Patrick Buchanan, 19/03/2013
Dez anos atrás, exatamente hoje, as forças aéreas, terrestres e navais dos EUA atacaram o Iraque. E os grandes objetivos da Operação Iraque Livre?
Destruir as armas biológicas e químicas que Saddam Hussein armazenou para usar contra nós ou transferi-las para a Al-Qaida para uso dentro dos EUA.
Retribuir exatamente a cumplicidade de Saddam no 11/9 após sabermos que seus agentes se encontraram secretamente em Praga com Mohamed Atta.
Criar uma democracia florescente em Bagdá que serviria como catalisador de uma transformação milagrosa do Oriente Médio de uma terra de déspotas para uma região de democracias ao estilo ocidental.
Nem todos concordaram com a sabedoria desta guerra. O general Bill Odom, ex-diretor da Agência Nacional de Segurança, achava que George W. Bush e cia. haviam perdido a cabeça: "A Guerra do Iraque tornar-se-á o grande erro estratégico da história americana."
Mesmo assim, após poucas semanas de "choque e pavor", as forças americanas tomaram Bagdá e destronaram Saddam, que fugiu mas logo foi encontrado em um buraco e processado e enforcado, assim como seus associados, "o baralho de cartas", alguns dos quais tiveram o mesmo destino.
E assim chegou a famosa vitória. Missão cumprida!
Logo, entretanto, a América encontrar-se-ia em uma nova e imprevista guerra, e por volta de 2006, estávamos, surpreendentemente, no precipício da derrota, conduzidos para dentro de um conflito sectário sunita-xiita produzido por nossa culpa ao desmontar o exército iraquiano e conduzindo ao poder o primeiro regime xiita na história da nação.
Somente uma "turbinada" nas tropas americanas chefiada pelo general David Petraeus salvou os Estados Unidos de uma derrota estratégica semelhante à queda de Saigon.
Mas essa renovação não pôde ajudar a salvar o Partido Republicano, que patrocinou esta guerra, do repúdio de uma nação que acredita ter sido enganada e guiada à guerra. Em 2006, o partido perdeu ambas as casas do Congresso e o arquiteto da guerra do Pentágono, Donald Rumsfeld, foi demitido pelo comandante em chefe.
Dois anos depois, a desilusão com o Iraque contribuiu para a derrota do falcão republicano John McCain para um senador novo de Illinois que se opunha à guerra.
Então, o que diz a lápide agora, depois de 10 anos? Qual é o atual veredito da História sobre o que a História viria a chamar "A Guerra de Bush"?
Dos três objetivos da guerra, nenhum foi atingido. Nenhuma arma de destruição em massa foi encontrada. Saddam e seus filhos pagaram seus pecados, mas nenhum deles tinha nada a ver com o 11/9. Nada. Tudo foi propaganda enganosa.
Enquanto não havia nenhuma Al-Qaida no Iraque enquanto Saddam estava no poder, hoje ela espalhou-se pelo Iraque. Onde o Iraque era barreira árabe sunita confrontando o Irã em 2003, uma década depois o Iraque se afasta do campo sunita em direção da presença crescente do Irã e Hezbollah xiitas.
Qual o custo em sangue e riqueza de nossa malfadada aventura mesopotâmica? Quatro mil e quinhentos soldados americanos mortos, 35.000 feridos e este é o resumo dos custos de guerra segundo o Wall Street Journal:
"O esforço da década (Iraque) custou U$ 1,7 trilhões de acordo com um estudo... do Instituto Watson para Estudos Internacionais da Universidade Brown. A luta nos últimos dez anos matou 134.000 civis iraquianos... Enquanto isso, cerca de U$ 500 bilhões em benefícios não pagos aos veteranos da Guerra do Iraque poderiam aumentar para U$ 6 trilhões nos próximos 40 anos."
O Iraque teve uma grande participação na falência da América.
Quanto aos 134.000 civis iraquianos mortos, o que corresponde a 500.000 viúvas e órfãos. O que eles pensam de nós?
De acordo com a última pesquisa Gallup, de 2 para 1, os iraquianos acreditam que estarão mais seguros agora que os americanos estão deixando seu país.
Bem para trás, entretanto, está nossa outrora boa reputação. Nunca antes a América esteve em tão baixa consideração entre os povos árabes ou no mundo islâmico. Quanto à reputação dos militares americanos, quantos anos se passarão até que nossas forças armadas não estejam mais associadas automaticamente a palavras como Abu Ghraib, Guantanamo, execuções e torturas?
Quanto às comunidades cristãs caldéia e assíria do Iraque que foram devastadas e abandonadas, com muitos tendo deixado seus lares ancestrais para sempre?
Não somos conhecidos como um povo meditativo. Mas uma questão tem que ser debatida. Se Saddam não tinha armas de destruição em massa, não teve nenhuma responsabilidade no 11/9, nunca nos ameaçou e não queria uma guerra contra nós, nosso ataque não provocado contra aquele país foi uma guerra verdadeiramente justa e moral?
O que torna esta questão mais do que acadêmica é que os provocadores da guerra contra o Iraque uma década atrás agora estão clamando por uma guerra contra o Irã. Objetivo: impedir que o Irã tenha armas de destruição em massa, mesmo quando todas as nossas 16 agências de inteligências dizem que o Irã não as tem e não possui nenhum programa para construí-las.
Esta geração é testemunha de como uma Grande Potência declina e cai. E citando o velho Rei Pirro (319 - 272 a.C.), mais uma vitória como esta do Iraque e estamos perdidos.
http://buchanan.org/blog/was-iraq-worth-it-5511
Nostalgia pela figura de Saddam sobrevive no Iraque
DefesaNet, 19 de Março, 2013
Uma década depois da invasão americana, anos de violência e a pouca confiança na atual e dividida classe política, alimentam a nostalgia de muitos iraquianos por Saddam Hussein, o homem que governava com mão de ferro e foi derrubado pelas tropas estrangeiras.
Acusar alguém de ter mantido laços com Hussein é recorrente quando se pretende manchar a reputação de um político no Iraque atual. Porém, residentes de Tikrit, cidade natal do antigo líder, expressam carinho por um homem que é lembrado pela estabilidade que impunha no país e não por ordenar a morte de milhares de pessoas.
"Lembrarei de Saddam com orgulho", disse Khaled Jamal, um vendedor de relógios em Tikrit. "Nosso país não mudou nem se desenvolveu nos últimos dez anos", acrescentou.
Além de sua frustração pelo vagaroso processo de reconstrução, muitos iraquianos - não apenas em Tikrit - sofrem com a má distribuição de serviços básicos e o alto nível de desemprego. Jamal também citou outra frustração muito comum: o aparente aumento do sectarismo desde a queda de Saddam Hussein.
"Não havia sectarismo, nem de sunitas, nem de xiitas", explicou.
"Mas agora essa é a primeira pergunta que se ouve quando você se encontra com alguém", acrescentou em alusão às perguntas sobre a província de origem de uma pessoa, ferramenta para conhecer sua lealdade religiosa.
Saddam Hussein nasceu no dia 28 de abril de 1937 no vilarejo de Al-Qja, logo ao sul de Tikrit, cidade localizada ao norte de Bagdá.
Ativista no agora proibido partido árabe socialista Baath, Hussein foi sentenciado à pena de morte em 1959 por conspirar para o crime do líder iraquiano Abdul Karim Qassem, e era uma das principais figuras do partido quando a organização tomou o controle do Iraque após o golpe militar de 1968. Apesar disso, ele chegou à presidência 11 anos depois.
Na frente doméstica, Hussein - ou Saddam, como era mais conhecido - impôs uma visão secular para o país e se apresentava como um líder árabe que faria frente ao vizinho Irã - uma teocracia muçulmana, mas não árabe -, e era brutal com seus opositores.
Hussein era considerado responsável pela morte de dezenas de milhares de curdos na campanha "Anfal" e de até 100.000 pessoas que fizeram parte da ascensão contra seu regime após a guerra do Golfo de 1991, além de outros massacres.
No âmbito internacional, lutou em uma longa, custosa e sangrenta guerra contra o Irã (1980-1988) com a vista grossa por parte das potências ocidentais e logo invadiu o Kuwait (1990) antes de ser expulso por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos. Foram impostas sobre o Iraque duras sanções econômicas e um embargo comercial.
Saddam já era um pária internacional com a invasão de 2003 e foi capturado em dezembro daquele ano, quando se escondia em uma fazenda, tendo sido enforcado em dezembro de 2006.
Porém em Tikrit, o dirigente é relembrado de uma forma muito mais benevolente, como um líder que lutou pelo Iraque e que estava na vanguarda quando o país desfrutou de uma relativa estabilidade.
Saddam prestou muita atenção em Tikrit às custas de outras cidades do sul do país, o que ao menos lhe garantiu um legado mais favorável em sua cidade de origem.
"É natural que continuemos orgulhosos dele", disse Umm Sara. "Apesar das circunstâncias que atravessava o Iraque, ele dirigiu o país sem problemas".
"Saddam nos ajudou muito, assim que é natural que o veneremos como outros o fazem com Charles de Gaulle", comentou Abu Hussein, referindo-se ao ex-presidente francês.
"Saddam tinha uma forte personalidade. A impôs dentro e fora do país".
Residentes que viveram o caos pós-2003, período em que dezenas de milhares morreram em uma guerra sectária, relembram os tempos antes da invasão quando a violência estava limitada às forças de segurança e os iraquianos podiam, em teoria, escapar de sua fúria.
E apesar de os serviços públicos serem de baixa qualidade, os residentes de Bagdá tinham eletricidade e existia um programa para alimentar os pobres em meio à penúria pelas sanções econômicas.
Na atualidade, os iraquianos dependem de geradores privados para completar o fornecimento elétrico, os empregos são escassos, a corrupção contamina tudo e muitos estão inconformados com os atuais líderes políticos.
"Estou agradecida aos atuais políticos", disse Inês, uma professora 37 anos em Tikrit.
Em referência às dificuldades que enfrentam os iraquianos e as frustrações que sentem, afirmou: "Nos fazem amar Saddam, nos fazem sentir orgulhosos de sua figura, nos provoca, nostalgia daqueles dias".
http://www.defesanet.com.br/ecos/noticia/10121/Nostalgia-pela-figura-de-Saddam-sobrevive-no-Iraque
terça-feira, 19 de março de 2013
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Um comentário:
Patrick Buchanan aparenta ser um político bastante equilibrado, bem diferente dos neocons da turma do Bush filho (que acredito que seja boa pessoa só que meio estúpido e influenciável).
Iraque não merecia essa guerra, diferentemete da Guerra do Golfo da década de 1990. Agora o Iraque é um novo Paquistão. Pelo menos não representa tantos riscos como ele. Também não acredito numa aproximação entre Iraque e Irã. No máximo terão relações diplomáticas e comerciais.
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Parabéns pela tradução.
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