domingo, 27 de janeiro de 2013

[POL] O Fascismo é inerentemente Anti-Semita?

Nicholas Farrell, 02/09/2012

 
O fascismo é imaginado ser intrínseca e violentamente anti-semita, e os fascistas queriam exterminar os judeus, certo? Errado. Estes eram os Nacional Socialistas.

O historiador e jornalista alemão Emil Ludwig, que escreveu um livro fascinante sobre Mussolini em 1932 baseado em uma série de longas entrevistas com o Duce, notou:

Indubitavelmente, nenhum inglês ou russo contemporâneo teve comigo tanta compreensão simpática em relação aos judeus quanto Mussolini.

Ludwig, cujo sobrenome original era Cohn, era judeu e escreveu essas palavras em 1946 na introdução de uma nova edição de seu livro “Bate-papo com Mussolini.” Em outras palavras, ele as escreveu com percepção tardia: a Segunda Guerra Mundial havia acabado e os horrores do Holocausto eram revelados.

Foi somente após a aliança fatal da Itália com a Alemanha Nazista no final dos anos 1930 que o fascismo italiano tornou-se anti-semita, mas mesmo então ele não tinha planos de exterminar os judeus. Até então, os 50.000 judeus italianos estavam bem integrados e muitos fascistas da velha guarda eram judeus.

 Ettore Ovazza, banqueiro e empresário judeu entrou para o Partido Fascista em 1926

 
Marguerita Sarfatti, a principal amante de Mussolini até os anos 1930, era judia. Filha de uma rica família veneziana, Sarfatti encontrou Mussolini em Milão antes da primeira Guerra Mundial quando ele era uma celebridade revolucionária socialista. Ela escreveu artigos sobre arte para o jornal do Partido Socialista Avanti!, que Mussolini editava.

Ela o seguiu quando Mussolini abandonou o Partido Socialista Italiano em 1914. Mas ele não abandonou a ideologia, pois o partido queria que a Itália permanecesse neutra, que ele percebeu forçaria-a a ser um coadjuvante, ao invés da protagonista. E quando ele fundou o fascismo como um movimento revolucionário alternativo de centro-esquerda em 1919, ela tornou-se uma das chefes de propaganda, escrevendo a primeira biografia dele após a tomada do poder em 1922. Intitulado DUX em italiano, este livro brilhante, mas bajulador foi publicado primeiro em inglês em 1925 e tornou-se um Best-seller internacional traduzido para 20 línguas.

Os fascistas italianos não eram mais ou menos anti-semitas ou racistas do que os europeus médios daqueles dias.

Em 1920, Winston Churchill escreveu um artigo no Illustrated Sunday Herald sobre os três tipos de judeus – dois bons e um mau – judeus “nacionalistas” que eram patriotas, judeus “Sionistas” que queriam criar Israel e os judeus “internacionais”, que incluíam os líderes comunistas e eram maus porque atrás deles estava “uma conspiração mundial para a destruição da civilização.”

Até Mussolini aliar-se a Hitler no final dos anos 1930, não havia nada a respeito do fascismo italiano que pudesse ser relacionado ao anti-semitismo. Para o mesmo Ludwig, Mussolini disse em 1932:

É claro que não existem raças puras; nem mesmo os judeus mantiveram seu sangue intacto. Cruzamentos bem sucedidos sempre promoveram a energia e a beleza de uma nação. Raça! Ela é um sentimento, não uma realidade; noventa e cinco por cento, pelo menos, é um sentimento. Nada me fará acreditar que raças biologicamente puras possam existir hoje em dia. É engraçado que nenhum destes que vivem proclamando a “nobreza” da raça teutônica era, ele próprio, um teutão... o anti-semitismo não existe na Itália. Os italianos de origem judaica têm se mostrado bons cidadãos e eles lutaram bravamente na guerra.

N. do T.: O texto completo está aqui:


 
Mesmo assim, em setembro de 1938, ao mesmo tempo que Mussolini estava sendo anunciado como um anjo da paz em virtude do Acordo de Munique, o qual supostamente garantiria “paz para o nosso tempo,” ele introduziu leis anti-semitas na Itália.

Enquanto a Alemanha nacional socialista sempre foi anti-semita, a Itália fascista não. Nem era inevitável que a Alemanha Nazista e a Itália Fascista, apesar de compartilharem ódio comum do capitalismo e comunismo, se tornassem aliados militares. Pelo contrário. A anexação de Hitler em março de 1938 da Áustria – que faz fronteira com a Itália e dá acesso aos Balcãs – ultrajou e também amedrontou Mussolini. Por outro lado, sua própria invasão em 1935 da Abssínia (N. do T.: atual Etiópia) causou uma deterioração perigosa em suas relações com a Grã-Bretanha e França, fazendo com que procurasse vantagem em outro lugar.

O estreitamento dos laços entre nazista e fascistas italianos não foi a razão pela qual Mussolini introduziu suas leis anti-semitas, mas eles foram o catalisador.

O motivo tinha raízes profundas.

O inimigo número um de Mussolini, tanto como socialista como fascista, sempre foi a burguesia. Isto incluía os comunistas russos, que ele definia como capitalistas de Estado. Os judeus, ele chegou a acreditar, eram seu epítome. Seu anti-semitismo difundiu-se não por ódio à raça judia, mas da mentalidade judaica cujo espírito anti-fascista era o maior obstáculo à “fascistização” (fascistizzazione) da Itália. Mas um judeu sempre poderia renunciar à sua fé.

O anti-semitismo de Hitler, por outro lado, era uma coisa biológica: uma vez judeu, sempre judeu.

As leis anti-semitas de Mussolini foram terríveis porque elas transformaram os judeus italianos em cidadãos de segunda classe. Mas a ideia de Mussolini construir campos de extermínio com câmaras de gás para os judeus é inconcebível.

Nenhum judeu foi enviado para os campos de extermínio nazistas a partir da Itália, ou dos territórios ocupados pelos italianos (França, Iugoslávia e Grécia), até após a queda de Mussolini pelo rei da Itália, Vittorio Emanuele III, em julho de 1943, seguindo a libertação da Sicília.

Mussolini retornou ao poder no norte da Itália em novembro de 1943 como chefe da República Socialista de Saló, mas ele era realmente um fantoche de Hitler.

Os fascistas na parte da França ocupada pelas forças italianas até setembro de 1943, salvaram ativamente milhares de judeus, muito mais do que o bom nazista do filme “A Lista de Schindler” de Steven Spielberg. Mas eles não os salvaram dos alemães – eles os salvaram da República de Vichy que mal esperava enviar os judeus para os campos nazistas!

Entre setembro de 1943, quando os nazistas ocuparam a Itália, e abril de 1945, um total de 8.500 judeus (cerca de 17% do total na Itália) foram presos na Itália e deportados para os campos de extermínio nazistas. Aproximadamente 7.680 deles morreram. Os nazistas ordenaram suas prisões para deportação e soldados alemães efetuaram as prisões, apesar de fascistas italianos algumas vezes colaborarem.

Às vezes, fico pensando: poderia Mussolini ter evitado a sua aliança fatal com Hitler e permanecer neutro na Segunda Guerra Mundial e quais seriam suas consequências?

O General Francisco Franco, o ditador nacionalista da Espanha, fez isso e sua ditadura sobreviveu até sua morte em 1975.

Mas a Espanha não é a Itália e Mussolini não era Franco. A Espanha, diferentemente da Itália, havia saído de uma guerra civil devastadora. E a posição geográfica da Itália no coração do Mediterrâneo tornou a neutralidade muito mais difícil. Em ambas as guerras, a Itália permaneceu neutra por nove meses cada vez.

Mussolini não foi movido apenas pela ganância, mas pelo medo também. Por um bom motivo. Se ele tivesse permanecido neutro, Hitler, tenho certeza, teria tomado a parte norte da Itália ao nordeste do Lago Garda até os Alpes, e aquelas nações Bálcãs, que haviam sido parte até 1918 do Império Austríaco. Não obstante, a Itália poderia ter permanecido neutra e fascista após a guerra, apesar de que após algum tempo certamente teria havido uma guerra civil, como aconteceu na Espanha, que Mussolini poderia muito bem ter ganho. E temos também outra hipótese: se a Itália tivesse permanecido neutra, Hitler não teria atrasado de forma fatal sua invasão da Rússia em 1941 para resolver a confusão em que os italianos se meteram na sua invasão da Grécia, evitando assim que a Europa e a América fossem poupadas da Guerra Fria!

 
Nicholas Farrell, formado na Universidade de Cambridge, vive na Itália, onde é colunista da Libero e da La Voce di Romagna. Ele foi repórter do Sunday Telegraph em Londres antes de se mudar para paris em 1997 para escrever um livro sobre a morte da Princesa Diana e para a Itália em 1998 para escrever uma biografia de Benito Mussolini.

Um comentário:

Anônimo disse...

Exatamente! Mussolini nunca foi anti-semita, isso foi coisa inventada pela imprensa e gente mal-intencionada de modo a denegrir a imagem do Duce. Assim como Nieztsche também não era anti-semita, muito pelo contrário. Ele era radicalmente contra o racismo ridículo que imperava na Alemanha do século 19. E sabe-se lá porque, os nazistas sempre demonstraram admiração por ele.