As mulheres
tiveram um papel central no plano de Adolf Hitler em criar uma Comunidade Alemã
(Volksgemeinschaft) ideal. Hitler
acreditava que uma população maior e mais racialmente pura fortaleceria a força
militar da Alemanha e daria colonos em número suficiente para serem assentados
nos territórios conquistados da Europa oriental. A agressiva política do
Terceiro Reich em relação à população encorajou mulheres “racialmente puras” a
parir tantas crianças “arianas” quanto fosse possível.
Antes de
1931, muitas organizações femininas apoiaram o nacionalismo, algumas
abertamente defendendo o NSDAP (Partido Nazista) de Hitler. O Movimento
Nacionalista Newland de Guida Diehl
recrutava mulheres bem educadas da comunidade protestante e escreveu em suas
memórias suas primeiras impressões sobre Hitler em meados dos anos 1920:
“Sério, afetuoso e natural – ele corre atrás de seus objetivos. Ele não trouxe
nada de novo. Apenas um resumo do melhor de nossa tradição nacional. Ele
ofereceu uma organização dinâmica onde outros confiavam em política partidária
sem inspiração.”
As mulheres
católicas eram mais cautelosas, mas há muito tempo já haviam endossado visões
social e politicamente conservadoras, e começaram a clamar por uma “democracia
autoritária”.
Em 1931,
muitas organizações femininas nacionais e nacional socialistas juntaram-se sob
a NS Frauenschaft, que mais tarde foi
declarada a organização oficial para mulheres no Terceiro Reich. Gertrud
Scholtz-Klink liderou este grupo de 1934 até 1945. Ela começou pela organização
das mulheres em Baden, um pequeno estado liberal e católico no sudoeste da
Alemanha, após ficar viúva em 1928 com seis crianças para cuidar. Como líder
das mulheres do Reich (Reichsfrauenfuhrerin), ela regularmente tinha
que encarar encontros com o Führer e compartilhar o palanque com ele durante as
principais reuniões das mulheres.
Apesar de
sofrer grande miséria após a Guerra, inclusive prisão, Scholtz-Klink desapontou
e enfureceu um mundo que esperava que ela mostrasse arrependimento por seu
passado nazista. Após entrevistar ela em 1987, a autora feminista
Claudia Koonz escreveu, “... ela não é uma ex-nazista. Sem um traço de ironia,
ela lembrou que ‘se você pudesse ter visto as mulheres de Berlim defendendo sua
cidade com suas vidas contra os russos, então você acreditaria o quão profundo
as mulheres alemãs amavam nosso Führer.’”
Em 1932,
reconhecendo o gênio cinematográfico de Leni Riefenstahl, Hitler marcou um
encontro e lhe disse que quando ele assumisse o governo, “você deve fazer os
meus filmes.” Após ela completar o documentário Vitória da Fé, ele prometeu-lhe
recursos ilimitados e completo controle artístico para o filme da Reunião do
Partido em Nuremberg em 1934. O resultado, o famoso O Triunfo da Vontade, ganhou aclamação internacional, incluindo o
Prêmio Cinematográfico de Paris de 1937.
Em 1932,
cerca de 50% dos votos nos nazistas vieram das mulheres.
Por outro
lado, a União das Mulheres Nacional Socialistas e a Agência das Mulheres Alemãs
usaram a propaganda nazista para encorajar as mulheres em focar em seus papeis
como esposas e mães. Além de aumentar a população, o regime também buscava
melhorar sua “pureza racial” através do “melhoramento da espécie”, notavelmente
promulgando leis proibindo o casamento entre arianos e não-arianos, e
simultaneamente prevenindo que deficientes e portadores de certas doenças
pudessem se casar.
Em 1936, os
líderes da SS criaram o programa governamental conhecido como Lebensborn (Fonte da Vida)*. Como uma
extensão da Ordem de Casamento da SS de 1932, o decreto do Lebensborn de 1936
prescrevia que todo membro da SS deveria gerar quatro filhos, dentro ou fora do
casamento. Os lares Lebensborn abrigavam bebês ilegítimos e suas mães, fornecia
certidões de nascimento e apoio financeiro, recrutando pais adotivos para as
crianças.
No final,
contudo, o programa Lebensborn nunca foi promovido agressivamente. Ao invés
disso, a política populacional nazista concentrou na família e no casamento. O
Estado encorajava o matrimônio através de empréstimos para casamento,
dispensava suplementos de renda familiar para cada nova criança, publicamente
honrava famílias “ricas em crianças”, agraciava com a Cruz da Honra da Mãe
Alemã as mulheres que tivessem quatro ou mais filhos e aumentava as punições
para aquelas que cometessem aborto.
Durante a
guerra, a necessidade por mão de obra fez com que o Estado arregimentasse
mulheres para a força de trabalho (por exemplo, através do Ano do Dever, o
plano de serviço compulsório para todas as mulheres). Em 1939, havia
excepcionalmente uma alta porcentagem de mulheres trabalhando em comparação com
outros países ocidentais: mais de 14 milhões estavam empregadas e quando a
escassez de mão de obra apareceu no final da guerra, provou-se difícil levar as
mulheres idosas ou mães de muitas crianças para as fábricas. Quando os
bombardeios começaram, milhões de mulheres tiveram que abandonar as metrópoles
em direção das pequenas cidades e vilarejos, onde elas tomavam conta de escolas
locais e faziam trabalhos assistenciais. Em 1945, mais de 50% da força de
trabalho nativa era feminina, um nível somente excedido pela União Soviética.
Mesmo nas forças armadas, o número de mulheres em funções auxiliares se
aproximava de 500.000. Portanto, a afirmação de que as mulheres sob o Terceiro
Reich foram excluídas do mercado de trabalho é mito.
As Mulheres que Hitler amou
A primeira
mulher na vida de Hitler foi sua mãe Klara. Como seu primogênito, ela
direcionou seu amor para ele, mas logo um irmão mais novo, seguido de uma irmã,
exigiram também sua atenção. Adolf cresceu segundo um caminho independente e
aventureiro, interessado vivamente no mundo ao seu redor. Ele entrou em choque
com seu pai por causa de sua escolha de carreira, mas não com sua mãe que permitiu-lhe
seguir seu próprio caminho.
Foi a doença
da mãe e a morte subsequente por câncer com 46 anos de idade que, somente dois
anos após a morte de seu pai, podemos vislumbrar as fortes emoções de Hitler.
De acordo com o médico da família, o jovem Adolf, então com 15 anos, deixou a
escola em Viena e voltou para casa para acompanhar o estado de saúde dela,
aplicando ele mesmo os dolorosos e caros tratamentos, e mesmo ajudando na
manutenção da casa. Quando, um pouco antes do Natal, ela morreu, o médico relatou
que nunca tinha visto alguém se abater tanto como Adolf Hitler com a perda de
sua mãe**.
Foi em 1906
que Hitler ficou obsecado por Stefanie Jansten. Seu interesse pela filha de um
funcionário público duraria muitos anos. Com 16 anos, ele decidiu casar-se com
ela, escrevendo poemas românticos e mesmo enviando-lhe uma carta detalhando seu
casamento iminente. Mesmo assim, os versos de amor permaneceram não lidos e a
carta foi postada sem assinatura. Furioso por saber que ela havia dançado com
outro rapaz em um baile, ele ameaçou jogar-se no Rio Danúbio. “Você deve saber.
Estou apaixonado por ela,” confidenciou para um amigo aquele dia. Mesmo durante
a Segunda Guerra, em seu quartel-general Toca do Lobo na Prússia oriental, ele
falaria com carinho de seu “primeiro amor”. De Stefanie, ele disse que entre
tais “seres humanos excepcionais” não havia necessidade da usual forma de
comunicação falada.
Contudo,
Hitler teve somente dois relacionamentos sérios na vida, ambos terminando com o
suicídio de suas parceiras: sua meia-sobrinha Geli Raubal, que matou-se para
não ter que viver um relacionamento marcado pelo ciúmes doentio, e Eva Braun,
que envenenou-se no bunker em Berlim ao invés de viver sua vida sem Hitler.
Angela Maria
Raubal nasceu em Linz na Áustria em 4 de junho de 1908, onde ela cresceu com
seu irmão Leo e a irmã Elfriede. Seu pai faleceu aos 31 anos, quando Geli tinha
apenas dois anos de idade.
Parece que
ela só conheceu Hitler aos dezesseis anos, quando ele estava preso na prisão de
Landsberg, escrevendo Minha Luta que
mais tarde o deixaria muito rico. Geli costumava chamá-lo de “Tio Alf”. Em
1927, os dois iniciaram um relacionamento e Hitler começou a tornar-se
gradativamente obcecado.
Herrmann
Göring mais tarde diria aos advogados nos julgamentos de Nuremberg que a morte
de Raubal devastou Hitler de tal forma que ele mudou suas opiniões e
relacionamentos com todas as pessoas***.
Após a
Primeira Guerra Mundial, seu primo, William Patrick Hitler, assim descreveu
Geli quando a encontrou em Obersalzberg.
Geli parecia mais com uma criança do que com uma moça. Você não
podia dizer que ela era bonita exatamente, mas ela tinha um encanto natural.
Ela geralmente não usava chapéu e vestia roupas simples, saias amassadas e
blusas brancas. Sem jóias, exceto uma suástica dourada dada a ela pelo tio
Adolf, que ela chamava de tio Alf.
À medida que
Hitler ascendeu como líder do Partido Nazista, ele manteve um controle direto
sobre Geli, a qual dividia o tempo entre o apartamento em Munique e a casa de
campo em Berghof próxima de Berchtesgaden, onde sua mãe trabalhou como
governanta após 1929. Ele não permitia amizades sem seu consentimento e tentou
colocar pessoas confiáveis para vigiá-la, acompanhando-a nas compras, no cinema
e na ópera. Havia boatos, inclusive, de que ele a mantinha fechada em casa
durante o dia, quando não podia vigiá-la. Apesar dos esforços em controlar a
garota – e talvez por esse motivo – Geli não retribuiu os sentimentos e
tornou-se ligada a Emil Maurice, um dos fundadores da SS e chofer de Hitler.
Hitler acabou demitindo-o, porém mais tarde o recontratou e o promoveu. Maurice
mais tarde afirmou que Hitler “... a amava, mas era uma afeição estranha que
não transparecia.” Se qualquer ressentimento apareceu em Hitler, ele não durou,
já que os dois mais tarde se reconciliaram, após Maurice ser enviado durante a
Noite das Longas Facas para assassinar Bernhand
Stempfle, um
ex-padre e ex-prisioneiro de Landsberg, que alguns dizem ter sido um dos
editores do livro Minha Luta e
conhecedor de detalhes do relacionamento entre Hitler e Geli.
No início dos
anos 1930, Hitler estava financeiramente bem, de modo que ele alugou um
apartamento em uma região valorizada de Munique, o número 16 da
Prinzregentplatz. Este imóvel continha de 9 a 15 cômodos, dependendo dos relatos
diferentes registrados de seu espaço. Curiosamente, Hitler mais tarde compraria
o bloco inteiro de apartamentos com os direitos do Minha Luta e doações generosas a seu partido.
Em 19 de
setembro de 1931, Geli cometeu suicídio com uma pistola, da própria coleção de
Hitler. Ela só tinha 23 anos na época. Desde então boatos circularam de que sua
morte foi encomendada, já que seu relacionamento com Hitler representaria
supostamente um problema.
Um homem com
o qual ela se confidenciou foi Otto Strasser (1897 – 1974), uma figura
importante no partido na época. “Você nunca acreditará nas coisas que ele me
obriga a fazer,” teria dito ela a Strasser. Isto foi o que Strasser contou a
amigos, mas todos sabiam da raiva que os irmãos Strasser sentiam por Hitler+.
Otto começou a ser isolado dentro do partido e queria de todas as maneiras
manchar a reputação de Hitler nas eleições vindouras.
Por outro
lado, mesmo antes da morte de Geli, Hitler envolveu-se com Eva Braun, a mais
famosa de suas mulheres. Hitler e Braun tornaram-se amantes em 1932. Ela ficou
com ele por 13 anos, até a morte.
Eva Paula
Braun nasceu em Munique em 6 de fevereiro de 1912 em uma família católica
tradicional. Eva era a segunda filha do professor de escola secundária Friedrich
"Fritz" Braun, um protestante não praticante, e Franziska
"Fanny" Kronberger, que pertencia a uma respeitada família católica
bávara. Sua irmã mais velha, Ilse, nasceu em 1909 e sua irmã mais nova,
Margarete, nasceu em 1915. Eva foi educada em um liceu, então por um ano em uma
escola de negócios em um convento, onde foi uma aluna regular e com bom
desempenho em
atletismo. Ela trabalhou por muitos meses como
recepcionista num consultório médico e, então, com 17 anos, conseguiu um
emprego como assistente de laboratório e modelo para Heinrich Hoffmann,
fotógrafo oficial do Partido Nazista. Ela se encontrou com Hitler, 23 anos mais
velho, no estúdio de Hoffmann em Munique em outubro de 1929. Ele foi
apresentado a ela como “Sr. Wolf” (um apelido que ele usou nos anos 1920 por
motivos de segurança). Ela o descreveu para os amigos como “um cavalheiro de
certa idade, com um bigode engraçado, um casaco tipo inglês descolorido e
carregando um grande chapéu de feltro.” Ele gostou da cor dos olhos dela, que
lembravam os de sua mãe. A família de Eva se opôs ao relacionamento e pouco se
sabe sobre ele nos dois primeiros anos.
Eva Braun
tentou o primeiro suicídio em 1 de novembro de 1932, com a idade de 20 anos,
atirando contr si no peito com a pistola de seu pai. Ela tentou suicídio mais
uma vez em 28 de maio de 1935, tomando uma overdose de Fanodorm (comprimidos
para sono). Após a recuperação de Braun, Hitler tornou-se mais comprometido com
ela e conseguiu comprar com os direitos das várias fotografias dele feitas pelo
estúdio de Hoffmann uma casa em Munique. Esta renda também garantiu a ela um
carro, um motorista e uma empregada.
Eva sabia que
Hitler jamais se casaria, já que o objetivo dele era apenas a Alemanha. Ela
passava o dia fazendo exercícios, lendo livros e escrevendo em seu diário, onde
ela reclamava da infelicidade por Hitler dispensar pouco tempo a ela.
Mas, de
acordo com o criado de Hitler, Heinz Linge, “ele telefonava para ela a cada
dois dias. Se seus auxiliares ou (Martin) Bormann viajassem até Munique, ele
lhes dava cartas para Eva.” Hitler apresentava Eva a seu círculo íntimo com
palavras amáveis. Traudl Junge, a secretária de Hitler de longo tempo, lembrou
que ele segurava sua mão, chamando-a de Mein
Patscherl.
Uma carta de
Hitler para Eva após a tentativa de assassinato de 1944, revela a ligação
afetiva que se desenvolveu entre os dois:
Mein
Liebes Tschapperl, Não se preocupe comigo. Estou bem, apenas um pouco cansado.
Espero ir para casa logo e então descansar em seus braços. Há muito tempo preciso
de um descanso, mas meu dever com o povo alemão vem em primeiro lugar acima de
tudo. Não se esqueça de que os perigos que encontrei não se comparam àqueles
que os soldados enfrentam na linha de frente. Obrigado pela prova de sua
afeição e peço-lhe que agradeça ao seu querido pai e à sua graciosa mãe pelos
cumprimentos e desejos de boa recuperação. Estou muito orgulhoso da honra – por
favor, lhes diga isso – de ter o amor de uma mulher que vem de uma tal família
distinta. Estou lhe enviando o uniforme que estava vestindo naquele dia
infeliz. É a prova de que a Providência me protegeu e não tenho mais o que
temer de nossos inimigos. De todo meu coração. Seu A.H.
A resposta de Eva:
Geliebter,
estou for a de mim. Estou morrendo de ansiedade agora que sei que você corre
perigo. Volte o mais rápido que puder. Sinto como se fosse ficar louca. O tempo
está bonito aqui e tudo parece tão calmo que fico envergonhada disso. Você sabe
que sempre lhe disse que morreria se algo te acontecesse. Desde o nosso
primeiro encontro, te disse que te seguirei onde quer que você for, mesmo na
morte. Você sabe que vivo apenas pelo seu amor. Sua, Eva.
Quando Hitler tornou-se Chanceler da
Alemanha, Braun sentava-se na área VIP como secretária, fato que transtornava
sua meia-irmã Ângela (mãe de Geli), junto com as esposas de outros ministros.
Consequentemente, Ângela ficou proibida de viver próxima de Eva. Em 1936, Braun
se mudou para Berghof, mesmo que Hitler passasse pouco tempo lá. Em 1938,
Hitler nomeou Eva como sua principal herdeira, recendo uma pensão de 600 libras britânicas na
época após sua morte (considerando a inflação desde então, hoje seriam 28.000 libras, ou
quase R$ 100.000). Mesmo assim, a influência política de Braun sobre Hitler foi
aparentemente mínima. Ela não participava de reuniões políticas ou econômicas.
A única vez que ela envolveu-se com uma questão política foi em 1943, logo após
a Alemanha adotar a economia de guerra total. Entre outras coisas, isto
significava o banimento de cosméticos e outros luxos (que também ocorreu nos
países aliados). Hitler é conhecido por ter se oposto ao uso de cosméticos
femininos pelo fato deles serem produzidos a partir de material animal (ele era
vegetariano) e algumas vezes mencionava isso nas refeições. De acordo com
Albert Speer, Braun encontrou-se com Hitler imediatamente indignada com essas
medidas, de modo que Hitler pediu a Speer reduzisse a produção de cosméticos ao
invés da total interrupção de produção.
Linge escreveu em suas memórias que Hitler e Eva tinham dois quartos e dois
banheiros com portas interconectadas em Berghof e Hitler encerrava a maior
parte de suas noites sozinho com ela em seu escritório antes deles irem para a
cama. Ela vestiria uma camisola, bebendo vinho enquanto Hitler degustava chá.
Em 15 de abril de 1945, ela voou de Munique
para Berlim. Hitler ordenou que ela retornasse a Munique, mas ela se recusou
dizendo: “Você acha que eu vou te deixar morrer sozinho?” Nas primeiras horas
de 29 de abril, Hitler e Eva se casaram. No mesmo dia, de acordo com Traudl
Junge, quando Hitler mandou redigir seu Último Desejo e seu Testamento
Político, ele desculpou-se pelos aborrecimentos a ela e pediu “com sua
gentileza usual” que todas as necessidades de Eva fossem cumpridas.
Em seu Desejo, Hitler chama Eva de sua esposa três vezes,
encerrando com “Eu e minha esposa... escolhemos a morte.”
Hitler e Braun nunca apareceram juntos em
público e existe a indicação de que os dois não se casaram no início do
relacionamento porque Hitler tinha medo de perder o apoio do eleitorado
feminino. O povo alemão nunca soube da relação de Eva com Hitler até após a
guerra.
Notas:
* A Trágica História das Crianças do Lebensborn
** O Judeu Favorito de Hitler
*** Hitler foi o "chefe perfeito", diz ex-criada
+ Hitler era um pervertido
sexual?
Fontes:
Desmascarando "O
Segredo de Hitler"
Todos os Homens do
Führer
Walter
Reich
The
New York Times, 16/12/2001
Lothar
Machtan defende em O Segredo de Hitler que ele tem obteve evidência
convincente de que Hitler era homossexual e que sua homossexualidade explica
muito sobre quem Hitler era e por que ele fez o que fez. Machtan, de fato, tem
tal prova? E se Hitler fosse de fato homossexual, isto forneceria a chave para
a psicologia do homem ou para os modos no qual era revirou as fundações morais
e humanas do século XX? As acusações da homossexualidade de Hitler, ativa ou
latente, não são novas. Elas o perseguiram durante sua ascensão ao poder e após
ele o ganhar. Elas fizeram parte de inúmeras biografias. E elas são a base de
ocasionais imagens suas até hoje. Que Mel Brooks apresenta Hitler como um
homossexual exagerado em “Os Produtores” – uma bicha idiota, histérica e
revoltada, como o roteiro do musical o faz – não é mera coincidência.
O que
Machtan acrescenta ao seu legado de afirmações e especulações é, ele diz,
evidência histórica. Ele reconhece que algumas provas são apenas
circunstanciais. Mas algumas, ele insiste, não são apenas concretas, mas também
novas, pelo menos no modo que ele as desenvolve e defende sua credibilidade.
Machtan,
que ensina história na Universidade de Bremen na Alemanha, sugere que Hitler
provavelmente teve uma relação homoerótica com seu amigo August Kubizek, com
quem ele viveu em Viena em 1908; que ele teve um caso sexual rude com um colega
de farda durante a Primeira Guerra Mundial; que ele pode ter tido contatos
homossexuais com jovens rapazes em Munique após a guerra; e que ele pode ter se
envolvido em atividades homossexuais logo após chegar ao poder em 1933.
Além
disso, Machtan argumenta que muito do que Hitler fez no poder foi influenciado
não pelas razões que os historiadores geralmente costumam indicar, mas por
causa de seu esforço em eliminar provas de sua homossexualidade. Assim, Machtan
diz que em 1934 – quando Hitler ordenou o assassinato de, entre muitos outros,
seu colega de longo tempo e chefe da organização paramilitar SA, Ernst Röhm, um
declarado e bem conhecido homossexual – ele estava motivado principalmente pelo
desejo de destruir evidência potencialmente perigosa de seu passado
homossexual, e não para se livrar de alguma ameaça política ou militar. E a
perseguição do regime nazista aos homossexuais era, diz Machtan, essencialmente
causada pelo desejo de Hitler calar ou destruir pessoas de um mundo que ele já
havia feito parte, alguns dos quais poderiam “revelar segredos desonrosos”
sobre ele. Quanto aos envolvimentos de Hitler com várias mulheres –
particularmente Eva Braun e sua meia-sobrinha Geli Raubal – Machtan argumenta
que estas mulheres eram camuflagem para sua homossexualidade fundamental. A
prova circunstancial da homossexualidade de Hitler que Machtan cita – e que ele
constrói com considerável zelo – consiste em grande medida no meio homossexual
presumido ou real que Hitler teria freqüentado em várias épocas de sua vida; os
homossexuais ou possíveis homossexuais que estiveram associados a ele; e a
variedade de fatos que poderiam ser explicados pela homossexualidade de Hitler,
como o fato de seus superiores negarem promoção durante a Primeira Guerra
Mundial.
A
evidência concreta que Machtan apresenta é uma série de documentos que, ele
afirma, tem sido injustificadamente ignorados ou dispensados. O principal
documento desta categoria é o chamado Protocolo Mend, uma afirmação feita em 1939
por Hans Mend, um mensageiro militar que serviu com Hitler durante a Primeira
Guerra Mundial. Mend testemunhou que durante a guerra ele tinha visto Hitler
“dormindo á noite com Schmidt – Ernst Schmidt – seu amante.”
Machtan
também cita textos deixados por Eugen Dollmann, o interprete de Hitler.
Dollmann escreveu que ele ouviu de Otto Von Lossow, um general do Reichswehr em
Munique após a Primeira Guerra Mundial, que havia um arquivo policial contendo
testemunhos de rapazes em Munique que Hitler havia lhes pago para passar a
noite com ele.
Mas a
prova circunstancial que Machtan fornece é apenas isso – circunstancial. E a
evidência concreta parece muito menos confiável do que ele poderia nos fazer
crer. Hans Mend era um mentiroso habitual e chantagista e o general Lossow
havia participado na repressão ao putsch de Hitler em 1923. Consequentemente,
sua vida estava sendo ameaçada pelos simpatizantes de Hitler, e ele estava
desesperado em convencê-los de que ele tinha prova incriminadora contra seu
líder.
Mas o
maior problema com o livro de Machtan não é a confiabilidade de suas fontes,
mas o seu modo de argumentação. Ele aceita qualquer coisa que se encaixe em sua
tese e rejeita aquilo que não se encaixa. Sentimos, algumas vezes, que estamos
lendo um relatório interno do FBI da época de J. Edgard Hoover ao invés de um
trabalho sério de academicismo no qual o autor está pronto para ser guiado
pelos fatos.
Para
interpretar a prova do seu meio, Machtan emprega sugestão e insinuação. Ele faz
perguntas retóricas planejadas para levar o leitor a respondê-las da maneira
que apóie seu argumento, mesmo quando explicações alternativas são ao menos
plausíveis. Ele introduz possibilidades que são então assumidas serem
probabilidades e, então, certezas. Ao usar pontos de exclamação, ele destaca o
que são provavelmente comentários inócuos de modo que eles parecem carregar
conteúdo homoerótico. Em outras palavras, ele escreveu um livro tendencioso que
é mais um depoimento para a promotoria do que um trabalho sério de história.
Machtan
diz que ele quer entender “o Hitler de Auschwitz” e lamenta que saibamos tão
pouco sobre o homem que produziu a maior profanação da história humana e da
moralidade. Mas ele certamente não chega perto de explicar qualquer destruição
de Hitler ao explorar sua sexualidade. Num certo sentido, isto pode na verdade
servir para humanizar Hitler. Mas não serve para explicá-lo.
Lothar Machtan (n. 1949)
é um historiador alemão e professor na Universidade de Bremen, nascido em uma
família judia em Gelsenkirchen.
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