quinta-feira, 19 de setembro de 2013

[HOL] “Ele foi o homem mais doce do mundo”, diz Brigitte Höss

Daily Mail, 08/09/2013

 


Estas são fotos nunca antes vistas da filha do comandante de Auschwitz como uma jovem modelo antes de se mudar para os EUA, onde ela teve sucesso em manter em segredo seu passado familiar obscuro por 40 anos.

Brigitte Höss, cujo pai Rudolf estava no comando do mais mortal dos campos de concentração do regime nazista, sorri para a câmera durante o que é pensado ter sido o início de sua carreira de modelo em Balenciaga.

Hoje, com 80 anos e em fase terminal de câncer, ela revelou a extensão total do que é uma estória extraordinária em sua primeira grande entrevista.

Vivendo em aposentadoria anônima na Virgínia do Norte, Höss, que deu uma entrevista ao The Washington Post, teme por sua vida se sua identidade for revelada.

De fato, Brigitte era tão envergonhada do papel de seu pai no Holocausto que ela ficou surpresa quando a dona judia da loja de departamentos que ela trabalhava a perdoou quando ela confessou, bêbada, sua árvore genealógica, compreendendo que ela não deveria ser responsabilizada.

O mais incrível é o fato de que a desconhecida dona da loja – cujo comércio atendia as esposas de deputados e senadores – fugiu da Alemanha Nazista em 1938.

Confrontada pelas memórias de seu pai, que foi responsável pela morte de 1,1 milhão de judeus e dezenas de milhares de ciganos e prisioneiros políticos, Brigitte mantém até hoje que seu pai “era o homem mais doce do mundo”.

Uma das condições para a entrevista do Post acontecer era a de que o nome de casada não fosse usado, de modo que nenhum detalhe pudesse potencialmente levar à sua identificação.

“Há loucos lá fora. Eles podem queimar minha casa ou atirar em alguém,” diz ela em um sotaque levemente alemão ao entrevistador, Thomas Harding.

Rudolf Höss foi enforcado em 1947 após o fim da guerra e Brigitte, junto com sua mãe Hedwig e dois irmãos e duas irmãs, ficaram na extrema pobreza.

Com 80 anos e recentemente diagnosticada com câncer, ela consumiu muito dos últimos 40 anos trabalhando numa loja de departamentos que serve proeminentes cidadãos de Washington, incluindo as esposas de deputados e senadores.

Chegando em Washington com seu marido irlandês em 1972, ele trabalhou em cargo gerencial em uma companhia de transporte.

Incapaz de falar inglês fluente, Brigitte disse ao The Washington Post como ela conseguiu um emprego de meio período em uma loja de departamentos onde ela encontrou seu futuro chefe, uma senhora judia.

As duas se acertaram e ela pediu a Brigitte para trabalhar com ela num butique em Washington.

Uma noite após muita bebida, Brigitte confessou a ela que seu pai era Rudolf Höss. Sua chefe judia disse que isto não importava para ela, apesar de ter fugido da Alemanha Nazista após os ataques da Kristallnacht em 1938*.

Por toda sua vida, se as pessoas perguntassem sobre seu pai, ela diria prontamente que ele morreu durante a Segunda Guerra Mundial, afirmou The Washington Post.

Nascida Inge-Brigitt Höss em 18 de agosto de 1933, seus primeiros anos foram gastos mudando-se de um campo de concentração para outro, enquanto seu pai escalava postos na SS de Hitler.

Dos sete aos onze anos, ela viveu em uma vila além de Auschwitz, onde sua família vivia uma boa vida.

Eles eram servidos por uma equipe – muitos deles prisioneiros – e sua casa era decorada com objetos e arte roubados de prisioneiros após terem sido selecionados para as câmaras de gás.

Eles podiam mesmo ver os prédios dos prisioneiros e o velho crematório da janela do sótão, mas Brigitte lembra-se apenas de visitar os cavalos e ovelhas no campo.

 
Em abril de 1945, com a guerra claramente perdida, a família fugiu para onorte. Eles esperaram até o momento certo para fugir para a América do Sul, mas em março de 1946, Hanns Alexander, o tio-avô judeu de Harding, encontrou-os e os capturou. Após testemunhar em Nuremberg, Höss foi enforcado próximo ao crematório de Auschwitz.

Vivendo no ostracismo por causa de sua conexão com o regime nazista, Brigitte e sua família gastaram os anos seguintes em extrema pobreza.

Durante os anos 1950, ela deixou a Alemanha para tentar uma nova vida na Espanha, onde ela trabalhou como modelo por três anos com a badalada agência Balenciaga.

Em 1961, ela casou-se com um engenheiro irlandês trabalhando em Madri. Quando ela confessou a ele seu passado, ele aceitou e acreditou que ela era “tão vítima quanto qualquer outra pessoa.”

Ambos concordaram ema fazer um “acordo não verbal e não escrito” em não falar a ninguém sobre o passado familiar.

O trabalho do marido os levou para a Libéria, Grécia, Irã e Vietnã antes deles se mudarem – junto com seu casal de filhos – para Washington em 1972.

Inicialmente, Brigitte lutou para se adaptar á sua nova vida, mas ajudou quando ela conseguiu um emprego de meio período numa loja de departamentos.

Não muito tempo após ter sido contratada, ela confessou seu passado familiar para sua empregadora. Felizmente, para Brigitte, a proprietária, disse-lhe que entendia que ela não tinha cometido nenhum crime, de modo que ela permaneceu no mesmo emprego por 35 anos.

Brigitte divorciou-se de seu marido em 1983 e sua filha já é falecida, mas seu filho vive com ela. Ela vê seus netos com frequência, mas até hoje não conseguiu discutir seu segredo sombrio porque ela não os quer ver magoados.

Ela disse ao The Washington Post que sua mãe costumava visitá-la em Washington dos anos 1960 até o final dos anos 80, quando ela faleceu. Ela foi enterrada em algum lugar da Virgínia do Norte.

Seus outros irmãos vivem na Alemanha, embora um deles já seja falecido. Um membro da família que tornou pública sua relação com Höss foi seu sobrinho Rainer, que falou certa vez para Harding: “Se soubesse onde meu avô está enterrado iria até lá e mijaria no seu túmulo.”

Brigitte gastou boa parte de sua vida evitando falar sobre seu pai e mesmo sabendo que o que ele fez foi terrivelmente errado, ela tem boas lembranças dele.

“Ele foi o homem mais doce do mundo,” diz ela. “Ele era muito bom para nós.”

Ela também disse a Harding que seu pai era infeliz.

Ela mantém que seu pai foi obrigado a fazer uma porção de coisas e não tinha escolha.

“Ele tinha que fazer. Sua família era ameaçada. Nós éramos ameaçados se ele não fizesse. E ele era um dos muitos na SS. Havia outros que fariam se ele não fizesse.”
 
 
Brigitte não nega que as atrocidades em Auschwitz e outros campos aconteceram, mas ela questiona o número de vítimas.

“Como pode haver tantos sobreviventes se tantos foram mortos?”

Quando é dito que seu pai confessou ser o responsável pela morte de mais de um milhão de judeus, ela diz que os britânicos “arrancaram a confissão sob tortura.”   

Nota:

* Até o início dos anos 1970, o Holocausto não tinha o apelo emocional que possui hoje. De fato, o assunto era pouco discutido nos meios acadêmicos e Holywood sequer pensava no Holocausto em sua agenda. O martírio judaico só ganhou a atenção do mundo ocidental após o seriado da rede NBC “O Holocausto” (1978) que foi um enorme sucesso. A partir daí, as produções cinematográficas, livros e documentários exploraram o assunto à exaustão. Se Brigitte tivesse confessado isso hoje, provavelmente teria sido denunciada e perdido o emprego.


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