A Segunda Guerra Mundial começou, pelo menos no “teatro europeu”, com o rolo compressor do Exército alemão passando pela Polônia em setembro de 1939. Cerca de seis meses depois, vitórias mais espetaculares ainda seguiram-se, desta vez nos Países Baixos e na França. No verão de 1940, a Alemanha parecia invencível e predestinada a dominar o continente europeu indefinidamente. (A Grã-Bretanha recusou-se a jogar a toalha, mas não esperava ganhar a guerra sozinha, e tinha medo de que Hitler voltasse seus olhos para Gibraltar, Egito e/ou outras joias da coroa do Império Britânico.) Cinco anos depois, a Alemanha experimentava a dor e a humilhação da derrota total. Em 20 de abril de 1945, Hitler cometeu suicídio em Berlim à medida que o Exército Vermelho arrasava tudo em seu caminho para a cidade, reduzida a um monte de escombros, e em 8/9 de maio os alemães renderam-se incondicionalmente. É claro, então, que entre o final de 1940 e 1944 a maré havia mudado drasticamente. Mas quando e onde? Na Normandia em 1944, de acordo com alguns; em Stalingrado, durante o inverno de 1942-43, de acordo com outros. Na realidade, a maré mudou em dezembro de 1941 na União Soviética, mais especificamente, no terreno estéril a oeste de Moscou. Como um historiador alemão, especialista na guerra contra a União Soviética, colocou: “Aquela vitória do Exército Vermelho (em frente a Moscou) foi inquestionavelmente o maior evento de toda a guerra.”[1]
Que a União Soviética
foi o local de combate que mudou o curso da Segunda Guerra Mundial não é
surpresa para ninguém. A guerra contra a União Soviética foi a guerra que
Hitler queria desde o começo, como ele deixou claro nas páginas do Mein Kampf,
escrito na metade dos anos 1920. (Mas uma Ostkrieg,
uma guerra no leste, isto é, contra os soviéticos também era objeto de desejo
dos generais alemães, dos líderes industriais alemães e de outros “pilares” da
elite da Alemanha.) De fato, como um historiador alemão recentemente demonstrou
[2], era uma guerra contra a União Soviética, e não contra a Polônia, França ou
Grã-Bretanha, que Hitler queria lançar em 1939. Em 11 de agosto daquele ano,
Hitler explicou a Carl J. Burckhardt, um funcionário da Liga das Nações, que
“tudo o que ele dedicou-se era direcionado contra a Rússia,” e que “se o
Ocidente (isto é, os franceses e britânicos) são tão estúpidos e cegos para
compreender isto, ele seria forçado a estabelecer um entendimento com os
russos, voltar-se contra e derrotar o Ocidente, e então voltar-se com todas as
forças para golpear a União Soviética.” [3] Isto foi o que aconteceu de fato. O
Ocidente acabou tornando-se “muito estúpido e cego”, como Hitler anteviu,
dando-lhe uma “mãozinha” no leste, de modo que ele fez um acordo com Moscou – o
infame “Pacto Hitler-Stalin” – e então lançou a guerra contra a Polônia, França
e Grã-Bretanha. Mas seu objetivo continuava sendo o mesmo: atacar e destruir a
União Soviética tão rápido quanto fosse possível.
Hitler e os generais
alemães estavam convencidos de que eles haviam aprendido uma importante lição
da Primeira Guerra Mundial. Sem as matérias primas necessárias para se ganhar
uma guerra moderna, tais como petróleo e borracha, a Alemanha não poderia
ganhar uma guerra longa e arrastada. Para ganhar a próxima guerra, a Alemanha
teria que vencê-la de maneira rápida, muito rápida. Esta foi a origem do
conceito da Guerra Relâmpago (Blitzkrieg), a ideia da guerra (Krieg) rápida
como um relâmpago (Blitz). A Blitzkrieg
significava guerra motorizada, logo, na preparação para tal guerra, a Alemanha
durante os anos 1930 adquiriu quantidades enormes de tanques e aviões, assim
como de caminhões para transporte de tropas. Além disso, quantidades
gigantescas de petróleo e borracha foram importadas e armazenadas. Muito deste
petróleo foi comprado de companhias americanas, algumas das quais também
gentilmente disponibilizaram a “receita” para produzir combustível sintético a
partir do carvão. [4] Em 1939 e 1940, este equipamento permitiu à Wehrmacht e
Luftwaffe alemãs superar as defesas polonesas, holandesas, belgas e francesas
com milhares de aviões e tanques em questão de semanas, a Blitzkriege foi
inevitavelmente seguida pela Blitzsiege, ou Vitória Relâmpago.
Estas vitórias foram
muito espetaculares, mas não forneceram à Alemanha pilhagem suficiente na forma
importante de petróleo e borracha. Ao invés disso, a “guerra relâmpago”
consumiu os estoques armazenados antes da guerra. Felizmente para Hitler, e m
1940 e 1941 a Alemanha era ainda capaz de importar petróleo do ainda neutro EUA
– não diretamente, mas via outros países neutros (e amigáveis) como a Espanha
de Franco. Além disso, sob os termos do Pacto Hitler-Stalin, a própria União
Soviética abasteceu generosamente a Alemanha com petróleo! Entretanto, isso era
perturbador para Hitler porque, em compensação a Alemanha tinha que fornecer à
União Soviética produtos industriais de alta tecnologia e tecnologia militar
estado-da-arte, que foi usada pelos soviéticos para modernizar seu exército e
melhorar seu armamento. [5]
É compreensível que
Hitler tenha ressuscitado seu plano original de guerra contra a União Soviética
logo após a derrota da França, mais precisamente, no verão de 1940. Uma ordem
formal para preparar planos para tal ataque, a ser chamada Operação Barbarossa
(Unternehmen Barbarossa) foi dada
poucos meses depois, em 18 de dezembro de 1940. [6] Ainda em 1939, Hitler
estava ansioso para atacar a União Soviética e ele apenas se voltou contra o
Ocidente, como um historiador alemão colocou, “para garantir segurança na
retaguarda (Rückenfreiheit), quando
ele estaria finalmente pronto para acertar contas com a União Soviética.” O
mesmo historiador conclui que em 1940, nada havia mudado tanto quanto Hitler
estava preocupado: “O inimigo verdadeiro era um só no leste.” [7] Hitler
simplesmente não queria esperar muito antes de realizar a grande ambição de sua
vida, isto é, antes de destruir o país que ele havia definido como seu
arqui-inimigo no Mein Kampf. Além disso, ele sabia que os soviéticos estavam
freneticamente preparando suas defesas para um ataque alemão que, como eles
sabiam muito bem, viria cedo ou tarde. Desde que a União Soviética estava
ficando mais forte a cada dia, o tempo não estava obviamente ao lado de Hitler.
Quanto tempo mais ele poderia esperar antes que a “janela da oportunidade”
fechasse?
Ademais, estabelecendo
uma Blitzkrieg contra a União Soviética prometia fornecer à Alemanha os
recursos virtualmente ilimitados daquele enorme país, incluindo o trigo
ucraniano para alimentar a população da Alemanha em tempos de guerra; minerais
como o carvão, a partir do qual borracha sintética e petróleo poderiam ser
produzidos; e – o último, mas não menos importante! – os ricos campos de
petróleo de Baku e Grozny, onde os beberrões Panzers e Stukas seriam capazes de
abastecer seus tanques até o final a qualquer hora. Fortalecido com esses
materiais, seria algo simples para Hitler acertar contas com a Grã-Bretanha,
começando, por exemplo, com a captura de Gibraltar. A Alemanha finalmente seria
uma verdadeira potência mundial, invulnerável dentro da “fortaleza” europeia,
indo do Atlântico até os Urais, possuindo recursos ilimitados e, portanto,
capaz de ganhar mesmo guerras longas e arrastadas contra qualquer antagonista –
incluindo os EUA! – em uma futura “guerra de continentes”, imaginada pela mente
fantasiosa de Hitler.
Hitler e seus
generais estavam confiantes de que a Blitzkrieg que eles prepararam para lançar
contra a União Soviética seria tão bem sucedida quanto sua anterior “guerra
relâmpago” contra a Polônia e a França havia sido. Eles consideraram a União
Soviética como “um gigante com pés de barro”, cujo exército, presumivelmente
decapitado pelos expurgos de Stalin no final dos anos 1930, era “não mais do
que uma piada”, como o próprio Hitler disse em uma ocasião. [8] Para lutar, e é
claro ganhar, batalhas decisivas, eles estabeleceram uma campanha de quatro a
seis semanas, possivelmente sendo seguidas por algumas operações de limpeza,
durante as quais os remanescentes da horda soviética “seriam cassados através
do país como um bando de Cossacos derrotados.” [9] Em qualquer evento, Hitler
sentiu-se totalmente confiante, e na véspera do ataque, ele “imaginava-se estar à beira do maior triunfo
de sua vida". [10]
(Em Washington e Londres,
os especialistas militares também acreditavam que a União Soviética não seria
capaz de impor resistência significativa ao juggernauta
(N. do T.: em inglês coloquial, refere-se a uma força impiedosamente
destrutiva e imparável), cujas conquistas militares de 1939-40 resultaram em
uma reputação de invencibilidade. Os serviços secretos britânicos estavam
convencidos de que a União Soviética seria “liquidada entre oito e dez
semanas,” e o Marechal-de-Campo Sir John Dill, chefe do Staff Geral Imperial, declarou
que a Wehrmacht avançaria sobre o Exército Vermelho “como uma faca quente
através da manteiga,” que o Exército Vermelho seria cercado “como gado”. De
acordo com um especialista em Washington, Hitler “esmagaria a Rússia como um
ovo.”) [11]
O ataque alemão
começou em 22 de junho de 1941, nas primeiras horas da manhã. Três milhões de
soldados alemães e quase 700.000 aliados da Alemanha Nazista atravessaram a
fronteira, e seu equipamento consistia de 600.000 veículos motorizados, 3.648
tanques, mais de 2.700 aviões e mais de 7.000 peças de artilharia. [12] No
começo, tudo transcorreu de acordo com o plano. Buracos enormes foram abertos
nas defesas soviéticas, ganhos territoriais impressionantes foram feitos
rapidamente e centenas de milhares de soldados do Exército Vermelho foram
mortos, feridos ou feitos prisioneiros em um número de espetaculares “batalhas
de cerco” (Kesselschlachten). Após
uma dessas batalhas, lutada nas vizinhanças de Smolensk no final de julho, a
estrada para Moscou parecia estar livre.
Entretanto, logo
tornou-se evidente que a Blitzkrieg no leste não seria a moleza que havia sido
esperada. Enfrentando a maior máquina militar do mundo, o Exército Vermelho previsivelmente levou uma surra
maior, mas, como o ministro da
propaganda Joseph Goebbels
confidenciou ao seu diário tão cedo quanto 02 de julho, também impos uma
resistência forte em mais de uma ocasião. O general Franz Halder, em muito
sentido o “padrinho” do plano de ataque da Operação Barbarossa, percebeu que a
resistência soviética era mais forte do que qualquer coisa que os alemães
enfrentaram na Europa Ocidental. Os relatórios da Wehrmacht citaram resistência
“dura”, “valente” e mesmo “selvagem”, provocando altas perdas em homens e
equipamentos no lado alemão. [13] Mais frequente do que o esperado, as forças
soviéticas trabalharam para lançar contra-ataques que retardavam o avanço
alemão. Algumas unidades soviéticas esconderam-se nos vastos pântanos Pripet e
em outros locais, organizaram guerrilha mortal e ameaçaram as longas e
vulneráveis linhas de comunicaçãoalemãs. [14] também revelou-se que o Exército
Vermelho estava melhor equipado do que o esperado. Os generais alemães estavam
“espantados”, escreve um historiador alemão, pela qualidade das armas
soviéticas, tais como o lançador de foguetes Katyusha (apelidado “Orgão de
Stalin”) e o tanque T-34. Hitler ficou furioso que seus serviços secretos não
estivessem cientes da existência de tal armamento. [15]
A grande causa de
preocupação, tanto quanto os alemães estavam preocupados, era o fato de que o
grosso do Exército Vermelho conseguiu retirar-se de maneira relativamente
ordeira e criaram a ilusão de uma grande Kesselschlacht,
o tipo de repetição de Cannae ou Sedan que Hitler e seus generais haviam
sonhado. Os soviéticos parecem ter observado e analisado cuidadosamente os
sucessos da Blitzkrieg alemã de 1939 e 1940 e aprenderam lições úteis. Eles
devem ter notado que em maio de 1940, os franceses concentraram suas tropas
direto na fronteira assim como na Bélgica, assim tornando possível para a
máquina de guerra alemã cercá-las em uma grande
Kesselschlacht. (As tropas
britânicas também foram pegas num cerco, mas escaparam por Dunquerque.) Os
soviéticos deixaram algumas tropas na fronteira, é claro, e estas tropas
previsivelmente sofreram as maiores perdas da União Soviética durante os
estágios iniciais da Operação Barbarossa. Mas – contrariamente do que é
afirmado por historiadores como Richard Overy [16] – o grosso do Exército
Vermelho foi mantido na retaguarda, evitando a armadilha. Foi esta “defesa em
profundidade” que frustrou a ambição alemã de destruir totalmente o Exército
Vermelho. Como o Marechal Zhukov escreveu em suas memórias, “a União Soviética
teria rechassado se tivessemos organizado todas as nossas forças na fronteira.”
[17]
Em meados de
julho, como a guerra de Hitler no leste começou a perder suas qualidades de
Blitz, alguns líderes alemães começaram a expressar grandes preocupações. O
Almirante Wilhelm Canaris, chefe do Serviço Secreto da Wehrmacht, a Abwehr, por exemplo, confidenciou a um
colega no front em 17 de julho, o general von Bock, que ele não via “nada
exceto a escuridão.” No front doméstico, muitos civis alemães também
expressaram o sentimento de que a guerra no leste não estava indo bem.Em
Dresden, Victor Klemperer escreveu em seu diário em 13 de julho: “Sofremos
perdas imensas, subestimamos os russos...” [18] Na mesma época, Hitler
abandonou sua crença em uma vitória rápida e fácil e diminuiu suas
expectativas; ele agora expressava a esperança de suas tropas atingissem o
Volga por outubro e capturassem os campos de petróleo do Cáucaso um mês mais
tarde. [19] No final de agosto, quando a Barbarossa deveria estar em suas
etapas finais, um memorando do Alto Comando da Wehrmacht (Oberkommando der Wehrmacht, OKW) afirmava que não seria mais possível ganhar a guerra em
1941. [20]
Um grande problema era o fato de
que, quando a Barbarossa começou em 22 de junho, os estoques disponíveis de
combustível, pneus, peças de reposição, etc., eram bons o suficiente para cerca
de dois meses. Isto era suposto suficiente, pois era esperado que dentro de
dois meses, a União Soviética estaria de joelhos e seus recursos ilimitados –
produtos industriais assim como matérias-primas – estariam disponíveis aos
alemães. [21] Entretanto, no final de agosto, as pontas de lança alemãs estavam
próximas daquelas regiões distantes da União Soviética onde o petróleo, o mais
precioso de todos os commodities
militares, onde ele deveria estar. Se os tanques conseguiram continuar rodando,
embora cada vez mais lentamente, pelas extensões intermináveis dos territórios
russo e ucraniano foi em grande parte graças ao petróleo e borracha importados,
via Espanha e França ocupada, dos EUA. A parte americana das importações da
Alemanha do importante óleo de lubrificação de motor (Motorenöl), por exemplo,
cresceu rapidamente durante o verão de 1941, precisamente, de 44% em julho para
não menos que 94% em setembro.
As chamas do otimismo voltaram a
aparecer em setembro, quando as tropas alemãs capturaram Kiev, conseguindo
650.000 prisioneiros e, ao norte, fizeram progressos na direção de Moscou.
Hitler acreditava, ou pelo menos parecia acreditar, que o fim agora estava
próximo para os soviéticos. Em um discurso público no Palácio dos Esportes de
Berlim em 3 de outubro, ele declarou que a guerra no leste estava praticamente
encerrada. E foi ordenado à Wehrmacht dar o coup
de grace (N. do T.: golpe de misericórdia) ao criar a Operação Tufão (Unternehmen Taifun), uma ofensiva projetada para tomar Moscou. Entretanto,
as chances de sucesso pareciam gradativamente menores, pois os soviéticos
estavam trazendo de volta unidades reservas do Oriente Distante. (Eles haviam
sido informados pelo seu espião mestre em Tóquio, Richard Sorge, que os
japoneses, cujo exército estava estacionado no norte da China, não estavam mais
considerando atacar as fronteiras vulneráveis dos soviéticos na área de
Vladivostok.) Para tornar as coisas ainda piores, os alemães não dispunham mais
de superioridade aérea, particularmente sobre Moscou. Analogamente, suprimentos
insuficientes de munição e alimentos poderiam ser trazidos da retaguarda do
front, já que as longas linhas de suprimentos foram severamente danificadas
pela atividade partisan. [23] Finalmente, estava ficando frio na União
Soviética, apesar de não mais gelado do que o usual naquela época do ano. Mas o
alto comando alemão, confiante que sua Blitzkrieg oriental estaria concluída
pelo final do verão, falhou em fornecer às tropas o equipamento necessário para
lutar na chuva, pântano, neve e temperaturas congelantes de um outono e inverno
russos.
Tomar Moscou pareceu um objetivo
extremamente importante nas mentes de Hitler e seus generais. Acreditava-se,
erroneamente, que a queda de Moscou “decapitaria” a União Soviética e, assim,
traria seu colapso. Parecia também importante evitar a repetição do cenário do
verão de 1914, quando o avanço alemão aparentemente imparável foi segurado nos
limites orientais de Paris, durante a Batalha do Marne. Este desastre – da perspectiva
alemã – roubou da Alemanha a vitória certa nos estágios iniciais da “Grande
Guerra” e forçou-a a uma luta longa e arrastada que, devido à falta de recursos
provocada pelo bloqueio da Marinha Britânica, conduziu-a à derrota. Desta vez,
em uma nova Grande Guerra, lutada contra um novo arqui-inimigo, a União
Soviética, não deveria haver nenhum “Milagre do Marne”, isto é, nenhuma derrota
próximo da capital, e a Alemanha não teria que lutar novamente, portanto, sem
recursos e isolada economicamente, um conflito longo e arrastado, que estaria
condenada a perder. Diferentemente de Paris, Moscou cairia, a história não se
repetiria e a Alemanha seria vitoriosa. [24] Ou assim se pensava no
quartel-general de Hitler.
A Wehrmacht continuou a avançar,
apesar de lentamente, e por volta de meados de novembro algumas unidades
chegaram a 30 km da capital. Mas as tropas estavam agora totalmente exaustas, e
sem suprimentos. Seus comandantes sabiam que seria simplesmente impossível
tomar Moscou, tentadoramente próximas da cidade e mesmo assim impossível de
chegar à vitória. Em 3 de dezembro, um número de unidades abandonaram a
ofensiva por sua própria iniciativa. Em poucos dias, contudo, todo o exército
alemão em frente a Moscou foi simplesmente forçado à uma posição defensiva. De
fato, em 5 de dezembro, às 03 horas da manhã, em condições de frio e nevasca, o
Exército Vermelho de repente lançou um contra-ataque de grandes proporções e
bem preparado. As linhas da Wehrmacht foram perfuradas em muitos lugares e os
alemães foram recuados entre 100 e 280 km com pesadas perdas de homens e
equipamentos. Foi somente com grande dificuldade que um cerco catastrófico (Einkesselung) foi evitado. Em 8 de dezembro, Hitler ordenou que seu
exército abandonasse a ofensiva e se movesse para posições defensivas. Ele
culpou este revés pela chegada supostamente precoce do inverno, mas recusou-se
a recuar ainda mais, como alguns de seus generais sugeriram, e propôs atacar
novamente na primavera. [25]
Isto terminou com a Blitzkrieg de
Hitler contra a união Soviética, a guerra que, se tivesse sido vitoriosa, teria
realizado a grande ambição de sua vida, a destruição da União Soviética. Mais
importante, pelo menos de nossa perspectiva atual, tal vitória teria dado à
Alemanha Nazista suficiente petróleo e outros recursos para torná-la
virtualmente uma potência mundial invulnerável. Como tal, a Alemanha Nazista
teria provavelmente sido capaz de derrotar os teimosos britânicos, mesmo se os
EUA tivessem saído em socorro de seu primo anglo-saxão, que incidentalmente não
estava ainda envolvido no conflito no começo de dezembro de 1941. A Blitzsieg,
isto é, a rápida vitória contra a União Soviética, então, era suposta ter feito
uma derrota alemã impossível, e a teria provavelmente conseguido. (É
provavelmente correto afirmar que se a Alemanha Nazista tivesse derrotado a
União Soviética em 1941, ela seria ainda hoje a potência hegemônica da Europa
e, possivelmente, do Oriente Médio e do Norte da África também.) Entretanto, a
derrota na Batalha de Moscou em dezembro de 1941 significou que a Blitzkrieg de
Hitler não produziu a tão esperada Blitzsieg. Na nova “Batalha do Marne”, a
oeste de Moscou, a Alemanha Nazista sofreu a derrota que tornou a vitória
impossível, não somente a vitória contra a própria União Soviética, mas também
contra a Grã-Bretanha, a vitória na guerra em geral.
[1] Gerd R. Ueberschär, „Das Scheitern des ‚Unternehmens Barbarossa‘“, in Gerd R. Ueberschär and Wolfram Wette (eds.), Der deutsche Überfall auf die Sowjetunion: “Unternehmen Barbarossa” 1941, Frankfurt am Main, 2011, p. 120.
[2] Rolf-Dieter Müller, Der Feind steht im Osten: Hitlers geheime Pläne für einen Krieg gegen die Sowjetunion im Jahr 1939, Berlin, 2011.
[3] Cited in Müller, op. cit., p. 152.
[4] Jacques R. Pauwels, The Myth of the Good War: America in the Second World War, James Lorimer, Toronto, 2002, pp. 33, 37.
[5] Lieven Soete, Het Sovjet-Duitse niet-aanvalspact van 23 augustus 1939: Politieke Zeden in het Interbellum, Berchem [Antwerp], Belgium, 1989, pp. 289-290, including footnote 1 on p. 289.
[6] See e.g. Gerd R. Ueberschär, “Hitlers Entschluß zum ‘Lebensraum’-Krieg im Osten: Programmatisches Ziel oder militärstrategisches Kalkül?,” in Gerd R. Ueberschär and Wolfram Wette (eds.), Der deutsche Überfall auf die Sowjetunion: “Unternehmen Barbarossa” 1941, Frankfurt am Main, 2011, p. 39.
[7] Müller, op. cit., p. 169.
[8] Ueberschär, “Das Scheitern...,” p. 95.
[9] Müller, op. cit., pp. 209, 225.
[10] Ueberschär, “Hitlers Entschluß...”, p. 15.
[11] Pauwels, op. cit., p. 62; Ueberschär, „Das Scheitern…,“ pp. 95-96; Domenico Losurdo, Stalin: Storia e critica di una leggenda nera, Rome, 2008, p. 29.
[12] Müller, op. cit., p. 243.
[13] Richard Overy, Russia’s War, London, 1997, p. 87.
[14] Ueberschär, “Das Scheitern...“, pp. 97-98.
[15] Ueberschär, “Das Scheitern...“, p. 97; Losurdo, op. cit., p. 31.
[16] Overy, op. cit., pp. 64-65.
[17] Grover Furr, Khrushchev Lied : The Evidence That Every ‘Revelation’ of Stalin’s (and Beria’s) ‘Crimes’ in Nikita Khrushchev’s Infamous ‘Secret Speech’ to the 20th Party Congress of the Communist Party of the Communist Party of the Soviet Union on February 25, 1956, is Provably False, Kettering/Ohio, 2010, p. 343: Losurdo, op. cit., p. 31; Soete, op. cit., p. 297.
[18] Losurdo, op. cit., pp. 31-32.
[19] Bernd Wegner, “Hitlers zweiter Feldzug gegen die Sowjetunion: Strategische Grundlagen und historische Bedeutung“, in Wolfgang Michalka (ed.), Der Zweite Weltkrieg: Analysen – Grundzüge – Forschungsbilanz, München and Zurich, 1989, p. 653.
[20] Ueberschär, “Das Scheitern...“, p. 100.
[21] Müller, op. cit., p. 233.
[22] Tobias Jersak, “Öl für den Führer,“ Frankfurter Allgemeine Zeitung, February 11, 1999. Jersak used a “top secret” document produced by the Wehrmacht Reichsstelle für Mineralöl, now in the military section of the Bundesarchiv (Federal Archives), file RW 19/2694.
[23] Ueberschär, “Das Scheitern...“, pp. 99-102, 106-107.
[24] Ueberschär, “Das Scheitern...“, p. 106.
[25] Ueberschär, “Das Scheitern...,” pp. 107-111; Geoffrey Roberts, Stalin`s Wars from World War to Cold War, 1939-1953, New Haven/CT and London, 2006, p. 111.
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