History Today, Volume 59/Edição 1 (2009)
Como é inevitável sempre que Hollywood
encontra uma estória como essa, o filme é acompanhado por uma miríade de
publicações, republicações, documentários e discussões, já que o assunto
abordado é lançado aos holofotes da mídia.
Uma nova e maior plateia de leitores e
cinéfilos estará, assim, exposta à estória de Stauffenberg, muitos deles pela
primeira vez. Eles serão apresentados a Stauffenberg como um herói de ação com
princípios éticos e morais, um “bom alemão” que se opôs a Hitler e “fez a coisa
certa”. Alguns podem mesmo pensar que eles estão assistindo ao progenitor da
Alemanha democrática que conhecemos hoje.
Mas, antes que promovamos Stauffenberg ao
status de um santo secular, devemos talvez lembrar quem realmente era o
assassino escolhido de Hitler e que valores ele defendia. Ele era realmente um
arauto da “nova” Alemanha que deveria segui-lo ou era apenas um produto da “velha”
Alemanha, assim como o seu alvo?
Não podemos nos esquecer que Stauffenberg era,
de muitas formas, o típico nacionalista alemão – muito mais um produto da época
em que vivia. Ele foi um antigo e entusiasta apoiador do nazismo, por exemplo,
tinha bem recebido a indicação de Hitler como Chanceler em 1933. Ele abraçou
todas as medidas subsequentes – a reintrodução do alistamento obrigatório, a
remilitarização da Renânia, o Anschluss com a Áustria e a anexação dos Sudetos –
que eram vistos como a “restauração da honra alemã.”
Stauffenberg não era democrata. Ele passou sua
lua-de-mel, por exemplo, em Borne, onde assistiu a uma exibição celebrando os
primeiros dez anos de poder de Mussolini. Mesmo mais tarde, como um dos
organizadores do complô contra Hitler, ele se opôs raivosamente à inclusão da
esquerda na conspiração.
Um aristocrata, Stauffenberg desprezava “a
mentira de que todos os homens são iguais” e insistia que as “hierarquias
naturais” fossem respeitadas. Sua rejeição a Hitler, quando veio, não foi
baseada na política ou moralidade, foi baseada na classe. Ele não poderia estar
sujeito a Hitler, ele disse, já que este era um “burguês inferior” e sua
tradição familiar proibia isso.
Stauffenberg também estava suscetível ao clima
difundido de preconceito racial e nacional sob Hitler. Após o encerramento da
campanha polonesa em 1939, por exemplo (na qual ele serviu como oficial de
gabinete em uma Divisão Panzer Leve), ele descreveu os poloneses como uma
populaça inacreditável de “judeus e viralatas” que eram confortáveis somente
sob o chicote. Ele foi adiante ao defender a colonização sistemática da Polônia
ocupada pela Alemanha nazista.
Mesmo após unir-se à resistência em 1943,
Stauffenberg raramente mudou suas opiniões. Apesar dele – como outros
conspiradores das forças armadas – estar motivado basicamente por seu senso de
horror em relação ao Holocausto e seu desejo de terminar a brutalidade do
nazismo, havia outro fator importante no seu pensamento. Como militar, ele era
um crítico ocasional da liderança de Hitler. Mas em 1943, ele estava totalmente
convencido de que Hitler estava conduzindo a nação para uma derrota
catastrófica. A guerra não poderia ser lutada com mais eficiência, ele
acreditava, se não houvesse uma mudança de pessoal no topo.
A substituição de Hitler, portanto, era vista
muito mais como um imperativo militar do que moral. E esta convicção foi
aumentada, é claro, com a abertura de uma segunda frente com o desembarque na
Normandia em junho de 1944 – apenas seis semanas antes do atentado contra a
vida de Hitler ser lançado.
Os conspiradores amigos de Stauffenberg eram
críticos na mesma linha. O diplomata anti-nazista Hans Gisevius, por exemplo,
confrontava-o repetidamente em relação aos planos para um golpe maior contra
Hitler – Gisevius preferindo uma revolução mais abrangente do que a visão mais
minimalista de Stauffenberg. Ao assassinar o Führer, Gisevius reclamou,
Stauffenberg “queria fazer apenas o necessário, então ele pintaria o navio do
Estado de cinza militar e o faria mover-se novamente.” Stauffenberg, parecia,
imaginava substituir a ditadura de Hitler por outra militar.
Stauffenberg era certamente dinâmico e não há
dúvidas sobre seu valor pessoal. Ele claramente impôs ambas as qualidades
diante do seu frequentemente temerário e vacilante grupo de co-conspiradores e
em suas ações decisivas em Rastenburg ao plantar a bomba que quase matou
Hitler. Além disso, ele exibiu uma profunda bravura moral. Ele viu os crimes
hediondos que os soldados de Hitler estavam cometendo em nome da Alemanha e
tinha resolvido agir em defesa de uma moral mais elevada, apesar de saber que
isto poderia custar sua vida.
Esta determinação não deve ser vista, contudo,
como uma assinatura de caráter. Stauffenberg é lembrado da maneira correta: seu
lugar no panteão, assim como o mais famoso pretenso tiranocida, está garantido.
Pelo contrário, deveria ser encarado como um corretivo temporal: um lembrete de
que é imprudente ver o passado através do prisma do presente; erramos quando
julgamos personagens históricos de acordo com os padrões modernos.
Acima de tudo, é um lembrete de que o público
leitor e cinéfilo não deveria aceitar o novo herói de Hollywood “ao preço da
embalagem”, sem críticas; nem imaginar cegamente que ele “era um de nós.” Não vamos
nos enganar: apesar de todo seu valor, Stauffenberg defendia valores que são
estranhos a nós – e para a Alemanha moderna – assim como Hitler foi.
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