sábado, 7 de setembro de 2013

[PGM] O uso chocante de armas químicas por Winston Churchill

The Guardian, 01/09/2013

 
Segredo era a ordem. O staff imperial geral da Grã-Bretanha ficaria ultrajado se se tornasse público que o governo pretendia usar seu estoque secreto de armas químicas. Mas Winston Churchill, então Secretário de Estado da Guerra, passou por cima desses detalhes morais. Há muito tempo defensor da guerra química, ele estava determinado a usá-las contra os bolchevistas russos. No verão de 1919, 94 anos antes do ataque devastador na Síria, Churchill planejou e executou um ataque químico no norte da Rússia.

Os britânicos não eram ignorantes em relação ao uso das armas químicas. Durante a terceira batalha de Gaza em 1917, o general Edmund Allenby disparou 10.000 cartuchos de gás asfixiante em posições inimigas, com efeito limitado. Mas nos meses finais da Primeira Guerra Mundial, os cientistas nos laboratórios governamentais em Porton em Wiltshire desenvolveram uma arma ainda mais devastadora: o “Dispositivo M” ultra secreto, uma cápsula explosiva contendo um gás altamente tóxico chamado difenil-amina-cloro-arsênico. O encarregado pelo seu desenvolvimento, o general de divisão Charles Foulkes, o chamou de “a arma química mais eficiente jamais criada.”

Testes em Porton sugeriam que ele era de fato uma nova arma terrível. Vômito incontrolável, tosse acompanhada de sangue e fatiga paralisante instantânea eram as reações mais comuns. O coordenador geral da produção de armamento químico, Sir Keith Price, estava convencido de que o seu uso levaria rapidamente o regime bolchevista ao colapso. “Se você voltasse para casa somente uma vez com o gás, não encontraria mais nenhum comuna neste lado do Vologda*.” O gabinete era hostil ao uso de tais armas, para a irritação de Churchill. Ele também queria usar o Dispositivo M contra as tribos rebeldes do norte da Índia. “Sou totalmente a favor do uso de gás venenoso contra as tribos selvagens,” ele declarou em um memorando secreto. Ele criticou seus colegas por seus escrúpulos, declarando que “as objeções do Departamento da Índia em usar gás contra os nativos é irracional. O gás é arma mais misericordiosa que um projétil explosivo e obriga o inimigo a aceitar uma decisão com menos perdas de vidas do que outros tipos de guerra.”

Ele concluiu seu memorando com humor negro: “Por que não é justo para um artilheiro britânico disparar um projétil que faz os nativos espirrarem?” ele perguntou. “É realmente idiota.”

Uma quantidade surpreendente de 50.000 Dispositivos M foram despachados para a Rússia: ataques aéreos britânicos utilizando-os começaram no dia 27 de agosto de 1919, atingindo a vila de Emtsa, 200 km ao sul de Arcangel. Soldados bolchevistas foram vistos fugindo em pânico à medida que o gás esverdeado caiu sobre eles. Aqueles engolidos pela nuvem vomitaram sangue, então desmaiando inconscientes.  

Os ataques continuaram até setembro em muitas vilas mantidas pelos bolchevistas: Chunova, Vikhtova, Pocha, Chorga, Tavoigor e Zapolki. Porém, as armas provaram ser menos eficientes do que Churchill esperava, em parte por causa do clima úmido do outono. Em setembro, os ataques foram interrompidos então suspensos. Duas semanas depois, as armas restantes foram jogadas no Mar Branco (n. do T.: entre a Finlândia e o norte da Rússia). Eles permanecem no fundo do mar até hoje a uma profundidade de 80 metros.

Nota:

* Vologda é uma cidade localizada no centro-norte da Rússia às margens do rio de mesmo nome. Em dezembro de 1917, ela tornou-se o centro de poder soviético e em fevereiro de 1918 tornou-se a capital diplomática da Rússia por alguns meses.    

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