O
filme questiona a auto-identidade da Polônia como uma vítima inocente da
agressão nazista. Enquanto não há dúvidas de que a Alemanha tentou destruir a
nação polonesa, matando milhões, destruindo suas cidades e tentando erradicar
sua cultura, o diretor cinematográfico Wladyslaw Pasikowski desafiou um dos
pilares de sua identidade pós-guerra – a inocência do país em relação ao
Holocausto.
Poklosie
é um filme de guerra que dramatiza o massacre de 1942 de 340 judeus na vila de
Jebwadne. Entretanto, estes judeus não foram mortos pelos nazistas, mas pelos
seus vizinhos poloneses que prenderam idosos, mulheres e crianças em um celeiro
e atearam fogo. Filmado na vila fictícia de Gorowka, o sítio de um massacre na
época de guerra atribuído aos alemães, o filme acontece logo após a queda do
regime comunista. O filme conta a estória de dois irmãos que, no desejo de
preservar os túmulos judeus, despertam a ira dos moradores que temem que eles
descubram os crimes do passado. Como se diz em Hollywood, este é um filme de
mensagem, e a mensagem é que esconder os pecados do passado resulta em maldades
modernas.
Entre
os motivos para o massacre dos judeus por seus vizinhos poloneses no filme está
que os judeus mataram Cristo. Os incidentes recontados em Poklosie são baseados
em eventos reais. Em 2003, uma comissão governamental polonesa liberou um
relatório dizendo que as afirmações de que os judeus poloneses de Jebwabne
foram mortos pelos nazistas era falsa. Eles haviam sido mortos por seus
vizinhos cristãos.
Não
vi referência a esta estória na imprensa americana ou britânica até o momento –
mas os artigos na semana passada na imprensa francesa me fizeram dar uma olhada
no assunto. A estória do Le Figaro e
do Le Nouvel Observateur, aproximam a
estória do ponto de vista do entretenimento – um filme que força a Polônia a
confrontar uma “página negra” em sua história – este tipo de coisa.
A
imprensa polonesa tem tratado isto não como um filme, mas como uma questão
existencial. “Quem somos? De onde veio nossa história? Compartilhamos os
pecados de nossos ancestrais? Nossa fé como Católicos nos levou a isto?”
Ano
passado, a Associated Press relatou
que em 2001:
Os Bispos da Polônia pediram desculpas
pelo massacre de Jedwabne e outros crimes contra os judeus durante a ocupação
alemã, em uma cerimônia especial de fiéis em Varsóvia. Ela foi vista como um
passo em direção da reconciliação com grupos judeus que frequentemente acusam a
Igreja Católica de ser muito tolerante com o anti-semitismo.
Por
outro lado, jornais conservadores e nacionalistas estão sendo muito críticos
com o filme. Eles rejeitam a afirmação de que a Polônia divide a culpa coletiva
dos nazistas pelo Holocausto e rejeitam a descrição do campesinato polonês como
sendo “malvados anti-semitas” estimulados por seus padres a cometer assassinato
contra os matadores de Cristo. No semanário conservador Uwazam Rze, Piotr Zychowicz escreve em um artigo chamado “Poloneses,
Judeus, Colaboração, Holocausto”:
Nenhuma nação tem o monopólio em ser
malvada e nenhuma nação tem o monopólio em ser boa. As nações são compostas por
milhões de pessoas, e as pessoas, como acontece, são muito diferentes.
Em
uma entrevista publicada no site de notícias e opiniões Niezalezna, Bogdan Musial argumenta que a narrativa histórica de
Poklosie é uma falsa criação da mídia.
Muitos judeus americanos deixaram a
Polônia e seus pais e avós tornaram-se vítimas do Holocausto. Uma grande parte
da Diáspora judaica considera os Poloneses como sendo anti-semitas. Lembre-se
que a indústria cinematográfica e a mídia têm uma enorme influência no ambiente
intelectual e impõe suas crenças culturais no anti-semitismo polonês. Há também
em alemão uma crença prejudicial e falsa no “nacionalismo polonês” enquanto
existe também uma falta de consciência histórica na Polônia.
O
prof. Musial continua, afirmando que não há dúvidas de que um crime foi
cometido em Jebwabne, mas “as reações à acusação de anti-semitismo deveriam ser
medidas.” Ele também sugere que “a discussão sobre o anti-semitismo é planejada
para desviar a atenção dos problemas dos crimes da era comunista.”
Um crime foi cometido e isto é um
fato. Mas o mesmo fato é que (o livro Vizinhos de Jan Gross de 2002 sobre o
pogrom de Jedwabne) não é confiável e distorce a história. O problema é que as
forças chamadas progressistas na Polônia consideram esta história distorcida
ser um dogma. As pessoas que negam isto são chamadas (pelas tais forças
progressistas na Polônia) de aberrações e nacionalistas... Através dos olhos de
Gross, os poloneses são gananciosos, primitivos, assassinos que são coresponsáveis
pelo Holocausto e tão anti-semitas quanto os nazistas. Não alemães, mas nazistas!
... filmes como Poklosie somente fortalecem esta imagem...
Entretanto,
o liberal Gazeta Wyborcza, o diário
de maior circulação da Polônia, apela aos críticos para parar de tentar impedir
o “processo de limpeza” da alma nacional apelando à “ideologia nacionalista”.
Citando o livro de Gross, ele cita que havia poloneses que mataram judeus
simplesmente por lucro. Ele defende Poklosie dizendo:
...trabalho de valor, único no cinema
polonês, reabrindo uma ferida que estava fechada apenas superficialmente na
consciência polonesa.
Em
meus posts recentes no GetReligion, tenho sido crítico do jornalismo atuante estilo
europeu praticado pelo New York Times
e tenho argumentado que suas estórias não são nem equilibradas nem justas ou
completas. E o Times parece estar
cego a este problema. No entanto, o jornalismo atuante pode produzir trabalhos
excepcionalmente bons – como a página frontal de hoje do Gazeta Wyborcza – porque
ele é escrito de uma perspectiva ideológica e moral que não está
oculto por afirmações espúrias de
ser objetivo. Apesar de achar os pontos de vista
expressos no Niezalezna desagradáveis, considerando-se também o Gazeta
Wyborcza, ambos produzem um melhor quadro do assunto do que uma única fonte.
Eu aplaudo a imprensa polonesa
por trazer estes assuntos de identidade nacional, fanatismo religioso e memória
histórica. Parabéns.
O Relato do Holocausto de um
Historiador Polonês divide seus Compatriotas
Cova encontrada na Ucrânia contém Vítimas de Stalin
http://epaubel.blogspot.com.br/2012/06/pol-cova-encontrada-na-ucrania-contem.html
http://epaubel.blogspot.com.br/2012/06/pol-cova-encontrada-na-ucrania-contem.html
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