sexta-feira, 15 de março de 2013

Sensoriamento Remoto no Brasil

Carlos Alberto Gurgel Veras, Diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da Agência Espacial Brasileira (AEB)




Brasília, 12 de março de 2013 – A técnica de sensoriamento remoto pode ser melhor entendida, em um primeiro instante, traduzindo-se o próprio termo. Remoto significa “sem contato direto” e sensoriamento é o uso de sensores para detectar dados variáveis de uma superfície, como temperatura, distribuição de cores, relevo e muitos outros.

Para bem observar a superfície da Terra ou do mar, o sensor deve estar em posição o mais vertical possível sobre a área a ser observada, o que evita distorções na imagem. Isto se consegue instalando-se o sensor numa plataforma aérea, por exemplo, em um avião.

No fim do século XVIII, balões a gás eram usados para observação dos campos de batalha. Em termos de observação remota, pode-se dizer que os olhos dos militares eram os sensores e o balão a gás era a plataforma. Mas, o registro das imagens só podia ser repassado por meio de relatos.

A observação da terra com registro de imagem aguardava a invenção da máquina fotográfica, na segunda década do século XIX. Aí surgiu uma técnica precursora do sensoriamento remoto.

A expressão “sensoriamento remoto” foi cunhada e se popularizou nos idos de 1960, graças à Era Espacial, inaugurada em outubro de 1957 com o lançamento do Sputnik I.

As primeiras teorias e técnicas, indispensáveis ao avanço do sensoriamento remoto precederam à corrida espacial. Cabe destacar a teoria clássica do eletromagnetismo (James Clerk Maxwell, 1831-1879), o aprimoramento da aerofotografia (~1909), o desenvolvimento do radar (~1930) e de sensores infravermelhos (~1940).

Tais técnicas e outras mais modernas são aplicadas nos sensores que constituem a carga útil necessária à observação da terra. Aí temos os sensores óticos (visível, infravermelho próximo e infravermelho térmico), micro-ondas e laser.

Com o uso de tais sensores e suas combinações, é possível registrar variáveis de grande interesse, sem esgotar a lista: localização e dimensões planares, localização topográfica, cores, temperatura de superfícies, textura, umidade e tipo de vegetação.

Hoje, as imagens são largamente obtidas por satélites com missões específicas de observação da terra. No caso brasileiro, dados de sensoriamento remoto são coletados a partir de inúmeras plataformas satelitais. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mantém um banco de imagens dos seguintes satélites: CBERS-2 (China-Brasil), CBERS-2B (China-Brasil), LANDSAT1, LANDSAT2, LANDSAT3, LANDSAT4, LANDSAT5, LANDSAT7 (EUA), RESOURCESAT-1 (Índia), TERRA (EUA) e AQUA (EUA).

O LANDSAT7 está operacional, mas não transmite dados para o Brasil. O satélite LANDSAT6, lamentavelmente, não chegou à órbita programada e não pôde cumprir sua missão.

Os satélites RESOURCESAT-1, TERRA e AQUA estão operacionais e fornecem diferentes tipos de imagens, inclusive para o Brasil. Estamos negociando com a Índia o acesso aos dados do RESOURCESAT-2.

As informações geradas por essas plataformas nos permitem tomar decisão vitais nas áreas de agricultura, recursos florestais, uso da terra, uso da água, exploração de recursos naturais e muitas outras. A família CBERS, LANDSAT e outras plataformas são usadas intensamente nestes campos. De grande importância para o Brasil são os dados, recebidos quase em tempo real, sobre incêndios florestais em todo o país. Algumas plataformas de observação da terra executam relevantes missões científicas, como as operados pela NASA, sobretudo os satélites TERRA e AQUA. O satélite TERRA realiza sensoriamento remoto da terra, dos oceanos e da atmosfera. Como carga útil destacam-se os sensores para:

• energia radiante de nuvens e da superfície (CERES), via ondas curtas e ondas longas e fluxo líquido;

• imageamento estereoscópico por nove diferentes ângulos (MISR);

• imageamento multiespectral de alta definição (ASTER);

• imageamento global de média resolução (MODIS) em até dois dias;

• medição global de concentrações de metano e monóxido de carbono na troposfera (MOPITT).

Alcançar este nível de capacitação tecnológica é meta do Programa Espacial Brasileiro. Cargas úteis similares estão planejadas para futuras missões nacionais.

Em breve, teremos o lançamento do CBERS-3 e, logo a seguir, do CBERS-4. Cada um deles carrega quatro tipos de câmaras (multiespectrais), com resolução entre 5 e 80m e largura de faixa imageada entre 60 e 866km.

Há também outras missões brasileiras planejadas, com máximo de nacionalização das cargas úteis e módulos de serviço: satélite radar, satélite de observação do mar (Sabiá-Mar, Brasil-Argentina), satélite Amazônia e satélite meteorológico brasileiro.

* Artigo publicado na Revista MundoGEO. Edição nº 71, Pág. 64.

http://mundogeo.com/mundogeo71.php

Introdução ao Sensoriamento Remoto

http://www.inpe.br/unidades/cep/atividadescep/educasere/apostila.htm

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