Uma
avaliação preliminar do governo norte-americano examinada pela Reuters garante
que o diário pode oferecer uma nova visão sobre os encontros de Rosenberg com
Hitler e com outros líderes nazistas, incluindo Heinrich Himmler e Herman
Göring. Também inclui detalhes sobre a ocupação alemã da União Soviética,
incluindo planos de assassinato em massa de judeus e outros europeus do Leste.
"A
documentação é de importância considerável para o estudo da época nazista,
inclusive para a história do Holocausto", segundo a avaliação preparada pelo
Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, em Washington.
Alfred Rosenberg aguardando julgamento em Nuremberg, 1946
"Uma
análise apressada do conteúdo indica que o material lança nova luz sobre várias
questões importantes relacionadas à política do Terceiro Reich. O diário será
uma fonte importante de informação a historiadores que complementa, e em parte
contradiz, documentação já conhecida."
De que
forma os escritos de Rosenberg, um ministro do Reich nazista que foi condenado
em Nuremberg e enforcado em 1946, poderiam contradizer o que os historiadores
acreditam ser verdade não está claro. Mais detalhes sobre o conteúdo do diário
não estavam disponíveis, e uma autoridade do governo norte-americano insistiu
que a análise do museu continua preliminar.
Mas o
diário inclui detalhes sobre as tensões dentro do alto-comando alemão, em
particular a crise provocada pelo voo de Rudolf Hess para o Reino Unido em
1941, e o saque de obras de arte em toda a Europa, segundo a análise
preliminar.
A
recuperação deve ser anunciada nesta semana em uma coletiva de imprensa em
Delaware, feita em conjunto por funcionários da Agência de Imigração e
Alfândega, do Departamento de Justiça e do museu do Holocausto dos Estados
Unidos.
O diário
oferece uma coletânea das lembranças de Rosenberg da primavera de 1936 ao
inverno de 1944, segundo a análise do museu. A maioria dos registros está
escrita na letra cursiva espiralada de Rosenberg, alguns sobre papel arrancado
de um livro de contabilidade e outros na parte de trás de um papel de carta
oficial nazista, disse a análise.
Rosenberg
foi um ideólogo nazista poderoso, principalmente nas questões raciais. Ele
dirigia o departamento de questões estrangeiras do partido nazista e editava o
jornal nazista. Vários de seus memorandos para Hitler foram citados como provas
durante os julgamentos de Nuremberg, pós-guerra.
Rosenberg
também dirigiu o sistemático saque nazista da propriedade artística, cultural e
religiosa dos judeus por toda a Europa. A unidade nazista criada para tomar
tais artefatos foi chamada de Força-Tarefa Reichsleiter Rosenberg.
Ele foi
condenado por crimes contra a humanidade e foi um de uma dezena de oficiais
sêniores nazistas executados em outubro de 1946. Seu diário, que estava nas
mãos dos promotores de Nuremberg como prova, desapareceu depois do julgamento.
Autoridades
norte-americanas suspeitavam que um promotor de Nuremberg, Robert Kempner,
tivesse contrabandeado o diário para os Estados Unidos.
Nascido na
Alemanha, Kempner fugiu para os Estados Unidos nos anos 1930 para escapar dos
nazistas, só voltando para os julgamentos pós-guerra. Ele teria ajudado a
revelar a existência do Protocolo de Wannsee, a conferência de 1942 durante a
qual oficiais nazistas se encontraram para coordenar o genocídio contra os
judeus, que denominaram de "A Solução Final".
Kempner
citou alguns trechos do diário de Rosenberg em sua memória, e em 1956 um
historiador alemão publicou trechos de 1939 e 1940. Mas grande parte do diário nunca apareceu.
Quando
Kempner morreu em 1993, aos 93 anos, disputas legais sobre seus documentos se
estenderam por quase uma década entre seus filhos, seu ex-secretário, um
empreiteiro local e o museu do Holocausto. Os filhos concordaram em dar os
documentos do pai ao museu do Holocausto, mas quando os funcionários chegaram
para retirá-los da casa dele em 1999, descobriram que milhares de páginas
tinham sumido.
Depois do
incidente de 1999, o FBI abriu uma investigação criminal sobre os documentos
desaparecidos. Ninguém foi acusado no caso.
Mas o museu
do Holocausto conseguiu recuperar mais de 150.000 documentos, inclusive uma
coleção de objetos do ex-secretário de Kempner, que a essa altura tinha se
mudado para a casa de um acadêmico de Nova York chamado Herbert Richardson.
O diário de
Rosenberg, no entanto, continuava desaparecido.
No início
deste ano, o museu do Holocausto e um agente das Investigações de Segurança
Interna tentaram localizar as páginas desaparecidas do diário. Eles rastrearam
o diário e chegaram a Richardson, que vive perto de Buffalo.
Richardson
não quis comentar. Um funcionário do governo disse que mais detalhes serão
anunciados na coletiva de imprensa.
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