quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O Holocausto era inevitável?

Patrick Buchanan

 
“O que Winston faria?”

Assim pergunta a capa da Newsweek, que apresenta uma foto de página inteira do primeiro-ministro que seu povo votou como sendo o maior bretão de todos os tempos.
 
 
 

Uma tremenda homenagem, quando se leva em conta que a carreira de Churchill coincide com o colapso do Império Britânico e o rebaixamento de sua nação da dominação mundial para uma potência de terceira classe.

Que a capa da Newsweek foi resultante do meu livro “Churchill, Hitler e a Guerra Desnecessária” parece aparente, como um dos três ensaios, de Christopher Hitchens (jornalista anglo-britânico, liberal, 1949 – 2011) foi uma resenha mordaz. Apesar de ser lisonjeiro em alguns pontos, Hitchens conclui encantadoramente: Este livro “fede”.

Compreensível. Nenhum britânico pode facilmente aceitar minha tese central: os britânicos jogaram fora seu império. Através de duas burrices colossais, a Grã-Bretanha declarou guerra duas vezes contra uma Alemanha que não a havia atacado e nem queria guerra com ela, lutando por 10 anos sangrentos e perdeu tudo.

Incapaz de enfrentar a verdade, Hitchens procura auxílio em velhos mitos.

Tínhamos que parar o militarismo prussiano em 1914, diz Hitchens. “A política do Kaiser mostra que a Alemanha estava procurando por uma chance de provocar a guerra no mundo inteiro.”

Absurdo. Se o Kaiser estava procurando uma guerra ele a teria encontrado. Mas em 1914, ele estava no poder há 25 anos, entrando na meia-idade, mas nunca havia lutado ou visto uma batalha sequer.

De Waterloo até a Primeira Guerra Mundial, a Prússia lutou três guerra, todas em um período de sete anos, 1864 a 1871. Em consequência destas guerras, ela conquistou dois ducados, Schleswig e Holstein, e duas províncias, Alsácia e Lorena. Em 1914, a Alemanha não havia estado em guerra por duas gerações.

Isto parece ser uma nação que deseja conquistar o mundo?

Quanto ao apoio político do Kaiser aos Boers*, sua iniciativa na crise Agadir** em 1905, sua construção de uma grande frota marítima, sua busca por colônias na África, ele apenas estava imitando os britânicos, cuja aprovação e amizade ele desesperadamente buscou por toda sua vida e lhe sempre foi negado.

* As Guerras Boer foram duas guerras lutadas entre 1880-81 e 1899-1902 entre o Império Britânico e fazendeiros de ascendência holandesa (boers) na África do Sul. Os britânicos instalaram campos de concentração – talvez a primeira iniciativa deste tipo no mundo – onde mulheres e crianças foram aprisionados. Em virtude das péssimas condições higiênicas e fome, cerca de 28.000 boers morreram. Foto de uma criança bôer em estado de inanição.


 
** A Crise Agadir foi o resultado da invasão do Marrocos por tropas francesas que rompeu o Acordo Franco-Alemão de 1909, que terminou a Primeira Crise Marroquina (1905-1906). A posição da Alemanha em apoiar a independência do Marrocos azedou a relação deste país com a Grã-Bretanha e França e ajudou a unir estes dois países numa aliança. Essa crise ajudou a aumentar a escalada de tensão entre as potências europeias e foi um dos motivos para a Primeira Guerra Mundial.

 
Em toda crise, o Kaiser cometeu tolices, incluindo seu idiota “cheque em branco” para a Áustria após os assassinos sérvios matarem o herdeiro do trono austríaco, mas ele voltou atrás ou pelo menos tentou voltar atrás quando a guerra foi deflagrada.

Mesmo Churchill, que antes de 1914 acusava o Kaiser de procurar “o domínio do mundo”, disse que “a história deveria inocentar Wilhelm II de ter planejado e executado a Guerra Mundial.”

O que dizer da Segunda Guerra Mundial? É claro, era necessário declarar guerra para parar Adolf Hitler de conquistar o mundo e conduzir o Holocausto.

Mesmo assim, vamos considerar.

Antes da Grã-Bretanha declarar guerra a ele, Hitler nunca exigiu a devolução de quaisquer territórios perdidos em Versalhes perdidos para o Ocidente. O Schleswig do norte foi dado à Dinamarca em 1919, Eupen e Malmedy foram para a Bélgica, Alsácia e Lorena para a França.

Por que Hitler não exigiria essas terras de volta? Porque ele buscava uma aliança, ou pelo menos amizade, com a Grã-Bretanha e sabia que qualquer movimento sobre a França significaria guerra com a Grã-Bretanha – uma guerra que ele nunca quis.

Se Hitler quisesse conquistar o mundo, por que ele não construiu uma grande frota? Por que ele não exigiu a frota francesa quando a França se rendeu? A Alemanha teve que desistir de sua Frota de Alto Mar em 1918.

Por que ele construiu sua própria Linha Maginot, a Parede Ocidental, na Renânia, se ele realmente queria invadir a França?

Se ele queria a guerra com o Ocidente, por que ele ofereceu a paz após a Polônia e sugeriu o fim da guerra, novamente, após Dunquerque?

Que Hitler era um anti-semita fanático é inegável. O “Mein Kampf” está repleto de anti-semitismo. As Leis de Nuremberg confirmam isso. Mas por seis anos antes da Inglaterra declarar a guerra, não havia Holocausto, e por dois anos após a guerra começar também não havia Holocausto.

Não até a metade do inverno de 1942, quando aconteceu a Conferência de Wannsee, onde a Solução Final foi colocada à mesa.

N. do T.: sobre a importância de Wannsee no relato do Holocausto, há controvérsias.


 
Aquela conferência não foi convocada até Hitler ser parado na Rússia, estar em guerra com os EUA e o sentimento de derrotismo ser inevitável. Então, os trens começaram a rodar.

E por que Hitler invadiu a Rússia? Este escritor cita Hitler 10 vezes como dizendo que somente derrotando a Rússia ele poderia convencer a Grã-Bretanha que ela não poderia vencer e deveria encerrar a guerra.

Hitchens despreza esta visão, invocando a teoria do Hitler maluco.

“Poderia haver melhor definição de desajuste mental e megalomania do que o caso de um ditador que passa por cima de seus próprios generais e invade a Rússia no inverno?”

Chirstopher, Hitler invadiu a Rússia em 22 de junho.

O Holocausto não foi a causa da guerra, mas uma consequência dela. Sem guerra, sem Holocausto.

A Grã-Bretanha foi à guerra contra a Alemanha para salvar a Polônia. Ela não salvou a polônia. Ela perdeu seu império. E Josef Stalin, cujas vítimas ultrapassavam as de Hitler em mais de 1000 para 1 em setembro de 1939, e que se aliou a Hitler na divisão da Polônia, tomou toda a Polônia e todas as nações cristãs, dos Urais até o Elba.

O Império Britânico lutou, sangrou e morreu, e deixou a Europa Central e oriental livre para o Stalinismo. Não é de estranhar que Winston Churchill tenha ficado tão melancólico na velhice. Não é de estranhar que Christopher se volte contra o livro. Como T. S. Eliot observou, “A humanidade não pode suportar muita realidade.”   

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