O historiador francês Philippe Masson (1928 – 2005) afirmou que “em 3 de setembro [1943], Hitler mal dissimula seu desencanto. ‘Eu não quis essa guerra’.”
Masson analisou as
diversas mudanças geopolíticas ocorridas após a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), assim como suas causas e desdobramentos durante o conflito, derrubando
a visão maniqueísta sobre a primeira guerra que verdadeiramente mereceu o
título de mundial.
O livro A
Segunda Guerra Mundial: História e Estratégias (Editora Contexto,
2010), além de uma completa cronologia das batalhas e acordos deste episódio,
apresenta uma análise com destaques para as suas características estratégicas,
logísticas, econômicas e humanas.
Como as operações
aconteceram em diversos lugares do globo, exigiram novos sistemas de armas,
modificando as táticas e os conceitos estratégicos.
Leia um trecho da
obra, que favorece inúmeras leituras sobre o maior confronto de nações da
história.
O problema-chave
da Segunda Guerra Mundial em seu início é, de fato, o conflito ocidental, essa
guerra não desejada pelo Reich. Por duas vezes, Hitler vai tentar livrar-se
dela segundo as melhores tradições da realpolitik. São duas as propostas de
paz. A primeira, em 6 de outubro de 1939, após aniquilar e partilhar a Polônia.
Nem Londres nem Paris reagem oficialmente a uma proposta de paz sem vencedores.
O efeito não deixa
de ser intenso na França, pelo menos, onde se vivencia um mal-estar político
advindo de uma guerra mal planejada, difícil de conduzir. Embora exista um
partido da paz, representado pelos comunistas e vários parlamentares, com
homens como Déat, Laval ou Flandin, ninguém ousa assumir a responsabilidade de
uma “nova Munique”.
A segunda
tentativa acontece em junho de 1940, por ocasião do grande triunfo da
Wehrmacht. Hitler joga então com dois registros. Procura, inicialmente,
oferecer à França condições moderadas de armistício. Rejeita, assim, as
propostas redigidas pelo okh, o “Oberkommando des Heeres”, e pela
Wilhelmstrasse, inspiradas na ideia de revanche do Diktat de 1919. Tais
propostas preveem, com efeito, a ocupação completa do território francês, a
instalação, pela Wehrmacht, de bases nas colônias, o desarmamento integral do
exército francês e a entrega da frota.
É o Führer que
dita, então, as condições consideradas “aceitáveis”. A França conservará uma
zona livre, a soberania sobre seu império. Conservará, igualmente, um exército
de 100 mil homens e os domínios territoriais. Fato capital, finalmente, a
Alemanha se compromete a não exigir a entrega da frota, nem mesmo no momento da
assinatura da paz. Em 18 de junho, durante uma entrevista em Munique, o Führer
consegue aliar Mussolini à ideia de um armistício moderado. O cálculo revela-se
preciso. O governo do marechal Pétain resigna-se a assinar, em 22 de junho, em
Rethondes, uma suspensão de armas, cujas cláusulas lhe parecem honrosas. Apenas
algumas vozes isoladas, como a do general De Gaulle, condenam esse armistício
considerado uma capitulação.
Por outro lado,
Hitler é menos feliz ao apostar no segundo registro. Apesar da defecção da
França e da adesão da Itália à guerra, a Grã-Bretanha, sob o comando de
Churchill, decide prosseguir na luta. Na realidade, a iniciativa do Führer é
muito tardia. Ela chega com um mês de atraso. A vacilação britânica aconteceu
em maio, após a ruptura do Meuse e a incapacidade do comando francês em
restabelecer a situação.
É com um misto de
espanto e cólera que os ingleses assistem à derrota do exército francês, que
acarreta o desmoronamento de toda a sua estratégia. Pela iniciativa de lorde
Halifax, apoiado por Chamberlain, o gabinete estuda então, seriamente, uma
mediação de Mussolini, no que concerne ao restabelecimento da paz na Europa
Ocidental. Um mês depois, Londres muda de ideia. A proposta de Halifax foi
definitivamente descartada por Churchill, com o apoio dos trabalhistas, Attlee
e Greenwood. O gabinete de guerra decide continuar a luta e rejeita as ofertas
de negociação alemãs transmitidas por intermédio de Estocolmo e do Vaticano.
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