sábado, 19 de janeiro de 2013

[POL] A Estrutura do Estado Nacional Socialista

O Governo na República de Weimar

Antes de Hitler, a Alemanha era governada de acordo com a constituição mais democrática já escrita. O povo alemão elegia diretamente seu presidente, representantes no Reichstag (Parlamento Central) e representantes no Reichsrat (Assembleia dos Governantes Locais). O Reichsrat poderia dar consultoria e rejeitar novas leis, mas ele podia ser sobrepujado pelo Reichstag. O presidente poderia indicar um Chanceler e dissolver o Reichstag no sentido de convocar novas eleições. Ele comandava o Exército e, em uma emergência, poderia governar por decreto. O Chanceler propunha leis ao Reichstag e era invariavelmente a pessoa que o presidente sentia ser o mais capaz para estabelecer a cooperação entre os vários partidos do Parlamento. Em todas as suas decisões, o presidente era ajudado por seu Gabinete, um grupo de consultores experientes.

Além disso, a Alemanha era dominada pelos latifundiários autocratas (Junkers). Seus interesses eram representados no Reichslandbund, veementemente anticomunista e extremamente poderoso – a influência deste grupo sobre Hindenburg teve uma grande contribuição na queda do Chanceler Schleicher e na sua substituição por Hitler.

É também significativo que os junkers dominavam o Exército, o Reichswehr; três de cinco generais eram aristocratas. O Exército era neutro na República de Weimar, Hitler apontou Von Blomberg como Ministro da Defesa em 30 de janeiro de 1933 para conseguir apoio político. Entretanto, Blomberg também queria que o Exército permanecesse neutro e independente do Partido Nazista. A partir daí, um grande atrito foi gerado e que culminou com a demissão do general em 1938.

Menos poderosos que os junkers eram os industriais capitalistas: as famílias Krupp, Loewe, Wolfe, Kirdorf, Flick e Mercedes-Benz que controlavam as indústrias siderúrgica, carvão, aço, armamento, química e automobilística.

A velha burocracia do Serviço Público também tinha o seu destaque. Ele havia crescido em poder durante o período quando o governo foi conduzido por decreto presidencial, sob o Artigo 48 da Constituição de Weimar. Estes servidores públicos eram geralmente autocratas de direita, mais ligados ao DNVP (Partido Popular Nacional Alemão) do que ao NSDAP, e esperavam que o governo continuasse nesse estilo não-parlamentarista.

A Estrutura do Governo Alemão a partir de 1933

É importante salientar que a chegada de Hitler ao poder foi uma revolução legal e sem violência. Assim, as estruturas de poder existentes permaneceram as mesmas quando Hitler foi nomeado Chanceler. Dado o conservadorismo característico das elites alemãs da época, as políticas de Hitler, pelo menos inicialmente, tiveram que ser cuidadosas e disfarçadas por uma cobertura legal para manter as alianças com os interesses conservadores na política, negócios e Exército.

Entretanto, no final de 1934, a democracia já havia sido destruída e substituída por uma ditadura com Hitler como líder supremo (Führer). Apesar da Alemanha Nazista ser um regime totalitário, existe muito debate histórico sobre a verdadeira natureza da estrutura governamental.

A Visão Tradicional

Esta visão mantém que a administração do Terceiro Reich era compacta e estruturada cuidadosamente, com Hitler com o controle total de todo o processo. Ela também defende que o Terceiro Reich era um modelo de eficiência, com um sistema de governo totalmente nazificado.

A Alemanha Nazista costuma ser vista, junto com a Rússia de Stalin, como um caso clássico de regime totalitário.

Analistas afirmam que o povo se sentia atraído por Hitler e seu regime porque ele era visto e percebido como bem organizado.

O desejo do Führer era lei, assim, não existia espaço para um poder formal ou estrutura de tomada de decisão.

A Visão Revisionista

Historiadores mais recentes (desde os anos 1960) mostraram que a realidade da estrutura governamental de Hitler era caótica, ao invés de ordenada.

Hitler não destruiu o sistema de governo existente em 1933/34, mas construiu um novo no topo da velha estrutura. O Ministro do Interior, Wilhelm Frick, esboçou esquemas para uma grande reforma administrativa, mas Hitler não estava interessado em desenvolver algo mais coerente. O resultado foi um caos administrativo, como instituições redundantes (ao nível nacional e local) com funções duplicadas, e falta de um limite de responsabilidade que levava mormente ao conflito.

Esta forma de governo é conhecida como policracia. Ela também é descrita como feudal, já que os líderes nazistas juravam lealdade total a Hitler. Cada líder (nível) competia para conseguir a atenção do Führer. Como retribuição, ele permitia a cada líder construir suas próprias estruturas de poder, especialmente Göring, Himmler e Goebbels.

O Estado Nazista

O Estado Nazista não era certamente uma estrutura monolítica: o poder estava dividido entre muitos sistemas diferentes redundantes e competidores. A figura 1 mostra um organograma dessa estrutura.
 
 
Figura 1

 
Williamson afirma que “Hitler não tinha um esboço imediato para construir um Estado Nazista específico em 1933... (ele) apenas pegou o Estado existente e também ocupou as posições-chaves locais e nacionais com nazistas ou garantiu que elas estivessem em mãos seguras.”

Mantendo as Estruturas Existentes

Instituições como o Reichstag e o Gabinete do Reich continuaram a existir, mas eram virtualmente inúteis. Hitler não tinha nenhum interesse em promover reuniões de gabinete; em 1933, foram 72, em 1936, apenas 6.

O corpo administrativo principal era a Chancelaria do Reich, que assumiu a coordenação da política do gabinete. Ela esboçou a maior parte das leis e regulava a aprovação da legislação. Entretanto, ela não era correta: em um momento havia 5 departamentos na Chancelaria afirmando representar Hitler. Havia um grande contraste na representação da Chancelaria do Reich em Berlim (1938): ela estava instalada em um novo prédio que simbolizava ordem e poder, embora seu interior vivesse no caos. Entretanto, Lammars, Chefe da Chancelaria, controlava o acesso a Hitler.

O Serviço Público permaneceu em grande parte intacto, principalmente porque:

a) era profissional e eficiente e foi inicialmente protegido da interferência partidária pelo Ministro do Interior Frick.

b) Hitler não queria colocar em risco seu compromisso com as elites tradicionais, as quais sustentavam seu regime.

c) O partido era inicialmente muito radical, descontrolado, dividido e inexperiente para competir com o serviço público. O poder dos membros do partido também declinou à medida que a filiação aumentou rapidamente na primeira metade de 1933.

d) Hitler não queria perder tempo e energia reconstruindo o serviço público, já que seus objetivos principais eram a luta contra o desemprego e o rearmamento.

Com o tempo, o serviço público continuou a existir, apesar de estar sujeito a uma “revisão” sincronizada com o objetivo nazista de coordenação (Gleichshaltung):

  • Judeus e dissidentes políticos foram expulsos pela Lei de Restauração do Serviço Público Profissional (1933).
 
  • A filiação partidária tornou-se compulsória a partir de 1939. Gradativamente, o serviço público tornou-se subordinado à máquina partidária. Sua função tornou-se a implantação e execução dos decretos do governo.

  • O serviço público tornou-se progressivamente menos eficiente à medida que tornou-se dominado pelo NSDAP; a burocracia aumentou porque os nazistas eram viciados em papel.

  • Finalmente, ele ficou enfraquecido com a criação de novas agências reguladoras que assumiram as responsabilidades anteriormente mantidas pelos departamentos do serviço público.

Governo Local

O governo regional foi afetado pelos mesmos fatores de ineficiência, confusão e autoridades redundantes como o governo central.

Cada uma das Lander (regiões) reteve seu tradicional Presidente-Ministro. Após a legislação de 1934, os poderes autônomos das legislaturas estaduais foram eliminados e o Presidente-Ministro tornou-se subordinado ao Ministro do Interior.

Entretanto, sua autoridade foi diminuída pela dos 10 governadores do Reich (um departamento de Estado). Estes 10 governadores eram selecionados entre os Gauleiters mais importantes do partido. (Apenas para deixar claro, como parte da reorganização do partido entre 1924 e 1929, o NSDAP dividiu a Alemanha em Gaue, ou regiões. Cada região era administrada por um Gauleiter; basicamente diretores de departamento do partido, responsáveis por todas as atividades políticas e econômicas, defesa civil e mobilização de trabalho dentro de um distrito. O Gauleiter controlava todas as Células de grupos distritais e líderes locais, criando uma cadeia vertical de comando do Gaue para Hitler. Apontando os 10 Gauleiters mais influentes para assumir funções era um meio de premiar a lealdade e coordenar os departamentos do partido e Estado.) O trabalho dos governadores do Reich era garantir que as políticas de Hitler estavam sendo totalmente implantadas. Entretanto, a ausência de linhas de demarcação claras entre as funções dos Gauleiters e dos Presidentes-Ministros levavam frequentemente a conflitos.

Instituições Auxiliares

Enquanto Hitler continuou com a prática tradicional de ter departamentos governamentais chefiados por ministros individuais, ele também indicou agências especiais para realizar certas funções, e.g. Departamento do Plano Quadrienal (1933). Estes departamentos se sobrepunham e entravam em conflito com as instituições estatais tradicionais como defesa, economia e trabalho. Por exemplo:

  • A Inspetoria Geral para as Estradas Alemãs interferia com algumas das funções do tradicional Ministério dos Correios e Transporte.

  • O Líder da Juventude Hitlerista tinha algumas funções semelhantes ao do Ministro da Educação.

  • O Ministro da Propaganda competia com o Ministro para os Territórios Ocupados em relação à Visão de Mundo nazista (Weltanschauung), com o Secretário de Imprensa e com o Departamento de Censura.  

Instituições auxiliares foram também usadas para contornar os sistemas de tribunais e legais tradicionais. Os tribunais já estabelecidos continuaram, mas foram gradativamente superados pelo novo Tribunal Popular e pelos Tribunais Especiais criados em março de 1933. Advogados foram “convertidos” pela Frente de Advogados Alemães. O novo código penal ordenava que os juízes agissem “de acordo com a vontade popular.” A lei existente foi enfraquecida e ações arbitrárias foram tomadas pelas autoridades fora do contexto da lei.” Mesmo dentro dos tribunais, à medida que novas leis eram criadas por decreto, ao invés de serem aprovadas no Reichstag, o processo legal tornou-se gradativamente interpretativo – interpretação sincronizada como os valores nazistas, é claro.

Instituições Partidárias

É interessante notar que, apesar do fato do Nazismo ser um sistema de partido único, o Partido não assumiu, de fato, o controle das estruturas pré-existentes, ao invés disso operando ao lado delas e copiando as funções. Isto aconteceu mesmo com a Lei de Garantia da Unidade do Partido e Estado de 1933, que fez muito pouco para esclarecer a relação entre os dois. Isto pode ser porque em 1933, o partido estava muito dividido e faltava-lhe habilidade administrativa para criar um Estado Nazista apropriado, de modo que sistema duplo acabou prevalecendo.

Por outro lado, podemos argumentar que Hitler estava perseguindo uma iniciativa cuidadosa para garantir o apoio das elites tradicionais, cujo compromisso ele dependia inicialmente. O processo de Gleischchaltung poderia ser interpretado, portanto, como o movimento gradual em direção da homogeneidade do governo, administração e processos legais e judiciais desde o início.

Por exemplo, órgãos partidários como a Juventude Hitlerista, RAD, DAF, KdF, etc. foram estabelecidos inicialmente para substituir, marginalizar ou contornar agências públicas ou privadas. Na época, agências não-nazistas foram abolidas:

  • Os sindicatos foram abolidos em 2 de maio de 1933 e substituídos pelo DAF (Frente de Trabalho Alemã), liderado por Robert Ley.

  • A associação à Juventude Hitlerista tornou-se compulsória em 1936. A presença de jovens nos encontros atingiu 80% em 1939.

Alternativamente, dado que muitas instituições do partido e Estado continuaram a coexistir no período nazista, podemos interpretar esta duplicidade como uma ação deliberada de Hitler. Como Evans e Jenkins sugeriram, “Hitler permitiu esta confusão porque a única força unificadora era a obediência à sua pessoa.” Darwinismo social em ação.

Finalmente, enquanto tecnicamente agências do partido, havia um número de departamentos que podiam ser vistos como outra camada de pessoal que estavam fora do escopo tanto dos ministérios normais quanto dos corpos paralelos. Estes incluíam o Departamento do Vice-Führer e o complexo SS/Gestapo/SD sob o comando de Himmler.

Inicialmente, o corpo de guarda-costas pessoal de Hitler, a SS, liderado por Heinrich Himmler cresceu e tornou-se o bloco mais poderoso na ditadura. A organização era administrada por Oswald Pohl. A SS (Schutzstaffel) pode quase ser vista como “um Estado dentro do Estado” a partir de 1939 (isto é um argumento aceito generalizadamente).

A SS representava a pureza racial e ideológica nazista e foi o principal instrumento do Estado de Terror.


http://www.schoolhistory.co.uk/

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