A
alegação de que o Sânscrito contém a maioria das línguas modernas chamou a
atenção das mentes do século XIX em relação à área geral do norte da Índia e Tibete
como o lar ancestral dos míticos arianos. Assim, uma das missões científicas
que Himmler apoiou foi uma expedição multitarefas ao Tibete sob a liderança do
ornitólogo Ernst Schäfer. Schäfer então recrutou um antropólogo, Bruno Beger,
para medir narizes e crânios e produzir formas em gesso dos rostos; um geógrafo
especializado em geomagnetismo terrestre, um botânico que também transportava
uma câmera de mão e um assistente.
Ernst
Schäfer, nascido em 1910, interrompeu seus estudos universitários em zoologia e
geologia duas vezes. Em 1930, Brooke Dolan, um jovem milionário americano,
chegou à Alemanha para recrutar cientistas para uma expedição zoológica ao Tibete
que ele queria realizar. Apesar de ter somente 20 anos na época, Schäfer participou
da primeira expedição Dolan para a China Ocidental e o Tibete oriental, antes
de retornar à Alemanha em 1932 para concluir seus estudos. Em 1934, Schäfer
novamente interrompeu seus estudos para liderar a segunda expedição de Dolan, no
Tibete oriental e na China, patrocinada pela Academia de Ciências Naturais na
Filadélfia; esta viagem foi concluída em 1936. A Academia reconheceu o grande
sucesso científico de ambas as expedições mais de 50 anos depois em seu
obituário de 1992 de Schäfer, o qual menciona que este e Dolan “coletaram dados
científicos e espécimes dos mamíferos e aves da região que nunca foram
igualados em tamanho e importância. Em reconhecimento às suas contribuições
científicas, o Dr. Schäfer foi eleito para membro vitalício da Academia (já) em
1932.” Após seu retorno à Alemanha, ele concluiu seus estudos em Berlim e em
1937, sob a orientação de Erwin Stresemann, completou seu doutorado com uma
tese, de escopo incompreendido na época, sobre a vida das aves no Tibete.
Esta
era a primeira expedição científica alemã a receber um convite especial para
Lhasa do governo Tibetano, e seus membros seriam permitidos permanecer na
capital Tibetana por dois meses inteiros. Com a política restrita do governo Tibetano
nos anos 1930 de recusar a entrada de estrangeiros, o convite por si só era uma
sensação menor, gerando tensões adiante nas carregadas e complexas relações
anglo-germânicas da época.
O
Reichsführer SS Himmler tentava tirar proveito da reputação de Ernst Schäfer
para a propaganda nazista e perguntou-lhe sobre seus planos futuros. Schäfer
desejava que sua expedição estivesse sob o patrocínio do departamento cultural
de assuntos estrangeiros da Fundação de Pesquisa Alemã (DFG, Deutsche Forschungsgemeinschaft) como
indicado por seus pedidos. Himmler era fascinado por misticismo asiático e,
portanto, desejava enviar tal expedição sob os auspícios da Ahnenerbe e
desejava que Schäfer realizasse pesquisa baseada na teoria pseudocientífica de
Hans Hörbiger da “Cosmogonia Glacial”. Schäfer tinha objetivos científicos e,
assim, ele recusou-se a incluir Edmund Kiss, um adepto desta teoria, em sua
equipe, e exigiu 12 condições para trabalhar com liberdade. Wolfram Sievers, da
Ahnenerbe, expressou críticas em relação aos objetivos da expedição, de modo
que a organização não iria dar apoio a ela. Himmler, por outro lado, aceitou
que a expedição fosse formada desde que todos os seus membros se afiliassem à
SS. Para evitar mais problemas, Schäfer entrou para essa organização.
Apesar
de Himmler eventualmente aceitar os objetivos de Schäfer, um memorando de
setembro de 1937 torna claro que a Ahnenerbe continuaria a exercer pressão na
questão do recrutamento da expedição, exigindo que um geógrafo, um
antropologista, um geólogo, um botânico, representante da Teoria da Cosmogonia
Glacial, e um arqueólogo fossem incluídos. Entretanto, o nome oficial seria
mudado de Ahnenerbe para Expedição Alemã-Tibetana Ernst Schäfer, sob o
patrocínio do Reichsführer SS Himmler e em conexão com a Ahnenerbe.
Em
dezembro de 1937, Schäfer submeteu um plano detalhado e definitivo à DFG, no
qual ele ainda defendia que o destino da expedição seria o Tibete Oriental, com
acesso a partir da China. Isto também incluía um programa antropológico
realizado pelo antropólogo Bruno Berger, cujo programa era baseado em torno da
questão se os indo-europeus poderiam ser originários da Ásia Central, uma ideia
que era debatida há longo tempo além dos círculos nacional-socialistas. De
fato, discussão internacional e interdisciplinar sobre este assunto continua
até hoje.
O
escritor britânico Christopher Hale afirma que ninguém pode inferir que Schäfer
era independente da SS e foi capaz de fazer “ciência pura” simplesmente a
partir de um papel timbrado que ele conseguiu para a expedição: para todos os
efeitos e objetivos, a expedição permaneceu sob o patrocínio de Himmler e
Schäfer não tinha nenhum interesse em perder o apoio do Reichsführer.
Em
outras palavras, nem Himmler nem a Ahnenerbe financiaram diretamente a
expedição, apesar de Schäfer continuar a receber apoio político de ambos. Ele
estava bem ciente de sua dependência em relação a Himmler e foi forçado a
aceitar vários compromissos no sentido de manter mais tarde a cooperação dos
britânicos para obter passaportes e, especialmente, em procurar moeda
estrangeira, o maior problema que enfrentou na época. Schäfer teve mesmo que se
comprometer com o nome e o papel timbrado da expedição. Após sua chegada à Índia,
este timbre causou consideráveis dificuldades a Schäfer com as autoridades
britânicas, já que nos documentos poderia ficar claro que a missão era da SS,
um órgão político e militar da Alemanha e não uma expedição puramente
científica.
Schäfer
recrutou jovens de boa forma física que estariam adaptados a uma viagem
cansativa. Aos 24 anos, Karl Weinert (um assistente de Wilhelm Filchner, um
famoso explorador) era o geólogo da equipe. Também com 24 anos, Edmund Geer foi
selecionado como líder técnico para organizar a expedição. Um membro
relativamente velho, de 38 anos, era Ernst Krause (não confundi-lo com o
biólogo alemão homônimo) era o cineasta e entomologista (especialista em
insetos). Bruno Berger era um especialista racial de 26 anos e estudante de
Hans F. K. Günther, sendo também o antropólogo da equipe. O grupo de cinco
pesquisadores pretendia entrar em contato com o Regente do Tibete e visitar as
cidades sagradas Lhasa e Shigatse. Mesmo com as dificuldades da guerra, o grupo
teve sucesso em estabelecer contato com as autoridades e povo tibetanos.
Os
alemães coletaram tudo o que encontraram: milhares de artefatos, um grande
número de plantas e animais, incluindo espécimes vivos. Eles enviaram os seres
vivos, incluindo cães, felinos, lobos, raposas e peles de animais para a
Alemanha. Os membros da expedição colheram uma grande quantidade de plantas, em
particular centenas de variedades de cevada, trigo e aveia. As sementes foram
mais tarde armazenadas no Instituto de Genética Vegetal da SS em Lannach,
próximo a Graz, Áustria, um centro de pesquisas comandado pelo botânico membro
da SS Heinz Brücker. Este esperava usar tanto a coleção do Tibete quanto a do
Instituto Vaviley nos territórios orientais para selecionar plantas capazes de
suportar o clima da Europa oriental – considerado na época parte do Lebensraum nazista.
Wienert
acumulou quatro conjuntos de dados geomagnéticos. Krause estudou as vespas
tibetanas. Schäfer observou os rituais tibetanos, inclusive as piras funerárias
(onde conseguiu alguns crânios humanos). Eles tiraram fotos e filmaram a
cultura local, notavelmente as espetaculares celebrações de Ano Novo, quando
milhares de peregrinos chegavam a Lhasa. Bruno Berger registrou as medidas de
376 pessoas e fez matrizes de cabeças, faces, mãos e orelhas de 17 delas, assim
como tirou as digitais e das mãos de outras 350. Para conduzir esta pesquisa,
ele se passou como curandeiro para ganhar a confiança dos aristocratas
tibetanos, receitando remédios para monges com doenças sexualmente transmissíveis.
Schäfer
manteve notas meticulosas sobre os costumes religiosos e culturais dos
tibetanos, de seus vários festivais budistas coloridos e das atitudes do povo
em relação ao casamento, estupro, menstruação, nascimento, homossexualidade e
masturbação. Em seu relato da homossexualidade, ele descreve detalhes da
relação dos velhos lamas com meninos e como esse tipo de relação tinha importância
na política local. Ele também descreve cuidadosamente a variedade de posições
sexuais do povo himalaio.
Schäfer
apresentou os resultados de sua expedição em 25 de julho de 1939 no Clube
Himalaio de Calcutá. De lá, a expedição pegou um avião da British Airways para Bagdá, onde fizeram uma escala para Atenas via
um Lufthansa JU 52. Em Atenas, um avião fretado pelo governo alemão os conduziu
até sua casa.
Eles
retornaram à Alemanha com uma edição completa do texto sagrado tibetano Kagyur
(108 volumes), exemplos de Mandala, outros textos antigos e um documento
supostamente detalhando a raça ariana. Estes documentos foram guardados nos
arquivos da Ahnenerbe.
Assim,
a coleção mais detalhada de objetos tibetanos etnológicos, agora no Museu
Bávaro de Etnologia em Munique, vieram dos materiais da expedição de Schäfer.
Pelo fato dos livros de Sch6afer sobre esta expedição jamais terem sido
traduzidos para o inglês, a opinião pública ocidental foi informada pelas
fontes disponíveis na Biblioteca Oficial da Índia em Londres e por Hugh
Richardson, que estava a cargo da Missão Britânica em Lhasa na época da
expedição. Isto acabou contribuindo com o legado duvidoso no mundo ocidental,
enquanto que na Alemanha ele está quase esquecido. Somente na literatura
popular científica e histórias de ocultismo a expedição é citada repetidamente,
estabelecendo as conexões entre o Terceiro Reich e o Tibete, ou as relações
ocultistas entre Hitler e o Tibete. A maioria das publicações mais recentes também
cai nesta categoria, refletindo os preconceitos ideológicos e o sensacionalismo.
Uma
descrição detalhada da expedição, inclusive com fotos, pode ser visto aqui:
Associated
Press, 28/09/2012
O
que parece ser um roteiro de filme de Indiana Jones realmente aconteceu, de
acordo com pesquisadores europeus que publicaram um artigo no jornal de Ciência
Planetária e Meteorítica este mês.
Elmar
Buchner, da Universidade de Stuttgart, disse na quinta-feira que a estátua foi
trazida à Alemanha pela expedição Schäfer. A aventura financiada pelos nazistas
foi até o Tibete em 1938 para encontrar as origens da raça ariana – um dos
fundamentos da ideologia racista nazista.
A
existência da estátua de 10,6 kg, conhecida como “homem de ferro”, foi somente
revelada em 2007, quando seu proprietário morreu e ela foi para leilão, Buchner
disse à Associated Press.
3 comentários:
Muito bom esse artigo. Nada se fala poraí da expedição alemã ao Tibet.
Abs!
Anônimo disse...
Muito bom esse artigo. Nada se fala poraí da expedição alemã ao Tibet.
Abs!
9 de julho de 2013 17:59
ÓBVIO QUE NÃO FALAM..A WIKI RESUME ESSA EXPEDIÇÃO A MISTICISMO POR QUE OS DERIVADOS DA JUDEIA E MAÇONS SEMPRE QUEREM IMPOR SEU COCÔ AO RESTO, MAS O GROSSO DA EXPEDIÇÃO ERA CIENTIFICA FORMADA POR BOTANICOS, ANTROPOLOGOS CULTURAIS, ANTROPOMETRICISTAS E CIA..ALEM DO MAIS AQUELAS FOTOS DE NAZIS DAS SS SENTADOS AO LADO DE RAÇAS "IMPURAS" SERIA UM CHOQUE AOS ALIENADOS PELOS CARTEIS KOSHERS QUE DIZIAM QUE OS NAZIS ODIAVAM TUDO O QUE NÃO ERA ARYA SETENTRIONAL E PORTANTO QUERIAM EXTERMINAR TODOS..SÓ NÃO SE SABE COMO O FUHRER SE ALIOU AO SUL-EUROPEU MUSSOLINI OU AO LESTE-EURASIANO HIROÍTO..MAS PRONTO, SE O CARTEL DIZ E O GADO DELES ACEITA SEM SEQUER PERCEBER A NÃO-CONCORDANCIA DE TAIS FACTOS..
CONCORDO... REALMENTE HÁ MUITO A DESVENDAR SOBRE O ASSUNTO...
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