Washington Post.
Nascida
Inge-Brigitt Höss em 18 de agosto de 1933, seus primeiros anos foram gastos
mudando-se de um campo de concentração para outro, enquanto seu pai escalava
postos na SS de Hitler.
Dos
sete aos onze anos, ela viveu em uma vila além de Auschwitz, onde sua família
vivia uma boa vida.
Eles
eram servidos por uma equipe – muitos deles prisioneiros – e sua casa era
decorada com objetos e arte roubados de prisioneiros após terem sido
selecionados para as câmaras de gás.
Eles
podiam mesmo ver os prédios dos prisioneiros e o velho crematório da janela do
sótão, mas Brigitte lembra-se apenas de visitar os cavalos e ovelhas no campo.
Vivendo
no ostracismo por causa de sua conexão com o regime nazista, Brigitte e sua
família gastaram os anos seguintes em extrema pobreza.
Durante
os anos 1950, ela deixou a Alemanha para tentar uma nova vida na Espanha, onde
ela trabalhou como modelo por três anos com a badalada agência Balenciaga.
Em
1961, ela casou-se com um engenheiro irlandês trabalhando em Madri. Quando ela
confessou a ele seu passado, ele aceitou e acreditou que ela era “tão vítima
quanto qualquer outra pessoa.”
Ambos
concordaram ema fazer um “acordo não verbal e não escrito” em não falar a
ninguém sobre o passado familiar.
O
trabalho do marido os levou para a Libéria, Grécia, Irã e Vietnã antes deles se
mudarem – junto com seu casal de filhos – para Washington em 1972.
Inicialmente,
Brigitte lutou para se adaptar á sua nova vida, mas ajudou quando ela conseguiu
um emprego de meio período numa loja de departamentos.
Não
muito tempo após ter sido contratada, ela confessou seu passado familiar para
sua empregadora. Felizmente, para Brigitte, a proprietária, disse-lhe que
entendia que ela não tinha cometido nenhum crime, de modo que ela permaneceu no
mesmo emprego por 35 anos.
Brigitte
divorciou-se de seu marido em 1983 e sua filha já é falecida, mas seu filho
vive com ela. Ela vê seus netos com frequência, mas até hoje não conseguiu
discutir seu segredo sombrio porque ela não os quer ver magoados.
Ela
disse ao The Washington Post que sua
mãe costumava visitá-la em Washington dos anos 1960 até o final dos anos 80,
quando ela faleceu. Ela foi enterrada em algum lugar da Virgínia do Norte.
Seus
outros irmãos vivem na Alemanha, embora um deles já seja falecido. Um membro da
família que tornou pública sua relação com Höss foi seu sobrinho Rainer, que
falou certa vez para Harding: “Se soubesse onde meu avô está enterrado iria até
lá e mijaria no seu túmulo.”
Brigitte gastou boa parte de sua vida evitando falar sobre seu pai e mesmo sabendo que o que ele fez foi terrivelmente errado, ela tem boas lembranças dele.
“Ele
foi o homem mais doce do mundo,” diz ela. “Ele era muito bom para nós.”
Ela
também disse a Harding que seu pai era infeliz.
Ela
mantém que seu pai foi obrigado a fazer uma porção de coisas e não tinha
escolha.
“Ele
tinha que fazer. Sua família era ameaçada. Nós éramos ameaçados se ele não
fizesse. E ele era um dos muitos na SS. Havia outros que fariam se ele não
fizesse.”
“Como
pode haver tantos sobreviventes se tantos foram mortos?”
Quando
é dito que seu pai confessou ser o responsável pela morte de mais de um milhão
de judeus, ela diz que os britânicos “arrancaram a confissão sob tortura.”
Nota:
*
Até o início dos anos 1970, o Holocausto não tinha o apelo emocional que possui
hoje. De fato, o assunto era pouco discutido nos meios acadêmicos e Holywood
sequer pensava no Holocausto em sua agenda. O martírio judaico só ganhou a
atenção do mundo ocidental após o seriado da rede NBC “O Holocausto” (1978) que
foi um enorme sucesso. A partir daí, as produções cinematográficas, livros e
documentários exploraram o assunto à exaustão. Se Brigitte tivesse confessado
isso hoje, provavelmente teria sido denunciada e perdido o emprego.
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