quarta-feira, 16 de outubro de 2013

[SGM] Ativistas Ucranianos chamam a atenção para tragédia pouco conhecida

Radio Free Europe, 23/08/2013

Em 1941, à medida que as tropas alemãs atravessavam a Ucrânia da era soviética, a polícia secreta de Josef Stalin explodiu uma usina hidroelétrica na cidade meridional de Zaporizhzhya no sentido de deter o avanço nazista.

A explosão inundou as vilas ao longo das margens do Rio Dniper, matando milhares de civis.

Quando a Europa registra seu Dia da Lembrança pelas Vítimas do Stalinismo e Nazismo em 23 de agosto, um grupo de cidadãos de Zaporizhzhya está lutando pelo reconhecimento da tragédia pouco conhecida da guerra.

O dia, que também é conhecido como Dia da Banda Preta fora da Europa, coincide com o aniversário do Pacto Molotov-Ribbentrop de 1939 de não-agressão entre a Alemanha Nazista e a União Soviética.

A Ucrânia sofreu perdas pesadas durante a Segunda Guerra Mundial e sob o domínio de Stalin.

Os eventos de Zaporizhzhya aconteceram em agosto de 1941. Enquanto as tropas nazistas se aproximavam da cidade, Moscou enviou agentes do NKVD, o predecessor da KGB, para explodir a planta hidroelétrica DniproHES da cidade.

A equipe conduziu sua missão de maneira bem sucedida – que os historiadores afirmam ter sido ordenada pelo próprio Stalin – provocando um buraco na estrutura e temporariamente isolando parte da cidade dos invasores.

Mas a explosão também inundou vilas e assentamentos ao longo do Rio Dniper.

O grande vazamento matou milhares de civis inocentes, assim como soldados do Exército Vermelho que estavam atravessando o rio.


Já que nenhuma estatística de mortes foi liberada ma época, o número estimado de vítimas varia enormemente. A maioria dos historiadores estima entre 20.000 e 100.000, baseados no número de pessoas então vivendo nas áreas afetadas.
   
“As pessoas gritavam”

O sobrevivente Oleksiy Dotsenko diz que o Dniper tornou-se vermelho aquele dia.

Seu relato, registrado quatro anos atrás pelo canal de TV 1+1, é um dos últimos testemunhos remanescentes da tragédia.

“As pessoas gritavam por ajuda. O gado mugia, os porcos gritavam. As pessoas subiam nas árvores,” ele lembra.

Muitos cidadãos de Zaporizhzhya, contudo, não conhecem o desastre.

Historiadores locais e ativistas dos direitos civis acusam as autoridades municipais de perpetuar os esforços da era soviética de encobrir a verdade ao se recusar em homenagear as vítimas.

Funcionários reconhecem que civis inocentes morreram, mas defendem que a destruição da usina foi necessária para salvar vidas incontáveis.

“Não havia ninguém na época para defender Zaporizhzhya,” diz Oleksiy Baburin, chefe da sede local do Partido Comunista Ucraniano. “Tínhamos poucos soldados. Não havia quase tropas do NKVD ou regimentos militares que pudessem ter parado os alemães. Por isso é que explodir a DniproHES permitiu que a evacuação continuasse.”

Mas uma parte dos historiadores rejeita tais afirmações, insistindo que a operação foi porcamente conduzida e as tropas nazistas não tinham planos imediatos de tomar a cidade.

Nenhum reconhecimento oficial

O historiador Vladsyslav Moroko diz que os homens encarregados da missão, Boris Epov e Aleksandr Petrovsky, apressaram a explosão da usina por temer Stalin.

“Na realidade, Epov e seus subordinados estavam menos preocupados com a possível invasão alemã de Zaporizhzhya do que com o fato de que eles não pudessem ser capazes de conduzir as ordens de Stalin,” diz Moroko. “Eles temiam que DniproHES fosse capturada e que eles não seriam capazes de cumprir a ordem de Stalin.”

Um monumento próximo da hidroelétrica, que ainda existe, presta homenagem às tropas que defenderam a instalação durante a Segunda Guerra Mundial.

Um grupo de residentes locais este ano instalou uma cruz de madeira em Zaporizhzhya em 18 de agosto, o aniversário da tragédia de DniproHES.

Mas ainda não existe nenhum monumento oficial ou placa na cidade para homenagear suas vítimas.

Moroko e outros escreveram uma carta aberta exigindo às autoridades municipais para corrigir este erro. A carta ainda não foi respondida.

“Esta petição era pública. As organizações civis e cidadãos responderam a ela e expressaram seu apoio,” diz Moroko. “Mas o governo está agindo como se nada tivesse ocorrido.”


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