Matt Lebovic, 09/03/2013
Exatamente 70 anos atrás, os grandes astros de Hollywood reuniram-se para expor o Holocausto.
Foi no início de 1943, e os exércitos de Hitler estavam finalmente em retirada da África do Norte e da União Soviética. O Dia-D estava mais de um ano longe, e os nazistas haviam matado quase três milhões de judeus.
Desde o começo da guerra, relatos de testemunhas de execuções em massa e campos de extermínio chegaram aos governos ao redor do mundo. “Resgate através da Vitória” permaneceu a estratégia oficial aliada, e as mortes recebiam pouca atenção.
Quando o genocídio atingiu seu ápice, Hollywood decidiu agir.
Um jornalista e roteirista experiente, Ben Hecht foi a primeira celebridade a publicar um texto sobre o Holocausto. O ensaio de Hecht de fevereiro de 1943, “O Extermínio dos Judeus” (http://www.unz.org/Pub/AmMercury-1943feb-00194 ) fez barulho, mesmo com o Departamento de Estado dos EUA deixando de lado relatórios do genocídio.
“Destes 6.000.000 de judeus da Europa, quase um terço já foi massacrada pelos alemães, romenos e húngaros,” escreveu Hecht no Reader´s Digest. “O mais conservador dos marcadores (N. do T.: pessoa que registra os resultados de um jogo ou concurso) estima que antes que a guerra acabe, pelo menos outros um terço terá o mesmo destino.”
Não contente com esse alerta, Hecht decidiu fazer o que ele fazia de melhor – colocar a idéia em um drama envolvente. Um roteirista premiado com o Oscar por “E o Vento Levou” e autor de “Scarface”, Hecht sabia como mexer com as emoções e estabelecer uma estória épica.
Afirmando “frustração com a política americana e ultraje com o medo de Hollywood de ofender seus mercados europeus,” Hecht gastou um mês escrevendo um espetáculo épico hollywoodiano para expor o Holocausto e exigir uma ação de resgate imediata.
Evocando a profecia “Eles nunca devem morrer” do profeta Habakkuk, hecht chamou o seu show de Jamais Morreremos. Exibindo centenas de figurantes e uma orquestra de 50 músicos da NBC, a excursão de seis cidades da produção foi o primeiro grande protesto político de Hollywood.
O compositor Kurt Weill escreveu a trilha sonora e recrutou estrelas como Edward G. Robinson, Paul Muni e Stella Adler para aparecerem no “espetáculo de propagand” dirigido por Billy Rose. Cinqüenta rabinos idosos resgatados da Europa tomaram o palco para cantar a oração kaddish dos mortos no encerramento.
Hecht colaborou intimamente com o Comitê para um Exército Judeu, um grupo sionista revisionista liderado pelo futuro membro do Knesset, Hillel Kook – sob o pseudônimo Peter Bérgson. O assim chamado Grupo Bérgson convocou celebridades não-judaicas, incluindo Frank Sinatra e Burgess Meredith para a excursão nacional de Jamais Morreremos.
A estréia em Nova York aconteceu em 9 de março de 1943, no Madison Square Garden, apenas uma semana após uma reunião maciça “Parem Hitler Agora!” no mesmo local. Os produtores do espetáculo realizaram outro show na noite de abertura para atender à demanda, permitindo que 40.000 pessoas assistissem a ele.
“Estes são os dois milhões de mortos judeus da Europa hoje,” anunciou o locutor quando o show iniciou. “Os quatro milhões restantes deixados para morrer estão sendo mortos, de acordo com o plano. Quando a paz acontecer, eles já estarão mortos.”
Reduzidos em tamanho por um palco que deixaria Cecil B. DeMille com inveja, as celebridades se apresentaram como “as vozes dos sem voz” próximos a crianças vestidas de fantasmas repetindo “Lembrem-se de nós.” Duas tábuas de 12 metros de altura contendo os Dez Mandamentos em hebreu faziam uma ligação da história do povo judeu com o massacre presente.
“Lembrem-se de nós que estivemos na Ucrânia,” murmuraram os atores. “Os alemães jogaram nossas mulheres nas estradas amarradas às nossas crianças. Então, eles passaram com seus caminhões sobre nós. Milhares de nós morreram desta forma, como os veículos militares indo e voltando sobre nossos corpos feridos. Lembrem-se de nós.”
A performance de Jamais Morreremos em Washington, DC, em 12 de abril foi vista por 300 congressistas, seis juízes da Suprema Corte e pela Primeira Dama, Eleanore Roosevelt. Para motivar os membros importantes da audiência, Hecht acrescentou apelos específicos ao longo do show.
“Lembrem-se de nós que fomos colocados em vagões de carga que deixaram a França e Holanda e Bélgica e que rodaram por toda a Europa... em pé,” entoaram atores vestidos com farrapos. “Morremos nos vagões de carga em pé… Lembrem-se de nós.”
Muitos americanos leram sobre o genocídio pela primeira vez quando Eleanore Roosevelt dedicou parte de sua coluna jornalística à produção: “Ninguém que ouviu cada grupo se apresentar e dar a história do que tinha acontecido com ele nas mãos dos militares alemães implacáveis, jamais esquecerá as terríveis palavras: Lembre-se de nós,” ecreveu a Primeira Dama.
A performance em Los Angeles em 21 de julho no Hollywood Bowl foi transmitida nacionalmente pela NBC, mas também marcou um fim rancoroso ao espetáculo após quatro meses de apresentações.
Bérgson e Hecht reuniram os líderes de 32 organizações nacionais judaicas em Nova York para pedir-lhes a sua aprovação do espetáculo. Suspeitando do agressivo Grupo Sionista Bérgson e ansiosos com seus próprios projetos, os líderes recusaram agregar o nome de suas organizações à produção.
“Gritaria em inglês e em Iídiche tomou conta do recinto,” escreveu Hecht em sua autobiografia sobre o encontro malfadado. “Em cinco minutos, um bate-boca, gélido como um feudo de Kentucky, estava em sua plenitude. O espetáculo de judeus comicamente se ridicularizando na pior hora de sua história me deixou enojado.”
Jamais Morreremos também enfrentou oposição dos líderes judeus locais, que se preocuparam com o fato de que isto incitaria o anti-semitismo e dominaria as agendas comunitárias. O Congresso Judaico Americano fez campanha pelo banimento da produção nas cidades afiliadas, enviando cartas censurando o comitê por causa do Exército judeu e sua promoção.
“Devo pedir-lhe que cancele esta divulgação e interrompa todas as suas atividades futuras em nome dos judeus,” escreveu o rabino Stephen Wise, o mais influente de Nova York, para Hecht. “Se o senhor desejar trabalhar pela causa judaica daqui por diante, peço-lhe que me consulte e deixe-me aconselhá-lo.”
Nem todas as vozes proeminentes foram contra Jamais Morreremos. A Representação Judaica da Filadélfia saudou o alerta da produção.
“Jamais Morreremos demonstrou a todos a importância de se atingir a consciência dos cristãos assim como a dos próprios judeus, a psicologia popular deve ser compreendida e utilizada,” afirmou o editorial da Representação. “As antigas organizações confiáveis, com a naftalina de sua crendice, faria melhor se estimulasse o exemplo realizado.”
Enquanto a produção percorria o país, esforços políticos para aliviar o sofrimento da judiaria européia falharam. Os países se recusaram em aceitar refugiados judeus na Conferência das Bermudas e a Grã-Bretanha nem mesmo discutiria deixar os judeus emigrarem para a Palestina.
Apesar de sua pouca duração, Jamais Morreremos ajudou a criar uma atmosfera “panela de pressão”, conduzindo à criação pelo presidente Roosevelt do Escritório de Refugiados de Guerra em janeiro de 1944. Durante quinze meses de operação, o Escritório seguiu passos concretos para diminuir o ritmo do genocídio, salvando cerca de 200.000 judeus.
Jamais Morreremos foi visto por 100.000 pessoas, e por muitos milhões sintonizados nas transmissões da NBC. Hecht nunca ficou satisfeito com seu projeto ou com os resultados, chamando-os de inconseqüentes.
“As apresentações não resultaram em nada,” Hecht disse a Weill. “Na verdade, tudo o que fizemos foi fazer um monte de judeus chorar, o que não é um feito surpreendente.”
http://www.timesofisrael.com/the-first-time-hollywood-exposed-the-holocaust/
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