Quando era criança, estudou na escola
jesuíta de Stella Matutina em Feldkirch. Ele serviu como oficial de artilharia
na frente italiana durante a Primeira Guerra Mundial e recebeu seu diploma de
advogado da Universidade de Innsbruck em 1922. Dois anos depois, ele
estabeleceu seu próprio escritório na cidade. Ele também filiou-se ao Partido
Social Cristão e em 1927 foi eleito para a assembleia nacional, tornando-se o
seu membro mais jovem. Em 1930, ele fundou a Tropa de Assalto Austríaca (Ostmaerkische Sturmscharen), um esforço
na revitalização da cultura católica e defesa política, que mais tarde assumiu
as características de uma força paramilitar.
Schuschnigg casou-se pela primeira vez
em 1924 com Herma Masera, a filha de um comerciante de Bozen, hoje Bolzano (Itália).
Com Herma, ele teve um filho, Kurt, nascido em 1926. Herma morreu em um
acidente de automóvel em 13 de julho de 1935, acidente que deixou Schuschnigg
ferido e seu filho com pequenos ferimentos. Mais tarde, Schuschnigg envolveu-se
com a Condessa Vera Czernin von und zu Chudenitz, a antiga Condessa Fugger von
Babenhausen; seu primeiro casamento foi anulado, mas produziu quarto filhos, Eleonore,
Rudolf, Rose Marie, e Sylvia.
O Chanceler Karl Buresch apontou
Schuschnigg seu ministro da justice em 1932, enquanto que o sucessor de
Buresch, Engelbert Dollfuss, também nomeou Schuschnigg ministro da educação em
1933. O governo em geral, e Schuschnigg em particular como ministro da justiça,
foram muito criticados pelas sentenças de morte impostas aos opositores de
esquerda do regime, os quais lutavam contra as forças governamentais nas ruas
durante a guerra civil de 1934. Karl Munichreiter, líder da Schutzbund, uma organização paramilitar de
esquerda, foi ferido e preso, sendo em seguida condenado à morte e enforcado em
praça pública, uma ação vista como especialmente chocante. Schuschnigg recusou
a aceitar o clamor popular a favor do condenado, o qual foi imediatamente
executado para servir de exemplo para o povo.
Quando Dollfuss foi assassinado em uma
tentativa de golpe pelos nazistas austríacos em 1934, Schuschnigg sucedeu-o
como Chanceler, um pedido que foi supostamente feito por Dollfuss no leito de
morte. Aos 36 anos, Schuschnigg era – e continua sendo até hoje – a pessoa mais
jovem a assumir o cargo. Ao tentar realizar o sonho de seu mentor de criar um
Estado Corporativo, ele enfrentou a oposição não somente dos grupos de esquerda
e nazistas, mas também dos rivais dentro de seu próprio partido. Ernst Rudiger Von
Starhemberg, chefe do grupo paramilitar Defesa da Nação (Heimwehr), era visto por muitos como uma ameaça a Schuschnigg, de
modo que este proibiu todas as forças paramilitares em outubro de 1936. Sua
própria tropa de assalto acabou convertendo-se em uma organização cultural em
abril daquele mesmo ano.
O governo nazista da Alemanha ajudou e
fomentou as intrigas de seus colegas austríacos, que, como alemães étnicos,
buscavam a união, ou Anschluss, com a Alemanha. Schuschnigg tentou manter a
independência da Áustria promovendo sentimentos de
solidariedade e de nacionalidade através
da Frente Pátria ou Patriótica (Vaterlandische), uma organização suprapartidária
fundada por Dollfuss e o único grupo político legal
na Áustria. Ele também tentou afastar o assalto alemão
fortalecendo as relações com a Itália e a Hungria e assinando um tratado de
coexistência com a Alemanha em 1936. Este acordo garantia à Áustria liberdade
das interferências alemãs em seus assuntos internos em troca da libertação de membros
do ilegal partido nazista e da participação no governo austríaco de figuras
ligadas aos alemães. Mesmo assim, em fevereiro de 1938, quando foi convocado
pelo líder alemão Adolf Hitler em Berchtesgaden na Bavária para responder
acusações de supostas violações austríacas ao tratado, Schuschnigg ficou sem
saída. A Áustria não podia contar com ajuda prática das potências democráticas
da Europa no caso de ameaça militar alemã, e as intenções da Itália estavam
longe de serem claras.
Durante o encontro em Berchtesgaden, Hitler exigiu
que Schuschnigg nomeasse o simpatizante nazista Arthur Seyss-Inquart seu
ministro do interior. Obrigado a concordar, Schuschnigg retornou abalado a
Viena, como ele mencionou, “pelos dias mais terríveis de minha vida.” Em 24 de
fevereiro de 1938, Schuschnigg anunciou um plebiscito para 13 de março sobre a
questão do Anschluss. O que alguns classificaram como ato de coragem, foi na
verdade um ato de desespero. Schuschnigg temia uma iminente invasão alemã e
mais tarde ele escreveu, “Tornando-a legalmente difícil tanto quanto possível
para Hitler e, em qualquer caso, deixando-o do lado errado era o máximo que
podia ser alcançado na prática.” Schuschnigg esperava obter pelo menos entre 60
e 65% de votos a favor da manutenção da independência, e aparentemente Hitler
não estava confiante de um resultado positivo para os seus planos.
Não arriscando, Hitler revidou em 11 de março,
insistindo que o plebiscito fosse cancelado. Com as tropas alemãs já
mobilizadas ao longo da fronteira, Schuschnigg concordou, somente para ter
Hitler exigindo sua renúncia e a nomeação de Seyss-Inquart como Chanceler.
Enquanto isso, a Alemanha transmitia ao mundo que a Áustria estava na iminência
de um levante violento dos trabalhadores, e seu governo não tinha mais controle
sobre a situação. Denominando estas alegações de “invenções de A a Z” em seu
famoso discurso de despedida à nação, Schuschnigg revelou que no sentido de
evitar um conflito fraticida ele ordenou que o exército austríaco não
resistisse aos alemães: “Nós cedemos à força... Deus salve a Áustria!” Em 12 de março, o dia originalmente planejado
para o plebiscito, Hitler entrou na Áustria, recebendo uma recepção triunfante
dos nazistas locais, e o país foi formalmente anexado à Alemanha no dia
seguinte.
Schuschnigg foi imediatamente colocado sob prisão domiciliar, então
levado para a sede da Gestapo em Viena, no Hotel Metropol, onde foi mantido em confinamento
individual em um pequeno quarto por cerca de um ano, até ser transferido para o
campo de concentração de Dachau na Alemanha. Mais tarde, ele foi encarcerado
nos campos de concentração de Flossenburg e Sachsenhausen. Em abril de 1945,
junto com outros prisioneiros “celebridades”, ele foi levado ao Hotel
Prager-Wildsee no Tirol italiano, onde poucos dias depois, em maio, ele e seus
colegas de prisão foram libertados pelos esforços combinados da resistência
local e do exército americano.
Após algum tempo em um campo para refugiados na ilha de Capri na Itália,
Schuschnigg aceitou uma oferta de uma viagem como professor aos Estados Unidos.
Em 1947, o magro ex-chanceler, sua segunda esposa, Vera, e sua filha Maria Dolores
Elisabeth (Sissi) desembarcaram em Nova York. Por meio da iniciativa do Dr. William
Bauer, director do departamento de patologia da escola odontológica da
Universidade de Saint Louis, um antigo amigo de Innsbruck, Schuschnigg foi
convidado a uma posição no departamento de ciência política na Universidade, a
qual ele assumiu na sessão do verão de 1948. Vera tornou-se cidadã americana em
1954 e morreu de câncer em setembro de 1959. O próprio Schuschnigg tornou-se
cidadão americano aos 59 anos em 1956. O filho de Schuschnigg, Kurt, um negociante
de artes, emigrou para os Estados Unidos em 1957. Schuschnigg permaneceu nos
EUA, dando aulas de lei internacional e história da Alemanha e Europa Central,
até sua aposentadoria em 1967, quando recebeu o Prêmio Fleur-de-Lis, a maior
honra dada pela Universidade. Ele depois mudou-se para a vila de Mutternear, em
Innsbruck, o lar de seus avós maternos. Em 18 de novembro de 1977, Schuschnigg
morreu de causas desconhecidas, que durante as últimas semanas o deixou acamado.
Ao longo de sua vida, Schuschnigg
enfrentou acusações de ele próprio ser um fascista e um ditador, e a
controvérsia continua até hoje. O principio de governo de seu regime, e de
Dollfuss antes dele, era chamada de clérico-fascismo ou austro-fascismo. Ele é
frequentemente chamado de inimigo da democracia, cujo autoritarismo
ironicamente favoreceu as condições que levaram ao Anschluss, cujas consequências
ele tentou arduamente evitar. Mesmo assim, acabou ganhando respeito por causa
de seu longo cativeiro nas mãos dos nazistas, mesmo que, como algumas vezes é
mencionado, seu encarceramento foi sob condições suaves reservadas a
prisioneiros politicamente importantes.
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