Quando subiu a
bordo da cápsula Vostok 1 em abril de 1961, Yuri Gagarin tornou-se o primeiro
homem no espaço e foi alçado à condição de herói da antiga União Soviética, a
personificação do triunfo da ciência da superpotência comunista sobre seus
rivais do Ocidente. Assim, as circunstâncias da sua morte em um acidente aéreo
em março de 1968 permaneceram décadas envoltas em mistério, mesmo após o
esfacelamento da URSS. Agora, no entanto, elas foram reveladas por seu colega
cosmonauta Aleksey Leonov, ele mesmo o primeiro homem a fazer uma caminhada
espacial, em 1965.
Leonov passou os
últimos 20 anos batalhando com as autoridades russas pela divulgação dos detalhes
da investigação sobre o acidente, da qual fez parte. Na versão oficial
divulgada então, Gagarin e o experiente instrutor Vladimir Seryogin caíram com
o MiG-15UTI após se desviarem de um objeto voador não identificado – um balão
ou um pássaro. A manobra fez com que seu avião entrasse em parafuso e os dois
morreram no impacto com a terra.
- esta conclusão é
verossímil para um civil, mas não para um profissional – afirmou Leonov em
entrevista à rede de TV Russia Today (RT). - De fato, tudo aconteceu diferente.
De acordo com um
relatório finalmente liberado pelo governo russo após os insistentes pedidos de
Leonov, um jato SU-15 passou perigosamente perto do avião de Gagarin em um voo
não autorizado, precipitando-o rumo ao chão. O ex-cosmonauta contou que naquele
fatídico dia 27 de março de 1968 era o responsável pelos treinamentos de saltos
de paraquedas. O clima estava ruim, com muita chuva, vento e neve, o que
tornava impossíveis os exercícios. Enquanto esperava o cancelamento oficial do
treinamento, ele ouviu o barulho de um avião rompendo a barreira do som,
seguido de uma explosão um ou dois segundos depois, e então soube que algo
tinha dado errado.
- Sabíamos que o
SU-15 estava previsto para ser testado naquele dia, mas ele deveria estar
voando a uma altitude de 10 mil metros ou mais, e não 450-500 metros. Foi uma
violação dos procedimentos de voo – disse Leonov. - Depois que realizou a
pós-combustão (necessária para levá-lo à velocidade supersônica) o avião
(SU-15) passou perto de Gagarin, virando seu avião e assim jogando-o em
parafuso, uma espiral, para ser mais preciso, a uma velocidade de 750 km/h.
Leonov lembra que
recebeu ordens de voltar para a base de Chkalovsky, onde soube que o avião de
Gagarin deveria ter esgotado seu combustível há 45 minutos. E suas suspeitas de
que um acidente tinha ocorrido foram confirmadas após informações de que um
local de impacto foi encontrado perto da vila de Novoselovo.
- Enviamos uma
equipe que encontrou os destroços do avião e os restos mortais de Seryogin –
contou à RT. - Não foram encontrados os restos de Gagarin, só seu mapa e uma
bolsa, então a princípio pensamos que ele tinha conseguido se ejetar. Enviamos
um batalhão de soldados que procurou por ele na floresta a noite inteira, mas
tudo que encontraram foram os restos de um balão. Só no dia seguinte
encontramos o corpo de Gagarin. Consegui identificá-lo por uma mancha escura no
pescoço que só tinha notado três dias antes.
Encontrados os
restos de Gagarin, teve início então a conspiração para esconder que ele tinha
morrido por falha humana de outro piloto soviético. Quando conseguiu colocar as
mão no relatório décadas depois, Leonov encontrou várias falhas, mas a
principal no seu próprio relato, que tinha seu nome, mas foi escrito por outra
pessoa com os fatos mudados.
- Quando vi a
cópia, de repente notei que ela colocou o intervalo entre os sons entre 15 e 20
segundos no lugar dos dois segundos que relatei. Isso sugeriria que os dois
caças estavam separados por não menos de 50 quilômetros.
Com a ajuda de
computadores, simulações conseguiram então mostrar como o avião de Gagarin
entrou em uma espiral mortal em alta velocidade. Segundo Leonov, a passagem de
um avião maior e mais pesado pelas proximidades fez com que o MiG-15 virasse de
cabeça para baixo. O nome do piloto do SU-15, hoje com 80 anos e saúde frágil,
não foi revelado como condição para a entrevista do ex-cosmonauta.
- Ele era um bom
piloto de testes e isso não vai consertar nada – justificou.
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