domingo, 6 de outubro de 2013

[ARM] Novo fuzil é aposta da Imbel para recuperação financeira

Defesanet, 10 de Setembro, 2013

 
Após uma fase de sérias dificuldades financeiras, a Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel), fabricante armamentos vinculada ao Ministério da Defesa, acredita estar perto da virada. A empresa começou a produzir o novo modelo de fuzil que espera ser o escolhido pelos militares para substituir parcialmente os FAL 7.62 que estão nas mãos das três forças. O ministério fala em trocar 10 mil fuzis por ano a partir de 2014.

O negócio também interessa à fabricante gaúcha de armas Forjas Taurus. A Imbel, no entanto, está num estágio mais avançado do que a concorrente do Sul. Mil e quinhentos Imbel A2 - ou apenas IA-2 calibre 5.56 - já foram fabricados para testes militares e a empresa afirma que a capacidade de produção da maior de suas cinco fábricas, em Itajubá, sul de Minas Gerais, é suficiente para atender à toda futura demanda da Defesa.
 



Para fazer parte do cardápio de compras das Forças Armadas, o IA-2 precisa ainda passar por uma última etapa da burocracia militar: o termo de adoção, o que a Imbel calcula que será emitido em breve.

Um contrato de 10 mil fuzis IA-2 envolveria um valor aproximado de R$ 55 milhões, disse ao Valor o diretor industrial da empresa, o coronel da reserva Alte Zylberberg. "Esse fornecimento representaria a estabilidade da fábrica de Itajubá no mínimo por dez anos; e a estabilidade de Itajubá é a estabilidade da Imbel e a possibilidade continuidade de recuperação."

A Imbel viveu anos conturbados, com alto endividamento e atrasos sucessivos nas entregas (veja reportagem ao lado). A empresa vem se reequilibrando e este ano a previsão é faturar R$ 105 milhões - isso se os contratos que espera ainda fechar nos próximos meses sejam concretizados. Se isso não ocorrer, a previsão é que o faturamento fique em R$ 67 milhões, disse Zylberberg, pouco mais do que os R$ 65 milhões de 2012.

A Imbel define o IA-2 como o primeiro fuzil nacional. Foi desenvolvido por sua equipe de engenheiros e usa componentes do belga FAL e do americano M16. A arma passou por testes militares do Exército, Marinha e Aeronáutica. Isso significa que soldados já saltaram com ele de paraquedas, o usaram para tiros submersos, o testaram em ambientes tomados por poeira, em campos frios do Sul e na umidade e calor da Amazônia.

"A expectativa da Imbel é que parte dos FAL 7.62 [usado pelas Forças Armadas] seja substituída pelo IA2 5.56, que é mais leve, compacto e moderno; e que parte seja convertida no IA2 7.62 [uma versão mais moderna que a Imbel faz aproveitando a arma antiga] e que com isso se abra, principalmente, o mercado sul-americano", disse Zylberberg. "Temos vários países na expectativa. Já existem conversas. Estou protelando uma viagem a um país da América do Sul com negócio praticamente fechado. Existem várias consultas." Fora da região, a Imbel recebeu proposta de compra da Arábia Saudita.

Da mesma família do novo fuzil, a carabina IA-2 está em uso há dois anos por policias militares e civis no Brasil e mais 15 mil unidades foram vendidas, diz Zylberberg.

A Imbel tem uma longa história como fabricante do fuzil FAL no país. Além de ter suprido as Forças Armadas do Brasil, vendeu a arma para mais de 20 países na América do Sul, América Central e África. O FAL, concebido no pós-Segunda Guerra pela belga F. N. Herstal, foi um fuzil de sucesso mundo afora. Quase 100 países o empregaram. Mas lentamente foi perdendo espaço para um fuzil originalmente americano, calibre 5.56. Hoje é esse o calibre padrão dos países que integram a OTAN e usado por outros fora da aliança, como o Brasil.

A expectativa do Ministério da Defesa, segundo a assessoria de imprensa, é adquirir cerca de 10 mil novos fuzis por ano. Para isso, o Congresso precisa aprovar um plano de modernização das forças que está em tramitação e é preciso orçamento. O ministério estima que a partir de 2014, comece, pelo Exército, a substituição parcial dos 200 mil fuzis das forças de Defesa.

Ainda segundo o ministério, só o IA-2 atende aos requisitos operacionais básicos (ROC), um novo critério criado em 2012 pelo governo para habilitar produtos para serem adquiridos pelas três forças. Mas, ainda segundo o ministério, há a possibilidade de que a Taurus também apresente um fuzil.

"A Forjas Taurus pretende produzir um fuzil de assalto chamado FAT 556, equivalente ao M4, um dos fuzis mais modernos do mundo. Este produto é de uso exclusivo para as Forças Armadas e está em fase de apostilamento pelo Exército", disse a empresa. O apostilamento é um conjunto de testes feito pelo Exército pelo qual um armamento precisa passar para poder ser comercializado. Além de oferecer às Forças Armadas, a Taurus diz que pode exportar o fuzil.


 
IMBEL - Regime militar criou companhia em 1975

O governo militar criou a Imbel em 1975 com o objetivo de preparar o país para um conflito armado. A empresa tinha de estar pronta para fornecer armamentos, munição e explosivos para o caso de uma ação de guerra do Exército em território nacional ou estrangeiro. "Essa era a função principal da Imbel, estar preparada para uma demanda de mobilização militar", conta o coronel Alte Zylberberg.




Como essa demanda nunca ocorreu, a empresa se viu desde o início em um difícil equilíbrio: ter de manter uma equipe técnica trabalhando e fábricas operando mesmo com um volume de pedidos das Forças Armadas aquém do que seria preciso para justificar a estrutura.

A Imbel é formada por cinco fábricas. A mais antiga tem raiz em 1808, uma fábrica de pólvora fundada pelo príncipe regente, Dom João VI, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. A produção foi transferida em 1824 para Magé (RJ), ainda em operação. As outras fábricas estão no Rio, Piquete (SP), Itajubá (MG) e Juiz de Fora (MG). A sede fica em Brasília. No portfólio estão fuzis e carabinas, pistolas, munições, explosivos, equipamentos de comunicação e sistemas de abrigos.

A unidade de Itajubá, que começou a funcionar em 1935, além de ser a maior em número de funcionários (cerca de 900) é responsável por aproximadamente 50% do faturamento do grupo. Somada à de Juiz de Fora, tem-se 70% da receita.

Para manter uma empresa estratégica como é uma indústria de armas que abastece as Forças Armadas, o Estado tem um custo, diz Zylberberg. Com a economia patinando nos 80, a situação da Imbel, que nunca fora fácil, degringolou.

"Às vezes, nem recursos para comprar matéria prima a Imbel tinha. Chegou um ponto que o endividamento era crescente, o TCU chegou até a acionar o presidente, que era civil, por não recolher tributos", lembra ele, dizendo que sem ninguém não era possível pagar salários. "Se fosse uma empresa privada, estaria num estado pré-falimentar. O passivo era muito maior do que o ativo. Se vendesse todo o patrimônio não pagava as dívidas. Eram dívidas trabalhistas, fundo de garantia", lembra o coronel. A certa altura, a empresa tinha um faturamento de R$ 35 milhões uma dívida de R$ 140 milhões.

A fábrica de Itajubá ajudou a manter a empresa em pé produzindo pistolas para o mercado dos EUA. As armas eram montadas e distribuídas pela Springfield. As tentativas de recuperação da empresa começaram nos anos 2000, com renegociações da dívida, mudanças na gestão, reforço no orçamento da Defesa e aportes federais para modernização das fábricas.

Hoje, cerca de 56% da produção vai para as Forças Armadas; 15% para polícias; e 29% para mercado civil, como mineradoras [caso de explosivos] e empresas de segurança. (MMS)

Um comentário:

Anônimo disse...

O problema é confiar nas "novidades" da IMBEL.

Os produtos fabricados sob licença como o FAL/Para-FAL(da FNH) são razoaveis.

As criações proprias como MD97,AGLC,MD4... são um LIXO. Vários problemas nos projetos, na manufatura e/ou nos controles de qualidade.