O presidente Bashar Assad insiste que a finalidade
do seu arsenal químico sempre foi para fazer frente às armas nucleares de
Israel. Se a Síria de fato destruí-lo, o que será do arsenal de Egito e de
Israel? Os Estados Unidos se calam estranhamente sobre o estoque de armas
químicas do Egito. O Cairo aponta para Israel. Que, naturalmente, afirma ter
suas próprias armas químicas para dissuadir Síria e Egito e não pretende se
desfazer delas.
Uma manchete do diário israelense Haaretz, há
alguns dias, dizia: "Israel inflexível quanto a não ratificar o tratado de
armas químicas diante de vizinhos hostis".
Esses três países também não aderiram à Convenção
sobre Armas Biológicas e Israel não assinou o Tratado de Não Proliferação
Nuclear (TNP), embora mantenha um arsenal nuclear formidável, que, em breve,
deverá se tornar tema central neste drama - os Estados Unidos gostem ou não.
Poder nuclear.
Um obstáculo que os próprios
americanos criaram tem impedido amplas negociações sobre armas de destruição em
massa no Oriente Médio. Enquanto o mundo continua sua discussão eterna sobre a
capacidade nuclear do Irã e a possibilidade de o país criar um arsenal atômico,
dificilmente alguém nos Estados Unidos menciona o poderio nuclear de Israel.
Obama, como seus predecessores, finge que não tem
conhecimento do fato. O tabu tem impedido discussões a respeito, tanto em
Washington quanto no plano internacional, e desencoraja os EUA a pressionarem
Egito e Síria para retificarem as convenções sobre armas biológicas e químicas.
Porque, se insistir, imediatamente, serão
levantadas objeções quanto à aceitação americana do arsenal nuclear de Israel.
O que sustenta essa atitude dissimulada é o mito de
que os Estados Unidos se obrigam a esconder o fato de Israel possuir armas
atômicas em razão de um acordo firmado em 1969 entre o presidente, Richard
Nixon, e a primeira-ministra israelense, Golda Meir.
O objetivo de Nixon era conseguir o apoio
israelense na Guerra Fria. Ele e Golda Meir viram a necessidade de desencorajar
os soviéticos a fornecerem armas nucleares para seus aliados árabes. Se o
arsenal nuclear israelense fosse revelado, haveria pressão por parte de Moscou.
No entanto, as razões para os Estados Unidos continuarem calados não existem
mais.
Todos sabem que os israelenses possuem bombas
atômicas. Hoje, como principal efeito dessa ambiguidade, negociações regionais
sérias sobre o controle de armas ficam muito mais complicadas.
Todos os outros países da região aderiram ao TNP,
mas há questões que ainda não foram solucionadas. Em 2007, descobriu-se que a
Síria estava construindo um reator nuclear ilícito, que Israel rapidamente bombardeou.
Assad não permitiu até hoje que inspetores da ONU
realizem uma plena investigação do local do reator destruído. E o Irã, aliado
da Síria, é suspeito de desenvolver seu próprio programa nuclear para desafiar
o monopólio israelense na área. Na verdade, muitos analistas acreditaram que a
decisão de Obama de estabelecer uma "linha vermelha" proibindo o uso
de armas químicas na Síria foi motivada pela necessidade de mostrar sua
disposição a usar a força contra o Irã se o país avançasse com seus planos de
fabricar armamento nuclear.
Mudança.
O imbróglio explosivo deveria ser objeto
de uma conferência internacional, decidida em 2010 por votação unânime dos
membros do TNP, incluindo os Estados Unidos. No entanto, tal conferência jamais
foi realizada, em parte por causa da ambivalência da Casa Branca sobre como ela
poderia afetar Israel.
Em abril, o secretário adjunto de Estado
encarregado dos assuntos de não proliferação e segurança internacional. Thomas
Countryman, disse esperar que a conferência seja realizada ainda este ano. No
início do mês, o chanceler russo, Sergei Lavrov, insistiu para que fosse
determinada uma data para a conferência "o mais rápido possível". Ele
acrescentou que da reunião deveriam tomar parte Israel e Irã. A Rússia tentou
inserir o encontro no acordo da semana passada, mas o secretário de Estado,
John Kerry, resistiu.
Se Washington deseja que as negociações sobre armas
de destruição em massa no Oriente Médio avancem - ou simplesmente para que os
EUA não caiam no ridículo -, Obama deve começar a ser mais franco. O presidente
não pode esperar que os países que participarem da conferência levem Washington
a sério se a Casa Branca continuar fingindo não saber que Israel possui armas
nucleares, ou que Egito e Israel possuem armas biológicas e químicas.
Se a política de Israel neste campo é tão
inflexível que é impossível mudar, Obama e o governo dos Estados Unidos
precisam ser honestos quanto ao arsenal israelense e agir com base neste fato,
para o bem dos EUA e de Israel.
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