O negócio também interessa à fabricante
gaúcha de armas Forjas Taurus. A Imbel, no entanto, está num estágio mais
avançado do que a concorrente do Sul. Mil e quinhentos Imbel A2 - ou apenas
IA-2 calibre 5.56 - já foram fabricados para testes militares e a empresa
afirma que a capacidade de produção da maior de suas cinco fábricas, em
Itajubá, sul de Minas Gerais, é suficiente para atender à toda futura demanda
da Defesa.
Para fazer parte do cardápio de compras
das Forças Armadas, o IA-2 precisa ainda passar por uma última etapa da
burocracia militar: o termo de adoção, o que a Imbel calcula que será emitido
em breve.
Um contrato de 10 mil fuzis IA-2
envolveria um valor aproximado de R$ 55 milhões, disse ao Valor o diretor
industrial da empresa, o coronel da reserva Alte Zylberberg. "Esse
fornecimento representaria a estabilidade da fábrica de Itajubá no mínimo por
dez anos; e a estabilidade de Itajubá é a estabilidade da Imbel e a
possibilidade continuidade de recuperação."
A Imbel viveu anos conturbados, com
alto endividamento e atrasos sucessivos nas entregas (veja reportagem ao lado).
A empresa vem se reequilibrando e este ano a previsão é faturar R$ 105 milhões
- isso se os contratos que espera ainda fechar nos próximos meses sejam
concretizados. Se isso não ocorrer, a previsão é que o faturamento fique em R$
67 milhões, disse Zylberberg, pouco mais do que os R$ 65 milhões de 2012.
A Imbel define o IA-2 como o primeiro
fuzil nacional. Foi desenvolvido por sua equipe de engenheiros e usa
componentes do belga FAL e do americano M16. A arma passou por testes militares
do Exército, Marinha e Aeronáutica. Isso significa que soldados já saltaram com
ele de paraquedas, o usaram para tiros submersos, o testaram em ambientes
tomados por poeira, em campos frios do Sul e na umidade e calor da Amazônia.
"A expectativa da Imbel é que
parte dos FAL 7.62 [usado pelas Forças Armadas] seja substituída pelo IA2 5.56,
que é mais leve, compacto e moderno; e que parte seja convertida no IA2 7.62
[uma versão mais moderna que a Imbel faz aproveitando a arma antiga] e que com
isso se abra, principalmente, o mercado sul-americano", disse Zylberberg.
"Temos vários países na expectativa. Já existem conversas. Estou
protelando uma viagem a um país da América do Sul com negócio praticamente fechado.
Existem várias consultas." Fora da região, a Imbel recebeu proposta de
compra da Arábia Saudita.
Da mesma família do novo fuzil, a
carabina IA-2 está em uso há dois anos por policias militares e civis no Brasil
e mais 15 mil unidades foram vendidas, diz Zylberberg.
A Imbel tem uma longa história como
fabricante do fuzil FAL no país. Além de ter suprido as Forças Armadas do
Brasil, vendeu a arma para mais de 20 países na América do Sul, América Central
e África. O FAL, concebido no pós-Segunda Guerra pela belga F. N. Herstal, foi
um fuzil de sucesso mundo afora. Quase 100 países o empregaram. Mas lentamente
foi perdendo espaço para um fuzil originalmente americano, calibre 5.56. Hoje é
esse o calibre padrão dos países que integram a OTAN e usado por outros fora da
aliança, como o Brasil.
A expectativa do Ministério da Defesa,
segundo a assessoria de imprensa, é adquirir cerca de 10 mil novos fuzis por
ano. Para isso, o Congresso precisa aprovar um plano de modernização das forças
que está em tramitação e é preciso orçamento. O ministério estima que a partir
de 2014, comece, pelo Exército, a substituição parcial dos 200 mil fuzis das
forças de Defesa.
Ainda segundo o ministério, só o IA-2
atende aos requisitos operacionais básicos (ROC), um novo critério criado em
2012 pelo governo para habilitar produtos para serem adquiridos pelas três
forças. Mas, ainda segundo o ministério, há a possibilidade de que a Taurus
também apresente um fuzil.
"A Forjas Taurus pretende produzir
um fuzil de assalto chamado FAT 556, equivalente ao M4, um dos fuzis mais
modernos do mundo. Este produto é de uso exclusivo para as Forças Armadas e
está em fase de apostilamento pelo Exército", disse a empresa. O
apostilamento é um conjunto de testes feito pelo Exército pelo qual um
armamento precisa passar para poder ser comercializado. Além de oferecer às
Forças Armadas, a Taurus diz que pode exportar o fuzil.
O governo militar criou a Imbel em 1975
com o objetivo de preparar o país para um conflito armado. A empresa tinha de
estar pronta para fornecer armamentos, munição e explosivos para o caso de uma
ação de guerra do Exército em território nacional ou estrangeiro. "Essa
era a função principal da Imbel, estar preparada para uma demanda de
mobilização militar", conta o coronel Alte Zylberberg.
Como essa demanda nunca ocorreu, a empresa se viu desde o início em um difícil equilíbrio: ter de manter uma equipe técnica trabalhando e fábricas operando mesmo com um volume de pedidos das Forças Armadas aquém do que seria preciso para justificar a estrutura.
A Imbel é formada por cinco fábricas. A mais antiga tem raiz em 1808, uma fábrica de pólvora fundada pelo príncipe regente, Dom João VI, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. A produção foi transferida em 1824 para Magé (RJ), ainda em operação. As outras fábricas estão no Rio, Piquete (SP), Itajubá (MG) e Juiz de Fora (MG). A sede fica em Brasília. No portfólio estão fuzis e carabinas, pistolas, munições, explosivos, equipamentos de comunicação e sistemas de abrigos.
A unidade de Itajubá, que começou a
funcionar em 1935, além de ser a maior em número de funcionários (cerca de 900)
é responsável por aproximadamente 50% do faturamento do grupo. Somada à de Juiz
de Fora, tem-se 70% da receita.
Para manter uma empresa estratégica
como é uma indústria de armas que abastece as Forças Armadas, o Estado tem um
custo, diz Zylberberg. Com a economia patinando nos 80, a situação da Imbel,
que nunca fora fácil, degringolou.
"Às vezes, nem recursos para
comprar matéria prima a Imbel tinha. Chegou um ponto que o endividamento era
crescente, o TCU chegou até a acionar o presidente, que era civil, por não
recolher tributos", lembra ele, dizendo que sem ninguém não era possível
pagar salários. "Se fosse uma empresa privada, estaria num estado pré-falimentar.
O passivo era muito maior do que o ativo. Se vendesse todo o patrimônio não
pagava as dívidas. Eram dívidas trabalhistas, fundo de garantia", lembra o
coronel. A certa altura, a empresa tinha um faturamento de R$ 35 milhões uma
dívida de R$ 140 milhões.
A fábrica de Itajubá ajudou a manter a
empresa em pé produzindo pistolas para o mercado dos EUA. As armas eram
montadas e distribuídas pela Springfield. As tentativas de recuperação da
empresa começaram nos anos 2000, com renegociações da dívida, mudanças na
gestão, reforço no orçamento da Defesa e aportes federais para modernização das
fábricas.
Hoje, cerca de 56% da produção vai para
as Forças Armadas; 15% para polícias; e 29% para mercado civil, como
mineradoras [caso de explosivos] e empresas de segurança. (MMS)
Um comentário:
O problema é confiar nas "novidades" da IMBEL.
Os produtos fabricados sob licença como o FAL/Para-FAL(da FNH) são razoaveis.
As criações proprias como MD97,AGLC,MD4... são um LIXO. Vários problemas nos projetos, na manufatura e/ou nos controles de qualidade.
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