Tendo sido afastado de seu lar quando os tanques alemães atravessaram a
Criméia em 1942, Folker foi primeiro levado por oficiais da SS para um
instituto médico alemão, onde médicos mediram cada parte de seu corpo,
procurando por qualquer “traço judaico” – por exemplo, circuncisão – antes de
ser declarado apto.
Ele foi selecionado para ser membro do Lebensborn – A Fonte da Vida – o programa de procriação de Himmler
para assegurar o futuro do Reich de Mil Anos ao fornecer gerações futuras
“puras” para substituir aqueles perdidos pela guerra.
Agora, seis décadas depois, Folker Heinecke tornou-se o centro de outras
milhares de crianças Lebensborn, cujas vidas foram destruídas pelo plano de
Himmler. Com a abertura do maior arquivo do Holocausto do mundo no Centro de
Rastreamento da Cruz Vermelha em
Bad Arolsen , Alemanha, Folker finalmente descobriu a verdade.
Os documentos mostram que Folker Heinecke nasceu em 17 de outubro de 1940 como
“Aleksander Litau”, em Alnowa, Criméia, na União Soviética.
Com seus cabelos grisalhos, Folker viajou para a Criméia em 2008. Ele
encontrou uma casa e uma estrada onde os habitantes locais lhe disseram que
vivia uma família chamada Litau. Mas ele não encontrou os túmulos de seus pais.
Mesmo assim, um grupo de camponesas idosas, com suas memórias vagas, lembrou o
dia que os soldados chegaram e levaram embora uma “criança loira linda”. Mas
após a guerra, Stalin enviou milhões de cidadãos russos para os gulags – muitos deles pelo “crime” de
estar no caminho dos alemães. E não havia informação sobre os Litaus.
Eugenia Platônica
O Projeto Lebensborn não pode ser compreendido sem colocá-lo no contexto
maior do movimento eugênico internacional que começou nos anos 1880. O
movimento eugênico foi criado com o surgimento das disciplinas da psicologia e
sociologia, isto é, a questão do por que os seres humanos se comportam de acordo com as
características nacionais, raciais, religiosas, econômicas e de
posição social. Ela também surgiu com a crença de que características
físicas como dimensões anatômicas da cabeça, orgãos genitais e cor dos olhos e
cabelos determinavam o valor da pessoa.
Concomitante a estes fatores estava a crença de que o povo
de Atlantis, como descrito por Platão, era o protótipo do ser humano perfeito e
que através da prática da eugenia seria possível trazer a humanidade de volta
ao estado de perfeição. Os pensamentos de Platão sobre a eugenia e a procriação
de reis filósofos e guardiães para a República podem ser encontrados em sua
obra República, Livro IV.
Platão cita cinco critérios para crianças que devem se
tornar reis filósofos e guardiães da República:
- A raça dos guardiões deve ser “pura”.
- Crianças serão colocadas num cercado e trocadas. As mães cuidarão dos bebês, mas não saberão quais são os seus.
- Crianças de pais inferiores e crianças defeituosas serão tirados de circulação em segredo já que isto será benéfico.
- Meninos e meninas guardiões serão educados como filósofos e guerreiros.
- Crianças serão levadas junto com os cavaleiros para presenciar batalhas e ter o gosto de sangue como cachorrinhos.
Na República, era uma questão de política eugênica que os
pais gerassem crianças para o Estado por um determinado número de anos. As
crianças não eram para realização pessoal ou família, mas eram para a saúde do
corpo político. Após o limite de idade ser atingido, Platão defendia que o
aborto fosse estimulado a qualquer mulher que se ficasse grávida aos quarenta
anos ou tivesse um marido com mais de cinqüenta anos. Era esperado que os pais
fizessem todo esforço para abortar os fetos ou descartar do recém-nascido de
gravidezes de risco se o aborto não fosse bem sucedido.
O pai tinha controle total sobre a vida de sua criança. Patria potestas (“A Lei do Pai”) se
refere ao poder dos pais gregos e romanos de decidir o destino de um feto mesmo
antes de uma criança nascer assim como o da própria criança. Abortar um feto ou
cometer infanticídio não era crime na Grécia antiga. Bebês defeituosos,
deformados ou “nascidos de forma errada” eram levados para fora dos limites da
cidade onde eram deixados morrer de fome. Estes bebês não eram considerados
seres humanos porque um recém-nascido não era uma pessoa humana até seu pai
declará-lo membro da família, o que não era feito até 5 a 7 dias após o nascimento
para crianças saudáveis e até um mês para crianças com problemas.
A Eugenia nos Séculos
XIX e XX
A Eugenia é o estudo do melhoramento hereditário da raça
humana por procriação seletiva. O ponto alto do movimento eugênico aconteceu
entre 1880 e 1950 nos EUA, Inglaterra e Alemanha.
O movimento eugênico teve apoio de muitas correntes
filosóficas. Na Inglaterra, Sir Frances Galton tornou-se interessado nos
padrões de genialidade nas famílias que ele considerava uma característica
herdada. Os estudos de Galton influenciaram grandemente o interesse na
avaliação psicológica e estudos da inteligência humana. Os conceitos de Charles
Darwin de “seleção natural” e “sobrevivência do melhor adaptado” resultaram na
conclusão lógica da perfeição do homo
sapiens. Darwin teorizou, apesar de mais tarde ter repudiado, o que ele
chamou de Síndrome da Adaptação Geral. Esta hipótese dizia que os seres humanos
e a natureza evoluiriam em cada nível em direção de um estado mais perfeito.
Na América, o movimento eugênico foi liderado por duas
pessoas: Margaret Sanger e o Dr. Charles Davenport. A primeira preocupação de
Margaret Sanger com o controle da natalidade originou-se como uma consequência
de seu trabalho em ambientes de pobreza, os quais levaram-na a acreditar que
pessoas “geneticamente inferiores” não deveriam ter filhos e que centros de
controle da natalidade deveriam ser instalados nas vizinhanças empobrecidas. O
Dr. Charles Davenport, eugenicista e zoólogo na Universidade de Chicago,
acreditava que era possível melhorar características morais “dentro” e “fora”
da espécie humana. Consequentemente, ele era vigorosamente contra a imigração
porque ele acreditava que os imigrantes eram geneticamente inferiores.
A Eugenia Nazista
Desnecessário dizer que Adolf Hitler, Heinrich Himmler e
Josef Goebbels estavam muito interessados no campo emergente da eugenia.
Os nazistas criaram leis que refletiam seu objetivo de
transformação da sociedade pela eliminação de elementos indesejáveis através de
leis de regulamentação do casamento e preservação da raça. Estas leis tinham um
duplo propósito: primeiro “purificar” a raça ariana e segundo erradicar a
“inferior” raça dos judeus.
A questão para os nazistas era “quem é judeu?” A regra do ¼
era extensivamente aplicada da seguinte forma: “alguém que é descendente de um
ou dois avós que, racialmente, eram judeus completos, definido como aqueles que
pertenceram à comunidade religiosa judaica.” Assim, em 1933 leis começaram a
eliminar os direitos legais dos judeus e as Leis de Nuremberg de 1935
eliminaram não somente a cidadania judaica, mas também o acesso à Justiça e às
propriedades. O termo Judenrein
significa “livre de judeus” e em 1935 uma lei foi criada proibindo o casamento
entre judeus e alemães étnicos. Esta lei deveria terminar a contaminação do
sangue alemão.
Entretanto, as leis de casamento e raça também incluíam uma
lei favorável aos casais alemães. A lei de impostos de 1933 estipulava que
casais alemães poderiam conseguir um empréstimo que era pago a uma taxa de 25% para
cada nova criança nascida. Entretanto, dificuldades do governo e outros fatores
sociais levaram ao fracasso da iniciativa de se conseguir grandes famílias.
O Projeto Lebensborn
A Sociedade Fonte da Vida (Lebensborn
Eingetragener Verein) foi criado por Himmler em 12 de
dezembro de 1935, em resposta à taxa declinante de nascimentos na Alemanha. A
proposta da SS era reforçar a doutrina nazista e os ideais anti-semitas. Em uma
palestra de Himmler para a Wehrmacht em janeiro de 1937, ele citou o credo da
SS:
Temos um inimigo
ideológico... o Bolchevismo liderado pela Judiaria internacional e pela
maçonaria... todos os Estados e povos que são dominados ou estão sob forte
influência da Maçonaria e dos judeus eventualmente tornar-se-ão hostis à
Alemanha e criarão um perigo para nós. O Bolchevismo é uma organização de
subumanos, é a fundação absoluta do domínio judaico, é o exato oposto de tudo o
que os povos arianos amam, saúdam e valorizam. É um estilo diabólico, pois
apela aos instintos mais baixos e malvados da humanidade e transforma-os em religião. Seu
objetivo é a destruição do homem branco.
Somos mais valorosos
que os outros que podem ser agora e sempre serão mais numerosos. Somos mais
valorosos porque nosso sangue nos permite ser mais inventivos que os outros,
liderar nosso povo melhor do que os outros. Pois temos os melhores soldados, os
melhores cidadãos, uma cultura mais nobre e um caráter melhor.[1]
Como Oberführer do projeto Lebensborn, Ebner era o
responsável pela Casa Steinhöring Lebensborn, que foi a primeira instalação do
projeto. Neste local, ele presenciou o nascimento de 3.000 crianças e realizou
experiências reprodutivas em
mulheres. Sua outra responsabilidade era determinar quais
crianças de países ocupados satisfaziam os critérios para a “Germanização”.
Ebner foi capturado no fim da guerra e julgado por crimes contra a humanidade,
crimes de guerra e associação com organização criminosa em Nuremberg. Ele foi
absolvido de crimes contra a humanidade e crimes de guerra, mas considerado
culpado por pertencer a organização criminosa. Ele foi libertado após algum
tempo e morreu em 1974, ainda acreditando que o Lebensborn era a salvação para
a raça alemã.
O Projeto Lebensborn tinha dois objetivos principais. O
primeiro era a criação de crianças alemãs “racialmente puras”, que deveriam ser
o próximo passo para o avanço da raça ariana. Para atingir esse objetivo, jovens
mulheres, que eram “racialmente puras”, foram selecionadas para serem
engravidadas por oficiais da SS e dar á luz a uma criança em segredo. Estas
mulheres tinham que passar por vários dias de testes físicos e psicológicos
para serem aceitas como mães Lebensborn.
Escola de "noivas" para o Lebensborn
As crianças geradas por estas uniões eram dadas à SS, que
cuidaria de sua adoção e educação. Entretanto, Himmler chegou à conclusão que
este processo era muito demorado para fornecer o número de arianos necessários
para construir o Terceiro Reich. Para resolver isto, ele instituiu uma política
de sequestro de crianças que tinham características nórdicas (teutônicas) nos
países ocupados pelos nazistas.
A aceitação era definida com base na medida de 62 partes do
corpo. Os testes incluíam: cor dos olhos e cabelos, formato do nariz e lábios,
dedões dos pés e unhas, condições dos órgãos genitais e testes neurológicos. A
desqualificação automática incluía: imundice persistente, incontinência
urinária, flatulência, onicofagia (roeção de unhas) e masturbação. Os pais das
crianças selecionados para “germanização” eram avisados que seus filhos seriam
enviados à Alemanha para tratamento de saúde.
O segundo objetivo do projeto Lebensborn era constituído de
três elementos:
- Despovoar os países ocupados, de modo que eles fossem mais facilmente pacificados.
- Despovoar as próximas gerações para minimizar a resistência à ocupação.
- Despovoar para satisfazer as necessidades laborais e de terra dos nazistas.
O Projeto Lebensborn operava orfanatos em todos os países
ocupados e estava à cargo da “reeducação” das crianças. O Ministério do
Interior fornecia a posição legal à Sociedade Lebensborn, conferindo a ela registro
civil e guarda permitindo à organização a emissão de certificados de nascimento
oficiais com locais e datas de nascimento e nomes falsos.
O esforço de Himmler para garantir uma Alemanha racialmente
pura, o fato do Lebensborn ser um dos
programas raciais de Himmler e o jornalismo sensacionalista sobre o assunto nos
primeiros anos após a guerra levou a opiniões equivocadas sobre o programa. O
principal erro foi que o programa envolvia procriação coerciva. As primeiras
estórias de testemunhas que o Lebensborn
era um programa coercivo podem ser encontradas na revista alemã Revue, que publicou uma série de
reportagens sobre o assunto nos anos 1950. O filme alemão Der Lebensborn de 1961 mostrou que garotas eram obrigadas a se
relacionar nos campos nazistas.
Entretanto, o programa objetivava o crescimento da população
ariana, através do encorajamento da relação entre soldados alemães e mulheres
nórdicas nos territórios ocupados, e o acesso ao Lebensborn estava restrito às políticas eugênicas nórdicas e
raciais do nazismo, que podem ser entendidas como procriação seletiva
supervisionada. Registros recentemente descobertos e testemunhos em andamento
das crianças do Lebensborn – e alguns
de seus pais – mostram que alguns membros da SS geraram crianças no programa Lebensborn de Himmler. Isto foi, de
fato, comentado dentro da Alemanha na época.
Com a derrota dos nazistas, o projeto, criado em segredo,
permaneceu desconhecido da maioria dos alemães até recentemente. Para as
mulheres alemãs que tornaram-se mães através do Lebensborn, acreditando em seu
ato patriótico, deve ter sido uma experiência agonizante ter que conciliar uma
“causa nobre” para a qual foram recrutadas com a derrota e a conseqüente
humilhação da Alemanha. Aquelas mulheres foram verdadeiras crentes, assim como
os oficiais da SS que as engravidaram. Após a guerra, muitos dos oficiais
estavam mortos e aqueles que estavam vivos negaram seu passado nazista.
O Lebensborn Polonês
Começando em 1939, crianças definidas como “racialmente
boas” foram seqüestradas nos países ocupados do leste, principalmente a
Polônia. Estas crianças eram levadas para os centros Lebensborn na Alemanha para serem “germanizadas”. As crianças
“germanizadas” eram adotadas por famílias com membros na SS e outros casais
simpatizantes do nazismo.
A Polônia foi dividida em três partes. A primeira parte, a
seção oriental, foi para a União Soviética, que era o aliado da Alemanha no
começo da guerra. A segunda parte, a Polônia Central, foi chamada de “governo
central”, que era administrada como uma fonte de recursos humanos para as
necessidades alemãs de mão de obra. A terceira parte, as terras agriculturáveis
do norte, foram chamadas de Warthegau
e incorporadas ao Terceiro Reich.
Esta área foi “limpa” de judeus e poloneses, a língua nativa
proibida e os nomes das ruas convertidos para o alemão. No verão de 1941, a área foi ocupada
por 200.000 alemães étnicos. Todas as crianças nesta área com “aparência nórdica”
encontradas em orfanatos ou casas de adoção foram supostas serem alemãs e
evacuadas para as instituições educacionais Lebensborn
na Alemanha.
Em um documento secreto de 1939, Himmler escreveu: “A
primeira condição para o gerenciamento de crianças racialmente valiosas é o
completo rompimento com todas as ligações com seus parentes poloneses. As
crianças receberão nomes alemães de origem teutônica. Suas certidões de
nascimento e hereditariedade serão preenchidas por um departamento especial.”
Em outro documento secreto de maio de 1940, Himmler
escreveu: “Temos fé acima de tudo no nosso sangue, que tem corrido em uma
nacionalidade estrangeira em virtude das vicissitudes da história alemã.
Estamos convencidos que nossa própria filosofia e ideais reverberarão no
espírito destas crianças que racialmente nos pertencem.”[2]
O homem escolhido para organizar este rapto em massa de
crianças polonesas foi o tenente-general Ulrich Greifelt, que era chefe do
escritório central da SS na Polônia. O general Greifelt escreveu em 1941:
“Cuidado especial deve ser tomado para garantir que o termo ‘germanização’ de
crianças polonesas não chegue ao conhecimento público. As crianças polonesas
deveriam ser descritas como órfãos alemães dos territórios orientais
reconquistados.” No inverno de 1941, por ordem secreta assinada pelo general
Greifelt, o processo de rapto de crianças polonesas para o Projeto Lebensborn começou.
Eventualmente, todas as crianças polonesas com idades entre
2 e 12 anos foram examinadas e separadas em duas categoriais: “com valor
racial” ou “sem valor racial”. As crianças “com valor racial” foram enviadas à
Alemanha para serem “germanizadas”. Dentro deste grupo, crianças com idades
entre 6 e 12 anos eram disponibilizadas a casais sem filhos após a adaptação
nas instalações do Lebensborn.
O Lebensborn
Norueguês
Em 1942, como represália ao
assassinato de Heydrich (governador das SS) em Praga, uma unidade das SS
exterminou toda a população masculina numa pequena localidade chamada Lídice.
Durante esta operação, alguns funcionários das SS realizaram a seleção
de crianças. De todas as crianças, 91 foram consideradas passíveis de serem germanizadas
e enviadas para a Alemanha. As restantes foram enviadas para campos de
concentração especialmente feitos para crianças (como Dzierzazna e
Litzmannstadt).
Na Noruega, o governo exilou-se e
uma administração fantoche sob o comando de Vidkun Quisling assumiu o poder.
Este governo apoiou o projeto Lebensborn
e clamou às mulheres norueguesas para se tornarem grávidas em seus lares. Está
documentado que pelo menos 8.000 crianças foram geradas pelos nazistas na
Noruega em virtude do Lebensborn – na
Alemanha, por exemplo, foram entre 3.500 e 4.000 crianças.
As crianças do Lebensborn
norueguês tornaram-se objeto de tremendo ódio, discriminação e maus tratos após
a guerra. Elas foram classificadas pelo governo como “ratos” e “filhos da puta”
nazistas. Muitos foram enviados para manicômios e prisões juvenis. O governo
inclusive tentou enviar 8.000 crianças para a Austrália, apenas para se livrar
delas. As taxas de suicídios entre as crianças do Lebensborn eram 20 vezes mais
altas do que a da população normal, e o alcoolismo, uso de drogas e
criminalidade era grande. Eles foram proibidas de educação pública e faziam
parte das classes mais baixas da sociedade. Agora, velhos, alguns acabaram como
mendigos.
Pior do que as crianças foi o
tratamento dispensado às mães delas. Após a guerra, muitas foram arrastadas à
rua, despidas, surradas e suas cabeças raspadas. Isto não era específico de um
momento, podia acontecer a qualquer hora. Poderia mesmo acontecer durante uma
caminhada na rua e ser reconhecida como uma mãe Lebensborn. Elas foram proibidas ajuda governamental e nenhum homem
“respeitável” queria envolvimento com elas. A maioria não conseguia sequer
encontrar um trabalho decente e viveram como prostitutas e na pobreza.
Muitas delas, chamadas
“prostitutas alemãs” foram enviadas a campos de concentração secretos, onde se
tornaram praticamente escravas. Testemunhas e documentos dizem que elas foram
obrigadas a usar LSD, mescalina e outras substâncias durante experimentos
conduzidos pelo exército norueguês. A ironia dsto tudo é que, dado o que
aconteceu com os judeus, está além da compreensão.
Talvez o exemplo mais conhecido
de descendente de mãe norueguesa e pai alemão seja Anni-frid Lyngstad, a
cantora morena do grupo pop Abba. Ela e sua família fugiram da perseguição do
pós-guerra mudando-se para a Suécia, onde sua estória não era conhecida.
Outros, menos afortunados, foram surrados e estuprados.
Harriet Von Nickel, nascida na
Noruega em março de 1942, sofreu anos de abuso após sai mãe concordar em ter
uma criança com um oficial alemão como parte do programa. Após ter sido adotada
no final da guerra, ela foi acorrentada como um cachorro num quintal. Quando
completou seis anos de idade, ela foi jogada no rio por um homem de sua vila,
que disse que ele queria ver se a bruxa afundava ou flutuava. Quanto ela
completou nove anos, ela foi marcada com uma suástica na testa feita com um
prego.
“A estigmatização e a vergonha
eram tão grandes que levou 50 anos para apresentar-se,” disse Gerd Fleisher,
cujo pai era oficial alemão. O pai de Gerd fugiu para a Alemanha após a guerra
e ele teve que enfrentar anos de violência quando sua mãe casou-se com um membro
da resistência norueguesa. Seu novo “pai” detestava os alemães e descarregou
seu ódio em Gerd.
Documentos também mostram que as
crianças Lebensborn foram estupradas, com a anuência de funcionários e outros
internos dos hospitais psiquiátricos pelo crime de ter pais alemães. Padres
recomendavam que as crianças fossem esterilizadas para preveni-las que
crescessem como nazistas e travassem guerras nos anos seguintes.
Entre os milhares de episódios tenebrosos, temos o de Gerd
Andersen, também da Noruega, que foi sexualmente abusado em frente da turma
inteira, enquanto seu amigo, Karl Zinken, foi colocado numa escola para
crianças retardadas, onde foi estuprado.
Em 2008, um grupo de Lebensborn lançou uma ação legal no
Tribunal Europeu de Direitos Humanos, exigindo uma compensação entre £50.000 e £200.000.
O pedido foi indeferido; foi oferecida a eles uma indenização de £2.000.
Fontes
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