História
Viva, Ano VII nº
81
A guerra ganhou uma nova dimensão, e o ar se tornou um campo de batalha inesperado, onde um homem passou a reinar absoluto: com seu avião todo pintado de vermelho, Manfred Von Richtofen se transformou no terror dos pilotos britânicos e franceses. Para os inimigos, ele não era um ser de carne e osso, mas uma lenda. Ele era o Barão Vermelho.
Nascido
em 1892 no seio de uma poderosa família aristocrática alemã, aos 11 anos ele
entrou para a escola de cadetes (Kadettschule)
de Wahlstadt, na região da Silésia, e se revelou um aluno absolutamente mediano
em todas as disciplinas. Destacava-se apenas nos exercícios físicos.
Manfred
passou seis longos anos na escola de Wahlstadt e mais dois na Academia Militar
de Lichterfede, na região de Postdam, de onde saiu com o título de oficial da
cavalaria em 1911. No final de 1912, uniu-se ao primeiro regimento de
cavaleiros ulanos Kaiser Alexander III, que estava baseado na Alemanha oriental
no momento da declaração de guerra em 1914.
Participou,
então, da invasão da Rússia, mas os combates no leste não duraram muito. Manfred,
assim como os demais cavaleiros, foi desmobilizado e enviado para as
trincheiras no oeste, mas não suportou o “serviço mortalmente entediante” e
pediu transferência para as tropas aéreas.
Richtofen
mergulhou de cabeça nos cursos de aviação, mas novamente se revelou um aluno
medíocre. Seu instrutor só permitiu que pilotasse sozinho após 25 saídas
realizadas em menos de uma semana. Em 10 de outubro de 1915 ele finalmente fez
o seu primeiro voo desacompanhado e... sofreu um acidente na aterrissagem.
Esse
fracasso e a aparente falta de habilidade, porém, não desanimaram Richtofen.
Ele estava determinado a pôr em prática o que havia aprendido com um oficial
que conhecera durante seu treinamento, Oswald Bölcke, que lhe apresentou a
pilotagem de caça. A partir daquele encontro, o futuro Barão Vermelho se deu
conta de que o avião não precisava ser apenas um instrumento de reconhecimento.
O aparelho poderia ser uma poderosa arma de combate.
Richtofen
logo superou os problemas dos primeiros voos e dominou seu avião. Terminou o
treinamento no dia de Natal de 1915 e pouco tempo depois pilotava um Albatroz
da segunda esquadrilha de combate alemã sobrevoando o front de Verdun.
Nessa
época, a superioridade dos ingleses e franceses nos céus era incontestável, e
Bölcke foi encarregado de organizar uma esquadrilha de elite alemã para
desafiar esse domínio. O lugar-tenente Richtofen foi escolhido para integrar a
equipe. O grupo, formado por 12 pilotos, lançou-se em uma dura batalha contra
os Aliados. Em seis semanas, seis pilotos foram mortos, um gravemente ferido e
outros dois caíram em depressão. Aqueles combates aéreos em verdadeiras
provações físicas e morais para os homens dos dois campos, mas Richtofen sempre
estava ali, colecionando vitórias.
Em
28 de outubro de 1916, depois de abater 40 adversários, Oswald Bölcke morreu ao
se chocar com um avião britânico na região de Pas-de-Calais.
A
guerra continuava e a popularidade de Richtofen só aumentava. No dia 16 de
junho de 1917 ele recebeu a Cruz do Mérito*, mais alta condecoração militar
alemã, e o governo do seu país mandou distribuir milhares de fotografias do herói.
Pouco tempo depois, ele foi escolhido para comandar sua esquadrilha, a Jasta II.
Fim
de junho de 1917. Manfred, com 56 aviões destruídos, é dali em diante o maior
ás da Primeira Guerra Mundial. Seu Albatroz, que tinha uma velocidade
ascensional notável e que chegava facilmente a 500 metros de altitude, dava à
sua esquadrilha uma superioridade de manobra perante os aviões aliados. Ele foi
então promovido a capitão.
Como
seus companheiros o convenceram de que o vermelho fazia de sua máquina um alvo
facilmente identificável para os adversários, Richtofen ordenou que todos os
seus homens pintassem seus respectivos aviões de cores vivas. O do líder
permaneceu inteiramente escarlate, enquanto os outros foram cobertos com cores
diferentes em cada parte da fuselagem. Assim nasceu o “Circo Voador” de
Richtofen, cujos aparelhos, em tons gritantes, formaram uma nova unidade, a
Jagdgeschwader I.
Réplica do Triplano Fokker Dr. I utilizado por Richtofen
Início de 1918. O “Circo Voador” de Richtofen continuava no front. A base aérea se encontrava em Cappy, na região do Somme, na França. Aquele 21 de abril prometia ser um belo dia. O céu estava limpo e os homens alegres: seu capitão acaba de obter a 80ª. vitória. O ás dos ases absoluto!
Richtofen
levantou-se de bom humor. De repente, foi surpreendido pela notícia de que
aviões britânicos se aproximavam do front. Imediatamente os pilotos se enfiaram
em seus aparelhos. Vinte aviões Fokker e Albatroz alemães alçaram voo.
O
“Circo Voador” de Richtofen ultrapassou Cerisy por volta das 10h40min. Logo, um
pouco mais ao sul e mais para o alto, o capitão canadense Roy Brown e seus oito
Camel foram ao encontro dos alemães.
Brown,
do alto, percebeu rápido as manobras desordenadas de um Camel, pilotado pelo
inexperiente Wilfred R. May, de apenas 19 anos, ao mesmo tempo que avistou o
triplano escarlate se aproximando de seu jovem protegido. O capitão canadense
arremeteu imediatamente sobre o Fokker, e eis que começou uma perseguição
infernal entre os três aviões.
Entregue
a esse duelo mortal, o ás alemão aparentemente não se deu conta de que
sobrevoava as linhas australianas e neozelandezas. De repente, ouviu os tiros
disparados pelas metralhadoras antiaéreas. O triplano vermelho perdeu a
estabilidade e entrou em parafuso, descontrolado. Minutos depois, o avião
explodiu contra o chão. Era a última batalha do Barão Vermelho.
O
pequeno cemitério de Bertangles, situado perto do local de combate, e base
aérea britânica, recebeu seus restos mortais em 22 de abril de 1918. Manfred Von
Richtofen foi enterrado com honras militares pelos britânicos, em uma cerimônia
que não teve paralelo durante toda a Primeira Guerra Mundial. Na noite de 23 de
abril, pilotos aliados lançaram no aeródromo alemão mensagens do Royal Flying Corps britânico: “O capitão
Richtofen teve um ferimento mortal em combate aéreo e foi enterrado com todas
as honras militares.”
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