Na última semana, muitas pesquisas de opinião foram publicadas revelando a opinião do público americano sobre uma possível intervenção na Síria.
De
acordo com a pesquisa do Huffington Post, os americanos se opõem a bombardeios
aéreos na Síria por 3 a 1. Eles se opõem a enviar armas aos rebeldes por 4 a 1.
Eles se opõem a colocar tropas americanas terrestres na Síria por 14 a 1.
Democratas, republicanos e independentes são todos contra o envolvimento
naquela guerra civil que já produziu 1,2 milhões de refugiados e 70.000 mortos.
Uma
pesquisa da CBS/New York Times encontrou que por 62 a 24 os americanos querem
ficar de fora da guerra síria. Uma pesquisa da Reuters/Ipsos descobriu que 61
contra 10 americanos se opõem a qualquer intervenção americana.
Mas
os números sofrem uma guinada quando o público é perguntado se faria diferença
se o regime sírio usasse gás venenoso. Neste caso, a oposição à intervenção
americana cai para 44 a 27 na Reuters/Ipsos.
Mesmo
assim, no domingo os programas de entrevista estavam lotados dos falcões. Ter
um senador que defende o armamento dos rebeldes e bombardeios aéreos americanos
dá mais ibope que um senador que quer ficar de fora da guerra.
Na
mesma pesquisa da CBS, porém, os 10% de todos os americanos que afirmam
acompanhar a situação síria de perto, estavam igualmente divididos, 47 a 48, se
deveria haver a intervenção.
O
retrato da América que surge é a de uma nação não totalmente interessada no que
está acontecendo na Síria, mas que em sua maioria quer ficar de fora da guerra.
Mas
é também uma nação cuja elite da política externa é de longe mais
intervencionista e muito mais apoiadora de enviar armas aos rebeldes e usar o
poder aéreo americano. Destas pesquisas, não é difícil concluir que as elites
de Beltway (n. do t.: o mundo social de Washington) que moldam a política
externa dos EUA não representam mais o destino manifesto da América média.
A
América não se tornou isolacionista, mas sim anti-intervencionista. Este país
não quer que seus soldados sejam mais enviados em aventuras irresponsáveis como
o Iraque e Afeganistão, e não vê qualquer interesse nacional vital naqueles que
miram a Síria.
Mas
quem está falando por esta grande maioria silenciosa? Quem no Senado americano
está presente na TV opondo-se aos intervencionistas?
Quem
no partido Republicano está combatendo os McCainmaníacos?
Outra
estória que saiu este final de semana, sufocada pelas notícias dos ataques
israelenses às instalações militares e depósitos de mísseis sírios, pode
esfriar o ânimo da elite – e matar qualquer desejo público de intervir.
“Os
rebeldes sírios podem ter usado gás sarin,” publicou a manchete da
segunda-feira do New York Times. Citando Genebra, a estória começa:
“Os
investigadores dos direitos humanos das Nações Unidas reuniram testemunhos das
baixas da guerra civil síria e enfermeiros indicando que as forças rebeldes
usaram o agente neurológico sarin, disse um dos principais investigadores no
domingo.”
A
comissão das Nações Unidas não encontrou evidência de que o exército sírio
tenha usado armas químicas. Mas Carla Del Ponte, uma ex-promotora suíça e
membro da comissão, disse:
“Nossos
investigadores estiveram nos países vizinhos entrevistando as vítimas, médicos
e hospitais provisórios, e de acordo com seus relatos da última semana, que eu
vi, há fortes e concretas suspeitas, mas não ainda prova irrefutável do uso do
gás sarin, a partir do estado em que as vítimas se encontram.”
“Isto
foi usado por parte da oposição, os rebeldes.”
Ou
seja, os criminosos de guerra podem ser as pessoas em cuja defesa supostamente
devemos intervir. E se foram os rebeldes que usaram o gás sarin, e não as
forças do presidente Bashar Assad, mais do que umas poucas perguntas precisam
ser respondidas.
Apenas
duas semanas atrás, a Casa Branca informou ao Congresso:
“Nossa
comunidade de inteligência afirmou, com graus variados de confiança, que o
regime sírio usou armas químicas em pequena escala na Síria, especificamente, o
agente químico sarin.”
Um
clamor geral então exigiu que Obama fizesse bom uso de sua ameaça de que o uso
de gás venenoso pelo regime sírio cruzaria a “linha vermelha” e seria uma “aposta”,
exigindo “enormes consequências”.
Se
os militares sírios não usaram o sarin, mas sim os rebeldes, quem na comunidade
de inteligência dos EUA blefou? De quem as agências americanas obtiveram sua
evidência de que o sarin foi usado por Damasco? Quase fomos arrastados para
outra guerra desnecessária pelas últimas mentiras de alguém sobre armas de
destruição em massa?
Quando
as alegações do uso de sarin pelo governo sírio foram levantadas, muitos no
Congresso, especialmente no Partido Republicano, denunciaram Obama por fraqueza
em sustentar sua ameaça da “linha vermelha”.
Parece
agora que Obama pode nos ter salvo de outro desastre estratégico ao não
prosseguir com a ação militar. E a questão deveria ser colocada aos falcões da
guerra:
Se
o uso de sarin por Assad deveria exigir bombardeios aéreos americanos, o uso de
sarin pelos rebeldes, se confirmado, faria com que este país lavasse suas mãos
em relação àqueles criminosos de guerra?
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