Os
britânicos não eram ignorantes em relação ao uso das armas químicas. Durante a
terceira batalha de Gaza em 1917, o general Edmund Allenby disparou 10.000
cartuchos de gás asfixiante em posições inimigas, com efeito limitado. Mas nos
meses finais da Primeira Guerra Mundial, os cientistas nos laboratórios
governamentais em Porton em Wiltshire desenvolveram uma arma ainda mais
devastadora: o “Dispositivo M” ultra secreto, uma cápsula explosiva contendo um
gás altamente tóxico chamado difenil-amina-cloro-arsênico. O encarregado pelo
seu desenvolvimento, o general de divisão Charles Foulkes, o chamou de “a arma química
mais eficiente jamais criada.”
Testes
em Porton sugeriam que ele era de fato uma nova arma terrível. Vômito
incontrolável, tosse acompanhada de sangue e fatiga paralisante instantânea eram
as reações mais comuns. O coordenador geral da produção de armamento químico,
Sir Keith Price, estava convencido de que o seu uso levaria rapidamente o
regime bolchevista ao colapso. “Se você voltasse para casa somente uma vez com
o gás, não encontraria mais nenhum comuna neste lado do Vologda*.” O gabinete
era hostil ao uso de tais armas, para a irritação de Churchill. Ele também
queria usar o Dispositivo M contra as tribos rebeldes do norte da Índia. “Sou
totalmente a favor do uso de gás venenoso contra as tribos selvagens,” ele
declarou em um memorando secreto. Ele criticou seus colegas por seus
escrúpulos, declarando que “as objeções do Departamento da Índia em usar gás
contra os nativos é irracional. O gás é arma mais misericordiosa que um
projétil explosivo e obriga o inimigo a aceitar uma decisão com menos perdas de
vidas do que outros tipos de guerra.”
Ele
concluiu seu memorando com humor negro: “Por que não é justo para um artilheiro
britânico disparar um projétil que faz os nativos espirrarem?” ele perguntou. “É
realmente idiota.”
Uma
quantidade surpreendente de 50.000 Dispositivos M foram despachados para a
Rússia: ataques aéreos britânicos utilizando-os começaram no dia 27 de agosto
de 1919, atingindo a vila de Emtsa, 200 km ao sul de Arcangel. Soldados
bolchevistas foram vistos fugindo em pânico à medida que o gás esverdeado caiu
sobre eles. Aqueles engolidos pela nuvem vomitaram sangue, então desmaiando
inconscientes.
Os
ataques continuaram até setembro em muitas vilas mantidas pelos bolchevistas:
Chunova, Vikhtova, Pocha, Chorga, Tavoigor e Zapolki. Porém, as armas provaram
ser menos eficientes do que Churchill esperava, em parte por causa do clima
úmido do outono. Em setembro, os ataques foram interrompidos então suspensos.
Duas semanas depois, as armas restantes foram jogadas no Mar Branco (n. do T.:
entre a Finlândia e o norte da Rússia). Eles permanecem no fundo do mar até
hoje a uma profundidade de 80 metros.
Nota:
*
Vologda é uma cidade localizada no centro-norte da Rússia às margens do rio de
mesmo nome. Em dezembro de 1917, ela tornou-se o centro de poder soviético e em
fevereiro de 1918 tornou-se a capital diplomática da Rússia por alguns meses.
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