sábado, 5 de janeiro de 2013

[SGM] Reviravolta na SGM: A Vitória do Exército Vermelho em Moscou

Jacques R. Pauwels, 06/12/2011

 


A Segunda Guerra Mundial começou, pelo menos no “teatro europeu”, com o rolo compressor do Exército alemão passando pela Polônia em setembro de 1939. Cerca de seis meses depois, vitórias mais espetaculares ainda seguiram-se, desta vez nos Países Baixos e na França. No verão de 1940, a Alemanha parecia invencível e predestinada a dominar o continente europeu indefinidamente. (A Grã-Bretanha recusou-se a jogar a toalha, mas não esperava ganhar a guerra sozinha, e tinha medo de que Hitler voltasse seus olhos para Gibraltar, Egito e/ou outras joias da coroa do Império Britânico.) Cinco anos depois, a Alemanha experimentava a dor e a humilhação da derrota total. Em 20 de abril de 1945, Hitler cometeu suicídio em Berlim à medida que o Exército Vermelho arrasava tudo em seu caminho para a cidade, reduzida a um monte de escombros, e em 8/9 de maio os alemães renderam-se incondicionalmente. É claro, então, que entre o final de 1940 e 1944 a maré havia mudado drasticamente. Mas quando e onde? Na Normandia em 1944, de acordo com alguns; em Stalingrado, durante o inverno de 1942-43, de acordo com outros. Na realidade, a maré mudou em dezembro de 1941 na União Soviética, mais especificamente, no terreno estéril a oeste de Moscou. Como um historiador alemão, especialista na guerra contra a União Soviética, colocou: “Aquela vitória do Exército Vermelho (em frente a Moscou) foi inquestionavelmente o maior evento de toda a guerra.”[1]

Que a União Soviética foi o local de combate que mudou o curso da Segunda Guerra Mundial não é surpresa para ninguém. A guerra contra a União Soviética foi a guerra que Hitler queria desde o começo, como ele deixou claro nas páginas do Mein Kampf, escrito na metade dos anos 1920. (Mas uma Ostkrieg, uma guerra no leste, isto é, contra os soviéticos também era objeto de desejo dos generais alemães, dos líderes industriais alemães e de outros “pilares” da elite da Alemanha.) De fato, como um historiador alemão recentemente demonstrou [2], era uma guerra contra a União Soviética, e não contra a Polônia, França ou Grã-Bretanha, que Hitler queria lançar em 1939. Em 11 de agosto daquele ano, Hitler explicou a Carl J. Burckhardt, um funcionário da Liga das Nações, que “tudo o que ele dedicou-se era direcionado contra a Rússia,” e que “se o Ocidente (isto é, os franceses e britânicos) são tão estúpidos e cegos para compreender isto, ele seria forçado a estabelecer um entendimento com os russos, voltar-se contra e derrotar o Ocidente, e então voltar-se com todas as forças para golpear a União Soviética.” [3] Isto foi o que aconteceu de fato. O Ocidente acabou tornando-se “muito estúpido e cego”, como Hitler anteviu, dando-lhe uma “mãozinha” no leste, de modo que ele fez um acordo com Moscou – o infame “Pacto Hitler-Stalin” – e então lançou a guerra contra a Polônia, França e Grã-Bretanha. Mas seu objetivo continuava sendo o mesmo: atacar e destruir a União Soviética tão rápido quanto fosse possível.

Hitler e os generais alemães estavam convencidos de que eles haviam aprendido uma importante lição da Primeira Guerra Mundial. Sem as matérias primas necessárias para se ganhar uma guerra moderna, tais como petróleo e borracha, a Alemanha não poderia ganhar uma guerra longa e arrastada. Para ganhar a próxima guerra, a Alemanha teria que vencê-la de maneira rápida, muito rápida. Esta foi a origem do conceito da Guerra Relâmpago (Blitzkrieg), a ideia da guerra (Krieg) rápida como um relâmpago (Blitz). A Blitzkrieg significava guerra motorizada, logo, na preparação para tal guerra, a Alemanha durante os anos 1930 adquiriu quantidades enormes de tanques e aviões, assim como de caminhões para transporte de tropas. Além disso, quantidades gigantescas de petróleo e borracha foram importadas e armazenadas. Muito deste petróleo foi comprado de companhias americanas, algumas das quais também gentilmente disponibilizaram a “receita” para produzir combustível sintético a partir do carvão. [4] Em 1939 e 1940, este equipamento permitiu à Wehrmacht e Luftwaffe alemãs superar as defesas polonesas, holandesas, belgas e francesas com milhares de aviões e tanques em questão de semanas, a Blitzkriege foi inevitavelmente seguida pela Blitzsiege, ou Vitória Relâmpago.

Estas vitórias foram muito espetaculares, mas não forneceram à Alemanha pilhagem suficiente na forma importante de petróleo e borracha. Ao invés disso, a “guerra relâmpago” consumiu os estoques armazenados antes da guerra. Felizmente para Hitler, e m 1940 e 1941 a Alemanha era ainda capaz de importar petróleo do ainda neutro EUA – não diretamente, mas via outros países neutros (e amigáveis) como a Espanha de Franco. Além disso, sob os termos do Pacto Hitler-Stalin, a própria União Soviética abasteceu generosamente a Alemanha com petróleo! Entretanto, isso era perturbador para Hitler porque, em compensação a Alemanha tinha que fornecer à União Soviética produtos industriais de alta tecnologia e tecnologia militar estado-da-arte, que foi usada pelos soviéticos para modernizar seu exército e melhorar seu armamento. [5]

É compreensível que Hitler tenha ressuscitado seu plano original de guerra contra a União Soviética logo após a derrota da França, mais precisamente, no verão de 1940. Uma ordem formal para preparar planos para tal ataque, a ser chamada Operação Barbarossa (Unternehmen Barbarossa) foi dada poucos meses depois, em 18 de dezembro de 1940. [6] Ainda em 1939, Hitler estava ansioso para atacar a União Soviética e ele apenas se voltou contra o Ocidente, como um historiador alemão colocou, “para garantir segurança na retaguarda (Rückenfreiheit), quando ele estaria finalmente pronto para acertar contas com a União Soviética.” O mesmo historiador conclui que em 1940, nada havia mudado tanto quanto Hitler estava preocupado: “O inimigo verdadeiro era um só no leste.” [7] Hitler simplesmente não queria esperar muito antes de realizar a grande ambição de sua vida, isto é, antes de destruir o país que ele havia definido como seu arqui-inimigo no Mein Kampf. Além disso, ele sabia que os soviéticos estavam freneticamente preparando suas defesas para um ataque alemão que, como eles sabiam muito bem, viria cedo ou tarde. Desde que a União Soviética estava ficando mais forte a cada dia, o tempo não estava obviamente ao lado de Hitler. Quanto tempo mais ele poderia esperar antes que a “janela da oportunidade” fechasse?

Ademais, estabelecendo uma Blitzkrieg contra a União Soviética prometia fornecer à Alemanha os recursos virtualmente ilimitados daquele enorme país, incluindo o trigo ucraniano para alimentar a população da Alemanha em tempos de guerra; minerais como o carvão, a partir do qual borracha sintética e petróleo poderiam ser produzidos; e – o último, mas não menos importante! – os ricos campos de petróleo de Baku e Grozny, onde os beberrões Panzers e Stukas seriam capazes de abastecer seus tanques até o final a qualquer hora. Fortalecido com esses materiais, seria algo simples para Hitler acertar contas com a Grã-Bretanha, começando, por exemplo, com a captura de Gibraltar. A Alemanha finalmente seria uma verdadeira potência mundial, invulnerável dentro da “fortaleza” europeia, indo do Atlântico até os Urais, possuindo recursos ilimitados e, portanto, capaz de ganhar mesmo guerras longas e arrastadas contra qualquer antagonista – incluindo os EUA! – em uma futura “guerra de continentes”, imaginada pela mente fantasiosa de Hitler.

Hitler e seus generais estavam confiantes de que a Blitzkrieg que eles prepararam para lançar contra a União Soviética seria tão bem sucedida quanto sua anterior “guerra relâmpago” contra a Polônia e a França havia sido. Eles consideraram a União Soviética como “um gigante com pés de barro”, cujo exército, presumivelmente decapitado pelos expurgos de Stalin no final dos anos 1930, era “não mais do que uma piada”, como o próprio Hitler disse em uma ocasião. [8] Para lutar, e é claro ganhar, batalhas decisivas, eles estabeleceram uma campanha de quatro a seis semanas, possivelmente sendo seguidas por algumas operações de limpeza, durante as quais os remanescentes da horda soviética “seriam cassados através do país como um bando de Cossacos derrotados.” [9] Em qualquer evento, Hitler sentiu-se totalmente confiante, e na véspera do ataque, ele “imaginava-se estar à beira do maior triunfo de sua vida". [10]

(Em Washington e Londres, os especialistas militares também acreditavam que a União Soviética não seria capaz de impor resistência significativa ao juggernauta (N. do T.: em inglês coloquial, refere-se a uma força impiedosamente destrutiva e imparável), cujas conquistas militares de 1939-40 resultaram em uma reputação de invencibilidade. Os serviços secretos britânicos estavam convencidos de que a União Soviética seria “liquidada entre oito e dez semanas,” e o Marechal-de-Campo Sir John Dill, chefe do Staff Geral Imperial, declarou que a Wehrmacht avançaria sobre o Exército Vermelho “como uma faca quente através da manteiga,” que o Exército Vermelho seria cercado “como gado”. De acordo com um especialista em Washington, Hitler “esmagaria a Rússia como um ovo.”) [11]

O ataque alemão começou em 22 de junho de 1941, nas primeiras horas da manhã. Três milhões de soldados alemães e quase 700.000 aliados da Alemanha Nazista atravessaram a fronteira, e seu equipamento consistia de 600.000 veículos motorizados, 3.648 tanques, mais de 2.700 aviões e mais de 7.000 peças de artilharia. [12] No começo, tudo transcorreu de acordo com o plano. Buracos enormes foram abertos nas defesas soviéticas, ganhos territoriais impressionantes foram feitos rapidamente e centenas de milhares de soldados do Exército Vermelho foram mortos, feridos ou feitos prisioneiros em um número de espetaculares “batalhas de cerco” (Kesselschlachten). Após uma dessas batalhas, lutada nas vizinhanças de Smolensk no final de julho, a estrada para Moscou parecia estar livre.

Entretanto, logo tornou-se evidente que a Blitzkrieg no leste não seria a moleza que havia sido esperada. Enfrentando a maior máquina militar do mundo, o Exército Vermelho previsivelmente levou uma surra maior, mas, como o ministro da propaganda Joseph Goebbels confidenciou ao seu diário tão cedo quanto 02 de julho, também impos uma resistência forte em mais de uma ocasião. O general Franz Halder, em muito sentido o “padrinho” do plano de ataque da Operação Barbarossa, percebeu que a resistência soviética era mais forte do que qualquer coisa que os alemães enfrentaram na Europa Ocidental. Os relatórios da Wehrmacht citaram resistência “dura”, “valente” e mesmo “selvagem”, provocando altas perdas em homens e equipamentos no lado alemão. [13] Mais frequente do que o esperado, as forças soviéticas trabalharam para lançar contra-ataques que retardavam o avanço alemão. Algumas unidades soviéticas esconderam-se nos vastos pântanos Pripet e em outros locais, organizaram guerrilha mortal e ameaçaram as longas e vulneráveis linhas de comunicaçãoalemãs. [14] também revelou-se que o Exército Vermelho estava melhor equipado do que o esperado. Os generais alemães estavam “espantados”, escreve um historiador alemão, pela qualidade das armas soviéticas, tais como o lançador de foguetes Katyusha (apelidado “Orgão de Stalin”) e o tanque T-34. Hitler ficou furioso que seus serviços secretos não estivessem cientes da existência de tal armamento. [15]

A grande causa de preocupação, tanto quanto os alemães estavam preocupados, era o fato de que o grosso do Exército Vermelho conseguiu retirar-se de maneira relativamente ordeira e criaram a ilusão de uma grande Kesselschlacht, o tipo de repetição de Cannae ou Sedan que Hitler e seus generais haviam sonhado. Os soviéticos parecem ter observado e analisado cuidadosamente os sucessos da Blitzkrieg alemã de 1939 e 1940 e aprenderam lições úteis. Eles devem ter notado que em maio de 1940, os franceses concentraram suas tropas direto na fronteira assim como na Bélgica, assim tornando possível para a máquina de guerra alemã cercá-las em uma grande  Kesselschlacht. (As tropas britânicas também foram pegas num cerco, mas escaparam por Dunquerque.) Os soviéticos deixaram algumas tropas na fronteira, é claro, e estas tropas previsivelmente sofreram as maiores perdas da União Soviética durante os estágios iniciais da Operação Barbarossa. Mas – contrariamente do que é afirmado por historiadores como Richard Overy [16] – o grosso do Exército Vermelho foi mantido na retaguarda, evitando a armadilha. Foi esta “defesa em profundidade” que frustrou a ambição alemã de destruir totalmente o Exército Vermelho. Como o Marechal Zhukov escreveu em suas memórias, “a União Soviética teria rechassado se tivessemos organizado todas as nossas forças na fronteira.” [17]

Em meados de julho, como a guerra de Hitler no leste começou a perder suas qualidades de Blitz, alguns líderes alemães começaram a expressar grandes preocupações. O Almirante Wilhelm Canaris, chefe do Serviço Secreto da Wehrmacht, a Abwehr, por exemplo, confidenciou a um colega no front em 17 de julho, o general von Bock, que ele não via “nada exceto a escuridão.” No front doméstico, muitos civis alemães também expressaram o sentimento de que a guerra no leste não estava indo bem.Em Dresden, Victor Klemperer escreveu em seu diário em 13 de julho: “Sofremos perdas imensas, subestimamos os russos...” [18] Na mesma época, Hitler abandonou sua crença em uma vitória rápida e fácil e diminuiu suas expectativas; ele agora expressava a esperança de suas tropas atingissem o Volga por outubro e capturassem os campos de petróleo do Cáucaso um mês mais tarde. [19] No final de agosto, quando a Barbarossa deveria estar em suas etapas finais, um memorando do Alto Comando da Wehrmacht (Oberkommando der Wehrmacht, OKW) afirmava que não seria mais possível ganhar a guerra em 1941. [20]

Um grande problema era o fato de que, quando a Barbarossa começou em 22 de junho, os estoques disponíveis de combustível, pneus, peças de reposição, etc., eram bons o suficiente para cerca de dois meses. Isto era suposto suficiente, pois era esperado que dentro de dois meses, a União Soviética estaria de joelhos e seus recursos ilimitados – produtos industriais assim como matérias-primas – estariam disponíveis aos alemães. [21] Entretanto, no final de agosto, as pontas de lança alemãs estavam próximas daquelas regiões distantes da União Soviética onde o petróleo, o mais precioso de todos os commodities militares, onde ele deveria estar. Se os tanques conseguiram continuar rodando, embora cada vez mais lentamente, pelas extensões intermináveis dos territórios russo e ucraniano foi em grande parte graças ao petróleo e borracha importados, via Espanha e França ocupada, dos EUA. A parte americana das importações da Alemanha do importante óleo de lubrificação de motor (Motorenöl), por exemplo, cresceu rapidamente durante o verão de 1941, precisamente, de 44% em julho para não menos que 94% em setembro.

As chamas do otimismo voltaram a aparecer em setembro, quando as tropas alemãs capturaram Kiev, conseguindo 650.000 prisioneiros e, ao norte, fizeram progressos na direção de Moscou. Hitler acreditava, ou pelo menos parecia acreditar, que o fim agora estava próximo para os soviéticos. Em um discurso público no Palácio dos Esportes de Berlim em 3 de outubro, ele declarou que a guerra no leste estava praticamente encerrada. E foi ordenado à Wehrmacht dar o coup de grace (N. do T.: golpe de misericórdia) ao criar a Operação Tufão (Unternehmen Taifun), uma ofensiva projetada para tomar Moscou. Entretanto, as chances de sucesso pareciam gradativamente menores, pois os soviéticos estavam trazendo de volta unidades reservas do Oriente Distante. (Eles haviam sido informados pelo seu espião mestre em Tóquio, Richard Sorge, que os japoneses, cujo exército estava estacionado no norte da China, não estavam mais considerando atacar as fronteiras vulneráveis dos soviéticos na área de Vladivostok.) Para tornar as coisas ainda piores, os alemães não dispunham mais de superioridade aérea, particularmente sobre Moscou. Analogamente, suprimentos insuficientes de munição e alimentos poderiam ser trazidos da retaguarda do front, já que as longas linhas de suprimentos foram severamente danificadas pela atividade partisan. [23] Finalmente, estava ficando frio na União Soviética, apesar de não mais gelado do que o usual naquela época do ano. Mas o alto comando alemão, confiante que sua Blitzkrieg oriental estaria concluída pelo final do verão, falhou em fornecer às tropas o equipamento necessário para lutar na chuva, pântano, neve e temperaturas congelantes de um outono e inverno russos.

Tomar Moscou pareceu um objetivo extremamente importante nas mentes de Hitler e seus generais. Acreditava-se, erroneamente, que a queda de Moscou “decapitaria” a União Soviética e, assim, traria seu colapso. Parecia também importante evitar a repetição do cenário do verão de 1914, quando o avanço alemão aparentemente imparável foi segurado nos limites orientais de Paris, durante a Batalha do Marne. Este desastre – da perspectiva alemã – roubou da Alemanha a vitória certa nos estágios iniciais da “Grande Guerra” e forçou-a a uma luta longa e arrastada que, devido à falta de recursos provocada pelo bloqueio da Marinha Britânica, conduziu-a à derrota. Desta vez, em uma nova Grande Guerra, lutada contra um novo arqui-inimigo, a União Soviética, não deveria haver nenhum “Milagre do Marne”, isto é, nenhuma derrota próximo da capital, e a Alemanha não teria que lutar novamente, portanto, sem recursos e isolada economicamente, um conflito longo e arrastado, que estaria condenada a perder. Diferentemente de Paris, Moscou cairia, a história não se repetiria e a Alemanha seria vitoriosa. [24] Ou assim se pensava no quartel-general de Hitler.

A Wehrmacht continuou a avançar, apesar de lentamente, e por volta de meados de novembro algumas unidades chegaram a 30 km da capital. Mas as tropas estavam agora totalmente exaustas, e sem suprimentos. Seus comandantes sabiam que seria simplesmente impossível tomar Moscou, tentadoramente próximas da cidade e mesmo assim impossível de chegar à vitória. Em 3 de dezembro, um número de unidades abandonaram a ofensiva por sua própria iniciativa. Em poucos dias, contudo, todo o exército alemão em frente a Moscou foi simplesmente forçado à uma posição defensiva. De fato, em 5 de dezembro, às 03 horas da manhã, em condições de frio e nevasca, o Exército Vermelho de repente lançou um contra-ataque de grandes proporções e bem preparado. As linhas da Wehrmacht foram perfuradas em muitos lugares e os alemães foram recuados entre 100 e 280 km com pesadas perdas de homens e equipamentos. Foi somente com grande dificuldade que um cerco catastrófico (Einkesselung) foi evitado. Em 8 de dezembro, Hitler ordenou que seu exército abandonasse a ofensiva e se movesse para posições defensivas. Ele culpou este revés pela chegada supostamente precoce do inverno, mas recusou-se a recuar ainda mais, como alguns de seus generais sugeriram, e propôs atacar novamente na primavera. [25]

Isto terminou com a Blitzkrieg de Hitler contra a união Soviética, a guerra que, se tivesse sido vitoriosa, teria realizado a grande ambição de sua vida, a destruição da União Soviética. Mais importante, pelo menos de nossa perspectiva atual, tal vitória teria dado à Alemanha Nazista suficiente petróleo e outros recursos para torná-la virtualmente uma potência mundial invulnerável. Como tal, a Alemanha Nazista teria provavelmente sido capaz de derrotar os teimosos britânicos, mesmo se os EUA tivessem saído em socorro de seu primo anglo-saxão, que incidentalmente não estava ainda envolvido no conflito no começo de dezembro de 1941. A Blitzsieg, isto é, a rápida vitória contra a União Soviética, então, era suposta ter feito uma derrota alemã impossível, e a teria provavelmente conseguido. (É provavelmente correto afirmar que se a Alemanha Nazista tivesse derrotado a União Soviética em 1941, ela seria ainda hoje a potência hegemônica da Europa e, possivelmente, do Oriente Médio e do Norte da África também.) Entretanto, a derrota na Batalha de Moscou em dezembro de 1941 significou que a Blitzkrieg de Hitler não produziu a tão esperada Blitzsieg. Na nova “Batalha do Marne”, a oeste de Moscou, a Alemanha Nazista sofreu a derrota que tornou a vitória impossível, não somente a vitória contra a própria União Soviética, mas também contra a Grã-Bretanha, a vitória na guerra em geral.
 

[1] Gerd R. Ueberschär, „Das Scheitern des ‚Unternehmens Barbarossa‘“, in Gerd R. Ueberschär and Wolfram Wette (eds.), Der deutsche Überfall auf die Sowjetunion: “Unternehmen Barbarossa” 1941, Frankfurt am Main, 2011, p. 120.

[2] Rolf-Dieter Müller, Der Feind steht im Osten: Hitlers geheime Pläne für einen Krieg gegen die Sowjetunion im Jahr 1939, Berlin, 2011.

[3] Cited in Müller, op. cit., p. 152.

[4] Jacques R. Pauwels, The Myth of the Good War: America in the Second World War, James Lorimer, Toronto, 2002, pp. 33, 37.

[5] Lieven Soete, Het Sovjet-Duitse niet-aanvalspact van 23 augustus 1939: Politieke Zeden in het Interbellum, Berchem [Antwerp], Belgium, 1989, pp. 289-290, including footnote 1 on p. 289.

[6] See e.g. Gerd R. Ueberschär, “Hitlers Entschluß zum ‘Lebensraum’-Krieg im Osten: Programmatisches Ziel oder militärstrategisches Kalkül?,” in Gerd R. Ueberschär and Wolfram Wette (eds.), Der deutsche Überfall auf die Sowjetunion: “Unternehmen Barbarossa” 1941, Frankfurt am Main, 2011, p. 39.

[7] Müller, op. cit., p. 169.

[8] Ueberschär, “Das Scheitern...,” p. 95.

[9] Müller, op. cit., pp. 209, 225.

[10] Ueberschär, “Hitlers Entschluß...”, p. 15.

[11] Pauwels, op. cit., p. 62; Ueberschär, „Das Scheitern…,“ pp. 95-96; Domenico Losurdo, Stalin: Storia e critica di una leggenda nera, Rome, 2008, p. 29.

[12] Müller, op. cit., p. 243.

[13] Richard Overy, Russia’s War, London, 1997, p. 87.

[14] Ueberschär, “Das Scheitern...“, pp. 97-98.

[15] Ueberschär, “Das Scheitern...“, p. 97; Losurdo, op. cit., p. 31.

[16] Overy, op. cit., pp. 64-65.

[17] Grover Furr, Khrushchev Lied : The Evidence That Every ‘Revelation’ of Stalin’s (and Beria’s) ‘Crimes’ in Nikita Khrushchev’s Infamous ‘Secret Speech’ to the 20th Party Congress of the Communist Party of the Communist Party of the Soviet Union on February 25, 1956, is Provably False, Kettering/Ohio, 2010, p. 343: Losurdo, op. cit., p. 31; Soete, op. cit., p. 297.

[18] Losurdo, op. cit., pp. 31-32.

[19] Bernd Wegner, “Hitlers zweiter Feldzug gegen die Sowjetunion: Strategische Grundlagen und historische Bedeutung“, in Wolfgang Michalka (ed.), Der Zweite Weltkrieg: Analysen – Grundzüge – Forschungsbilanz, München and Zurich, 1989, p. 653.

[20] Ueberschär, “Das Scheitern...“, p. 100.

[21] Müller, op. cit., p. 233.

[22] Tobias Jersak, “Öl für den Führer,“ Frankfurter Allgemeine Zeitung, February 11, 1999. Jersak used a “top secret” document produced by the Wehrmacht Reichsstelle für Mineralöl, now in the military section of the Bundesarchiv (Federal Archives), file RW 19/2694.

[23] Ueberschär, “Das Scheitern...“, pp. 99-102, 106-107.

[24] Ueberschär, “Das Scheitern...“, p. 106.

[25] Ueberschär, “Das Scheitern...,” pp. 107-111; Geoffrey Roberts, Stalin`s Wars from World War to Cold War, 1939-1953, New Haven/CT and London, 2006, p. 111.



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