segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

[HOL] O Anti-Semitismo Polonês e a Imprensa

William Schneider, 20/11/2012

 
Um novo filme que estreou na última semana ressuscitou questões morais que alguns poloneses esperavam estar enterradas há muito tempo atrás. A página frontal de 20 de novembro de 2012 do diário de Varsóvia Gazeta Wyborcza foi dominada pela controvérsia cercando o filme Poklosie (Consequência). O título diz “Poklosie sob ataque” – mas a reação de muitos poloneses é que eles estão sob o ataque de Poklosie.

O filme questiona a auto-identidade da Polônia como uma vítima inocente da agressão nazista. Enquanto não há dúvidas de que a Alemanha tentou destruir a nação polonesa, matando milhões, destruindo suas cidades e tentando erradicar sua cultura, o diretor cinematográfico Wladyslaw Pasikowski desafiou um dos pilares de sua identidade pós-guerra – a inocência do país em relação ao Holocausto.
 

 

Poklosie é um filme de guerra que dramatiza o massacre de 1942 de 340 judeus na vila de Jebwadne. Entretanto, estes judeus não foram mortos pelos nazistas, mas pelos seus vizinhos poloneses que prenderam idosos, mulheres e crianças em um celeiro e atearam fogo. Filmado na vila fictícia de Gorowka, o sítio de um massacre na época de guerra atribuído aos alemães, o filme acontece logo após a queda do regime comunista. O filme conta a estória de dois irmãos que, no desejo de preservar os túmulos judeus, despertam a ira dos moradores que temem que eles descubram os crimes do passado. Como se diz em Hollywood, este é um filme de mensagem, e a mensagem é que esconder os pecados do passado resulta em maldades modernas.

Entre os motivos para o massacre dos judeus por seus vizinhos poloneses no filme está que os judeus mataram Cristo. Os incidentes recontados em Poklosie são baseados em eventos reais. Em 2003, uma comissão governamental polonesa liberou um relatório dizendo que as afirmações de que os judeus poloneses de Jebwabne foram mortos pelos nazistas era falsa. Eles haviam sido mortos por seus vizinhos cristãos.

Não vi referência a esta estória na imprensa americana ou britânica até o momento – mas os artigos na semana passada na imprensa francesa me fizeram dar uma olhada no assunto. A estória do Le Figaro e do Le Nouvel Observateur, aproximam a estória do ponto de vista do entretenimento – um filme que força a Polônia a confrontar uma “página negra” em sua história – este tipo de coisa.

A imprensa polonesa tem tratado isto não como um filme, mas como uma questão existencial. “Quem somos? De onde veio nossa história? Compartilhamos os pecados de nossos ancestrais? Nossa fé como Católicos nos levou a isto?”

Ano passado, a Associated Press relatou que em 2001:

Os Bispos da Polônia pediram desculpas pelo massacre de Jedwabne e outros crimes contra os judeus durante a ocupação alemã, em uma cerimônia especial de fiéis em Varsóvia. Ela foi vista como um passo em direção da reconciliação com grupos judeus que frequentemente acusam a Igreja Católica de ser muito tolerante com o anti-semitismo.

Por outro lado, jornais conservadores e nacionalistas estão sendo muito críticos com o filme. Eles rejeitam a afirmação de que a Polônia divide a culpa coletiva dos nazistas pelo Holocausto e rejeitam a descrição do campesinato polonês como sendo “malvados anti-semitas” estimulados por seus padres a cometer assassinato contra os matadores de Cristo. No semanário conservador Uwazam Rze, Piotr Zychowicz escreve em um artigo chamado “Poloneses, Judeus, Colaboração, Holocausto”:

Nenhuma nação tem o monopólio em ser malvada e nenhuma nação tem o monopólio em ser boa. As nações são compostas por milhões de pessoas, e as pessoas, como acontece, são muito diferentes.

Em uma entrevista publicada no site de notícias e opiniões Niezalezna, Bogdan Musial argumenta que a narrativa histórica de Poklosie é uma falsa criação da mídia.

Muitos judeus americanos deixaram a Polônia e seus pais e avós tornaram-se vítimas do Holocausto. Uma grande parte da Diáspora judaica considera os Poloneses como sendo anti-semitas. Lembre-se que a indústria cinematográfica e a mídia têm uma enorme influência no ambiente intelectual e impõe suas crenças culturais no anti-semitismo polonês. Há também em alemão uma crença prejudicial e falsa no “nacionalismo polonês” enquanto existe também uma falta de consciência histórica na Polônia.

O prof. Musial continua, afirmando que não há dúvidas de que um crime foi cometido em Jebwabne, mas “as reações à acusação de anti-semitismo deveriam ser medidas.” Ele também sugere que “a discussão sobre o anti-semitismo é planejada para desviar a atenção dos problemas dos crimes da era comunista.”

Um crime foi cometido e isto é um fato. Mas o mesmo fato é que (o livro Vizinhos de Jan Gross de 2002 sobre o pogrom de Jedwabne) não é confiável e distorce a história. O problema é que as forças chamadas progressistas na Polônia consideram esta história distorcida ser um dogma. As pessoas que negam isto são chamadas (pelas tais forças progressistas na Polônia) de aberrações e nacionalistas... Através dos olhos de Gross, os poloneses são gananciosos, primitivos, assassinos que são coresponsáveis pelo Holocausto e tão anti-semitas quanto os nazistas. Não alemães, mas nazistas! ... filmes como Poklosie somente fortalecem esta imagem...

Entretanto, o liberal Gazeta Wyborcza, o diário de maior circulação da Polônia, apela aos críticos para parar de tentar impedir o “processo de limpeza” da alma nacional apelando à “ideologia nacionalista”. Citando o livro de Gross, ele cita que havia poloneses que mataram judeus simplesmente por lucro. Ele defende Poklosie dizendo:

...trabalho de valor, único no cinema polonês, reabrindo uma ferida que estava fechada apenas superficialmente na consciência polonesa.

Em meus posts recentes no GetReligion, tenho sido crítico do jornalismo atuante estilo europeu praticado pelo New York Times e tenho argumentado que suas estórias não são nem equilibradas nem justas ou completas. E o Times parece estar cego a este problema. No entanto, o jornalismo atuante pode produzir trabalhos excepcionalmente bons – como a página frontal de hoje do Gazeta Wyborcza – porque ele é escrito de uma perspectiva ideológica e moral que não está oculto por afirmações espúrias de ser objetivo. Apesar de achar os pontos de vista expressos no Niezalezna desagradáveis, considerando-se também o Gazeta Wyborcza, ambos produzem um melhor quadro do assunto do que uma única fonte.

Eu aplaudo a imprensa polonesa por trazer estes assuntos de identidade nacional, fanatismo religioso e memória histórica. Parabéns.           


 
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